Às Urnas A reivindicação do voto feminino na Península Ibérica (1821-1934) (versão corrigida e melhorada após a sua defesa pública) Maria de Fátima da Silva Mariano Tese de Doutoramento em História Contemporânea (Outubro de 2017) i Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em História Contemporânea, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor António Reis e da Professora Doutora Angeles Egido de León Aos meus pais, os pilares da minha vida, sempre presentes, nos bons e nos maus momentos. AGRADECIMENTOS O processo de elaboração de uma tese de doutoramento nunca é individual, mesmo quando o trabalho final é assinado apenas por um/a autor/a, como é este o caso. É sempre um processo levado a cabo por várias mãos, por várias vozes e por vários silêncios. As mãos, as vozes e os silêncios de todos/as aqueles/as que nos acompanharam durante este percurso longo, com curvas e contracurvas, obstáculos e surpresas felizes. Mãos, vozes e silêncios que se tornam mais importantes quando se cai no desemprego a meio do caminho e se fica sem saber se terá condições (financeiras, emocionais…) para continuar ou se seremos simplesmente obrigadas a interromper abruptamente a marcha. Foram várias as mãos, as vozes e os silêncios que me acompanharam até aqui. Nomeá-las a todas seria exaustivo e correria o risco de me esquecer de algumas. Contudo, não poderia deixar de agradecer publicamente a algumas pessoas e instituições que estiveram presentes em todo ou em parte do caminho e sem cujo apoio esta viagem seria ainda muito mais difícil de realizar. Desde logo aos professores doutores António Reis e Angeles Egido León, que desde a primeira hora aceitaram orientar esta tese de doutoramento, que nunca deixaram de me incentivar a continuar nos momentos em que me faltava a força anímica e que sempre acreditaram que eu iria conseguir concluir este projecto. Obrigada pelas sugestões, pelo apoio e pela compreensão. À Margarida Portela, amiga desde a primeira hora, pelos momentos de partilha mútua de angústias, dúvidas e frustrações próprias de quem está em processo de elaboração de uma tese de doutoramento. À Isabel Lousada, pela disponibilidade permanente para ajudar no que fosse necessário e pelos incentivos constantes. Ao João Paulo Lourenço, amigo de há muitos anos, por me obrigar a acreditar em mim própria e pelo exemplo de nunca baixar os braços perante as adversidades da vida e pela ajuda na tradução do Castelhano para o Português. Ao Paulo Guerrinha e à Mónica Silvares por me terem salvado quando o meu único computador decidiu avariar a meio do processo da escrita da tese. Ao Carlos, à Rita e às meninas, por compreenderem os meus longos períodos de ausência e de silêncio. Prometo compensar-vos. À Alice Cunha, Ana Carina Azevedo, Ângela Salgueiro, Cláudia Ninhos, Yvette Santos e Marta Silva pelos nossos almoços, momentos de companheirismo, de entreajuda, de troca de experiências e de conhecimentos e de descompressão. Em termos institucionais, não poderia deixa de agradecer ao Instituto de História Contemporânea da NOVA FCSH, e em especial ao grupo Economia, Sociedade, Património e Inovação, coordenado por Ana Paula Pires, a bolsa de investigação que me foi atribuída em Agosto de 2016 e que me permitiu concluir esta investigação. Também um grande «obrigada» à doutora Olga Oliveira Cunha, dos Serviços de Psicologia e Orientação da NOVA FCSH, e aos/às colegas que comigo participaram na sessões do programa que lançou em Março de 2017 - «PhD – Os últimos km de uma maratona» -, por ouvirem os meus desabafos e queixas, por me aconselharem e incentivarem e pela partilha de experiências. Espero que este programa continue por muitos e longos anos e chegue ainda a mais doutorandos/as. Por fim, mas não por último, aos meus pais, sempre presentes nos bons e nos maus momento, sempre compreensíveis e cooperantes, sempre alertas e sempre disponíveis para me obrigarem a sair de casa e apanhar sol e ar fresco, principalmente nos períodos em que quase me esquecia de que é importante continuarmos a respirar e a viver mesmo quando se tem um prazo tão apertado para terminar uma tese de doutoramento e quando estamos prestes a cair novamente no desemprego. Às Urnas A reivindicação do voto feminino na Península Ibéria (1821-1934) Maria de Fátima da Silva Mariano RESUMO: O movimento sufragista português e espanhol só começa a formar-se no início do século XX, quando nos Estados Unidos da América e na Europa ocidental o debate em torno do voto feminino se travava há várias décadas. As razões deste atraso prendem-se sobretudo com a elevada taxa de analfabetismo feminino, a ideia de que a Igreja Católica tinha uma forte influência sobre as mulheres e a entrada tardia das mulheres das classes média e alta no mercado de trabalho. Com esta tese de doutoramento pretendemos analisar o contexto sócio-político