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Região Metropolitana de Porto Alegre: expansão urbana... 65 Tanya M. de Barcellos Socióloga da FEE. Resumo Neste estudo, enfocam-se características da estruturação do espaço urbano na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), na última década, priorizando a abordagem das características recentes da expansão metropolitana e da dinâ- mica imobiliária, especialmente através da análise da atuação do segmento empresarial nos maiores municípios da Região. O texto foi organizado em três tópicos: breve síntese histórica da formação e da expansão da RMPA; aborda- gem da estruturação urbana na RMPA, enfocando o crescimento populacional e dos domicílios, a regularidade e a irregularidade da ocupação e as mudanças no padrão de moradia das diferentes camadas da população; e, finalmente, análise do mercado imobiliário nos maiores municípios da Região. Palavras-chave Dinâmica urbana; metrópole; desigualdades sociais. * Este trabalho se vincula ao projeto de pesquisa Desigualdades Socioespaciais na RMPA, em curso no Núcleo de Estudos Regionais e Urbanos da FEE. O projeto recebeu recursos do Programa Pró-Guaíba e da Fapergs e, em termos institucionais, está integrado ao Projeto Metrópole, Desigualdades Socioespaciais e Governança Urbana: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, encaminhado ao Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad) e inserido no Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) do MCT. Uma versão preliminar do texto foi apresentada no XXVII Encontro Anual da ANPOCS, em outubro de 2003 (Barcellos, 2003). Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 32, n. 1, p. 65-90, maio 2004 66 Tanya M. de Barcellos Abstract This study analyses the characteristics of the structuring of the urban space in the Metropolitan Area of Porto Alegre (MAPA) during the last decade, focusing on the metropolitan expansion and of the housing market dynamics, especially through the performance of the business segment in the largest districts of the area. The text includes three topics. The first outlines a brief historical summary of the formation and expansion of the MAPA. The second discusses the urban structuring in the MAPA, focusing on the population growth, on the regularity and irregularity of the occupation of urban land, and on the changes in the residential patterns of the different social classes. And, the last part, finally, analyses the housing market in the largest districts of the area. Os originais deste artigo foram recebidos por esta Editoria em 12.12.03. Introdução Neste texto, enfocam-se características da estruturação do espaço urbano na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), na última década, procurando detectar as tendências de atuação do segmento empresarial da produção imobi- liária. Trata-se de um esforço que busca organizar um material empírico mínimo para começar a refletir sobre o tema do mercado imobiliário, problemática para cuja compreensão colaboram inúmeros fatores, como aqueles que determinam a renda da terra urbana que merecem uma discussão que não cabe no escopo desta tentativa. Também o papel fundamental desempenhado pelas políticas urbanas não foi sistematicamente considerado, o que impõe limites à capacida- de explicativa da análise. Entende-se que o comportamento do setor construtivo é um elemento crucial no processo de provimento da habitação e na conformação do espaço urbano. A especulação em torno dos valores econômicos, sociais e culturais associados à localização dos terrenos e das propriedades urbanas tem implicações no acesso à moradia. A elitização da produção imobiliária de cunho empresarial tem como contraponto o crescimento das áreas irregulares de moradia, tornando essa ques- Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 32, n. 1, p. 65-90, maio 2004 Região Metropolitana de Porto Alegre: expansão urbana... 67 tão fundamental para a compreensão das diferenciações sociais existentes entre os espaços da metrópole.1 As desigualdades sociais que caracterizam as áreas metropolitanas fa- zem parte de processos complexos. A crise econômica dos anos 80, que se estendeu pelos 90, e as mudanças que decorrem dos processos de reestruturação econômica e de globalização são fenômenos que vêm imprimindo suas marcas nas metrópoles. Assiste-se a uma rápida transformação urbana como reflexo da integração das cidades à nova divisão internacional do trabalho, sendo reserva- do para as grandes cidades um papel privilegiado na organização de mercados em nível mundial. A referência mais ampla para situar o problema encontra-se na bibliografia sobre as mudanças sociais, econômicas e culturais que acompanham a reestruturação econômica desde o plano mundial até as várias dimensões do local (Sassen, 1998; Castells, 1989; Preteceille, 1994). No Brasil, os estudos que enfocam a