O Brasil E Os Outros: O Poder Das Ideas

O Brasil E Os Outros: O Poder Das Ideas

O Brasil e os outros: o poder das ideias Chanceler Dom Dadeus Grings Reitor Joaquim Clotet Vice-Reitor Evilázio Teixeira Conselho Editorial Ana Maria Lisboa de Mello Bettina Steren dos Santos Eduardo Campos Pellanda Elaine Turk Faria Érico João Hammes Gilberto Keller de Andrade Helenita Rosa Franco Ir. Armando Luiz Bortolini Jane Rita Caetano da Silveira Jorge Luis Nicolas Audy – Presidente Jurandir Malerba Lauro Kopper Filho Luciano Klöckner Marília Costa Morosini Nuncia Maria S. de Constantino Renato Tetelbom Stein Ruth Maria Chittó Gauer EDIPUCRS Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor Jorge Campos da Costa – Editor-Chefe Elizabeth Cancelli O Brasil e os outros: o poder das ideias Porto Alegre 2012 © EDIPUCRS, 2012 CAPA Rodrigo Valls REVISÃO DE TEXTO Patrícia Aragão REVISÃO FINAL Autores EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Andressa Rodrigues C215b Cancelli, Elizabeth O Brasil e os outros : o poder das ideias [recurso eletrônico] / Elizabeth Cancelli. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2012. 188 p. ISBN 978-85-397-0105-6 (on-line) Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader Modo de Acesso: <http://www.pucrs.br/edipucrs> 1.Brasil – História – Século XX. 2. Brasil – Política e Governo. 3. Brasil - Desenvolvimento Cultural. I. Título. CDD 981.061 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). MEMÓRIA Carlos Drummond de Andrade Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais lindas, essas ficarão. AGRADECIMENTOS Ao longo do tempo em que me enredei com a vida intelectual e com a produção de textos, fui privilegiada por privar de companhias estimulantes. Discussões, leituras, aulas, seminários, encontros e trocas constantes de literatura, além de intermináveis jantares, incentivaram-me e me fazem ainda crer que a vida acadêmica faz muito bem ao espírito, em que pese a sistemática tentativa de transformá-la em medíocre atividade de prestação de serviços, medida por fórmulas derivadas da administração de fábrica taylorista, das quais Charles Chaplin já fazia troça nos anos 30. Nesta viagem de histórias, são muitas as amizades que alimentaram a “vida do espírito”. Tenho muito a agradecer pela companhia intelectual que, desde Brasília, fizeram-me, especialmente, Ana Vicentini, Tereza Christina Kirshner, Sônia Lacerda, Mireya Suarez, Geralda Dias, Vânia Otero, Daniel Faria e Calos Henrique Romão Siqueira. A todo o grupo que, a partir de Stella Bresciani, formou na Universidade de Campinas o Núcleo História e Linguagens Políticas, devo muito do desafio em pensar na contramão, com independência, especialmente pelas constantes trocas mantidas. A Stella Bresciani, especificamente, com quem tenho o privilégio de conviver pessoal e academicamente há quase trinta anos, continuo em dívida pelos “nortes” que recebi. Ruth Chittó Gauer e Martha Huggins, uma em Porto Alegre, outra nos Estados Unidos, portanto em hemisférios opostos, além da jovialidade e do humor, tenho gratidão pela companhia e fluente incentivo intelectual. Aos colegas do Departamento de História da USP, quero agradecer a respeitosa e generosa acolhida pessoal e acadêmica que obtive quando optei profissional e civicamente em não aceitar o inaceitável, e acabei sendo induzida a me demitir da Universidade de Brasília. Pude ingressar numa nova instituição e reiniciar minha carreira. Em especial, a Maria Helena Capelato, Maria Lígia Prado e Maria Helena P. T. Machado. Assim como minha família e alguns amigos, colegas, alunos e orientandos, muitos com os quais construí estreitos laços de amizade, instigaram-me a não permanecer no mesmo lugar, a seguir em frente, a virar páginas. Uns, às vezes, de perto, outros de longe, vários em Brasília, outros já em São Paulo, com eles contei, com muita dignidade. SUMÁRIO Apresentação ...................................................................................................8 I Ressentimento e memória: a América da (des)ilusão ...................................11 Em nome da virtude, da política e de Deus ..................................................28 Pesadelo, exotismo e sonho .........................................................................45 II O poder das ideias .........................................................................................65 Entre o Exotismo e a humilhação .................................................................88 O ódio e