Xavier Marques: fatos pessoais (para uma biografia literária) 1. NOTA PRÉVIA Até de José Veríssimo, “fartos róis de mesmo as correntes mais tex- autores e obras" (J). Houve po­ tualistas de estudo literário têm rém um curioso efeito. Talvez afastado dúvidas sobre a impor­ pelo fato de a conquista ter si­ tância esclarecedora, embora do longa e árdua, surgiu certó subsidiária, da biografia para a pré-juízo contra o levantamen­ integral compreensão da obra to biográfico de autor literário. literária de um determinado Daí o tom de alarma com que autor. Colocar a biografia em logo são censurados quaisquer posição subsidiária foi simples­ estudos que, com justeza, não mente uma conquista, como se visam a servir senão de subsídio à sabe, que concede hoje um in­ interpretação da obra, nunca dispensável alívio a quem obser­ um sucedâneo dessa interpreta­ var o destaque que ela detinha na ção. História Literária quando as São essas as coordenadas em historiografias eram cemitérios que nos colocamos (quase como de nomes e datas, ou, no dizer cautela para com o pré-juízo an- 159 tibiográfico que eventualmente ou seja, aqueles que se iniciam possuamos) antes de reunir da­ com seu retorno do Rio de Ja­ dos biográficos de Xavier Mar­ neiro, em 1924. Sòmente um le­ ques que até agora eram obscu­ vantamento biográfico vindouro ros, ou apresentados com dis­ revelará sôbre êsse período de crepância em algumas sínteses ocaso, a cujo respeito acrescen­ biográficas. tou-se adiante uma nota que, Não intentamos aqui uma sintomaticamente, faz-nos recor­ biografia — que não é nosso pro­ dar as observações iniciais, que pósito —, mas a divulgação sis­ agora servem de conclusão, a tematizada de fatos biográficos, propósito do caráter esclarece­ muitos dêles registrados pelo dor e subsidiário dos dados bio­ próprio punho do escritor, ou­ gráficos de um autor — (como tros encontrados no noticiário os que se seguem). de jornais da época. A uns e outros ajuntamos informações de 2. LAÇOS DE FAMÍLIA - D. Rute Xavier. Marques, que, Francisco Xavier Ferreira Mar­ com amabilidade e um gesto ques, baiano da Ilha de Itapa- generoso, colocou à nossa dis- rica, nasceu a 3 de dezembro de . posição as notas redigidas por 1861, primeiro dos três filhos seu pai no início dêste século. havidos do casamento de Vicen­ Alguns dêsses registros, em le­ te Avelino Ferreira Marques e tra miúda e um pouco tremida, D. Florinda Agripina Ferreira estão em uma “agenda médica" Marques (2), esta falecida pou­ de 1904; os mais característicos, co depois de seu filho Francis­ porém, em pequenos pedaços de co Xavierf3) haver completado papel, onde se superpõem com seis anos(4). O pai, que durante o correr do tempo, a lápis e a muitos anos possuiu um barco a tinta, notas de nascimento e de transportar passageiros e carga morte na família, eventos pes­ entre a Ilha e Salvador, não pos­ soais e datas sôbre a vida de suía maiores recursos e findou Xavier Marques na imprensa. seus dias como comerciante es­ Cronologicamente, são fatos tabelecido em Itaparica (°). relativos aos primeiros 50 anos, Criado com seus irmãos por dos 81 vividos pelo escritor. uma tia materna, D. Emília Acrescentamos mais alguns, re­ Joaquina Bernardes (°), viveu a lativos à parte final de sua vi­ infância e a adolescência na da, pela íntima relação que têm cidade de Itaparica, onde fêz os como complementação daqueles. estudos primários com o Prof. Pena que, como autor de uma Genuíno da Silva Rosa Imbirus- biografia de Castro Alves e ape­ su Camacã, mestre que ensinou sar de ser tão minucioso sôbre também a Xavier o latim e o fatos de uma fase de sua vida, francês (7) . A propósito, o curso Xavier Marques não tenha re­ primário foi o único curso for­ gistrado eventos dos anos finais, mal de tôda a sua vida (8) . 