estruturação dos espaços metropoli- tanos, durante um largo período, se desenvolveram em torno da problemática que privilegia a oposição centro-periferia (Lago, 2000). Mais recentemente, al- guns têm evidenciado novas articulações no processo de crescimento das áreas metropolitanas. Os anos 90, especialmente, revelaram uma fragmenta- ção social na configuração desses espaços. Verifica-se o crescimento da população vivendo em favelas, provocando uma aproximação das residências de pobres e ricos. A segregação social, nesse contexto, exprime-se de uma nova forma através de enclaves de áreas ricas, ou seja, condomínios fechados e complexos comerciais exclusivos, nos quais ocorre uma privatização de espaços públicos e a livre circulação é obstaculizada (Ribeiro, 2000; Lago, 2000). O ajuste estrutural iniciado nos anos 90, e que foi precedido de uma grave crise econômica, foi acompanhado de um aprofundamento dos problemas de- correntes da crise, como o desemprego e a pobreza. No que diz respeito à problemática urbana, um dos aspectos que se alterou grandemente foi a dinâmi- ca da produção habitacional, já que a crise trouxe junto a extinção do BNH, em 1986, que desempenhava importante papel no financiamento da moradia para as camadas médias e para a população de baixa renda. O setor imobiliário abre sistemas próprios de financiamento, que se voltam mais para a clientela de alta renda, alterando substancialmente a oferta de imóveis (Cardoso, 2000). Com isso, as faixas mais pobres da população ficam à margem do mercado formal, 1 Uma abordagem das desigualdades socioespaciais em Porto Alegre contemplando alguns aspectos do mercado imobiliário foi publicada anteriormente (Mammarella; Barcellos; Koch, 2002). Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 32, n. 1, p. 65-90, maio 2004 68 Tanya M. de Barcellos tendo como recurso a moradia precária, obtida pela via da autoconstrução (Souza, 2001). O texto foi organizado em três tópicos: breve síntese histórica da forma- ção e da expansão da RMPA; abordagem da estruturação urbana na RMPA, enfocando o crescimento populacional e dos domicílios, a regularidade e a irre- gularidade da ocupação e as mudanças no padrão de moradia das diferentes camadas da população; e, finalmente, análise do mercado imobiliário nos maio- res municípios da Região. Na elaboração da síntese histórica da formação da metrópole gaúcha, uti- lizou-se a bibliografia disponível. A estruturação recente e as tendências da expansão urbana foram trabalhadas a partir das informações censitárias, consi- derando o conjunto dos municípios que integravam a Região em 1991 projetados para 2000, de modo a permitir uma abordagem da última década. Para examinar o mercado imobiliário, foram adotadas estratégias diferenciadas: de um lado, levantaram-se dados sobre área vistoriada e habite-se nos cadastros das prefei- turas dos municípios de maior porte e importância econômica (Porto Alegre, Canoas, Gravataí, Novo Hamburgo e São Leopoldo), onde é mais intenso o dinamismo do mercado de imóveis; e, de outro, no caso de Porto Alegre, complementou-se a abordagem com a análise das informações publicadas des- de 1998 nos Censos Imobiliários do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-RS), que contemplam questões como localização, tamanho e faixa de preço dos imóveis em oferta e características das empresas incorporadoras/ /construtoras. Formação e expansão urbana da RMPA A atual configuração metropolitana tem suas origens no final do século XVIII e início do XIX, quando já ressaltava o papel de Porto Alegre enquanto porto para a saída dos excedentes produzidos pela agricultura de subsistência dos colonos açorianos localizados em Viamão, Gravataí e Santo Antônio da Patrulha e ao longo dos vales dos rios Taquari e Jacuí, em Cachoeira, Rio Pardo, Triunfo, Santo Amaro e Taquari (Carrion, 1989; Orth; Alves, 2001). A partir de 1824, com a imigração alemã, emergiram novos núcleos de produção colonial, tendo por base São Leopoldo, ao norte da Cidade de Porto Alegre, no Vale do Rio dos Sinos. Um intenso comércio estabeleceu-se entre Porto Alegre e as colônias e criou, segundo Singer (1968), as bases da indus- trialização que se desenvolveu na Cidade e que se incrementou a partir de Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 32, n. 1, p. 65-90, maio 2004 Região Metropolitana de Porto Alegre: expansão urbana... 69 1890, com uma estrutura diversificada e voltada para o mercado local, levando a mesma a assumir a liderança industrial do Estado a partir de 1920. O transporte fluvial predominou no comércio entre as localidades até o fim do século XIX, quando foi construída uma ferrovia para atender à expansão da produção local. Em 1874, foi concluído o trecho entre Porto Alegre e São Leopoldo, que alcançou Novo Hamburgo em 1876, Taquara em 1903 e Canela

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