Levantamento De Bromeliaceae Na Região Do Curso Médio Do Rio Toropi, Rio Grande Do Sul, Brasil1

Levantamento De Bromeliaceae Na Região Do Curso Médio Do Rio Toropi, Rio Grande Do Sul, Brasil1

BALDUINIA, n. 52, p. 01-14, 10-VI-2016 http://dx.doi.org/10.5902/2358198022371 LEVANTAMENTO DE BROMELIACEAE NA REGIÃO DO CURSO MÉDIO DO RIO TOROPI, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL1 HENRIQUE MALLMANN BÜNEKER2 LEOPOLDO WITECK-NETO3 RESUMO Apresenta-se neste trabalho uma sinopse das espécies de Bromeliaceae da região do curso médio do rio Toropi (Rio Grande do Sul, Brasil), sendo também fornecida uma chave para identificação das espécies da região, fotografias e dados ecológicos das espécies e seus respectivos status de conservação quando existentes. Na área de estudo, Bromeliaceae encontra-se representada por 18 espécies e seis gêneros. Tillandsia e Dyckia foram os mais representativos. Palavras-chave: Florística, bromélias, rio Toropi ABSTRACT [A floristic survey of Bromeliaceae in the middle course region of Toropi River, Rio Grande do Sul, Brazil]. In this paper is showed a floristic survey of the species of Bromeliaceae in the middle course of Toropi river, Rio Grande do Sul State (Brazil). It is also provided an identification key for the region species, photographs and ecological data of species and its respective status of conservation when available. In the study area, Bromeliaceae is represented by 18 species and six genera. Tillandsia and Dyckia were the most representative. Key words: Floristic, bromeliads, Toropi river INTRODUÇÃO aumentaram o número de espécies gaúchas ci- Bromeliaceae é uma família essencialmente tando novas ocorrências ou descrevendo novas neotropical, composta por 58 gêneros e aproxi- espécies (Büneker et al., 2013, 2014, 2015a, madamente 3.199 espécies (Luther, 2012) de 2015b, 2015c; Ehlers, 1997; Irgang & Sobral, hábitos variados e, segundo análises 1987; Larocca & Sobral, 2002; Leme & Costa, filogenéticas baseadas em dados moleculares, 1991; Leme, 1995; Rauh, 1984; Smith, 1966, é monofilética (Givnish et al., 2004, 2007, 1971, 1988, 1989; Strehl, 1997, 2000, 2004a, 2011). Atualmente, encontra-se representada por 2004b, 2008; Winkler, 1982). Dentre estes tra- 44 gêneros e 1.323 espécies no Brasil, das quais balhos destaca-se a ampla obra elaborada por 1.155 são endêmicas, ocorrendo em todos os Winkler (1982), constituída de chaves e descri- ecossistemas desde o nível do mar até elevadas ções, consistindo no único tratamento altitudes (Forzza et al., 2015). taxonômico completo para as espécies de No estado do Rio Grande do Sul, os primei- Bromeliaceae do Rio Grande do Sul, sendo ci- ros levantamentos de espécies de Bromeliaceae tadas 69 espécies em 10 gêneros, entre estas foram organizados por Rambo (1967) e Reitz foram descritas quatro novas espécies de Dyckia. (1967), os quais citavam 43 e 47 espécies em 8 A compilação desta literatura resulta atual- gêneros respectivamente. Estudos posteriores mente na citação de 120 espécies distribuídas em 10 gêneros para o Rio Grande do Sul, sendo que 34 espécies são endêmicas do estado 1 Recebido em 04-04-2016 e aceito para publicação em 19/04/2016. (Forzza et al., 2015), sobressaindo-se em diver- 2 Técnico em Paisagismo e acadêmico do curso de sidade específica os gêneros Dyckia e Tillandsia. Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa No âmbito das flórulas regionais gaúchas Maria. [email protected] 3 Engenheiro Florestal, M.e. Professor do Colégio poucos são os estudos específicos para Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria. Bromeliaceae, sendo que a maioria destes são [email protected] levantamentos de epífitos vasculares (e.g. 1 Perleberg & Tomkowski, 2007; Waechter, 1986, Expedições para a região foram realizadas 1992, 1998; Gonçalves & Waechter, 2003; em diversas épocas do ano de 2011 a 2015. O Rogalski & Zanin, 2003; Gionco & Waechter, levantamento das espécies foi feito através de 2004; Musskopf, 2002). Estes, no entanto, não caminhadas aleatórias nos três municípios que abrangem todas espécies de bromélias das lo- abrangem o curso médio do rio Toropi e a re- calidades, pois as espécies saxícolas, rupícolas gião final do rio Guassupi, próximo de sua aflu- ou terrícolas não são tratadas nestes levantamen- ência no rio Toropi. Foram verificados todos os tos, gerando uma série de lacunas com relação nichos ecológicos onde comumente são encon- a ocorrência destas espécies, principalmente as tradas espécies de Bromeliaceae: nas florestas, saxícolas e rupícolas que, notoriamente, apre- como epífitas e, nos campos, como terrícolas sentam alto grau de endemismo. Neste âmbito ou saxícolas, em afloramentos rochosos ou em até o momento somente um estudo específico escarpas rochosas (paredões). Espécimes teste- para Bromeliaceae existe para o estado, este munhos férteis foram fotografados e coletados apresenta uma chave para as espécies da área ou, apenas fotografados e estão expostos nas de estudo, sendo uma importante ferramenta páginas seguintes. Os espécimes coletados fo- para identificação dos táxons regionais (Strehl, ram incorporados ao acervo do Herbário do 1998). Departamento de Ciências Florestais (HDCF). A região central do Rio Grande do Sul con- As espécies foram identificadas através de tém número