a ira: testemunho e totalitarismo ..................................................104 A crise dos alienados e o revival da intolerância ........................................120 Mal-estar de civilização: a democracia e o negro no Brasil .......................134 Mal-estar de escrever ..................................................................................161 Referências .................................................................................................178 8 Elizabeth Cancelli - O Brasil e os Outros APRESENTAÇÃO1 Iniciei este trabalho há alguns anos, aos poucos. Na época, em meados desse primeiro decênio, ainda não tinha clareza por onde esta pesquisa enveredaria. De certa forma, vários questionamentos relativos à historiografia sobre o Brasil me forçaram a este caminho de reflexão. Deles, dois podem ser apontados como os mais imediatos, aqueles que, cedo na carreira acadêmica, começaram a me perseguir: um deles era o caráter ou o recorte um tanto ensimesmado com que as pesquisas sobre a história brasileira se desenvolviam. Quando muito, elas apresentavam uma remissão ao “(con)texto” mundial, político ou econômico, à procura de uma espécie de mapeamento da circunstancialização de quadros históricos que as justificassem. Esta era uma opção teórica que me causava desconforto, pois, no meu entender, se apresentav1a através de pressupostos estruturais restritos, fazia poucas perguntas e apontava, inevitavelmente, em direção ao futuro de opções políticas no mais das vezes limitadoras da reflexão histórica e historiográfica. Era, ainda, e sempre me pareceu, acobertada por esta “(con)textualização” que a leitura sobre a História feita no Brasil colocava-se como refém. O outro aspecto imediato de questionamento da historiografia que me fez seguir por este caminho, e cuja exposição se encontra neste volume, diz respeito ao retorno que comecei a receber de meu próprio trabalho: eu seria uma pesquisadora da polícia ou da violência. Ingenuamente, penso eu, esta rotulação me chocou. Passado o susto, sei que o rótulo aconteceu em razão dos caminhos teóricos e metodológicos que acabei escolhendo para fazer meu percurso de imbricação entre a história política e a história das ideias. Um dos primeiros erros que cometi foi o de abrir mão do título original de minha tese de doutorado, O mundo da violência: o Estado policial na Era Vargas. Publiquei-o como O mundo da violência, a polícia na Era Vargas. Feita a opção, acho que colhi o que equivocadamente plantei. Neste trabalho, sigo tentando estabelecer um diálogo intenso com a historiografia brasileira sobre o século XX. Se nem sempre ele é explicitado, é porque pelo diálogo frontal eu estaria presa aos pressupostos do que já foi escrito. Preferi transitar livremente pela pesquisa, pela documentação e pela reflexão. Um ato de rebeldia? Provavelmente, mas uma postura que me fez arriscar em direção à exploração de fontes documentais inéditas, muitas vezes excitantes, e que me forçou a procurar caminhos alternativos de reflexão teórica. 1 O CNPq e a Fapesp fizeram possível a realização da pesquisa e a participação me encontros. Elizabeth Cancelli - O Brasil e os Outros 9 Aqui, nem todos os textos que apresento são inéditos, eles sofreram interferências no sentido de revelarem o sentido da trajetória da pesquisa e de questões que fui me colocando, de complementar e de corrigir informações. Eles não seguem uma ordem cronológica de produção, mas perfazem um percurso de conversa com meus trabalhos anteriores. Neste primeiro volume que agora publico, os textos foram divididos em duas partes, porque a primeira foi um pressuposto para o desenvolvimento da segunda. As duas, entretanto, têm vida própria, ou, pelo menos, foi assim minha intenção ao concebê-las e apresentá-las, como uma espécie de caleidoscópio. A primeira dessas partes – que contém três capítulos: Ressentimento e memória: a América da Desilusão; Em nome da virtude, da política e de Deus; e Pesadelo exotismo e sonho – foi guiada, posso dizer, por uma profunda curiosidade em pensar o Novo Mundo de uma forma distante das interpretações das Relações Internacionais, por exemplo. Tentei aí sistematizar uma série de reflexões teóricas sobre o que vinha lendo, especificamente sobre a história do Brasil, nos últimos anos. Estes capítulos são, de fato, uma espécie de pano de fundo da segunda metade (parte) do livro. A segunda parte deste volume está dividida em seis

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