A Pirataria De Música Gravada E a Indústria Cultural

A Pirataria De Música Gravada E a Indústria Cultural

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS A pirataria de música gravada e a indústria cultural Lucas Bernasconi Jardim Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da EFLCH- Unifesp para a obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais. Orientadora: Profª. Drª. Marcia Regina Tosta Dias. Guarulhos 2014 Jardim, Lucas Bernasconi. A pirataria de música gravada e a indústria cultural / Lucas Bernasconi Jardim – Guarulhos, 2014. 162 p. Dissertação de mestrado – Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 2014. Orientadora: Marcia Regina Tosta Dias. Título em inglês: The piracy of recorded music and the culture industry. 1. Pirataria. 2. Música gravada. 3. Indústria fonográfica. 4. Indústria cultural. I. Título Lucas Bernasconi Jardim A pirataria de música gravada e a indústria cultural Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da EFLCH- Unifesp para a obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais. Aprovada em 10 de Março de 2014 __________________________________________________________ Profª. Drª. Marcia Regina Tosta Dias (Orientadora) Universidade Federal de São Paulo __________________________________________________________ Prof. Dr. Michel Nicolau Netto (Titular Externo) Universidade Estadual de Campinas __________________________________________________________ Prof. Dr. Gabriel Cohn (Titular Interno) Universidade Federal de São Paulo __________________________________________________________ Prof. Dr. Walter Garcia (Suplente) Universidade de São Paulo Resumo Este trabalho tem como objetivo analisar sociologicamente as transformações que têm sido observadas na produção e na distribuição de música gravada a partir do problema da pirataria. Novas tecnologias que permitem a cópia não protocolada de fonogramas recolocaram o problema da pirataria nos debates sobre música gravada, uma vez que estas tecnologias rompem o monopólio da cópia pelas grandes empresas fonográficas. Partindo de uma investigação empírica sobre a venda de CDs e DVDs piratas nas ruas de São Paulo, foi possível refletir sobre as formas de organização desse mercado e seus títulos mais vendidos. O que se argumenta é que há hoje uma indústria da pirataria que, embora combatida pela indústria oficial, se apoia sobre os mesmos hits promovidos nos grandes meios de comunicação. Mais que isso, as novas formas “autônomas” de distribuição de música gravada – que se valem da distribuição não protocolada como forma de divulgação e se desenvolvem à margem do sistema tradicional de arrecadação de direitos autorais – podem ser assimiladas pela grande indústria como estratégia de divulgação, num momento em que o disco perde o estatuto de produto central da indústria da música, como ocorre no presente. Isso tende a tornar mais sofisticado o processo de assimilação, por parte da grande indústria, de conteúdos já prontos, uma vez que se aprofunda a terceirização da produção do hit para fora das grandes empresas – que, no entanto, continuam detendo poder e capital para legitimar o sucesso das canções que promovem. Há, desse modo, um contexto de concentração de mercado aliada à fragmentação, em que mudanças técnicas deixam intocados os problemas sociais colocados pela indústria cultural, tanto em relação à exclusão de determinados tipos de música pelo processo de competição inerente ao mercado quanto às formas de audição historicamente hegemônicas. Palavras-chave: pirataria; música gravada; indústria fonográfica; indústria cultural; sociologia da comunicação e da cultura. Abstract This work aims to analyse sociologically the transformations that have occured in the production and distribution of recorded music with the piracy issue. New technologies that allow the unprotocoled copy of phonograms put the piracy issue back on the debates on recorded music, once these technologies break the monopoly of the copy held by big phonographic companies. Based on an empirical investigation on the trade of pirate CDs and DVDs in the streets of São Paulo, it was possible to reflect on the forms of organization of this market and its best selling products. It is thus argued that there is a piracy industry that, despite the enforcement activities undertaken against piracy by the official industry, is based on the same hit songs promoted in the big media. Futhermore, new “autonomous” forms of recorded music distribution – that utilize unprotocoled distribution as a way of diffusion and are developed outside the traditional system of copyright – may be assimilated by the big industry as a dissemination strategy, in a moment that the disc is no longer the central product of the music industry. That tends to make the