AGNALDO KUPPER Nos Rastros Da Bola: O Futebol Brasileiro Entre

AGNALDO KUPPER Nos Rastros Da Bola: O Futebol Brasileiro Entre

AGNALDO KUPPER Nos rastros da bola: o futebol brasileiro entre apropriações e desapropriações ASSIS 2019 AGNALDO KUPPER Nos rastros da bola: o futebol brasileiro entre apropriações e desapropriações Tese apresentada à Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Assis, para a obtenção do título de Doutor em História. Área de Conhecimento: História e Sociedade. Orientador: Prof. Dr. Claudinei Magno Magre Mendes. ASSIS 2019 Ao povo brasileiro. Que sempre lutou, quase sempre perdeu, mas que continua lutando. Mesmo sem grande clareza. KUPPER, Agnaldo. Nos rastros da bola: o futebol brasileiro entre apropriações e desapropriações. 2019. 285 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Assis, 2019. RESUMO Introduzido como esporte e apreciado por setores privilegiados da sociedade, o futebol difundiu-se no primeiro quartel do século XX entre as camadas mais populares do Brasil. Apesar da ação repressiva governamental, é provável que a nascente burguesia industrial brasileira tenha observado na prática um elemento também capaz de promover suas marcas, além de disciplinar operários ao promover a ocupação do tempo de lazer dos trabalhadores e impulsionar o gasto de energia dos mesmos com atividades desvinculadas da produção fabril, em plena fase de explosão do movimento operário brasileiro sob forte influência de anarquistas, anarco-sindicalistas e comunistas. A partir da década de 1930, o Estado brasileiro, sob o comando de Getúlio Vargas, conteve as mobilizações promovidas pelos trabalhadores ao enquadrar tanto a classe operária quanto a burguesia industrial sob seu controle; para tanto, um dos elementos utilizados foi o futebol que, além de instrumento de desmobilização política, serviu à edificação de certa identidade nacional, não sem o uso da mídia, em pleno período do Estado Novo (1937-1945). O sucesso do Brasil na Copa de 1938, realizada na França, teria dado consistência às intenções varguistas. Este trabalho analisa como, no Brasil, o futebol ganhou consistência entre populares e trabalhadores, proporcionado por indivíduos e grupos, não sem interesses, e como a base serviu às ações varguistas, não sem devolutivas. Palavras-chave: Futebol. Elitismo e popularização. Identidade regional e nacional. KUPPER, Agnaldo. In the tracks of the ball: Brazilian football between appropriations and expropriations. 2019. 285 p. Thesis (Ph.D. in History) - Faculty of Sciences and Letters, Paulista State University - UNESP, Assis, 2019. ABSTRACT Introduced as a sport and appreciated by privileged sectors of society, football spread in the first quarter of the twentieth century among the most popular layers in Brazil. Despite the government's repressive action, it is likely that the nascent Brazilian industrial bourgeoisie has observed in practice an element that is also capable of promoting its brands, as well as disciplining workers by promoting the occupation of workers' leisure time and boosting their energy expenditure with activities unrelated to factory production, in the midst of an explosion of the Brazilian labor movement under the strong influence of anarchists, anarcho-syndicalists and communists. From the 1930s, the Brazilian state, under the command of Getúlio Vargas, contained the mobilizations promoted by the workers by framing both the working class and the industrial bourgeoisie under their control; For this purpose, one of the elements used was soccer, which, in addition to being an instrument of political demobilization, served to build a certain national identity, not without the use of the media, during the Estado Novo period (1937-1945). The success of Brazil in the 1938 World Cup, held in France, would have given consistency to Vargas' intentions. This paper analyzes how soccer in Brazil won a consistency between the popular and the workers, provided by individuals and groups, not without interests, and how the base served Vargas actions, not without devolutions. Keywords: Football. Elitism and popularization. Regional and national identity. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Freemasons Arms, Londres ..................................................................... 41 Figura 2 - Cortejo fúnebre pelas ruas centrais da cidade de São Paulo ................. 104 Figura 3 - Ata da fundação do clube (de acordo com o texto original, abaixo) ....... 107 Figura 4 - Festival Operário de 1919. Sem poder resistir, os encontros passaram a inserir o futebol nos festivais operários. Em tais festivais era comum a mistura de equipes de trabalhadores para fotos, em poses que demonstravam unidade entre os trabalhadores. .................................... 