Caion Meneguello Natal OURO PRETO A CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADE HISTÓRICA, 1891-1933 Fevereiro / 2007 CAION MENEGUELLO NATAL OURO PRETO A CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADE HISTÓRICA, 1891-1933 Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas sob a orientação da Profª. Drª. Silvana Barbosa Rubino. Este exemplar corresponde à redação final da Dissertação defendida e aprovada pela Comissão Julgadora em 23/02/2007. BANCA Profª. Drª. Silvana Barbosa Rubino (orientadora) Prof. Dr. Guilherme Simões Gomes Júnior Prof. Dr. Marcos Tognon Prfª. Drª. Iara Lis Franco Schiavinatto (suplente) FEVEREIRO / 2007 III FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO IFCH – UNICAMP Natal, Caion Meneguello N191 Ouro Preto : a construção de uma cidade histórica, 1891-1933 / Caion Meneguello Natal. - - Campinas, SP: [s.n.], 2007. Orientador: Silvana Barbosa Rubino. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. 1. Patrimônio histórico. 2. Cidade e vilas. 3. Monumentos. 4. Ouro Preto (MG) - História. I. Rubino, Silvana. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título. Título em inglês: Ouro Preto: the construction of a historical city, 1891-1933. Palavras-chave em inglês (Keywords): Ouro Preto (MG) - History Historical heritage Cities and towns Monuments Área de concentração: Política, Memória e Cidade Titulação: Mestre em História Banca examinadora: Profª. Drª. Silvana Barbosa Rubino (orientadora) Prof. Dr. Marcos Tognon Prof. Dr. Guilherme Simões Gomes Júnior Data da defesa: 23/02/2007 Programa de Pós-Graduação: Pós-graduação em História IV Resumo Este estudo busca compreender o processo histórico de patrimonialização de Ouro Preto. Partindo do último decênio do século XIX e chegando até o momento de tombamento da cidade em pauta, em 1933, o presente trabalho analisa os modos como a antiga Vila Rica adquiriu seu qualificativo histórico e quais foram os fatores políticos e valores sócio- culturais em jogo na construção e definição de sua imagem de monumento histórico e artístico nacional. No começo do século XX, portanto, após perder seu status de capital do Estado de Minas Gerais, Ouro Preto se afirma no imaginário social como cidade histórica, tornando-se uma referência cara à constituição da identidade e tradição brasileiras. Abstract This study intends to understand the historical process that lead Ouro Preto to the status of national heritage and historical city. Focusing on the period starting in the last decade of the nineteenth century until 1933 when the city became a Brazilian heritage, this study analyses the ways in which former Vila Rica acquired its historical category and which were the political factors and social and cultural values that contributed to the construction and definition of its image as a historical and artistic monument. After losing its condition of capital of Minas Gerais in the end of the nineteenth century and beginning of the twentieth, Ouro Preto is established as a historical city in the social imaginary, becoming a reference dear to the constitution of Brazilian identity and tradition. V Agradecimentos Agradeço ao CNPq pelo apoio financeiro de fundamental importância, sem o qual este trabalho não teria sido possível; a Silvana Rubino, pela orientação, confiança, interesse e amizade; aos professores Guilherme Simões Gomes Júnior e Marcos Tognon por terem aceitado compor a banca de defesa desta dissertação. Agradeço às professoras Iara Lis Schiavinatto, Isabel Marson e Margareth Rago, pela competência docente. A Cecília, pela tradução. Aos funcionários dos arquivos em que estive, especialmente ao Jairo da Hemeroteca Pública de Belo Horizonte. Aos amigos que encontrei na Unicamp e que me acolheram com tanta hospitalidade: Ana Rita, Flávio, Guilherme e Vanessa, que nossa amizade permaneça. Aos amigos de Minas: Aldo, Maurinho, Ana Amélia, Flávio Puff, Mussa, Marina, Fabrício, Pablo, Kibe, Marco, Pedro, Renatinho, Fábio e Chico, pela lealdade e pelas risadas inabaláveis. Meus agradecimentos ao pessoal de Ariranha: Andréa, Luiz, Daniel e Duda, amigos de sempre, pela música, pelo diálogo e pelos calorosos reencontros. A minha família, pelo apoio incondicional. A minha mãe, pela sensibilidade. Agradeço a Erika, pelas fotografias, pela arte, pelo carinho e pelo sorriso nosso de cada dia. A todos, obrigado. VII ÍNDICE INTRODUÇÃO 1 CAPÍTULO 1. POR UM NOVO DESENHO URBANO 13 1.1 A QUESTÃO DA TRANSFERÊNCIA DA CAPITAL 15 1.2 O PROJETO DE MELHORAMENTOS DE OURO PRETO 37 1.3 POR UMA CIDADE MODERNA E TRADICIONAL 58 CAPÍTULO 2. EM BUSCA DA CIDADE HISTÓRICA 67 2.1 ENTRE A MEMÓRIA E O ESQUECIMENTO: A CIDADE REVISTA 69 2.2 A CIDADE COMO PALCO E TESTEMUNHO DA HISTÓRIA: AS COMEMORAÇÕES DO BI- CENTENÁRIO DE OURO PRETO 88 CAPÍTULO 3. A CONSOLIDAÇÃO