Riscos Tecnológicos

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Estudos sobre RISCOS TECNOLÓGICOS CARLA AMADO GOMES (organizadora) Estudos sobre RISCOS TECNOLÓGICOS CARLA AMADO GOMES (organizadora) Edição Instituto de Ciências Jurídico-Políticas Centro de Investigação de Direito Público - www.icjp.pt [email protected] - Janeiro de 2017 ISBN: 978-989-8722-20-1 Alameda da Universidade 1649-014 Lisboa www.fd.ulisboa.pt Imagem da capa: Carla Amado Gomes (foto de grafiti sobre parede) - Produzido por: OH! Multimédia [email protected] 2 ESTUDOS SOBRE RISCOS TECNOLÓGICOS Índice 4 Apresentação 6 Entre riscos, utilidades e inovação da indústria química: a Conven- ção de Estocolmo sobre poluentes orgânicos persistentes (POP´s) André Constant Dickstein 80 O céu não é o limite… para os riscos tecnológicos – gestão dos riscos tecnológicos dos detritos espaciais Filipe Rodrigues 194 A energia eólica desde o prisma do direito europeu Flávia Roberti Ferreira 291 Fechamento de minas: gestão de riscos e sustentabilidade no pós-operação Monique Mosca Gonçalves 413 Eletrosmog e riscos tecnológicos: um caminho em meio ao ne- voeiro eletromagnético europeu Nathalie Carvalho Giordano Macedo 3 Apresentação No ano lectivo de 2015/2016 leccionei na Faculdade de Direito de Lisboa um seminário de mestrado de Direito Internacional e Europeu do Ambiente subordinado ao tema Riscos tecnológicos. O assunto já fora objecto de atenção numa obra por mim coordenada — Direito(s) dos Riscos Tecnológicos, edições AAFDL (2014) —, além de ter sido um dos aspectos abordados na minha tese de doutoramento, sobre gestão do risco (Risco e modificação do acto autorizativo concretizador de- de veres de protecção do ambiente, 2007 — online, em versão ebook, aqui: http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/cg_ma_17157.pdf). A questão da gestão do risco tecnológico é complexa e geradora de perplexidade. Na maior parte dos casos, o público é mais sensível a ris- cos de grande impacto visual (queda de aviões; atentados terroristas) do que a riscos próximos (condução automóvel) e que constituem hábitos de vida (uso do telemóvel; ingestão de fumo do tabaco). A tarefa de in- cutir na população em geral uma atitude de consciência do risco é desde logo uma missão pedagógica da parte dos poderes públicos, mas tam- bém um dever de fazer saber às pessoas os riscos a que estão expostas, as condutas que devem adoptar para os minimizar ou evitar, as reacções 4 Índice do e-book ESTUDOS SOBRE RISCOS TECNOLÓGICOS recomendáveis em caso de acidente. Na sociedade de risco em que vi- vemos, o “direito a saber”, a conhecer os riscos que nos rodeiam, faz parte da vivência democrática e de uma postura de exigência perante os poderes públicos, que devem cumprir e fazer cumprir pelos operadores privados as regras de divulgação e explicitação dos riscos associados a produtos e actividades. Os estudos que aqui se reunem constituem os cinco melhores relatórios do seminário e abordam temas como os riscos associados aos poluentes orgânicos persistentes (POPs); aos detritos espaciais; às es- truturas de produção de energia eólica; ao desmantelamento de minas; e aos campos electromagnéticos. São domínios muito díspares, verifi- cando-se preocupações comuns mas também diversas especificidades. A qualidade das abordagens e a novidade das matérias justifica a sua publicação, que espero possa gerar futuras reflexões e ser útil elemento bibliográfico para quem se ocupa dos temas. Lisboa, Janeiro de 2017 CARLA AMADO GOMES Índice do e-book 5 Entre riscos, utilidades e inovação da indústria química: a Convenção de Estocolmo sobre poluentes orgânicos persistentes (POP´s) ANDRÉ CONSTANT DICKSTEIN s. SUMÁRIO: INTRODUÇÃO 1. POLUENTES ORGÂNICOS PERSISTENTES (POP`S) 1.1. O que são, quem são, fontes de emissão, aplica- ções, características químicas, incidência 1.2. Riscos dos POP´s para a saúde humana e para o ambiente 1.3. Da ignorância à incerteza: a emergência do impe- rativo regulatório dos POP`s 1.4. Algumas questões na gestão dos POP´s 2. A CONVENÇÃO DE ESTOCOLMO SOBRE POLUENTES OR- GÂNICOS PERSISTENTES 2.1. Origens e os primeiros POP´s: the dirty dozen 2.2. Adoção, vigência e partes 6 Índice do e-book ESTUDOS SOBRE RISCOS TECNOLÓGICOS 2.3. Mosaico de ações internacionais sobre POP´s 2.4. Objetivo e diretrizes essenciais 2.5. O centro nervoso: Anexos A, B e C da Convenção 2.6. Deveres das partes de prevenção, eliminação, redu- ção e substituição dos POP`s 2.7. Procedimento para a definição de novos POP´s 2.8. Informação, educação e consciência pública sobre POP´s 2.9. Assistência técnica, transferência de tecnologia e financiamento sustentável para países em desenvolvi- mento ou de economia em transição 2.10. Relatórios de implementação e avaliações de efe- tividade 2.11. Mecanismos de avaliação de não conformidade 2.12. Resolução de litígios 2.13. Conferência das Partes 2.14. Sinergia entre as Convenções de Estocolmo, Basi- léia e Roterdã 3. BALANÇO CRÍTICO: MÉRITOS, INSUFICIÊNCIAS E DE- SAFIOS DA CONVENÇÃO DE