133 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – População das principais cidades brasileiras .......................................... 73 Tabela 2 - A Indústria Brasileira (1880-1920) ......................................................... 100 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10 1 CAPÍTULO 1 - A TRAJETÓRIA DO FUTEBOL ENQUANTO ESPORTE: UM BREVE HISTÓRICO (DAS RAÍZES À ESPETACULARIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA) ..................................................................................... 27 2 CAPÍTULO 2 - O FUTEBOL ENTRA EM CAMPO NO BRASIL .................... 54 2.1 O FUTEBOL APROPRIADO POR PRIVILEGIADOS DO RIO DE JANEIRO ........................................................................................................ 63 2.2 O Futebol em São Paulo ................................................................................. 72 2.3 OS CAMINHOS DEFINITIVOS DA POPULARIZAÇÃO DO FUTEBOL NO BRASIL ........................................................................................................... 84 3 CAPÍTULO 3 - O ENCONTRO DO FUTEBOL COM A VIDA POLÍTICA OPERÁRIA BRASILEIRA .............................................................................. 96 3.1 O FUTEBOL COMO FORMA DE CONTROLE ............................................. 104 3.2 O POSICIONAMENTO SINDICAL PERANTE O FUTEBOL OPERÁRIO ..... 123 3.3 OS INVESTIMENTOS NO FUTEBOL NO INTERIOR PAULISTA ................ 143 3.4 O FUTEBOL SUBURBANO FLUMINENSE .................................................. 157 4 CAPÍTULO 4 - O FUTEBOL APROPRIADO COMO POLÍTICA DE ESTADO (1930-1945) NO CONTEXTO DAS COPAS DO MUNDO ............ 160 4.1 VARGAS E A BUSCA DA IDENTIDADE NACIONAL ATRAVÉS DO FUTEBOL ..................................................................................................... 166 4.2 O FUTEBOL E AS QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS ..................................... 172 4.3 O ESTADO NOVO EM BUSCA DA IDENTIDADE NACIONAL .................... 179 5 CAPÍTULO 5 - NA EVOLUÇÃO DAS AGREMIAÇÕES, “O TOMA LÁ, DÁ CÁ” DO FUTEBOL ................................................................................ 198 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 238 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 246 APÊNDICES ................................................................................................. 269 APÊNDICE A – Participação brasileira em Copas do Mundo de Futebol ..... 270 APÊNDICE B – Fontes utilizadas ................................................................. 281 10 INTRODUÇÃO O futebol é incompreensível aos idiotas da objetividade. Nelson Rodrigues O futebol já estava incorporado ao cotidiano brasileiro por ocasião da ascensão de Getúlio Vargas ao poder no ano de 1930. É provável que tal assimilação não tenha ocorrido apenas pela apreciação popular pelo esporte. Teria sido incentivada (ou mesmo induzida), seja pelos patrocínios empresariais e de indivíduos e grupos com interesses diversos (promoção pessoal e familiar, divulgação de produtos e serviços, oferecimento de lazer, controle sobre trabalhadores, entre outros), seja pela cobertura dada pela imprensa à prática nas primeiras décadas do século XX. Estabelecido como “febre” popular a partir de iniciativas regionais, o futebol teria sido utilizado pela política getulista, então em busca da criação de símbolos que trouxessem uma identidade nacional durante o Estado Novo (1937-1945). Desde as ações varguistas, poderes locais teriam sido solidificados a partir de novas condutas relacionadas ao esporte. E é exatamente sobre a evolução dos sustentáculos que tornaram o futebol no Brasil um esporte popular e, posteriormente, um dos símbolos de identidade do país, que este trabalho procura se aprofundar. Ou, colocado de outra forma, como iniciativas locais teriam levado o futebol a se constituir em uma política de Estado, não sem devolutivas. Importante destacar que nas primeiras décadas do século XX, no contexto da fase de popularização do futebol, o movimento operário brasileiro postou-se de forma ruidosa. Apesar da ação repressiva governamental, a nascente burguesia industrial brasileira, inquieta diante das mobilizações sindicais proletárias, teria feito uso de mecanismos menos duros como apoiar e financiar o esporte que caíra nas graças operárias e de diversos outros segmentos populares. Porém, afirmar que o futebol seria uma invenção das classes dominantes para manipular os trabalhadores ou uma apropriação em forma de resistência dos segmentos sociais dominados, soa pequeno, insuficiente. Há, muito possivelmente, um contexto maior, mais amplo. Algo que este trabalho procurará demonstrar. A estruturação de diversas agremiações de futebol a partir da popularização do esporte (suplantando

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