DE OURO PRETO COMO CIDADE HISTÓRICA 107 3.1 A REDESCOBERTA MODERNISTA DE MINAS GERAIS 109 3.2 VOZES DE MINAS 133 3.3 A CIDADE MONUMENTO 149 CONSIDERAÇÕES FINAIS 171 APÊNDICE. A CIDADE HISTÓRICA COMO “LUGAR DE MEMÓRIA”: UMA SUGESTÃO DE LEITURA 179 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 199 FONTES PRIMÁRIAS 201 LOCAIS DE PESQUISA 206 BIBLIOGRAFIA GERAL 207 ANEXO A. TRANSCRIÇÃO DE DOCUMENTO 223 ANEXO B. CÓPIA DE DOCUMENTO 235 IX ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1 - CASA DOS CONTOS, ANTERIOR À DÉCADA DE 1940, LUIZ FONTANA ________ 9 FIGURA 2 - VISTA DE OURO PRETO, 1881, GUILHERME LIBENCAN _________________ 16 FIGURA 3 - VISTA DA PRAÇA TIRADENTES, 1881, GUILHERME LIBENCAN ___________ 22 FIGURA 4 - VISTA DO BAIRRO DE ANTÔNIO DIAS, 1881, GULHERME LEBENCAN ______ 27 FIGURA 5 - PROJECTO DE BOULEVARD ______________________________________ 47 FIGURA 6 - VISTA DO ANTIGO PALÁCIO DOS GOVERNADORES, 1881, GUILHERME LIBENCAN ________________________________________________________ 55 FIGURA 7 - VISTA DE OURO PRETO, 1911, AUTOR DESCONHECIDO ________________ 105 FIGURA 8 - OURO PRETO, ASPECTO DA RUA TIRADENTES EM 1922, LUIZ FONTANA___ 111 FIGURA 9 - VISTA DE OURO PRETO, FOTO TIRADA PELOS EXCURSIONISTA, 1924 _____ 125 FIGURA 10 - VISTA DE OURO PRETO, 1924, TARSILA DO AMARAL ________________ 128 FIGURA 11 - OURO PRETO E PADRE FARIA, 1924, TARSILA DO AMARAL ___________ 129 FIGURA 12 - DOIS PANORAMAS, OURO PRETO E MARIANA, 1924, TARSILA DO AMARAL130 FIGURA 13 - PAISAGEM DE OURO PRETO, 1924, TARSILA DO AMARAL_____________ 132 FIGURA 14 - OURO PRETO, ESCOLA DE MINAS, DÉCADA DE 1920, LUIZ FONTANA____ 140 FIGURA 15 - OURO PRETO, CIDADE MONUMENTO NACIONAL, ANTÔNIO DIAS, VISTA PARCIAL, DÉCADA DE 1930, LUIZ FONTANA _____________________________ 148 FIGURA 16 - ASPECTO DA PROCISSÃO DE CORPUS CHRISTI, 1931, LUIZ FONTANA ____ 149 FIGURA 17 - VISTA DE OURO PRETO, CERCA DE 1870, AUTOR DESCONHECIDO _______ 157 FIGURA 18 - VISTA DE OURO PRETO, 1881, GUILHERME LIBENCAN _______________ 157 FIGURA 19 - VISTA PANORÂMICA, ANTERIOR À DÉCADA DE 1940, LUIZ FONTANA ____ 158 FIGURA 20 - OURO PRETO, VISTA PARCIAL DA CIDADE, ANTERIOR À DÉCADA DE 1940, LUIZ FONTANA ________________________________________________________ 160 FIGURA 21 -- GRANDE PARADA EM HOMENAGEM DO PROTO-MARTIR DA INCONFIDÊNCIA, 1929, LUIZ FONTANA ______________________________________________ 164 FIGURA 22 - OURO PRETO, VISTA PARCIAL DA CIDADE, DÉCADA DE 1930, LUIZ FONTANA ________________________________________________________________ 166 FIGURA 23 - ANTÔNIO DIAS, ALTO DA CRUZ, VISTA PARCIAL, POSTERIOR A 1927, LUIZ FONTANA ________________________________________________________ 174 FIGURA 24 - OURO PRETO, CIDADE MONUMENTO NACIONAL, PRAÇA TIRADENTES, DÉCADA DE 1930, LUIZ FONTANA _____________________________________ 197 X MUSEU DA INCONFIDÊNCIA São palavras no chão e memória nos autos. As casas inda restam, os amores, mais não. E restam poucas roupas, sobrepeliz de pároco, e vara de um juiz, anjos, púrpuras, ecos. Macia flor de olvido, sem aroma governas o tempo ingovernável. Muros pranteiam. Só. Toda história é remorso. Carlos Drummond de Andrade, in Claro Enigma. XI Para Erika XIII Introdução 1 O presente estudo diz respeito a um espaço urbano de valor histórico e artístico à sociedade brasileira: trata-se de Ouro Preto, cidade considerada patrimônio da humanidade. Afirmar que Ouro Preto é uma cidade histórica e de valor artístico implica pensar sua própria história, visto que sua imagem de núcleo urbano histórico foi construída e consolidada ao longo do tempo, no decorrer de um processo histórico. Ao falarmos de Ouro Preto nos reportamos a idéias como “Cidade Monumento”, “Cidade Patrimônio” ou “Cidade Histórica”, representações que estão interligadas e expressam valores de preservação, de arte, de identidade, de tradição, etc. Contudo, em que consistem estes valores? Como eles são construídos? Qual é a importância em se preservar uma cidade dita histórica e o que determina seu caráter enquanto tal? Quais os critérios ou atributos que distinguem uma cidade histórica de outras que não possuem essa caracterização ou não transmitem semelhante idéia? Motivados por tais indagações, pretendemos compreender o processo de sedimentação da paisagem histórico-cultural ouropretana, isto é, o processo de construção da imagem histórica da cidade abordada. O objetivo central desse estudo é compreender como a imagem de Ouro Preto enquanto cidade histórica foi engendrada e como ganhou força ao longo dos anos, vindo a ser um referencial de relevo para a identidade nacional brasileira. Assim, indagamos: por que Ouro Preto é reconhecida como cidade histórica? Considerando que este atributo histórico não compõe um dado
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