UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA A BATALHA DE TORO E AS RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E CASTELA Dimensões políticas e militares na segunda metade do século XV António Carlos Martins Costa Dissertação de mestrado em História Medieval Lisboa 2011 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA A BATALHA DE TORO E AS RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E CASTELA Dimensões políticas e militares na segunda metade do século XV António Carlos Martins Costa Dissertação de mestrado em História Medieval apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, orientada pela Professora Doutora Manuela Mendonça e co-orientada pelo Professor Doutor José Varandas Lisboa 2011 A batalha de Toro e as relações entre Portugal e Castela. Dimensões políticas e militares na segunda metade do século XV ÍNDICE RESUMO 2 ABSTRACT 3 PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS 4 AGRADECIMENTOS 5 INTRODUÇÃO 6 1. A “MEMÓRIA” DE TORO 14 1.1. Uma “batalha historiográfica” 15 1.2. O lado português 17 1.3. O lado espanhol 30 2. O SONHO IBÉRICO: AS ESTRATÉGIAS DE PORTUGAL E DE CASTELA 36 2.1. O percurso da tentação ibérica 37 2.2. A retoma do “ciclo castelhano” 39 2.3. A busca da aliança portuguesa 43 2.4. A mão de D. Isabel 50 2.5. A mão de D. Joana 56 2.6. Um trono e duas rainhas 60 3. A ACÇÃO DA DIPLOMACIA 66 3.1. Da acção diplomática ao ritual da guerra 67 3.2. A caminho da guerra… 69 3.3. Guerra na Ibéria e acordos diplomáticos 76 3.4. De Toro a Alcântara 82 4. DA BATALHA QUE TODOS QUERIAM EVITAR 91 4.1. Uma guerra de transição 92 4.2. Antecedentes 102 4.3. A batalha 114 4.4. Consequências 124 5. IMPACTOS 132 5.1. No trilho da paz 133 5.2. As consequências nos reinos ibéricos 135 5.3. A divisão do Atlântico e as sequelas na Expansão 141 5.4. As ressonâncias na cristandade ocidental 146 CONCLUSÃO 150 FONTES E BIBLIOGRAFIA 154 1 A batalha de Toro e as relações entre Portugal e Castela. Dimensões políticas e militares na segunda metade do século XV RESUMO A Tese de Mestrado que se pretende levar a cabo incide a sua atenção sobre as conexões entre Portugal e Castela que, não perdendo de vista o “sonho ibérico”, envolveriam os reinos numa importante querela na segunda metade do século XV. Num primeiro capítulo, traçar-se-á um conspecto historiográfico sobre a Batalha de Toro, procurando dar sentido às interpretações lusas e espanholas que vêm sendo feitas. Pretende-se, num outro ponto, observar as estratégias portuguesa e castelhana que conduziriam à Guerra que oporia as duas Coroas entre 1475 e 1479, destacando os processos políticos, os modelos económicos e os sistemas sociais que as enquadram. Em terceiro lugar, pretende-se reconstituir a acção de uma actuante diplomacia luso- castelhana que, no conflito em causa, daria mostras dos seus reflexos por toda a Península Ibérica e, mesmo, junto dos mais importantes reinos da Cristandade. O quarto capítulo procura a observação do ponto de vista militar da contenda, em geral, e da Batalha de Toro, em particular, numa época de charneira na forma de fazer a guerra. Desmistificando uma “Revolução Militar” abrupta, a campanha demonstrará o cruzamento do paradigma medieval com as novidades que a modernidade já anunciava. Procurar-se-á, em simultâneo, ter em conta as especificidades bélicas de ambos os contendores. O último ponto do nosso trabalho centrar-se-á nos impactos que a guerra em questão, de que será objecto de especial atenção o Tratado das Alcáçovas-Toledo de 1479- 1480, produziu em vários níveis: a divisão do Atlântico e as sequelas na expansão ibérica, as consequências nos reinos peninsulares e, por fim, as ressonâncias europeias e no Papado que deixou. 2 A batalha de Toro e as relações entre Portugal e Castela. Dimensões políticas e militares na segunda metade do século XV ABSTRACT THE BATTLE OF TORO AND THE RELATIONS BETWEEN PORTUGAL AND CASTILE: POLITICAL AND MILITARY DIMENSIONS This Master's thesis intends to focus on the connections between Portugal and Castile, which lead both kingdoms to an important dispute in the second half of the fifteenth century. In the first chapter will be outlined a historiographic conspectus about the Battle of Toro, trying to understand the Portuguese and the Spanish interpretations which have been made until the present. It is intended, at another point, the observation of the Portuguese and the Castilian strategies which lead to the war that oppose the two crowns between 1475 and 1479, highlighting both political and economic models and their social systems. Thirdly, we intend to reconstruct the action of an actuating Luso-Castilian diplomacy which evolves from that conflict and showing their reflections across the Iberian Peninsula, and even among the most important kingdoms of Christendom. The fourth chapter attempts to observe the military point of view of the dispute, in general, and the Battle of Toro, in particular. Demystifying an abrupt "Military Revolution”, the Toro campaign will demonstrate the intersection of the medieval paradigm of the art of war with the novelties than became to arrive with the modernity. We can’t also forget at the same time the specificities of war of both contenders. The last point of our work will focus on the major impacts of that war. Will be given particular attention to the several themes observed in the Treaty of Alcáçovas-Toledo signed in 1479-1480: such as the division of the Atlantic and the impacts on the Iberian expansion, the consequences in the Iberian kingdoms and, finally, the resonances over the Papacy and the Christian European kingdoms. 