Monimiaceae Flora of Espírito Santo: Monimiaceae

Monimiaceae Flora of Espírito Santo: Monimiaceae

Rodriguésia 68(5): 1725-1765. 2017 http://rodriguesia.jbrj.gov.br DOI: 10.1590/2175-7860201768513 Flora do Espírito Santo: Monimiaceae Flora of Espírito Santo: Monimiaceae Elton John de Lírio1,2 & Ariane Luna Peixoto1 Resumo Monimiaceae, uma família basal de Angiospermas, compreende 28 gêneros e aproximadamente 220 espécies que ocorrem predominantemente em florestas úmidas. No Brasil está representada por cinco gêneros e cerca de 43 espécies. A Mata Atlântica é considerada um dos centros de diversidade da família e nela ocorrem os cinco gêneros representados no Brasil e a maior parte das espécies, muitas das quais endêmicas desse bioma. O presente estudo buscou conhecer e caracterizar as espécies de Monimiaceae ocorrentes no estado Espírito Santo. O estudo resultou na identificação e caracterização morfológica de 21 táxons pertencentes a três gêneros: Macroturus e Macropeplus com uma espécie cada e 19 para Mollinedia. O gênero Macropeplus é citado pela primeira vez para o estado, bem como Mollinedia puberula. É apresentada uma chave para identificação, descrições morfológicas, distribuição geográfica e comentários. Palavras-chave: Laurales, Macropelus, Macrotorus, Mata Atlântica, Mollinedia. Abstract Monimiaceae, a basal angiosperm family, comprises 28 genera and approximately 220 species that inhabits predominantly rainforests. In Brazil, it is represented by five genera and about 43 species. The Atlantic forest is considered one of the centers of diversity of this family. In this biome occurs the five genera represented in Brazil, as well as most of the species, many of them endemic to this biome. The present study aims to characterize the species of Monimiaceae that occur in the state of Espírito Santo. The study resulted in the identification and morphological characterization of 21 taxa belonging to three genera: Macrotorus and Macropeplus, both with one species, and Mollinedia, with 19 species. Macropeplus is reported for first time to the state of Espírito Santo, as well as Mollinedia puberula. A key to identification, morphological descriptions, geographic distribution and comments are provided. Key words: Laurales, Macropelus, Macrotorus, Atlantic Forest, Mollinedia. Introdução (Brown 1814), Trimeniaceae (Gibbs 1917), A família Monimiaceae (ordem Laurales) Amborellaceae (Pichon 1948) e Siparunaceae engloba 28 gêneros e cerca de 220 espécies (Renner (Schodde 1970). Análises moleculares confirmaram et al. 2010). Com ocorrência predominantemente o polifiletismo da família e a necessidade dos tropical, tem como seus principais centros de desmembramentos realizados e também a dispersão o Arquipélago Malaio e o sul-sudeste relação mais próxima de Monimiaceae com brasileiro (Peixoto & Pereira-Moura 2008; Renner Hernandiaceae e Lauraceae, do que com os grupos et al. 2010). anteriormente incluídos na família (Renner 1999). A família foi descrita por Jussieu em 1809, Como circunscrita atualmente Monimiaceae é tendo como gênero tipo Monimia. Era uma família de monofilética (APG IV 2016). Monimiaceae é difícil delimitação e polifilética, englobando táxons monofilética e subdividida em três subfamílias: que foram sendo desmembrados, constituindo Hortonioideae, Monimioideae e Mollinedioideae famílias distintas, como Atherospermataceae (Renner et al. 2010). Todas as espécies que ocorrem 1 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Escola Nacional de Botânica Tropical, Prog. Pós-graduação em Botânica, R. Pacheco Leão 2040, Solar da Imperatriz, Horto, 22460-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Autor para correspondência: [email protected] 1726 Lírio EJ & Peixoto AL no Brasil pertencem a Mollinedioideae, uma Material e Métodos subfamília pantropical que inclui aproximadamente O Espírito Santo, localizado na região 21 gêneros e 180 espécies (Philipson 1993; Renner sudeste do Brasil, possui extensão aproximada et al. 2010). de 44.000 km2, está totalmente inserido no bioma No Brasil ocorrem cinco gêneros e cerca de 43 Mata Atlântica. Apresenta uma grande variação espécies da família distribuídas em todos os biomas de fatores abióticos, o que lhe confere uma (BFG 2015). Hennecartia omphalandra J.Poiss., considerável variação de habitats. A altitude varia monotípico, ocorre no sudeste e sul do Brasil desde o nível do mar até 2892 m, as áreas vão de (Peixoto et al. 2001); Grazielanthus arkeocarpus planas a acidentadas, secas a encharcadas, com Peixoto & Per.