UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS ORIENTAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA HEBRAICA, LITERATURA E CULTURA JUDAICAS A Rota do Êxodo Manu Marcus Hubner Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas, do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientadora: Profª Drª Suzana Chwarts São Paulo 2009 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS ORIENTAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA HEBRAICA, LITERATURA E CULTURA JUDAICAS A Rota do Êxodo Manu Marcus Hubner São Paulo 2009 2 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho em memória a três grandes amigos que iluminaram os nossos caminhos, e nos deixaram no período em que este trabalho foi feito: Bruce Michael Jentof, Nusen Treiger e Wilson Horowitz. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a Profa. Dra. Suzana Chwarts pela orientação, apoio e dedicação; A Profa. Dra. Nancy Rozenchan pela amizade e disponibilidade constantes; Ao Prof. Dr. Samy Pinto pelas valiosas contribuições a este trabalho; A Profa. Ester Szuchman pelo suporte e dicas em traduções do Hebraico; A minha esposa, Tatiana, meus filhos Rebeca e Michael, e meus pais Abraham e Haia, pela compreensão e apoio incondicional durante a execução deste trabalho. 4 “Ela foi e continua sendo a mais influente narrativa da história da política. Quando Oliver Komel fez seu primeiro discurso no parlamento depois da guerra civil inglesa, referiu-se a ela. Quando Thomas Jefferson e Benjamin Franklin estavam desenhando o Great Seal dos Estados Unidos, foi sua primeira escolha como imagem que simbolizasse fielmente seus sonhos. Na batalha que empreenderam pelos direitos civis, os negros americanos fizeram-na seu canto. Quando os sul- americanos escreveram suas teologias de libertação, foi o texto que tomaram como ponto de partida. Século após século, esta narrativa, mais do que qualquer outra, tem inspirado os povos a quebrar as correntes do passado e construir uma nova sociedade baseada na autodeterminação. É a história de Moisés levando os israelitas à liberdade, de sua jornada pelo deserto em direção à Terra Prometida. É a grandiosa, eterna, narrativa de esperança. Visto sob qualquer ângulo, trata-se de um momento decisivo na história. Os povos antigos podiam entender a vitória do poder sobre o poder. Impérios lutavam uns contra os outros, exércitos se digladiavam, e os deuses estavam sempre do lado dos fortes. Mas, que Deus pudesse estar do lado dos fracos, que Ele pudesse intervir a favor dos oprimidos, que escolhesse como Seu povo um grupo de escravos – isto era totalmente novo. Escravos sozinhos já haviam fugido antes, mas nunca uma população inteira. Foi um acontecimento sem precedentes”. Rabino Jonathan Sacks. Uma Letra da Torá. São Paulo: Sefer, 2002, p. 135. 5 SUMÁRIO Folha de Rosto....................................................................................................1 Capa................................................................................................................... 2 Dedicatória.......................................................................................................... 3 Agradecimentos.................................................................................................. 4 Epígrafe................................................................................................................5 Sumário............................................................................................................... 6 Resumo............................................................................................................... 7 Abstract............................................................................................................... 8 Introdução........................................................................................................... 9 Capítulo 1. Rotas Existentes..............................................................................15 Capítulo 2. A Escolha da Rota.......................................................................... 20 Capítulo 3. Considerações sobre os Objetivos das Jornadas........................... 29 Capítulo 4. Os Protagonistas da Narrativa das Jornadas pelo Deserto............ 33 Capítulo 5. O Significado do Deserto................................................................ 40 Capítulo 6. A Descrição dos Acampamentos.................................................... 46 Capítulo 7. Comparação com Registros Históricos......................................... 163 Capítulo 8. Ciclos/Padrões da Rota................................................................. 174 Considerações Finais....................................................................................... 