3 A batalha de Toro e as relações entre Portugal e Castela. Dimensões políticas e militares na segunda metade do século XV PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS História Medieval – História Política – História Militar – Relações Internacionais – Batalha – Reinos Ibéricos. Medieval History – Political History – Military History – International Relations – Battle – Iberian Kingdoms. 4 A batalha de Toro e as relações entre Portugal e Castela. Dimensões políticas e militares na segunda metade do século XV AGRADECIMENTOS A elaboração de uma tese de mestrado corresponde a um período de trabalho concentrado do qual jamais conseguimos reconhecer devidamente a todos os que, de uma forma ou de outra, connosco partilham esta experiência e contribuem para a sua execução. A todos esses fica expresso, desde já, o meu pedido de desculpas. Começo por dirigir os meus agradecimentos à Professora Doutora Manuela Mendonça e ao Professor José Varandas que em boa hora aceitaram, respectivamente, a orientação e a co-orientação deste trabalho que, com todo apoio e solicitude, acompanharam. Agradeço aos demais professores do Mestrado em História Medieval que, nos respectivos seminários, me fizeram crescer cientificamente. Nesse âmbito, cumpre-me também dirigir uma palavra de amizade aos colegas de curso com quem tive a sorte de estudar e de trocar ideias, em particular, à Inês Lourinho, à Filipa Santos, ao Francisco Mendes, ao Luís Gonçalves e ao André Oliveira Leitão. Não posso esquecer outras amizades, como o Coronel Francisco de Sousa Lobo, que me incutiram o gosto pela História Militar. Mas também não posso deixar passar os nomes de outros amigos que, de forma alegre, me acompanharam durante a realização deste trabalho: Sofia Rebelo Pinto, Tiago Almeida Matias, António Trindade Souza, Francisco Teles da Gama, Manuel Gabirra, Telmo Mendes Leal, Francisco Leal de Almeida, entre tantos outros que não me ocorre referenciar. E por último, mas verdadeiramente jamais, deixo expresso um profundo agradecimento aos meus pais e ao meu irmão, que estiveram incondicionalmente do meu lado e souberam compreender as minhas ausências e falhas familiares nos mais diversos momentos. 5 A batalha de Toro e as relações entre Portugal e Castela. Dimensões políticas e militares na segunda metade do século XV INTRODUÇÃO No dizer de Jean Délumeau, se a Cristandade era, ainda nos alvores do século XIV, “uma nebulosa de formas indefinidas e com um futuro incerto”, a época do Renascimento seria “o período em que a Europa se define politicamente”, sob um modelo em que a “relação de forças substitui o ideal de unidade europeia realizada sob a autoridade do imperador”1. A centúria de Quatrocentos foi, portanto, paradigmática no processo de definição de fronteiras por várias unidades políticas em transformação. Relacionado com essa dinâmica estava, naturalmente, o caminho de reforço dos poderes centrais que, havia séculos, os reis encetavam, com avanços e recuos, contra os potentados senhoriais. Seria, segundo Manuela Mendonça, do “mundo em pedaços”, aludindo às crises de Trezentos, “que posteriormente emergiram os Estados, cuja reorganização nos aparece visível nos últimos anos do século XV”2. As instituições, reguladoras e aplicadoras do poder, vinham-se aperfeiçoando e reforçando os vínculos entre o soberano, o súbdito e o território. O fortalecimento das monarquias estaria intimamente ligado a esta dinâmica de apropriação e delimitação dos espaços. O esforço bélico que os Estados empreenderam nestes projectos impulsionou a evolução dos aparelhos militares, os quais significavam um pilar cada vez mais preponderante na afirmação dos poderes centrais3. Na charneira da Idade Média para a Modernidade, a geografia política do Ocidente conheceria, portanto, alterações substanciais. A perplexa afirmação do Papa Pio II, em meados do século XV, de que “Os turcos devastam um país após outro”4, dava conta da sua marcante progressão sobre o Ocidente, num movimento que vinha ganhando expressão desde os finais da centúria anterior. Após extinguirem o Império Bizantino, com a conquista de Constantinopla, em 1453, os turcos avançariam para Leste, sobre o Mar Negro 1 DÉLUMEAU, Jean, A Civilização do Renascimento. Lisboa, Edições 70, 2004, p. 27. 2 MENDONÇA, Manuela, D. João II. Um percurso humano e politico nas origens da modernidade em Portugal.
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