SÉRIE AFRICANA CONFLITOS, ATORES, AGENDAS e AMEAÇAS © Nilton César Fernandes Cardoso 1ª edição: 2020 Direitos reservados desta edição: CEBRAFRICA – UFRGS [email protected] | ufrgs.br/cebrafrica Revisão: Paulo Fagundes Visentini Projeto Gráfico: Walter Diehl e João Corrêa Capa: Walter Diehl Diagramação: Walter Diehl e Luana Margarete Geiger Impressão: Gráfica UFRGS Apoio: Reitoria UFRGS e Editora UFRGS Série Africana Conselho editorial: Analúcia Danilevicz Pereira (UFRGS) - coordenadora do CEBRAFRICA Paulo Fagundes Visentini (UFRGS) - coordenador do NERINT José Carlos dos Anjos (UFRGS - UniCV) Luiz Dario Teixeira Ribeiro (UFRGS) Marco Cepik (UFRGS) Alfa Diallo (UFDG) Pio Penna Filho (UnB) Mamoudou Gazibo (Univ. de Montréal - Canada) Gladys Lechini (U.N. Rosário - Argentina) Gerhard Seibert (UFBA) Hilário Cau (ISRI - Maputo, Moçambique) Loft Kaabi (ITES - Cartago, Tunísia) Chris Landsberg (Univ. de Joanesburgo - África do Sul) [T]he peace of Africa is to be assured by the exertions of Africans themselves. The idea of a “Pax Africana” is the specifically military aspect of the principle of continental jurisdiction. ALI A. MAZRUI SUMÁRIO PREFÁCIO 11 INTRODUÇÃO 15 [ 1 ] ÁFRICA NO SISTEMA INTERNACIONAL: ESTRUTURA, AGÊNCIA E ‘DEPENDÊNCIA’ 23 1.1 Estabelecimento do Sistema de Relações Interafricanas (1946–1970) 26 1.2 Reordenamento, Crises e Tensões (1970–1990) 39 1.3 Vazio Estratégico, Marginalização e Crise dos Estados (1991–2000) 47 1.4 Renascimento e Reafirmação da África (2000–2017) 55 [ 2 ] CONSTRUÇÃO DE ESTADO E FORMAÇÃO DO CHIFRE DA ÁFRICA 65 2.1 Construção dos Estados Nacionais na Europa e no Terceiro Mundo 65 2.2 Formação e evolução do Chifre da África 75 2.2.1 A expansão territorial da Abissínia e o estabelecimento das potências coloniais europeias na região 76 2.3 Dinâmicas do Chifre da África (1900–1960) 83 2.4 A questão da Eritreia 89 [ 3 ] ASPECTOS ESTRUTURAIS DO SISTEMA REGIONAL DO CHIFRE DA ÁFRICA (1974–1991): ATORES, AGENDAS E CONFLITOS 97 3.1 Revolução, Guerra e Ordens Regionais 97 3.2 A Revolução Etíope e seu impacto na Ordem Regional (1974–1979) 105 3.3 Dinâmicas da Guerra Fria 115 3.3.1 Realinhamento no Chifre: guerra do Ogaden, intervenção cubano-soviética e colapso da Détente 122 3.4 A escalada do conflito (1980–1991): Guerra por procuração (proxy) e seus impactos na Ordem Regional 133 3.4.1 Dinâmicas do Conflito 136 [ 4 ] SEGURANÇA REGIONAL NO CHIFRE DA ÁFRICA NO PERÍODO PÓS-GUERRA FRIA (1991–2008) 149 4.1 Vazio Estratégico, Crise e Reconstrução dos Estados 149 4.2 Relações Regionais do Chifre da África (1991–2001) 170 4.3 Agenda de Segurança no Chifre da África após o 11 de setembro de 2001 177 4.3.1 Securitização: aspectos teóricos-conceituais 181 4.3.2 Guerra ao terror no Chifre da África 185 4.4 A (In)Segurança Marítim no Chifre da África 220 [ 5 ] RESPOSTAS REGIONAIS À INSEGURANÇA NO CHIFRE DA ÁFRICA 231 5.1 IGAD e a Segurança Regional no Chifre da África: Processos de Paz no Sudão, na Somália e no Sudão Do Sul 231 5.1.1 Sudão 236 5.1.2 Somália 245 5.1.3 Sudão do Sul 249 5.2 UA e a Segurança Regional no Chifre da África: AMISOM 257 5.3 Polaridade Regional 266 5.4 A Política Externa Regional da Etiópia 273 [ 6 ] COOPERAÇÃO E CONFLITO NO CHIFRE DA ÁFRICA (2008–2017): CENÁRIOS POSSÍVEIS 283 6.1 Dinâmicas do Conflito 283 6.2 Dinâmicas Cooperativas 291 6.3 A Nova Importância Estratégica e as Relações Inter-Regionais do Chifre da África 306 6.3.1 A presença das Monarquias do Golfo e do Irã no Chifre da África 306 6.3.2 A presença da Turquia e da China no Chifre da África 323 CONCLUSÃO 333 REFERÊNCIAS 339 LISTA DE FIGURAS 376 LISTA DE QUADROS 377 LISTA DE GRÁFICOS 377 LISTA DE TABELAS 377 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 378 PREFÁCIO O Chifre da África constitui uma região conflituada há quase meio sécu- lo. Acadêmicos europeus e norte-americanos formularam abordagens teóricas para buscar compreender situação e realizaram pesquisas de campo que, em seu conjunto, representam uma importante contribuição. Mas carecíamos de um olhar do Terceiro Mundo, o Sul Geopolítico, que não fosse caudatário dessas visões, ou mesmo financiadas por agências de nações norte-atlânticas, com suas agendas indutoras. Finalmente, a tese de Nilton Cardoso nos traz um olhar austral, de um acadêmico afri- cano formado no Brasil, dentro da perspectiva da Cooperação Sul-Sul. A região era conhecida por ter como Estado-pivô um Império milenar antigo, nunca colonizado pelos europeus (a ocupação italiana foi curta e efêmera), a Etiópia (ex-Abissínia). Em 1969 um golpe militar na vizinha Somália implantou um regime socialista de inspiração mar- xista. Simultaneamente, o Sudão também desencadeou a Revolução de Maio, um golpe dos militares progressistas e nacionalistas, estabelecendo mais um Regime Militar Marxista Africano. Cinco anos depois o milenar império etíope foi sacudido da estagnação de seus dirigentes por uma grande mobilização popular, acompanhada pela conquista