Adereço Inútil

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ANC88 Pasta 11 a 19 Jan/87 1997 \1 JAN 052 Jornal de Brasília Lustosa da Costa Adereço inútil A possível definição de eleição indireta do vice-presidente José Sarney, pela Assembleia Nacional Constituinte, será um desperdício de tempo e de dinheiro, porque constituí reafir­ mação de antigo erro de nossa história re­ publicana. A experiência brasileira mostra que, entre nós, o vice é sempre fonte ou pretexto para constantes crises politico-institucionais. Sem funções, tende a polarizar os descontentes em torno do Ulular e a favorecer conspirações. Isso vem desde a pátria velha, desde o tur­ bulento relacionamento entre Deodoro e Floriano, desde as desconfianças que cercaram a convivência entre Prudente e Morais e Manuel Vitorino. Mais recentemente. Café Filho se envolveu na conjuração politico-militar que pressionou Getúlio Vargas a largar o Catete, em 1954. Por ambições, o politico potiguar não hesitou em se aliar aos inimigos de ontem para herdar a Presidência da República. Jânio Quadros somente renunciou na cer­ teza de que os militares vetariam a ascensão de João Goulart, que se encontrava no exterior, mais precisamente na China continental. José Maria Alkimin foi feito vice de Cas- tello Branco pelo PSD. Não assumiu uma vez sequer, tal a repulsa que lhe devotavam os militares, por sua vinculação a Juscelino Kubitschek. Outro mineiro, Pedro Aleixo, foi coagido e até preso, para não suceder ao marechal Costa e S ilva, apesar de haver sido líder e ministro de Castello Branco e de ter apoiado o golpe, antes e depois de 1964. Pior aconteceu quando João Figueiredo, que do poder somente queria as vantagens, ficou exasperado com Aureliano Chaves, por­ que este, quando assumia a presidência, trabalhava, o que não era o forte do titular, mais amante de cavalgadas e de campeonatos de consumo de pastéis, na Granja do Torto, com seus colegas. A Nação inteira presenciou, estarrecida, através da tevê, o episódio de grosseria e falta de educação, com andado pelo chefe do governo contra o político mineiro, na parada militar de 7 de setembro, quando Aureliano apoiava decididamente a candi­ datura Tancredo Neves. Se o vice, no Brasil, somente substitui o presidente quando existem condições favo­ ráveis, não há razão para manter o cargo, com seu ónus financeiro e seu potencial de pro­ blemas. E preferível que essa expectativa de direito fique com o presidente da Câmara, eleito de dois em dois anos, portanto mais compatibilizado com a realidade politica da época. Depois, é uma palhaçada muito grande essa do vice ficar no Palácio do Planalto, fingindo de presidente, quando o titular está no ex­ terior. .

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