Redes de campanha na eleição do Rio de Janeiro em 2016 revista compolítica [Campaign networks in 2016 2017, vol. 7(2) Rio de Janeiro election] compolitica.org/revista ISSN: 2236-4781 DOI: 10.21878/compolitica.2017.7.2.308 Open Access Journal Marcelo Alves Universidade Federal Fluminense [Federal Fluminense University] Resumo Qual o papel dos militantes em produzir e disseminar mensagens nas mídias sociais? Analisamos N = 553.612 tweets publicados durante o segundo turno da campanha para prefeito do Rio de Janeiro no Twitter. Utilizamos técnicas da análise de redes sociais combinadas com mineração textual para identificar os militantes por meio do posicionamento na rede, uso de hashtags e retweets. Os resultados evidenciam que os prefeitáveis foram responsáveis por apenas 5% do conteúdo coletado. Encontramos 57.480 perfis que praticaram militância para Freixo e Crivella, entre eles, políticos profissionais, celebridades, blogueiros e outros. As redes de campanha formadas pelos militantes são responsáveis por 68,6% dos tweets. Achados apontam para uma abordagem que leva em conta a ação dos candidatos em conjunto com redes de apoiadores e antagonistas, indicando diferentes tipos de comportamento entre militantes e não militantes. Palavras-chave: Comunicação Política, Campanha Digital, Militância. Abstract What is the role of grassroots in the creation and propagation of campaign propaganda on social media? We studied N = 553.612 tweets on the second term for the Rio de Janeiro City Hall race. This paper conducts social network analysis and text mining for identifying grassroots groups through network positions, hashtags adoption, and retweets. Results show that the candidates are the sources of less than 5% of the whole dataset. We found 57.480 grassroots for Crivella and Freixo, encompassing politicians, celebrities, bloggers and others. The remainder of this paper points to an analytical approach that highlights the candidate network and the behavior of grassroots and ordinary users. Keywords: Political Communication, Digital Campaign, Grassroots. ALVES 88 revista compolítica 7(2) Redes de campanha na eleição do Rio de Janeiro em 2016 Marcelo ALVES uem faz campanha nas mídias sociais? A pergunta suscita problematizações teórico-metodológicas de fôlego para pesquisas sobre eleições na internet. A Qliteratura especializada traz evidências sobre as estratégias eleitorais dos candidatos no Twitter (Cervi e Massuchin, 2011; Marques et al. , 2011; Braga et al. , 2013; Rossetto et al. , 2013; Ituassu et al. , 2014; Marques e Mont’Alverne, 2014). Todavia, as ferramentas digitais são responsáveis pela pluralização das fontes criadoras e disseminadoras de conteúdo político, levando à redução do controle sobre o discurso (Aggio, 2010). Marques e Sampaio (2011, p.211) elucidam as “transformações no estatuto da informação política”, considerando que fontes tradicionais (imprensa e comitês de campanha) rivalizam a atenção da audiência com blogs, lideranças de opinião nativas digitais e páginas criadas pelos cidadãos para opinar e disseminar mensagens de campanha. Com isso, o regime da campanha eleitoral modifica-se, pois os candidatos negociam e disputam a construção da imagem, a definição da agenda pública e a atenção da audiência com outros atores. O artigo contribui com o conhecimento acadêmico acerca de eleições nas mídias sociais ao elucidar práticas relacionais de comunicação político-eleitoral. Argumentamos que a perspectiva relacional enfatiza um ângulo ainda pouco explorado: as dinâmicas de disputa pela atenção da audiência dos candidatos com uma série de atores que pertencem ou não às elites política e midiática. Nessa linha, as redes de campanha são um esforço comunicacional do candidato em conjunto com membros da aliança eleitoral (deputados, prefeitos, vereadores) e militantes de vários segmentos durante o pleito eleitoral. Muda-se a perspectiva do perfil oficial do concorrente para sua capacidade de estimular e articular o engajamento de seus seguidores e arcos de apoiadores na campanha. Para isso, analisamos N = 553.612 tweets publicados durante o segundo turno da campanha para prefeito do Rio de Janeiro no Twitter . A abordagem insere os candidatos no contexto das redes de apoiadores, antagonistas e não militantes. Utilizamos técnicas da análise de ALVES 89 revista compolítica 7(2) redes sociais combinadas com mineração textual para identificar os militantes por meio do posicionamento na rede, uso de hashtags e retweets . Em seguida, estudamos a produção de tweets , as fontes de informação e as hashtags acionadas pelos grupos de apoiadores de Marcelo Crivella (PRB) e de Marcelo Freixo (PSOL). Os resultados evidenciam que os prefeitáveis foram responsáveis por apenas 5% do conteúdo coletado; já os usuários que praticaram a militância no Twitter produziram 