o que hei de falar começo e digo: o mesma visão inicial, no triângulo en- Carlos Queiroz acabou por sair dos treinador de futebol português é, pe- tre Porto e as duas escolas de Lisboa, quadros da Federação e iniciar uma los nossos dias, respeitado e deseja- a da Faculdade de Motricidade Hu- caminhada que o levaria do Sporting do nas mais diversas latitudes e lon- mana e a da Universidade Lusófona. para percorrer o mundo e Nelo Vinga gitudes, por demonstrar capacidade Um conhecimento rico que redese da viajava até à Arábia Saudita, onde, de conquista, por lhe ser reconhe nhou a forma como se vê o jogo, como em 1996, seria o primeiro treinador eido conhecimento e escola, por se se preparam os treinadores, como se português a ganhar uma prova inter- Ler moslrado capaz de se adaptar aos revolucionou, bem para lá das fron- nacional de seleções, a Taça da Ásia. mais diferentes conlexlos locais. Por teiras portuguesas, a forma como se isso, o encontramos nos principais entende o futebol. Mas enquanto as "SAIU O CAPITAO-MOR campeonatos de clubes c nas gran- bases se transformavam em eferves- EM SEU BATEL" des provas de sclcçõcs, por isso exis- cência, faltava ao futebol português a Todas as grandes histórias têm o seu tem portugueses envolvidos na for- capacidade de se apresentar ao mun- herói. E tanto mais completos são es- mação de jogadores um pouco por do. Se sempre o talento do jogador ses heróis, quanto de forma mais fina todo o mundo, por isso, na formação português tinha tido palco, nenhum façam a síntese do mundo onde de de treinadores, existem hoje grandes dos grandes sucessos do nosso futebol senvolvem a sua especialidade. Filho referências que são lidas e traduzidas antes dos anos 80 linha tido a marca de Mourinho Fclix, treinador que nas em diferentes línguas. de um técnico português ao coman- décadas de 70 c 80 percorreu várias O adiamento do treinador portu do. O Europeu de 1984 loi a primeira equipas de diferentes divisões nacio- gues c senlido, no estrangeiro, como prova de seniores a ter uma seleção nais, José Mourinho conheceu desde o algo recente, dcslc nosso lempo. Os portuguesa liderada por treinadores berço a realidade e a tradição do trei- títulos de José Mourinho na Liga dos nacionais. Mas não um só, antes uma no nacional. Não tendo sido nunca um Campeões c cm três das grandes ligas comissão de quatro figuras. jogador profissional, sabe de cor apa europeias, o LÍLulo europeu de sclc- O ano de 1987 marca o primeiro leta de cheiros de balneário que visi ções de Fernando Santos, a profusão grande título de um treinador por lou desde pequeno. Foi aluno do ISEF, de técnicos em tantas outras equipas tuguês. O FC Porto conquista a Taça onde contactou com a realidade revo- nacionais, com Carlos Queiroz acima dos Campeões Europeus com Artur lucionária que transformava o pensa- de todos, pelas grandes exibições táti- Jorge ao leme. A história do Rei Artur mento sobre o jogo. Pela mão de Ma- cas conseguidas nos Mundiais, ajuda é, também ela, singular. Nascido no nuel Fernandes, que acompanhava há ram a abrir portas que, hoje, Leonardo Porto, brilhara como jogador na Aca- alguns anos nos seus trabalhos no Vi- Jardim, André Villas Boas, Paulo Fon démica e no Benfica. Foi estudante de tória de Setúbal, Estrela da Amadora seca, Marco Silva c Nuno Espírito San- Filosofia em Coimbra e fez a sua gra- ou Ovarense, chega ao Sporting, onde to ajudam a manter abertas. Mas nem duação de treinador em Leipzig, na vai acabar por se transformar no fiel só de grandes ligas e grandes conquis- República Democrática Alemã. Foi adjunto de Bobby Robson, tal como tas se faz esta viagem de descoberta líder sindical e adjunto de José Maria no FC Porto e depois em Barcelona. da qualidade do treinador português, Pedroto. Foi campeão nacional pela Ali, acaba por trabalhar também com da mesma maneira que há um históri- primeira vez com 38 anos e tinha 41 Louis van Gaal, antes de se estrear co que nos conduziu até aqui. F ainda quando se jogou a final de Viena. Isso como técnico principal no Renfica. que o saiba fazer pior que todos ( salve valeu-lhe uma experiência cm Fran- "José Mourinho é uma escola por Pêro Vaz de Caminha), eis que come- ça, com o Matra Racing, mas só depois si mesmo", diz-nos Leonardo Miran- ço o meu relato. de ter regressado ao Porto, c ter passa- da, analista de futebol e colunista do do pelo comando da seleção nacional jornal "O Globo". "A sua passagem 'VINHAM TODOS RIJAMENTE 1 portuguesa, é que voltou a Paris para por Barcelona foi fundamental, lá en- Herança e visão de futuro, aconteceu continuar a abrir caminhos para os trou definitivamente no futebol de nos anos 80 no