179 Referências Bibliográficas Bibliografia Geral........................................................................................ 188 Artigos......................................................................................................... 191 Softwares.................................................................................................... 195 Anexo I – Mapas Anexo II - Figuras 6 RESUMO O período de quarenta anos em que os Filhos de Israel saíram do Egito e entraram na terra de Canaã foi um período de grandes milagres e maravilhas. Toda a sobrevivência foi milagrosa, distante das cidades, em lugares que dificultam a sobrevivência do homem, como desertos áridos e inóspitos. A escolha da rota para esta jornada não foi aleatória. Esta escolha parece estar apoiada em fatores geográficos, ambientais, estratégicos e de segurança. Os quarenta e dois acampamentos, ou estações, não parecem objetivos em si, mas meros estágios intermediários da grande jornada à terra de Canaã. Apesar disto, cada um destes lugares tem uma história e um significado, e aparenta ser parte integrante de um plano Divino. Todo o período de jornadas pelo deserto, então, configura-se como uma provação necessária para a geração que as vivenciou, uma vez que um grupo de escravos tornou-se uma nação, com unidade nacional, leis e um sentido de existência. Esta é a história do nascimento de um povo. O ponto alto desta jornada, a ser destacado, é o recebimento da Torá no Monte Sinai, que marcou de forma única e definitiva a existência e a história de Israel. PALAVRAS CHAVE BÍBLIA HEBRAICA, ISRAEL, ÊXODO, DESERTO, SINAI 7 ABSTRACT The forty-year period in which the children of Israel left Egypt and entered the land of Canaan was a period of miracles and wonders. Being far from the cities, in places where human survival was extremely difficult and challenging, such as in dry and inhospitable deserts, survival was a miracle. The choice of the route for this journey was anything but random. It appears to be contingent upon geographic, environmental, strategic and security factors. The forty two stops or stations don’t seem to be the final destinations in themselves, but rather mere intermediate stages of the long journey to the land of Canaan. In despite of this, each one of these locations has a history and a meaning and seems to be a part of a Divine plan. Thus, the whole period of the wanderings through the desert seems to be a necessary test for that generation. It transformed a group of slaves into a nation, with a national unity, laws and a sense of existence. It is the history of the birth of a nation. The climax of this journey is the reception of the Torah in the Mount Sinai, which marked in a unique and final way the history of Israel. KEY WORDS HEBREW BIBLE, ISRAEL, EXODUS, WILDERNESS, SINAI 8 INTRODUÇÃO Segundo o relato da Torá1, os Filhos de Israel saíram do Egito, após séculos de escravidão2. Passaram os primeiros quarenta e nove dias de liberdade no deserto3, preparando-se para a experiência mais monumental de suas vidas e, possivelmente, de todos os tempos: o recebimento da própria Torá no Monte Sinai4. Após uma permanência de aproximadamente um ano neste local5, o passo seguinte seria uma jornada de alguns dias6 em direção à Terra Prometida (naquele momento ainda conhecida como Terra de Canaã), que deveria ser conquistada e dividida entre as tribos formadoras do povo. Mas um fato inesperado mudou o curso dos acontecimentos: os espiões, enviados com o objetivo de reconhecer a região a ser conquistada, trouxeram um relato desfavorável à conquista, provocando a revolta de todo o povo. A punição por esta revolta, e pela recusa dos israelitas em confiar na promessa Divina da conquista da terra de Canaã, foi a permanência de quarenta anos no deserto, até o florescimento de uma nova geração7. No deserto, conta a Bíblia que os Filhos de Israel construíram um Santuário móvel8, estudaram9 e se aprofundaram nas leis da Torá, enfrentaram conflitos10 internos e externos, até que, finalmente, após estes quarenta anos, puderam conquistar a tão sonhada Terra Prometida, conquista esta relatada no Livro de Josué. __________ 1A Torá, ou Bíblia Hebraica, compõe-se dos cinco livros de Moisés, chamados de Pentateuco. 2 Ex 12:51 e Ex 12:41. As abreviações dos livros Bíblicos seguem a Bíblia de Jerusalém. 3A saída do Egito ocorre no dia 14 de Nissan (KAPLAN, 1981, p. 317, Ex 13:4), e o recebimento da Torá em 6 de Sivan (ibid., p. 351, Ex 19:11). São exatamente 50 dias entre uma data e outra, o que implica que o recebimento da Torá ocorreu no 50º dia após a saída do Egito. Esta contagem
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