O Sindicalismo português, na transição da Ditadura Militar para a plena institucionalização do Estado Novo, caracteriza-se por duas vertentes essenciais: a busca pela reorganização do tecido sindical, destruído por medidas governamentais de repressão e pela ilegalização das principais organizações sindicais, e por uma ampla discussão em torno de opções de carácter ideológico, orientadores da acção sindical. Esta transição provocará a ruptura nas organizações sindicais, colocando à margem da lei as suas principais estruturas, com recurso a métodos coercivos e punitivos, implacavelmente aplicados pela PVDE, sobre estas organizações e os seus principais dirigentes. A legislação laboral de 1933 rompe com o sindicalismo livre impondo sindicatos únicos de feição nacionalista, colaboracionistas, servis em relação aos interesses económicos nacionais e sustentados por uma negação dos princípios do internacionalismo, da pluralidade, da solidariedade e da liberdade de acção sindical que tinham caracterizado o sindicalismo português. O Estado Novo destrói, com recurso a acções de extrema violência, a liberdade sindical e o que restava de sindicalismo livre de cariz operário, diabolizando estas organizações, bem como os dirigentes e as ideologias que os sustentavam. Esta ruptura na evolução do movimento sindical português leva-nos ao lado negro da luta sindical, a clandestinidade. O PCP clandestino organiza a luta impondo aos seus dirigentes e militantes um código de silêncio conspirativo. A luta sindical coloca em risco, militantes e dirigentes sindicais comunistas pelas consequências que advêm da luta. A prisão, os interrogatórios, a perda de direitos, a deportação e quantas vezes a morte em vida são o preço a pagar pela luta sindical. A clandestinidade marca a existência destes dirigentes. A aparente abertura do regime após a II Grande Guerra e a convocação de eleições permitiu a formação de organizações de oposição como o MUD e o MUDJ. No entanto a realidade demonstrou a burla com que Salazar pretendia mascarar o regime. As condições impostas a dirigentes e militantes comunistas são de tal forma rigorosas que muitos abandonam o país para só regressarem após a revolução de 25 de Abril de 1974. La transition de la dictature militaire vers la pleine institutionnalisation de l’Etat nouveau, se caractérise, dans le syndicalisme portugais, par deux tenants essentiels : la recherche d’une réorganisation du tissu syndical, détruit par les mesures gouvernementales de répression et d’interdiction des principales organisations syndicales, et une large discussion autour des options à caractère idéologique orientant l’action syndicale. Cette transition va provoquer la rupture dans les organisations syndicales, mettant hors de la loi leurs principales structures, en ayant recours à des méthodes coercitives et punitives, implacablement appliquées par la PVDE, à l’encontre de ces organisations et de leurs dirigeants. La législation du travail de 1933 rompt avec le syndicalisme libre en imposant des syndicats uniques, de faction nationaliste, collaborationnistes, serviles par rapport aux intérêts économiques nationaux et soutenus par la négation des principes de l’internationalisme, de pluralité, de solidarité et de liberté de l’action syndical, qui caractérisent le syndicalisme portugais. L’Etat nouveau détruit, avec recours à des actions d’une extrême violence, la liberté syndicale et ce qui restait de syndicalisme libre de connotation ouvrière, diabolisant ses organisations, comme ses dirigeants et les idéologies qui les supportaient. Cette rupture dans l’évolution du mouvement syndical nous emmène au côté noir de la lutte syndicale, la clandestinité. Le PCP clandestin organise la lutte en imposant à ses dirigeants et à ses adhérents un code de silence conspirateur. La lutte syndicale met en risque, militants et dirigeants communistes, par les conséquences advenant de la lutte. La prison, les interrogatoires, la perte de droits, la déportation et combien de fois la mort en vie, sont les prix à payer pour la lutte syndicale. La clandestinité marque l’existence de ces dirigeants. L’apparente ouverture du régime après la deuxième Grande Guerre et la convocation d’élections a permis la formation d’organisations d’opposition comme le MUD et le MUDJ. Cependant la réalité a révélé la tromperie avec laquelle Salazar voulait masquer le régime. Les conditions imposées aux dirigeants et militants communistes sont si rigoureuses, que nombreux sont ceux qui abandonnent le pays, pour ne revenir qu’après la révolution du 25 avril 1974. Sindicalismo Livre – Syndicalisme libre; Estado Novo – Etat Nouveau; Internacional Sindical Vermelha – International Syndicale Rouge ; Ruptura – Rupture; Censura – Censure. 