Poraqueiba Sericea Tulasne) (1)

Poraqueiba Sericea Tulasne) (1)

Aspectos fenológicos, ecológicos e de produtividade do umari (Poraqueiba sericea Tulasne) (1) Martha de Aguiar Falcão (2) Eduardo Lleras (3) Resumo çam a ser desenvolvidos t rabalhos nesta linha de pesquisa. Foram estudados aspectos da fenologia, ecologia A região amazônica, embora ofereça uma e produtividade do Umari (Poraqueiba sericea Tulasne). Os dados fenológicos indicam que, na região de Ma· grande diversidade de espécies frutíferas nati­ naus, a espécie floresce na época de menor precipita­ vas, apresenta uma série de problemas quanto ção pluviométrica (junho a outubro), com a safra na à cultura das mesmas, dada, em parte, a falta época de maiores chuvas (Janeiro a março) . Foram de estudos básicos. observadas 21 espécies de insetos visitando a espécie, Dentre os trabalhos sobre a cultura de das quais 1O, todas da família Apidae, apresentaram quantidades significativas de pólen, o que sugere não plantas que estão sendo realizados na região existir um polinlzador específico e sim um síndrome de de Manaus, encontram-se os de Clement et ai. polintzação. O número de flore:. foi muito alto para to­ (1977) que estão realizando uma série de ex­ das as 10 árvores estudadas. variando entre 13.000 e perimentos sobre o melhoramento genético e 82.000 por árvore, com taxa de formação de frutos re­ lativamente baixa (entre 4 e 9% ) . Ainda se pode pen­ banco de germoplasma de algumas espécies sar na possibilidade de a baixa taxa de formação de frutíferas, especialmente de Mapati e S3pota, frutos ser devida b pouca efetividade de polinização; há Pahlen (1978) iniciou experiências sobre o me­ uma correlação surpreendentemente alta entre o núme­ lhoramento genético e cultura de algumas hor­ ro de flores e outros parâmetros de produção tais co­ taliças e plantas frutíferas, as quais estão sen­ mo números de frutos imaturos (r=0,987* *), números de frutos maduros (r=0,989**) e peso da safra do concluídas por Clement. Gondim (1978) (r= 0,98 **). o que sugere que há outros fatores que estudou alguns aspectos da biologia reprodu­ podem estar desempenh3ndo papéis muito importantes tiva do guaraná. Kerr et a/. ( 1980) apresenta­ na determinação da produção das árvores (safra). Pa­ ram dados sobre as práticas de seleção de rece que o número de flores está intimamente correla­ plantas cultivadas pelos índios amazônicos. to com a capacidade energética da árvore para produ· zir um peso determinado de frutos, sugerindo um con­ Este é o primeiro de uma série de traba­ trole endógeno de números de frutos formados e fru­ lhos de fruteiras nativas ou cultivadas na Ama­ tos abortados de maneira a manter um certo peso e zônia, nos quais se apresentam dados fenológi­ número de frutos que atingem maturação . cos, ecológicos e de produtividade visando a contribuir para a fruticultura, na região. INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS Com o progresso da tecnologia industrial e o aumento da população, a quantidade e Para efeitos de comp::.ração entre dois ha­ produtividade das espécies frutíferas têm des­ bitats, foram estudadas seis árvores da Fazen­ pertado grande interesse aos fruticultores do da NAF-6, Estrada Manaus-Carac:traí Km 14 e mundo. quatro no Sítio Rosa de Maio, Estrada Manaus­ No Bras i I, encontram-se i números traba­ ltacoatiara Km 8. As observações de campo lhos re:~lizados com a cultura de plantas frutí• foram realizadas entre fevereiro de 1977 e feras, no entanto, na Amazônia, só agora come- agosto de 1978. ( 1 ) - Parte deste trabalho foi extraída da Tese para obtenção do grau de Mestre em Ciências Biológicas pelo pri­ meiro autor - INPA/ FUA. ( 2 ) - Fundação Universidade do Amazonas. Manaus . ( 3) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Manaus . ACTA .AMAZONICA 1C(3) : 445-462 . 1980 -445 Foram coletadas amostras-testemunhas as tivo de caicular-se a média dos frutos perdidos quais foram depositadas no herbário do INPA e da safra de cada espécie. sob o seguinte número: Poraqueiba sericea, Foram pesados 500 frutos, ou seja, 50 fru­ col. Martha Falcão nQ 13, n.0 do Herbário tos de cada árvore. Dos frutos submetidos à 40937. pesagem, foram retiradas as sementes, polpas As observações de campo foram realizadas e cascas, as quais foram pesadas, sendo que semanalmente. As datas estimadas quanto ao as sementes foram também contadas. Para as início e ao término dos fenômenos fenológicos pesagens obtidas foi utilizada balança de pre­ têm assim aproximação de ± 6 dias. cisão. Durante o período de floração, em cada ár­ Foram feitas medidas do fuste, do diâme• vore foram escolhidos 3 galhos, ao acaso, nos tro e da copa das árvores em estudo a fim de quais se fez a contagem das inflorescências e fazer-se uma correlação entre a idade e a pro­ flores. Com a finalidade de estimar-se a quan­ dutividade dessas árvores. tidade de inflorescênci as e flores produzidas Todos os resultados obtidos foram subme­ pela árvore, foram contados todos os galhos. tidos a diversos cálculos estatísticos, como: média aritmética, desvio-padrão, erro padrão da As flores foram dissecadas e comparadas média, variância, coeficiente de variação, teste com a descrição, feita por Prance & Silva "T". teste d'Agostini, curtose, regressão linear (1975). 