process of assimilation of cultural contents by the industry more sophisticated, with the outsourcing of the prodution of hit songs. The big industry, though, keeps holding enough power and capital to legitimate the sucess of the songs they promote. Therefore, the music market points to a context of market concentration combined with fragmentation, in which technical changes leave social problems raised by the culture industry untouched, in terms of the exclusion of certain types of music by the process of market competition and of historically hegemonic forms of listening to music. Keywords: piracy; recorded music; phonographic industry; culture industry; sociology of communication and culture. Agradecimentos Seria entrar em contradição com tudo o que segue nestas páginas acreditar que, em uma pesquisa acadêmica, somente importam os espaços “oficiais” da construção do conhecimento. O sociólogo, como o artesão, não separa sua postura profissional de sua experiência pessoal, coletivamente construída, de tal modo que os pequenos detalhes do cotidiano podem ser absorvidos como dignos de reflexão. Nesse sentido, seria impossível contemplar aqui todos que contribuíram com a pesquisa, mas aproveito este espaço para registrar meus agradecimentos sinceros a algumas pessoas que não só tiveram o interesse e a paciência de discutir questões diretamente ligadas ao trabalho, mas que em cada contato também me ajudaram a pensar e a conceber coletivamente uma postura em relação à vida. Muitos camelôs foram receptivos e aceitaram conversar comigo sobre seu trabalho, suas vidas, e sobre a pirataria, concedendo-me entrevistas ou deixando-me acompanhar suas jornadas. A todos esses trabalhadores, sem o qual a pesquisa não teria sido possível, agradeço imensamente. A Marcia Tosta Dias, orientadora deste trabalho, por ter me colocado diante de um conjunto de questões tão relevantes para pensar o objeto da pesquisa, pelas leituras rigorosas de todas as versões do trabalho e por ter me garantido, com sensibilidade, rara autonomia durante todo o processo. A pesquisa que deu origem a esta dissertação teve início em uma pesquisa no âmbito da graduação, na Unicamp, orientada por Rita Morelli, a quem também sou muito grato. Aos professores da EFLCH cujos cursos frequentei na pós-graduação, que contribuíram, cada qual à sua maneira, para este trabalho: Mauro Rovai, Cristina Pompa, Rúrion Melo, Andréa Barbosa, Olgária Matos. A Bruno Comparato e a Pablo Ortellado, que em diferentes ocasiões debateram textos da pesquisa e levantaram questões importantes. A Henrique Parra, por ter me acolhido como monitor de sua disciplina e ter me apresentado outras perspectivas para várias questões. A Henry Burnett, agradeço pelo diálogo e especialmente pela arguição na banca de qualificação, que provocou verdadeiras reviravoltas no desenvolvimento deste trabalho. A Michel Nicolau Netto, que desde o começo do trabalho colocou questões pertinentes e me incentivou a continuar pesquisando, e pelas participações nas bancas de qualificação e defesa. A Gabriel Cohn, pela participação na banca de defesa, que certamente me ajudou a compreender melhor as questões abertas por este trabalho. Aos funcionários da EFLCH, especialmente Daniela Gonçalves e Douglas Barbosa, que ajudaram a resolver boa parte das burocracias da pós-graduação. À Capes, pelo financiamento que possibilitou esta pesquisa. A Gabriela Murua, Rafael Freitas e Andréa Azevedo, amigos, companheiros e interlocutores permanentes, com quem discuti cotidianamente as ideias e questões deste trabalho e do dia a dia em São Paulo, além de compartilhar tantos momentos leves, fundamentais. Aos amigos, com quem a convivência intensa e a cumplicidade construída durante os anos marcaram de forma indelével nossas maneiras de pensar e se posicionar: Matheus Pasquali, Zé Schultz, Theo Kieckbusch, Aline Hasegawa, Carolina Perini, Ariella Carolino, Paulinha Saes, Lauren Souza, Rodrigo Bulamah, Stella Paterniani, Hugo Ciavatta, Bruna Borrego, Umberto Proietti, Fernando Pedrazolli. Matheus, Aline, Carol, Rodrigo e Stella, em diferentes momentos, leram rascunhos, projetos e notas, colocando comentários, provocações e perguntas sempre instigantes. A Tiago Freitas e Rodrigo Lima, músicos excepcionais, com quem tive raras oportunidades de discutir seriamente sobre música e política. A todo o pessoal da Pensata e aos amigos que fiz no mestrado, Fernando Santana, sociólogo perspicaz e companheiro de discussões, e Cauê Martins, parceiro no interesse pela indústria fonográfica e em tantas outras questões. As ciências sociais ensinam que a socialização familiar é aquela que coloca em nós as concepções mais profundas que temos do mundo. Agradeço à minha família, meus pais e minha irmã

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