em que o debate sobre o voto feminino surgiu na Península Ibérica no inicio dos regimes constitucionais, no século XIX, e aquele que as mulheres portuguesas e espanholas obtiveram o direito de poder participar em eleições legislativas, quer como votantes, quer como candidatas, já na década de 30 do século XX. PALAVRAS-CHAVE: sufrágio feminino; cidadania política; feminismo; Portugal; Espanha. ABSTRACT: The Portuguese and Spanish feminist movement only began to take form in the early twentieth century, when in the United States of America and in Western Europe the debate over the women’s vote was already going on for several decades. The reasons for this delay are mainly the high rate of female illiteracy, the strong influence of the Catholic Church on women and the late entry of women of the middle and upper classes into the labor market. With this doctoral thesis we want to analyze the social-political context in which the discussion on female suffrage arose in the Iberian Peninsula at the beginning of the constitutional regimes, in the nineteenth century, and the in which Portuguese and Spanish women gained the right to participate in national parliamentary elections, either as voters or as candidates, in the 1930s. KEYWORDS: women’s suffrage; political citizenship; feminism; Portugal; Spain. ÍNDICE LISTA DE ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS vi INTRODUÇÃO 1 1 – As origens da questão 1 2 - Definição do objecto e dos objectivos do estudo 4 3 - Revisão da literatura 8 4 - Conceitos analíticos e metodologia 11 5 – Plano expositivo 14 6 – Breves notas finais 16 PARTE I - NÃO SOMOS NÓS, MULHERES, TAMBÉM CIDADÃOS? 18 CAPÍTULO I – MULHERES, CIDADANIA E DIREITO DE VOTO NA ÉPOCA LIBERAL 19 I.1. – Cidadãos activos vs cidadãos passivos 19 I. 2. – Sociedade humana vs mundo natural 20 I. 3. – Liberalismo moderado vs liberalismo radical 24 CAPÍTULO II – O MOVIMENTO SUFRAGISTA 29 II. 1. - França: «A escravidão das mulheres entrava a liberdade do homem» 31 II. 2. – Inglaterra: «Acções não palavras» 36 II.3. – EUA: «A verdadeira república: aos homens, os seus direitos e nada mais; às mulheres, os seus direitos e nada menos» 42 ii II.4. – A internacionalização do movimento sufragista 47 CAPÍTULO III – ELAS OUSARAM. MULHERES QUE DESAFIARAM AS LEIS E AS NORMAS SOCIAIS 49 III.1. – Victoria C. Woodhull: a primeira mulher candidata à presidência dos EUA 50 III.2. – Susan B. Anthony: condenada por um tribunal federal pelo crime de voto 53 III.3. – A Lei Eleitoral de 1874 e as primeiras eleitoras do Chile 56 III.4. – Hubertine Auclert e a greve aos impostos 58 III.5. – Diva Nolf Nazário e a sua tentativa de alistamento eleitoral 61 III.6. - Matilde Hidalgo de Procel e o reconhecimento da cidadania política feminina no Equador 64 CAPÍTULO IV – DIREITO DE VOTO: UMA CONQUISTA DAS MULHERES OU UMA CONCESSÃO ÀS MULHERES? 65 PARTE II – O MOVIMENTO SUFRAGISTA EM PORTUGAL E ESPANHA 69 CAPÍTULO I – RAZÕES PARA A DEMORA DA ENTRADA DAS MULHERES NA VIDA POLÍTICA 70 I.1. – A misoginia do ordenamento jurídico 72 I.2. – O analfabetismo feminino 75 I.3. – A lenta inserção no mercado de trabalho 82 I.4. – A influência da Igreja Católica 85 CAPÍTULO II – INCLUSÃO E SEGREGAÇÃO DAS MULHERES DOS ESPAÇOS DE DEBATE POLÍTICO 89 iii II.1. – As galerias dos parlamentos 89 II.2. – Filiação nos partidos políticos e sindicatos 93 II.3. – A iniciação na maçonaria 100 CAPÍTULO III – PARA QUE QUEREM AS MULHERES O VOTO? OS PRÓS E OS CONTRAS NO DISCURSO PÚBLICO 108 III.1. – O voto feminino nos debates parlamentares 109 III.1.1. – Portugal 110 III.1.2. – Espanha 117 III.2. – Imprensa feminina e feminista 120 III.2.1. - Século XIX: o desbravar do terreno nos periódicos femininos 121 III.2.2. – Século XX: a época da imprensa militante 126 III.3. – As associações sufragistas 128 III.3.1. – A década de 10: os anos de ouro do sufragismo português 130 III.3.2. – Anos 20: o despertar do sufragismo em Espanha 135 III.3.3. – Contactos entre os dois lados da fronteira 140 III.4. – Os partidos políticos 142 PARTE III – MULHERES COM VOZ E COM VOTO 148 CAPÍTULO I – CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO: A PRIMEIRA MULHER ELEITORA DE UM PAÍS DA EUROPA DO SUL 150 CAPÍTULO II – PRIMO DE RIVERA, O VOTO FEMININO E AS PRIMEIRAS MULHERES DEPUTADAS 154 iv CAPÍTULO III – ANOS 30: FINALMENTE, AS MULHERES FORAM ÀS URNAS 160 I.1. – O pecado mortal de Clara Campoamor: a aprovação do voto feminino na II República 161 II.2. – «Assim o entendeu o Chefe – assim o decretou!»: Salazar e a entrada das mulheres na política 169 CONCLUSÕES 177 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 184 Lista de Imagens 210 Anexos 213 Anexo I: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 213 Anexo II: Declaração de Independências dos Estados Unidos da América
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