-Moura, monotípico, endêmico da solos rasos, medianos ou profundos podendo se floresta de baixada do trecho central do estado do apresentar pedregoso ou não, sob influência direta Rio de Janeiro (Peixoto & Pereira-Moura 2008); do mar ou não (Lani et al. 2008). Três formações Macrotorus utriculatus (Mart. ex Tul.) Perkins, geomorfológicas são conhecidas para o estado, monotípico restrito à Floresta Atlântica, ocorre na que sustentam tipos de vegetação distintos: o Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo Pré-Cambriano, onde ocorre a Floresta Ombrófila (Lírio et al. 2015); Macropeplus Perkins com Densa Floresta Estacional Semidecidual; o quatro espécies, que se distribuem nas cadeias Tabuleiro Terciário, com as matas de tabuleiros, montanhosas da Bahia, Minas Gerais, Goiás, e a planície arenosa marinha Quaternária, com as Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo (Santos formações pioneiras e predominância da restinga & Peixoto 2001); e Mollinedia Ruiz & Pav. com (Garbin et al. 2017). Nestas três formações cerca de 40 espécies que ocorrem no sul do México, geomorfológicas encontram-se 14, 5 e 8 Unidades América Central, Antilhas e nos países da América de Conservação (federais e estaduais, exceto do Sul, exceto na Argentina, Chile e Uruguai RPPNs), respectivamente, totalizando 2,62% do (Peixoto 1987; BFG 2015). território do estado (IPEMA 2004). A Mata Atlântica é o bioma brasileiro que O estudo foi baseado em coletas campo e detêm maior número de táxons, com ocorrência material de herbário. As espécies já representadas de cinco gêneros e mais da metade das espécies nos acervos dos herbários foram recoletadas conhecidas para o Brasil, das quais muitas são para análises da variação morfológica, ambiente endêmicas de pequenas áreas (Peixoto & Gonzalez de ocorrência e georreferenciamento. Foram 2009; Peixoto et al. 2013; BFG 2015). visitados os municípios Alfredo Chaves, Afonso O território do Espírito Santo totalmente Cláudio, Anchieta, Aracruz, Atílio Vivacqua, inserido na Mata Atlântica, embora com apenas Cariacica, Itarana, Laranja da Terra, Linhares, 11,07% de remanescentes naturais, é considerado Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, São um dos estados com maior riqueza de espécies Roque do Canaã, Santa Teresa, São Mateus, Serra no Brasil (Dutra et al. 2015), além de possuir e Vargem Alta. As exsicatas foram depositadas no o segundo maior recorde em riqueza de plantas herbário do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico lenhosas por hectare (Thomaz & Monteiro do Rio de Janeiro (RB) com duplicatas para o 1997; Saiter et al. 2011). É também uma área de Instituto Nacional da Mata Atlântica (MBML). destaque em riqueza de Monimiaceae no contexto Foram consultadas as coleções dos herbários do Brasil por abrigar três gêneros e 21 espécies sediados no Espírito Santo (CVRD, MBML e dessa família: Macrotorus (1); Mollinedia (19) VIES), em Minas Gerais (VIC e BHCB), no e Macropeplus (1), este último encontrado após Rio de Janeiro (R, RB e RBR) e São Paulo (SP, indicações de um estudo de distribuição potencial SPF e SPSF), acrônimos de acordo com Thiers do gênero que apontou adequabilidade ambiental (continuamente atualizado). de 15–32% para a espécie no sul do Espírito Santo A identificação foi realizada utilizando-se (Gonzalez 2007). chaves de identificação, literatura especializada Diante do exposto, o presente estudo buscou (Tulasne 1857; Perkins 1900; Perkins & Gilg verificar a riqueza de Monimiaceae no território 1901; Peixoto 1979; Peixoto 1987), comparação capixaba, a ocorrência do gênero Macropeplus, com exsicatas identificadas e com material tipo e caracterizar os táxons através de morfologia, fotografias de tipo disponíveis em bancos de dados ilustrações e fotografias, fornecer chave de virtuais de coleções científicas. identificação, mapas de distribuição geográfica e A descrição dos táxons, as chaves dicotômicas comentários para os gêneros e espécies. e as ilustrações foram elaboradas com base nos Rodriguésia 68(5): 1725-1765. 2017 Monimiaceae no Espírito Santo 1727 caracteres morfológicos observados nos espécimes mata. Macropeplus schwackeanus (Perkins) I.Santos examinados em campo e em material herborizado do & Peixoto é a única espécie que ocorre em altitudes Espírito Santo. Material adicional de outros estados acima de 1200 m. foi utilizado apenas para complementar as descrições, quando necessário. A terminologia morfológica foi Monimiaceae baseada em Radford et al. (1974), Willard (1978), Árvores ou arbustos, raramente escandentes, Barroso et al. (1999), Stern (2004), Endress (2010) e monóicas ou dióicas, aromáticas ou não. Ramos Romanov et al. (2007). As medidas foram realizadas cilíndricos a subcilíndricos, ramos jovens com em material seco (exceto em flores, que foram catáfilos na base, depois caducos. Folhas simples, hidratadas) com o uso de paquímetro. A coloração opostas, margem inteira ou denteada, sem estípulas. das folhas, caráter constante utilizado na chave e Inflorescências em cimas trifloras isoladas ou descrições das espécies, deve ser utilizado com cautela reunidas em fascículos ou tirsos, ou reduzidas a flores em espécimes herborizados

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