2 e X • A fim de ter-se uma idéia de que as flores As descrições botânicas das espécies fo­ eram ou não autofecundadas, foram colocados ram baseadas nos trabalhos de Prance & Silva envoltórios de filá de malhas milimétricas ou ( 1975) . Cavalcante ( 1976) e em observações de morim em 1O infiorescências de cada árvo­ pessoais. re, dando um total de 100 envoltórios para a espécie. CONSIDERAÇÕES GERAIS Foi feito o estudo do pólen encontrado nas patas dos insetos com a finalidade de fazer-se O Umari, Poraqueiba sericea é conhecido uma comparação com o pólen da espécie visi­ botanicamente desde o século passado, tendo tada. Nos dois casos, o método usado na pre­ sido descrito por Tulasne em 1849 (cit. Englers, paração do pólen foi o da acetólise (Erdtman, 1872). Segundo Le Cointe (1947) o seu nome 1960), seguido da montagem de grãos em ge­ tem origem indígena e é uma planta cultivada latina glicerinada. pelos silvícolas (Froes Apud Cavalcante & Car­ Para determinarem-se os possíveis polini· valho·, 1971). Vários trabalhos foram publica­ zadores de cada espécie, todos os insetos que dos a seu respeito. Dentre os mais recentes, visitavam as flores foram coletados, acondicio· podem-se citar os de Altman et a/. (1965b) que nados e identificados pelo Dr. Norman Penny estudaram o óleo de seus frutos. Cavalcante & dD Departamento de Entomologia do INPA, Dr. Carvalho ( 1971) fizeram uma revisão taxonômi• Warwick Kerr e Dr. João Camargo da Faculda­ ca do gênero Poraqueiba. Carvalho (1971) es­ de de Medicina de Ribeirão Preto. tudou a sua morfologia polínica. Prance & Silva ( 1975) e Cavalcante ( 1976) fizeram referên­ Para estabelecer-se uma correlação entre cias sobre os seus nomes vulgares, descrição a freqüência dos insetos nas árvores e a quan­ botânica, habitat, distribuição geográfica, as­ tidade de pólen que eles carregam, foi feita a pectos fenológicos e valor econômico. contagem padrão de 1 . 000 grãos de pólen por amostra. ASPECTOS BOTÂNICOS No período de frutificação, as contagens dos frutos foram feitas nos mesmos gaihos em Nome científico : Poraqueiba sericea Tulasne que foram contadas as inflorescências e flores. (Fig. 1; a, b, c, d) . Tanto os frutos imaturos quanto os maduros Nomes vulgares Mary, Mari, Umari e Umari­ que permaneciam nos galhos ou caídos embai­ preto. xo de cada árvore foram contados com o obje- Família lcacinaceae. 446- Falcão & Lleras Fig . 1 - Poraqueiba sericea. A, aspecto geral da árvore; 8, galho mostfando inflorescência; C, frutos quase madu­ ros; D, detalhes de uma inflorescêncla. Arvore de 8-12 m de altura, copa ampla e sépalas, lanceoladas; pétalas 5, ovado-Ianceo­ ramificada; folhas simples, alternas, peciola­ ladas; estames 5; hipóginos; anteras rimosas das; lâmina coriácea elítico-ovads; margem in­ longitidinalmente, dorsifixas; ovário súpero; teira; ápice acuminado; base redonda, glabras óvulos anátropos; estilete terminal; fruto drupa na face superior; inflorescências em panículas terminais de 3-7 em de comprimento; flores ovado-oblongo; epicarpo fino amarelo, roxo-es· hermafroditas, sésseis, actinomorfas, diclamí• cura, amarelo-esverdesdo e amarelo-averme­ deas, lobos obtuso-ovados, densamente serí• lhado; mesocarpo duro lenhosc, oval, com uma ceos; receptáculo globoso; sépalas 5, gamos- semente grande. Aspectos ... -447 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA E HABITAT Até o presente momento, não se conhece nenhuma cultura comercial de umari, porém é No Brasil, Poraqueiba sericea ocorre no Es­ largamente cultivado nos sítios e pomares de tado do Amazonas (Alto rio Negro. cachoeiras Manaus e seus arredores. Pari, lçana e Tunuí, rio Solimões desde Manaus até Tabatinga e Humaitá no rio Madeira) (Le Cointe, 1947; Fonseca, 1954; Prance & Silva. CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS 1975; Cavalcante, 1976) . Atinge também países limítrofes, na Co­ A constituição química do umari tem sido lômbia, em Letícia, e no Peru, no Departamento estudada por diversos autores. Pesce ( 1941) de Loreto (Fig. 2) . verificou que o fruto contém 25% do seu peso representado por um óleo de cor amarelo-escu­ Encontra-se nas matas de terra firme. ra e que apresenta odor semelhante ao de ave­ lã. Brest (Apud. Altman et ai., 1965a) determi­ usos nou as constantes químicas deste óleo, as quais são citadas a seguir : Os frutos são comestíveis e produzem um Densidade .................... 0,9135 óleo que é aproveitado no preparo do arroz co­ Ponto de solidificação .. ...... 41°C zido (Kerr, comunicação pessoal). A semente contém amido (Pesce. 1941) • o qual é usado Acidez em oléico ............. 21% para engomar roupa. A madeira é empregada fndice de saponificação ....... 196 na marcenaria e no fabrico de tamancos (Le fndice de iodo ................ 71,8 Cointe, 1947; Prance & Silva, 1975). !ndice de refração (n.D a 15°C) .. 1,6485 Fig. ·2 - Distribuição geográfica conhecida de Poraqueiba sericea.

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