relativamente elevado de espécies literatura especializada: Rauh (1984), Smith & endêmicas, estas em geral muito pouco conhe- Downs (1974, 1977, 1979), Strehl (1997, 1998), cidas pela comunidade científica. Sendo os re- Winkler (1982). A chave foi elaborada através fúgios desta flora endêmica ameaçados pelo de dados contidos na literatura e de observação crescente avanço da conversão das áreas em de espécimes vivos e herborizados. A termino- agricultura e os projetos de instalação de pe- logia morfológica segue Scharf & Gouda (2008). quenas centrais hidrelétricas (PCH) na região do curso médio do rio Toropi (Marchiori et al., RESULTADOS 2014). Assim o presente trabalho traz a lume, Foram encontradas 18 espécies de Brome- vista a carência de literatura específica para liaceae na região de estudo, pertencentes aos Bromeliaceae em âmbito regional no Rio Gran- gêneros Aechmea (1 sp.), Billbergia (1 sp.), de do Sul, subsídio à identificação das espécies Bromelia (1 sp.), Dyckia (4 spp.), Tillandsia (9 regionais, que inclui vários endemismos, tendo spp.) e Vriesea (2 spp.). Destas, quatro são o objetivo de fornecer um levantamento de es- endêmicas do Rio Grande do Sul e duas da re- pécies, uma breve compilação de informações gião central do estado. As espécies podem ser sobre suas distribuições e habitat, fotografias e identificadas com a chave apresentada neste uma chave para identificação. artigo e dados ecológicos podem ser observa- dos na tabela 1. MATERIAL E MÉTODO As espécies mais abundantes como epífitas A região do curso médio do Rio Toropi per- ciófitas foram T. geminiflora e V. friburgensis; tence a Região Hidrográfica do Uruguai, Bacia já como epífitas heliófitas, no dossel da mata Hidrográfica do Rio Ibicuí e está contida em ou em árvores isoladas, T. recurvata e T. stricta três municípios: São Martinho da Serra, foram mais observadas. Aechmea recurvata e Quevedos e Júlio de Castilhos. A vegetação da Billbergia nutans são pouco seletivas em rela- região é caracteristicamente ecótone, com áre- ção a luminosidade e substrato, ocorrendo como as de campos e florestas. A região foi caracteri- epífitas ciófitas ou heliófitas, e também como zada florístico-fitogeograficamente por saxícolas nas escarpas rochosas. Estas também Marchiori et al. (2014). encontradas eventualmente como rupícolas 2 TABELA 1 – Espécies de bromeliáceas da região do curso médio do rio Toropi (Rio Grande do Sul): status de conservação e hábitat. 1 Rio Grande do Sul, 2014; 2 Forzza et al., 2013; 3 Espécie endêmica do Rio Grande do Sul. heliófitas (diretamente sobre rochas), ou Aparentemente, a espécie mais rara na re- terrícolas ciófitas em substrato orgânico bem gião, revelou-se T. pohliana, sendo observados drenado no interior das matas de encostas. apenas dois espécimes no dossel da mata ciliar. Com ampla ocorrência na floresta ombrófila Esta espécie até pouco tempo não era citada para da costa do Brasil, V. platynema tem como seu o Rio Grande do Sul (Büneker et al., 2015c). A limite meridional de distribuição o estado do sua ocorrência neste ambiente é incomum, pois Rio Grande do Sul. Neste estado é frequente- é epífita associada, geralmente, à formações mente encontrada na região serrana do nordes- vegetacionais abertas, como em capões de mata te. Sua ocorrência na região estudada possui nas bases de cornijas e cerros, na região oeste relevante caráter fitogeográfico, visto que se tra- do Rio Grande do Sul, e no cerrado e caatinga ta do seu registro mais continental no Rio Gran- nas demais regiões do Brasil. de do Sul. Esta espécie provavelmente tenha no Endêmica da região central do Rio Grande passado migrado da região litorânea até o inte- do Sul, T. toropiensis mostra-se abundante como rior do continente pelas florestas ocorrentes no saxícola ou rupícola nas numerosas escarpas rebordo do planalto meridional. Entretanto ve- rochosas da localidade, crescendo juntamente rificou-se uma grande lacuna de amostragem com grandes populações de D. selloa. O epíteto entre as populações intermediárias que ligari- da primeira, inclusive, faz referência ao rio am estas regiões. Toropi, pois foram originários de uma destas 3 escarpas rochosas às margens do rio Toropi os região, porém também considerada criticamen- espécimes que deram origem à coleção tipo da te ameaçada pelo Livro Vermelho da Flora do espécie e a maioria das plantas vivas descenden- Brasil (Forzza et al., 2013), D. ibicuiensis apre- tes desta coleta que encontram-se distribuídas pelo senta-se

View Full Text

Details

  • File Type
    pdf
  • Upload Time
    -
  • Content Languages
    English
  • Upload User
    Anonymous/Not logged-in
  • File Pages
    14 Page
  • File Size
    -

Download

Channel Download Status
Express Download Enable

Copyright

We respect the copyrights and intellectual property rights of all users. All uploaded documents are either original works of the uploader or authorized works of the rightful owners.

  • Not to be reproduced or distributed without explicit permission.
  • Not used for commercial purposes outside of approved use cases.
  • Not used to infringe on the rights of the original creators.
  • If you believe any content infringes your copyright, please contact us immediately.

Support

For help with questions, suggestions, or problems, please contact us