68,6% do material. Encontramos 57.480 perfis que se engajaram na militância de Freixo e Crivella, entre eles, políticos profissionais, celebridades, blogueiros e outros. Enfatizamos que há diferentes comportamentos distintos entre militantes e não militantes. A repercussão do pleito também é diferente nas redes de Crivella e de Freixo, com fontes de informação e hashtags particulares. O texto está organizado em cinco partes. Na primeira, introduzimos breve revisão bibliográfica da literatura especializada em campanha digital, explicando a mudança da abordagem que passa das estratégias acionadas pelos candidatos às redes de militantes eleitorais. Em seguida, apresentamos as questões e os procedimentos metodológicos. Na quarta seção, demonstramos os principais resultados da análise empírica. Na última parte, discutimos os achados em relação à teoria e indicamos lacunas a serem exploradas em trabalhos futuros. Do candidato à mobilização: militantes e redes de campanha A maior parte da literatura especializada em campanha digital preocupa-se com os usos e estratégias políticas dos candidatos. Avaliando a construção da subárea de Internet e Política, Sampaio et al . (2016) indicam a aproximação entre os eixos de pesquisa “redes sociais”, “estratégia política” e “campanhas eleitorais”. Neste contexto, a questão de quem faz campanha está reduzida aos esforços acionados pelas elites políticas, por meio de profissionais de marketing e propaganda. Podemos citar exemplos dos usos da internet por candidatos ao posto de vereador em Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre (Braga et al. , 2013); da conta de José Serra no Twitter no pleito presidencial de 2010 (Marques et al. , ALVES 90 revista compolítica 7(2) 2011); das estratégias de candidatos ao governo do estado do Paraná no mesmo ano (Cervi e Massuchin, 2011); dos perfis de Marcelo Freixo na eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro em 2012 (Ituassu et al. , 2014) e dos vereadores de Fortaleza em 2012 (Marques e Mont’Alverne, 2014). Em geral, estes estudos buscam compreender quais estratégias discursivas os candidatos empregam para gerir sua imagem e definir a agenda em plataformas como Facebook e Twitter . Esta abordagem trouxe avanços significativos para o entendimento das ações dos candidatos, porém pouco elucidou sobre o que acontece na campanha eleitoral digital fora destes espaços, ou seja, nas redes que se formam em torno destes canais centrais. De um lado, é fundamental compreender como os candidatos se apropriam de Facebook e Twitter para conduzir a eleição, de outro, autores ressalvam que poucos eleitores seguem os perfis dos políticos e preferem se informar por outras fontes, como amigos e familiares (Nielsen e Vaccari, 2013; Braga e Carlomagno, 2014). Os achados de Nielsen e Vaccari (2013) relativizam o papel dos candidatos e apontam para a relevância de considerar, também, os discursos que circulam em torno das páginas oficiais dos candidatos 1. Aggio (2010) nota que as correntes mais recentes da literatura especializada em campanha digital se debruçam sobre a mobilização. Esta linha busca compreender como as campanhas estimulam redes de apoiadores e movimentos de base a manifestarem seu voto, multiplicarem os esforços de comunicação e cumprir determinados objetivos de campanha online e offline , utilizando email, websites, blogs e mídias sociais (Bimber e Davis, 2003; Williams e Trammel, 2005; Kreiss, 2012). Prudêncio (2014) chama de micromobilização a prática de arregimentar grupos de militantes na internet para disputar sentidos na internet a partir das hashtags como catalisadoras dos quadros coletivos. A perspectiva da mobilização lança olhar para ações de militantes de base ( grassroots ) e para sua relação com comitês e com a elite política no sentido de adaptar e canalizar a criação de conteúdo da militância partidária e de simpatizantes para suas finalidades políticas (Jungherr, 2012. 1 O tópico da descentralização por meio do tangenciamento da imprensa e dos partidos/candidatos é tradicional na agenda de pesquisa em campanha digital. Sobretudo os estudos que analisavam as perspectivas da equalização X normalização testaram essa hipótese nas primeiras ondas de trabalhos empíricos sobre o tema, frequentemente com objetos de partidos dominantes contra marginalizados. Enquanto que os primeiros resultados indicam que pouco se altera (Ward et al., 2003), artigos mais recentes sugerem que caminhamos em direção à diversificação destes atores (Ward e Gibson, 2009; Gibson, 2015). ALVES 91 revista compolítica 7(2) A mobilização pode cumprir ações distintas, como levantamento de recursos e distribuição física de material de campanha. Neste artigo, nos limitamos às disputas simbólicas por militantes no Twitter . A
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