do poder por um grupo de oficiais de patente média. Em meio a grandes disputas internas do grupo dirigente, de guerrilhas separatistas e de movimentos contrarrevolucionários, o país também implantou um regime socialista e se aproximou do campo soviético. Do outro lado do estreito de Bal-el Mandeb, o Iêmen do Sul já era, desde 1969, o primeiro regime marxista do mundo árabe-muçulmano. A mesma orientação fora adotada pela corrente política majoritária da Eritreia, que lutava pela emancipação em relação ao império etíope. Tudo parecia propício para uma mudança geopolítica na região, mas não foi o que ocorreu, pois, a debilidade do novo regime da Etiópia foi explorada pelos vizinhos. A manutenção da integridade territorial e o respeito às fronteiras estabelecidas era um princípio consagrado pela Organização da Unidade Africana. Mas o nacionalismo e a política de poder falaram mais alto, dentro das necessidades de construção do Estado e da nação pelos países da região. 11 Em 1977 a Somália invadiu a região de Ogaden, provocando uma guerra, na qual a Revolução Etíope foi socorrida por tropas cubanas e assessores e material soviético. A mudança de alianças externas se apro- fundou, com a Etiópia se aproximando de Moscou e Havana, enquanto a Somália buscava apoio em Washington e Riad, para não falar do Sudão, em que o sul se encontrava em rebelião. O ciclo de violência se expandiu, com conflitos entre Estados e desses contra grupos guerrilheiros. Mesmo assim, a Revolução etíope se consolidou, realizando mudanças estruturais, que alteraram o perfil estratégico da região, fenômeno cuja importância essa obra destaca, ao contrário de analistas do Primeiro Mundo. Com as reformas soviéticas de Gorbachov, o encerramento da Guerra Fria e o fim da URSS, o panorama se altera, com a queda dos regimes somali e etíope, a primeira (que tentou construir uma Grande Somália) se fragmentou completamente, enquanto um movimento marxista, reconvertido aparentemente em liberal, assumiu na Etiópia. A única mudança foi a resolução da questão das minorias nacionais e o fim da tensão externa. A Eritreia obteve uma independência amigá- vel, que se revelou contraproducente, levando o país ao isolamento e a novos conflitos de fronteira com contra a Etiópia. A instabilidade levou a uma intervenção na Somália, de onde os norte-americanos tiveram de se retirar, bem como ao ingresso de mo- vimentos terroristas e até ao fenômeno da pirataria, combatido pelas marinhas das grandes potências. No Sudão os conflitos internos do Sul e de Darfur envolveram cada vez mais pressões internacionais, até que o Sudão do Sul se tornou um novo Estado. Mais uma vez, dividir terri- tórios que separam a população (Norte) dos recursos petrolíferos (Sul subpovoado) se revelou uma eficaz estratégia euro-americana contra um Estado autonomista e sua cooperação com a China. Tudo isso levou ao surgimento de uma narrativa que caricaturava região como caótica. Mas o que a Tese de Nilton Cardoso nos mostra é algo bem diferente. Os problemas da Somália e, em menor medida, do Sudão do Sul, persistem. Mas o desenvolvimento da Etiópia é inegável, além do acordo de paz com a Eritréia, enquanto Djibuti se tornou um porto dinâmico, com bases de numerosas nações, da China aos EUA. No plano multilateral, a criação da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD) criou mecanismos econômicos e de segurança regional que têm sido eficazes. É esse o tema que a obra nos mostra, com base em pesquisa meticulosa e análise acurada. Mas quem é o autor? 12 Nilton César Fernandes Cardoso é cabo-verdiano e chegou à Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2009, como aluno do Programa de Estudante Convênio (PEC) para estudar Relações Interna- cionais. Jovem tímido, discreto, estudioso, educado e prestativo, com apenas 18 anos de idade, sem a vaidade comum aos universitários, ele foi conquistando a admiração e o respeito de professores e colegas. Graduado, ingressou no Mestrado e, depois, no Doutorado em Estudos Estratégicos Internacionais na UFRGS, que tive o prazer de orientar. Exatamente no prazo, dez anos depois, se tornava Doutor, ao defender sua Tese com brilhantismo, merecendo ser publicada pela qualidade e por cobrir uma lacuna historiográfica. Também atuou como pesquisador no Centro Brasileiro de Estudos Africanos (CEBRÁFRICA/UFRGS) e no Curso de Especialização EaD em Relações Internacionais: Geopolítica e Defesa, ambos sob a coordenação da Dra. Analúcia Danilevicz Pereira. Ao procurar orientação para seu TCC, Dissertação e Tese, perguntei-lhe se ia estudar o seu país. Grata surpresa, respondeu-me que desejava analisar o Chifre da África, pois aqui no Brasil pudera compreender seu continente de forma integrada, e desejava ser um africanista. Ao retornar ao seu país, foi aprovado em concurso público e se tornou professor do Mestrado em Relações Internacionais da Universidade de Cabo Verde.
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