1 INDICE 0. Introdução 1. Augusto Machado 1.1. Augusto Machado, o Comité dos Partidários da ISV e a questão da Unidade Sindical 1.2. Augusto Machado nos jornais O proletário e O Arsenalista 2. António Bento Gonçalves secretário-geral do PCP 2.1. António Bento Gonçalves 2.2. António Bento Gonçalves/«Gabriel Batista» e o jornal O proletário 3. O percurso de José de Sousa: o dirigente comunista e o dirigente sindical 3.1. José de Sousa e a formação da Federação Nacional dos Trabalhadores de Transportes e Comunicações (FNTTC) 3.2. José de Sousa e a formação da Comissão Intersindical nos anos trinta 3.3. A Comissão Intersindical e a «purga» do anarquismo nas associações de classe 3.4. A CIS de José de Sousa depois do 18 de Janeiro 3.5. A prisão de José de Sousa e de António Bento Gonçalves 3.6. A transição do sindicalismo livre e a formação dos sindicatos nacionais 4. O PCP e a organização sindical comunista após a publicação da legislação laboral de 33 2 4.1. A tentativa de formação de sindicatos ilegais e a acção de «Chico Sapateiro» como elemento de ligação entre o PCP e os sindicatos ilegais 4.2. A Semana de Agitação – 25 de Fevereiro a 3 de Março de 1935 5. Álvaro Cunhal. O líder histórico do PCP 5.1. Alteração das orientações políticas do PCP para a luta sindical, após o VII Congresso da IC 5.2. Álvaro Cunhal, o «Grupelho Provocatório» e a reorganização 6. As greves lideradas pelo PCP nos anos quarenta 6.1. A Luta dos sapateiros em S. João da Madeira 6.2. As greves da Fome – 8 e 9 de Maio de 1944 7. A organização clandestina comunista. O assalto às casas clandestinas do PCP nos anos quarenta e cinquenta 8. A Aliança MUNAF, MUD e PCP contra Salazar 8.1. A formação do MUNAF e do MUD 8.2. A dissolução da Juventude Comunista no MUD Juvenil 8.2.1. A formação do Movimento Democrático Juvenil 8.2.2. Francisco Salgado Zenha e o MUDJ 8.3. A influência do PCP na estrutura e organização do MUNAF, do MUD Conclusão Fontes e Bibliografia 3 Agradeço ao Professor Doutor António Pires Ventura, o seu auxílio científico e empenho pessoal, assim como a todos os docentes do Centro de História, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, especialmente os Professores Doutores José Varandas, Ernesto Castro Leal e Sérgio Campos Matos que nos acompanharam e presentearam com debates, colóquios, seminários e cursos sobre temáticas diversificadas no âmbito da História, contribuindo assim para o avanço da investigação e aprofundamento científicos daqueles que fazem da História a sua ferramenta de trabalho. Agradeço aos funcionários da Hemeroteca Municipal de Lisboa, da Biblioteca Nacional, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e da Torre do Tombo a disponibilidade demonstrada aos investigadores. Agradeço à Biblioteca Museu República e Resistência a possibilidade de acesso ao espólio digitalizado do Professor Doutor Oliveira Marques. Agradeço a Joaquim Gomes, Darcília Salgado Zenha de Morais Correia e Aida Magro as entrevistas que concederam à autora. Um apreço especial a Domingos Abrantes pela disponibilidade e o tempo dispendido na orientação e esclarecimentos relativamente ao PCP. 4 SIGLAS BE – Bureau Executivo BIT- Bureau Internacional do Trabalho CDG – Comité Dirigente da Greve CG – Comité de Greve CIS – Comissão Intersindical CL – Comité Local CR – Comité Regional CZ – Comité de Zona ETN - Estatuto do Trabalho Nacional FNTTC - Federação Nacional dos Trabalhadores de Transportes e Comunicações IC - Internacional Comunista ISV- Internacional Sindical Vermelha INTP- Instituto Nacional de Trabalho e Previdência MNI - Movimento Nacional Independente MUD - Movimento de Unidade Democrática MUDJ - Movimento de Unidade Democrática Juvenil MUNAF - Movimento de Unidade Nacional Anti-fascista PCF- Partido Comunista Francês PCP - Partido Comunista Português PIDE - Polícia de Informações e Defesa do Estado PVDE - Polícia de Vigilância e Defesa do Estado SG - Secretário-geral SIL - Serviços de Informação e Ligação SUIV - Sindicato Unitário da Indústria do Vestuário URSC - União Regional Sindical do Centro 5 INTRODUÇÃO A tese de doutoramento agora apresentada necessita de uma primeira clarificação em relação ao aspecto temporal. Propusemo-nos, inicialmente, estudar sobre o sindicalismo português após 1933 até 1974. No entanto, consideramos oportuno, dada a riqueza do acervo do arquivo da PVDE e da PIDE, bem como da documentação do Fundo de Moscovo, ICS, estudar os primeiros anos do Partido Comunista Português, para o aprofundamento e até para completar alguns hiatos que se têm mantido ao longo da sua história. Nesse sentido, o enfoque vai para os principais dirigentes ou aqueles que em épocas determinadas contribuíram para o desenvolvimento da organização comunista legal e clandestina. É evidente que o PCP teve outros dirigentes fundamentais para o desenvolvimento desse estudo e os historiadores têm nos arquivos documentos importantes ainda por trabalhar. Neste mesmo sentido aprofundámos essencialmente o PCP até ao Marcelismo e não avançámos para além desta data, o que não seria possível, não só por questões de tempo mas para mantermos o mesmo grau de aprofundamento que dedicámos aos primeiros tempos da história do PCP. Para o aprofundamento do estudo das relações entre Bento Gonçalves e a IC e a acção de José de Sousa, assim como a luta contra a legislação laboral de 33 e a formação dos sindicatos nacionais, remetemos para a nossa tese de mestrado com o título de O Movimento Sindical português na transição do sindicalismo livre para a formação dos Sindicatos Nacionais.
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