futebol português. No treinadores portugueses. Em 1994 é elite e também pôde beber de novas ISFF, Jesualdo Ferreira lidera o proces- campeão com o PSG, o primeiro título escolas futebolísticas, como o jogo de so de criação de uma cadeira de Fu- de um português num dos campeona posição, que acabou por ser funda- tebol no currículo académico. {•'. nes- tos de topo europeus. Valdo, Raí, Gi mental para o confronto com a sua te processo que se verão envolvidos, nola c Wcah eram algumas das estre- cultura" , atira Bruno Alemany, jorna nos anos seguintes, nomes como Jor- las dessa equipa. lista da Cadena Ser e responsável pelo ge Castelo, Arnaldo Cunha, Rui Mân Mas nos anos 90 já Portugal an- podeast "I'lay Futbol". "O Mourinho cio ou Kelo Vingada, ao qual se juntou dava nas bocas do mundo do futebol. teve tudo. Aquilo que foi buscar aos um aluni > que viria a passar a assisten Carlos Queiroz liderara a seleção de grandes líderes de quem foi adjunto, Le, Carlos Queiroz. A norle, José Maria Sub 20 a dois títulos mundiais, coad a vivência com o pai que lhe permitiu Pedroto tinha estado ligado a muito do juvado por Nelo Vingada. A revolução perceber a velha guarda e o apoio de que se transformava cm ideia de mo- académica chegava aos escalões de Rui Faria, um grande mestre da pe dernidade, indicando Artur Jorge, que formação portugueses, lançando uma riodização tática", revela nos Bruno havia sido seu adjunto, para o suceder Geração de Ouro que viria, também, a Pereira, treinador português na Aspi- como Ircinador no FC Porto. Vítor Fra- ser fundamental para uma nova onda re Acadcmy do Qatar. Em suma, José de, antigo colega de Jesualdo Ferreira de reconhecimento do jogador portu- Mourinho acaba por ser o treinador no ISEF, era professor na Universida- guês, desta feita vagando os efeitos da que agrupa as diferentes escolas e in- de do Porto e assumiria, no final da Lei Bosman. O novo treinador portu- fluências do treinador português, sin- década, a coordenação do futebol de guês e o novo jogador conquistavam tetizando tudo na sua capacidade de formação do FC Porto. Fis a unidade os escalões de formação e aponta agregar tropas e liderar em contextos de base desta história. vam, quase no imediato, para suces particularmente complexos. Continua a ser este, hoje em dia, o sos no futebol profissional. O próprio Assim foi no FC Porto, onde com núcleo duro do pensamento do trei- Queiroz foi escolhido para pegar nes- um mês de trabalho, c depois de uma nador português. Porque das tensões se projeto, assumindo a seleção por- derrota frente ao Beira-Mar, anun- geradas pela disctissão em volta do tuguesa sénior em 1991. Mas o cami- ciou que seria campeão na época se- conhecimento do jogo, nasceram três nho precisaria de um fundamento guinte. Mas não se fkxm por ai. Ao escolas que, em Portugal, desenvol- político que, à época, na Federação sucesso na Liga portuguesa, somou vem filosofias próprias a partir de uma Porftiguesa, não encontrava apoio. a conquista da Taça UEFA e da Liga dos Campeões, nos anos seguintes, jovens jogadores locais, reconhece começando a abrir espaço para uma que as credenciais de outros técnicos carreira sem igual até aqui, por qual- que o antecederam ajudaram-no a quer outro treinador português. À du- encontrar ali um caminho para o seu pla conquista europeia somou ainda o crescimento profissional. título na Premier League, com o Chel- "Já aqui estavam algumas pessoas sea, na Série A, com o Inter de Milão, que tinham trabalhado comigo na com quem conquistou também a Liga Geração Bcnilca c havia uni nível de dos Campeões, tornando-se o primei- satisfação alto com o trabalho que era ro português a fazê Io numa equipa feito. Pela forma como se adaptavam estrangeira, e ainda a Liga espanhola, à ideia de jogo que era aqui defendida com o Real Madrid. Como nos con e também ao impacto social e climá- firma Bruno Alcmany, "o exilo de um tico de viver no Qatar, como também Lrcinador como Mourinho passou a pela forma como conseguimos domi- funcionar como um efeito de atração" nar bem o inglês. No fundo, para mim, e, num espaço de dez anos, a imagem foi uma forma de encontrar possibili do treinador português passava a ser dado de ser profissional c dedicar- me vista na Kuropa de maneira radical- a 100% ao fufebof, afgo que cm Por- mente diferente. "Ao talento futebo- Lugal só acontecia em condições de lístico do país foi acrescentada a qua- quase escravatura. Afias, a questão lidade dos treinadores." F descobria- do preço também pode ser essencial -se uma realidade que não voltaria a para trazer mais portugueses para o ser coberta.
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