CULTURA ESOCIEDADE NO RIO;DE JANEIRO (1808-1821) MARIA BEATRIZ NIZZA DA SILVA - ··1 ·, 1 t ,.._ b '- ~., _, ,.. 1 i . -... ' r ' -" , \ ' / 1 - -~N _/ brasiliana 1 _,. : ) ,· ' volume 363 •' CULTURA E SOCIEDADE NO RIO DE JANEIRO (1808-1821) A propósito da recente viagem do rei João Carlos I da Espanha à Colõml>la e à Vene­ zuela, observou um comentarista contempo­ rllneo que ela teve o defeito fundamental de estar atrasada de dois !Séculos. A vinda de um representa nte de dinastia européia ao Nov,> Mundo teria forçosamente dado novos rumos à evolucão americana. Ora, acontece que eR8c Impacto ocorreu no Brasil. A metrópole trans­ feriu-se para a América Portuguesa, a adml­ nlstracllo comecem a criar •um novo Império", t;Xpressão um lauto amblgua, embebida na tradl<;;!lo dos cronistas coloniais. Gabriel Soares de Sousa Inicia seu Tratado constatando que o Drasll está capaz de nele erguer-Ee um 0 • Gra11de Império". Ro<::ha Plta começa por empregar a expressão: • jaz o opulento Império do Brasil .. " Qualquer que tenha sido o sentido da ex­ prcssilo, a verdade ê que os estadistas portu­ gueses montam um mecanismo administrativo complicado (demasiadamente cc,mpllcado, como se verifica pela consulta a qualquer publicação especializada). Passando às mãos dos brasi­ leiros poucos anos depois, ,•ai metamorfosear-se no Império Brasileiro. Essa transformação tem sido estudada pelo seu aspecto exterior. A Autora deste estudo, pela primeira vez, ao que nos parece, pro­ põe-se a estudá-la Intrinsecamente, examinando percuclentemente fontes atê então conslde­ rauas desprezíveis pela história meramente factual, mas fornecedoras, ao pesquisador, de elementc,s surpreendentes para a compreensão do momento da criação de uma crisálida do ""gigante brasillão", feia expressão que se tentou pór em curso. Sua Intimidade com a hlstor\ogra!la uni­ versal permitiu-lhe carrear para o estudo longamente elaborado uma contribuição 11ouco empregada no exame do caso brasileiro. A história da familia brasileira de portas adentro, e não somente a dos südltos (depois cidadãos) brasileiros na ágora, recebe, aqui, forte e eloqüente fc-callzacão. O que ressalta deste est'1do em profundi­ dade ê que a ação, consciente ou Imposta pela conjuntura mundial, do estamento administra­ tivo lusitano aos Eeus domlnlos americanos era lrreverslvel. Foi Isso que r,s portugueees reunidos em Cortes anos dePQls, alguns de Incontestável Inteligência, não quiseram, ou não puderam, compreender. A tese do eminente prefaciador ressalta de textos de eloqüência Indisputável. O Brasil dEfendeu-se mais do que atacou. Nossos mais extremados panfletárlos sustentaram a manu­ tenção das garantias Individuais e o arcahou<.:o polftlco que haviamas conquistado ao longo de dlflcll e estrênua caminhada. Nada nos po­ deria fazer recuar. A func1lo rixa dora e estabilizadora do pe­ rlodo joanino, não obstante ali'\lns auxiliares Inca pazes de perceber a transcendência .dos n.conteclmentos lncoerclvels que se precipita­ vam, ê encarada com um rlqulsslmo apa rato bibliográfico e documimtal. Aspectos culturais, no amplo sentido da i::alavra, 11ão aqui postos em relevo e apontados como elementos lmpres­ clndlvels para a reallzacão daquilo a que todos almejamos: o traçado do verdadeiro caráter peculiar do povo brasileiro. A. J. L . MARIA BEATRIZ NIZZA DA SILVA Licenciada em História e Filosofia pela ·Facul­ dade de Letras de Lisboa (1961). obteve, na Uni­ versidade de S. Paulo, o título de Doutor em Filo­ sofia (1%7), o de Livre-Docente em Teoria da História (1973) e o de Professor Adjunto na mesma disciplina (1976). Bolsista da Alliance Française de Lisboa (1956), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo ( 1964), da Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa (1965-6) e do Governo Francês (1968-9), recebeu auxílio da FAPESP em 1976 para uma pesquisa sobre o primeiro jornal baiano, Idade d'Ouro do Brasil, que será futuramente publica­ da em livro. Assistente do Departamento de Filo­ sofia da Universidade de S. Paulo (196j--7.), transferiu-se para o Departamento de Históri:i, onde ministrou cursos na disciplina de Hi:;tória das Idéias e depois nas de Metodologia e Tcoril da História, tendo sido também professcra da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ai a­ raquara (1968-71) e da Pontifícia Universidade Cátólica de S. Paulo (1971). Colaborou no Su­ plemento Literário de O Estado de S. Paulo des­ de 1968, tendo artigos publicados na Rirvista d,· História, na Re--.Jista Brasileira de Filosofia. na Re1oista do Instituto dr Estudos Brasileiros, na re,·ista Ciência e Cultura. Fez conferências c·m universidades nacionais e estrangeiras (Austin, Sorbonne, Universidade Nova de Lisbca e Uni­ versidade de Montreal), participou dos cursos de pós-graduação da ·universidade Federal de Goiás e da Universidade Federal ·do Paraná e lprescn­ tou comunicações em diversos congressos e ~im· pósios. Livros publicados: Silvestre Pinheiro Fer­ reira: Ideologia ~ Teoria, Lisboa, Editora Sá da Costa, 1975; Teoria da História, S. Paulo, Cul­ trix, 1976 e Análise de estratificação social. O Rio de Janeiro de 1808 a 1821, no Boletim da Faculdade de Fi!