A LITERATURA INFANTIL INDÍGENA COMO MEIO DE PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO MULTICULTURAL A intervenção didática em uma escola de Belém (Brasil) Maria da Luz Lima Sales Orientadora Profª. Drª. Ângela Balça Tese apresentada à Universidade de Évora para obtenção do Grau de Doutor em Ciências da Educação Évora, janeiro de 2019 INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO E FORMAÇÃO AVANÇADA A LITERATURA INFANTIL INDÍGENA COMO MEIO DE PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO MULTICULTURAL A intervenção didática em uma escola de Belém (Brasil) Maria da Luz Lima Sales Orientadora Profª. Drª. Ângela Balça Tese apresentada à Universidade de Évora para obtenção do Grau de Doutor em Ciências da Educação Évora, janeiro de 2019 INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO E FORMAÇÃO AVANÇADA A Literatura Infantil Indígena como meio de promoção da educação multicultural: a intervenção didática em uma escola de Belém (Brasil) Maria da Luz Lima Sales Composição do júri Presidente Doutor José Carlos Bravo Nico, Professor Associado c/ Agregação da Universidade de Évora, por delegação de competências do Diretor do Instituto de Investigação e Formação Avançada. Vogais Doutora Eliane Santana Dias Debus, Professora Associada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil; Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires, Professora Coordenadora da Escola de Educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Doutora Renata Junqueira de Souza, Professora Livre Docente da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Brasil; Doutora Ângela Maria Franco Martins Coelho de Paiva Balça, Professora Auxiliar da Universidade de Évora, orientadora; Doutor António Ricardo Santos Fadista de Mira, Professor Auxiliar da Universidade de Évora; Doutor Paulo Jaime Lampreia Costa, Professor Auxiliar da Universidade de Évora. INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO E FORMAÇÃO AVANÇADA ii Aos meus pais, Carolina e Francisco. iii Se Deus quiser, um dia eu quero ser índio Viver pelado, pintado de verde num eterno domingo Ser um bicho preguiça e espantar turista E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, sol Se Deus quiser, um dia acabo voando Tão banal, assim como um pardal, meio de contrabando Desviar de estilingue, deixar que me xinguem E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, banho de sol Se Deus quiser, um dia eu viro semente E quando a chuva molhar o jardim, ah! Eu fico contente E na primavera vou brotar na terra E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, sol Se Deus quiser, um dia eu morro bem velha Na hora “H” quando a bomba estourar Quero ver da janela e entrar no pacote de camarote... E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, sol Baila comigo, como se baila na tribo Baila comigo, lá no meu esconderijo (Rita Lee) iv Agradecimentos A Deus, A minha orientadora Professora Doutora Ângela Balça, por toda sua atenção e dedicação, A minha família, irmãs e irmãos e, especialmente, a Ricardo Sales da Veiga, pela bondade, A Paulo Bentes e a Mateus Bentes, os grandes amores da minha vida, Aos professores da Universidade de Évora, em especial a Ana Paula Canavarro e a Fernanda Henriques, por sua delicadeza para comigo, A meu querido Professor Doutor António Neto, in memorian, A Lucilene Miqueli, amiga de todas as horas, À escola, lócus de minha pesquisa, que me acolheu com calor e amizade, em especial, a Myrle Santa- Brígida, E a todos aqueles que me ajudaram nessa longa e difícil trajetória, meu muito obrigada! v RESUMO A pesquisa apresentou como tema central a Literatura Infantil Indígena como meio de promoção da educação multicultural, em vista de haver no Brasil um contexto de violência e discriminação contra povos indígenas que vivem neste país antes mesmo da colonização em 1500 pelos portugueses. De natureza qualitativa e naturalista, a investigação empregou entrevistas semiestruturadas a discentes do quarto ano do ensino fundamental de uma escola de Belém (Brasil) no primeiro semestre de 2017, compondo-se basicamente de duas partes e com objetivos diferentes. Para a primeira, intentou-se conhecer, nos alunos, as atitudes e concepções acerca das populações e culturas indígenas, percebendo sua receptividade em relação à cultura e literatura indígenas. Na segunda parte, buscou-se alcançar o nível de conhecimento dos discentes em relação a essa cultura, incentivando maior respeito pelo nativo brasileiro bem como por sua cultura. Empregou-se, além de pesquisa em documentos e observações colhidas em notas de campo, a intervenção em sala de aula, consubstanciada em dez oficinas, nas quais foram aplicadas as histórias da Literatura Infantil Indígena narradas tanto por escritores indígenas como por não indígenas e também inúmeros outros recursos didáticos, como meio de inovar as práticas no ambiente escolar e, assim, minorar atitudes