160 qwjrioyí:?lf*?Tr I;-v t Otnsfcp' ~ , > i . i >. «r ct-t £ *4 ■rr • ^ ;2 ír ^ /<?£/, >i | CÍLx-kj* «<< /^ V - c I 3 fCv ^ /ÜÍ3'-' 'V n -=~, a ■ V, 1%^, c í V í U > n V, ■ti f. 1 Á A/*&/ w kV.. (f*JLsz^ í/Ye^-T c • ”J & K^.2. r lhfW- Ü-(yX&JtM- sAy^^Zc <l/~yvu^X^ ; w 6 4 |* • .”^W>fp- ít í13 ? ÇV i P' .-1 yfK^< ^ccUx < ■ "/ ' ^ i- .*• • ! ?■ •*: ■s,. Anotações do próprio punho de X.M. Datas de seu nascimento e de seus irmãos. datas de falecimento de seus pais c dos tios que o criaram. V '-f a 'ZtÀtrOçcJ* V • /ê/U.~~ ÚjtZZlC 4 ^ ^ : .V 2^...'fJZ-U* 1*°"* \ . £#- ?' • • /.v/•/><-// /ijTg\" ■ .= -í» V /:<1*)^ Í^A^S-í : £*r:Á+Artf% /’ Âr^SrfÁ-fk <pt "À Z * Í/&* /.\i ■+»,&$' ! .i *** 'd£Z£* —*>r~— ■ * * >77 *< - V <- ) <_j í-^- 1 nçyvtr^/<.<*-£■ . 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CAMINHO PROFISSIO­ preciso tornar o seu nome fir­ NAL — Em fins de 1882, veio mado na imprensa baiana, à qual morar na Capital baiana (10), passou a dedicar-se inteiramen­ trazendo da Ilha a raiz afetiva e te (15), e era necessário prover o o substrato ficcional de que XM sustento dos seus, pois casara- se valeria depois para recriar os se no dia 7 de dezembro de 1889 personagens e a paisagem da com D. Georgina Coelho de Recôncavo praieiro em roman­ Menezes Dórea Marquesf10) e ces e contos. haviam nascido os dois primei­ Orientado pela amizade do ros filhos (1T) . Cônego Francisco Bernardino de Duas semanas após o nasci­ Souza, passou a lecionar em es­ mento do primogênito, retirou- colas primárias, inclusive a do se do Jornal de Noticias e em sacerdote (n), antes de ingressar, nota afirmou ter saído “por mo­ como era seu intento, na im­ tivo que não importa aqui ex­ prensa. A ela chegou com o por”, enquanto o jornal (então prestígio de poeta. Seus versos dirigido por Aloísio de Carva­ começaram a ser publicados no lho), em outra nota, fêz os elo­ íornai de Notícias, mercê de um gios de praxe e, com malícia, dos redatores, João Augusto Nei- referiu-se à “segurança de um va, que não apenas fêz do prin­ futuro, a que é necessário pro­ cipiante um colaborador efeti­ ver”^8). Voltou XM em carta vo do diário; ao sair, em 1885, para explicar que “não fui, nem convidou-o para tomar a va­ sou um liomem prático" e que ga (12) . Iniciou-se, então, ver­ não se retirava por motivos eco­ dadeiramente, uma atividade nômicos (I0). Conclusão: dias jornalística que foi cotidiana por depois — 9 de setembro de 1891 mais de trinta anos(13). — ingressou no Diário da Ba­ Se antes de ingressar no Jor­ hia (20), como redator políti­ nal de Noticias reunira em livro co^1), onde permaneceu até — Temas e Variações — os poe­ 1896 (22), com bom proveito, co­ mas escritos entre 1880 e 1884, mo se verá. Logo depois, pas­ foi pela tipografia do jornal que sou para A Bahia, dirigido por editou o segundo livro, ShnpleS Castro Rabello, onde não ficou Histórias, seguindo-se em 1888 por muito tempo (23). Posterior- 161 mente, fêz parte do corpo de re­ jornalista-diretor de jornal, de datores do Diário de Noticias e redator político a deputado fe­ da Gazeta do Povo (21). Por fim, deral, alcançou também no­ no início de 1916, já político êle toriedade na vida literária. De próprio, ingressou em O De­ conferencista de "público sele­ mocrata, órgão do Partido Re­ to e assíduo”, membro dos gru­ publicano Democrata, onde as­ pos literários baianos, veio a ser cendeu a redator-chefe e a dire­ distinguido como “cavaleiro de tor.
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