Ósofia, Letras e Ciências Huma­ nas da Universidade de São Paulo, 1975. Orga­ nizou para a coleção "Nossos clássicos", da Agir Editora, os volumes Alexandre Herculano, o his­ toriador (Rb de Janeiro, 1964) e Oliveira Mar­ tins. Textos escolhidos (Rio de Janeiro, 1965). COMPANHIA EDITORA NACIONAL INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO/MEC. Preço de venda ao público, Cr$38,00 Este preço só se tornou possível devido à participação do Instituto Nacional do Livro, que, em regime de co-edição, permitiu o aumento da tiragem e a conseqüente redução do custo industrial. CULTURA E SOCIEDADE NO RIO DE JANEIRO (1808 - 1821) 1 , C.S.R.J, BRASILIANA Vo!nme 363 Direção: AMÉRICO )ACOB!NA LACOMBE Si! va, Maria Beatriz Nizza da. S581c Cultura e sociedade no Rio de Jaueiro: 1808-1821. São Paulo, Ed. Nacional; Brasília, INL, 1977. 272 p. (Brasiliana, v. 363) Dibliogra.fia. 1. Rio de Janeiro (Cidade) - Civi!ização 2. Rio de Janeiro ( Cidade) - Condições sociais 3. Rio de Janeiro ( Cidade) Vida intelectual 4. Rio de Janeiro (Cidade) - Vida social ~ costumes I. Instituto Nacional do Livro. II. Título. 111. Série CDD:981.541 :001. 20981 541 :309 .181541 :390 .0981541 CCF/Cl.lL/SP-76-1010 CDU :008(81 S. 41 )" 1808/1821" tudices para catálogo sistemático (CDD): 1. Rio <le Janeiro Cidade Civilização 981.541 2. Rio de Janeiro Cidade Condições sociais 309.181541 3. Rio <le Janeiro Cidade Costumes 390.0981541 4. Rio de Janeiro Cidade Vicia intelectual 001.20981541 s. Rio de Janeiro Cidade Vida social 390 .0981541 J\'1ARIA BEATRIZ NIZZA DA SILVA CULTURA E SOCIEDADE NO RIO DE JANEIRO (1808 - 1821) Prefcício de SÉRGIO IlUARQUI> DE llOLLANDA Em convênio com o INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA COMPANHIA EDITORA NACIONAL Proibida a reprodução, mesmo parcial, e por qualquer processo, sem autorização expressa da autora e dos editores. Direitos desta edição reservados à COMPANHIA EDITORA NACIONAL Rua dos Gusmões, 639 01212 - São Paulo, SP 1977 /11.1.presso no Brasil Ao Prof. ]oÃo CRuz CosTA, incentivador da 1ninha carrefra de pesquisadora. SUMÁRIO Préfácio de SÉRGIO BUARQUE DE HoLLANDA . • . IX lntrQd11ção ···· ··· · ··············· ·· · ···· · · ·· ·· · - · ·--· ·--·-•,-- , XXT I - A cultura implícita Hábitos alimentares •• • • 1 • • • • , • • • • - ~ ., .. - • • • • • ' 3 Sociologia do trajo 21 A morada carioca .. ... ..... .... ... ...... .. .. ... .... .. 41 A sociedade e as suas diversões . .. .. 57 Formas de religiosidade ................. - .... .... .... , ... .. 81 O casamento e suas normas . .. ..... ... ... .. , ... , . , ..... 96 Delitos e penas . .. .... .. ... ..... ...... .. ... , , .... 10-t II - A cultura explícita As área a do sabrr: as ciências e as artes ....... _., . .. _ . • .. • . 11:; As ciências .. ....... .. .. .. ... .. ..... .. .. ... .. .. _ .. .. 115 As artes .. .... .... .. ... .... _.. ... ....... .. .. .. .. , , . .. 147 As belas lrtras .. .... .. _ .. _ ........... .. , • , • . , . ..• , . , 169 Retórica • • , • • , , , , , , , , o o , • - • , • li - , , .J - • 1 • , 1,,,. , • • , " t ,. 1 , • t , • • , • t IP • , • 172 Poesia .. .. ... .... .. ....... , . ... .. ISO Peças dramáticas ........... ... .. ... .... .. .... ... , , . , ... 185 História ....•............ ....... .. .. .. .• , .. , .... _... 192 Romances, contos e novelas . ....... .. .... ..• .. • , . .. , , . 197 O ciclo napoleônico . .. ... : . , .. .... • . .. 215 Cn nclusiio . .. .. ... .. ... .. ... .... .... , . ... .. .. , .. .. 225 Fontes e bibliografia . 229 PREFÁCIO Com o presente volume Maria Beatriz Nizza da Silva abre horizontes novos e a meu ver altamente sugestivos para boa inte­ ligência da sociedade brasileira na etapa singularmente importante de sua formação, que principia no ano da chegada da Corte por­ tuguesa e se estende até o ano do embarque de D. João v1 e sua comitiva. É o período, aliás, a que se vem ultimamente devotando com atento zelo. Lembre-se, a propósito, o livro que lhe inspira­ ram as idéia~ e a personalidade de Silvestre Pinheiro Ferreira, o ministro do ''rei velho" que tenta retê-lo no Brasil num momen­ to em que quase todos, a começar pelo governo da Grã-Bretanha, que animara e protegera outrora seu estabelecimento no aquém­ mar, pelejam por convencê-lo de que é urgente seu regresso a Lisboa: publicado em Portugal, este livro ainda não pôde ter entre nós a repercussão que certamente merece. Lembrem-se ainda seus dois trabalhos sobre a "Transmissão, conservação
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