ESTOCOLMO 3.1. Méritos 3.2. Insuficiências 3.3. Desafios a) Gestão democrática do risco b) Abordagem da precaução 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Índice do e-book 7 INTRODUÇÃO Na Idade Média, alquimistas prometiam transformar chumbo em ouro. A promessa, como se sabe, era um embuste e deu origem à expressão “ouro de tolo”. Ainda hoje, não se tem a fórmula para produzir ouro em cadinhos. Sem embargo, o século XX testemunhou uma revolução da ciência química, responsável pela produção de numerosas substâncias indispensáveis para a saúde, para a segurança alimentar e para o bem estar da civilização. Atual- mente, mais de 96% de todos os bens fabricados pelo homem estão dire- tamente relacionados à indústria química (por exemplo: vestuário, calça- dos, computadores e demais produtos eletrônicos, embalagens de comida, remédios, equipamentos automotivos e aeroespaciais) 1. Talvez uma das principais realizações da indústria química no século XX tenha sido a descoberta da utilidade de um composto químico para o combate ao tifo e à malária. Trata-se do DDT (diclorodifeniltricloroetano). Durante a Segunda Guerra Mundial, o DDT foi largamente usado pelas “For- ças Aliadas”, sendo aspergido diretamente sobre os corpos e equipamen- tos dos soldados, que, àquela altura, sofriam mais de doenças transmitidas por vetores do que por ferimentos de batalhas2. Embora o DDT tivesse sido sintetizado pela primeira vez, no final do século XIX, sua aplicação no com- bate a vetores foi descoberta pelo químico Paul Müller, que, pelo seu feito – determinante para o desfecho da Segunda Guerra Mundial -, recebeu o prémio Nobel em 19483. 1 Cf. American Chemistry Council. Disponível em https://www.americanchem- istry.com/Jobs/EconomicStatistics/Industry-Profile, último acesso em 28 de dezembro de 2016. 2 DAVID L.MULLIKEN / JENNIFER D. ZAMBONE / CHRISTINE G. ROLPH, DDT: A Persistent Lifesaver, Natural Resources & Environment, XIX, 2005, pp. 3-7, p. 3. 3 http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/1948/, última consulta em 28 de dezembro de 2016. 8 Índice do e-book Sumário do texto ESTUDOS SOBRE RISCOS TECNOLÓGICOS Finda a guerra, o DDT se tornou o principal agente pesticida no mundo, usado no combate, por exemplo, à dengue, à febre amarela e à cólera (além da malária e do tifo). Em 1970, a National Academy of Sciences emitiu pronunciamento oficial, afirmando que, em pouco mais de duas décadas, o DDT havia prevenido a morte de 500 milhões de pessoas em razão da malária, o que, de outro modo, seria inevitável. Ao seu turno, a Organização Mundial da Saúde lançou o Programa Global de Erradicação da Malária, a partir do uso de DDT, chegando a afirmar publicamente, no ano de 1971, que a descoberta da utilidade do DDT era uma realização sem paralelos na história da saúde humana4. Também no século XX, outra notável realização da indústria química foi a chamada “Revolução Verde”, significando o aumento vertiginoso da produção agrícola, a partir do uso em larga escala de pesticidas, fertilizantes químicos e de engenharia genética. Nos últimos 50 anos, o aporte químico permitiu que a produção de cereais triplicasse, com apenas 30% de aumento das áreas de terra cultivada5. Produzir mais alimentos em menos espaço cultivado é uma questão de grande impor- tância, porquanto, a par de garantir a segurança alimentar da popula- ção mundial (hoje, superior a 7 bilhões de habitantes6), também libera áreas agrícolas para a aplicação de políticas ecológicas7. Ademais, em 4 DAVID L.MULLIKEN / JENNIFER D. ZAMBONE / CHRISTINE G. ROLPH, DDT, p. 4. 5 PRABHU L. PINGALI, Green Revolution: Impacts, limits, and the path ahead, Proceedings of the National Academy os Sciences of the United States of America (PNAS), CIX, n.º 31, 2012, pp. 12302/12308, p. 12302 (disponível em http://www.pnas.org/con- tent/109/31/12302.full.pdf, última consulta em 28 de dezembro de 2016). 6 United Nations. Department of Economic and Social Affairs. Population Di- vision. Population, Development and the Environment 2013 (disponível em http://www. un.org/en/development/desa/population/publications/pdf/development/pde_wall- chart_2013.pdf, última consulta em 28 de dezembro de 2016). 7 DAVID TILMAN et al, Agricultural sustainability and intensive production prac- tices, Nature, CDXVIII, 2002, pp. 671/677, p. 671 (disponível em http://www.nature.com/ nature/journal/v418/n6898/full/nature01014.html, última consulta em 28 de dezembro Índice do e-book Sumário do texto 9 se confirmando as projeções das Nações Unidas, os 9,6 bilhões de habi- tantes estimados para o ano de 20508 demandarão um aumento 70% na produção de alimentos9, razão pela qual já se fala na necessidade de uma “Revolução Verde 2.0” 10. Entretanto, bem se sabe que o desenvolvimento de atividades quími- cas é envolto de graves riscos. O primeiro sinal de alerta veio da biólo- ga marinha Rachel Carson, que relacionou o uso de pesticidas a danos ambientais, ao publicar sua obra Silent Spring,3 em 1962.

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