preconceituosas e intolerantes em relação às sociedades indígenas e seu ethos, fazendo com que estas possam ser respeitadas e valorizadas em plenitude. De modo conclusivo, constataram-se pequenas modificações que se constituíram nas concepções dos sujeitos- crianças, em relação à cultura indígena. Tais mudanças, conquanto não serem absolutas, dão indícios de que ações didáticas como esta, junto a um trabalho constante e sistemático sobre a literatura e a cultura indígenas, poderão contribuir sucessivamente para a mudança de atitude da sociedade em relação aos povos indígenas. PALAVRAS-CHAVE: Educação multicultural, escola, Literatura Infantil Indígena, cultura indígena, discriminação racial. vi The Indigenous Children's Literature as means of promote multicultural education: the didactic intervention in a Belem's school (Brazil) ABSTRACT The research presented as a central theme the indigenous children's literature as the means of propagation of the multicultural education, considering the Brazil as context of violence and prejudice against indigenous peoples that live in this country even before the colonization in 1500 by the Portuguese. Of a qualitative and naturalist nature, the investigation used semi structured interviews to students of the fourth year of elementary in a Belem's (Brazil's) school on the first semester of 2017, composing basically of two parts and with different objectives. At first, it was attempted to know on the students the attitudes and concepts about the peoples and indigenous cultures realizing our reality in relationship to the culture and indigenous literature. Second, it was attempted to achieve the level of knowledge of the students in relationship to that culture, encouraging higher respect by the Brazilian native as well as for their culture. Was used, in addition to the research in documents and observations collected in field notes, the intervention in classroom, united on ten workshops in which was applied the histories of children's indigenous literature narrated both as indigenous writers as non-indigenous writers and also a lot of others didactic resources in order to innovate the practices on the scholar environment and so decrease prejudiced attitudes and intolerant in relationship to indigenous societies and their ethos, causing these can be respected and valued in fullness. Conclusively, were found shorts modifications that compose the conceptions of the child-subjects in relationship to the indigenous culture. Such changes, although aren't absolute, indicate didactic actions like this, next to a constant work and systematic about the literature and indigenous culture that may contribute successively for a change of position of the society in relationship to the indigenous peoples. KEY-WORDS: Multicultural education, school, Indigenous Children's Literature, indigenous culture, racial prejudice. vii Índice INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 12 CAPÍTULO 1 - PARA UMA EDUCAÇÃO HUMANIZADA E MULTICULTURAL ................................ 19 1.1 MARTHA NUSSBAUM E HELENA DROBNIEWSKI E O CULTIVO DA HUMANIDADE ................................ 20 1.2 MULTICULTURALISMO E EDUCAÇÃO MULTICULTURAL ........................................................................ 31 1.2.1 CONTEXTO GERAL ...................................................................................................................................................... 31 1.2.2 CONTEXTO BRASILEIRO ............................................................................................................................................ 45 1.3 OS ESTUDOS CULTURAIS ........................................................................................................................ 48 1.3.1 NÉSTOR CANCLINI E AS CULTURAS HÍBRIDAS ..................................................................................................... 48 1.3.2 HOMI BHABHA E O DISCURSO ANTI-COLONIALISTA ........................................................................................... 50 CAPÍTULO 2 - REFLEXÕES SOBRE A ORIGEM DO PRECONCEITO NO BRASIL ........................... 54 2.1 TODOROV E O ANIQUILAMENTO DO OUTRO ........................................................................................... 54 2.2 ORLANDI E O DISCURSO DA “DESCOBERTA” ........................................................................................... 57 2.3 O PRECONCEITO, O RACISMO E A DISCRIMINAÇÃO ................................................................................. 66 2.4 O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL NO BRASIL ......................................................................................... 77 2.5 OS ESTUDOS CRÍTICOS ...........................................................................................................................
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