2016 o ano que não acabou ORGs: FATIMA M. LEITE CRUZ E LIANA LEWIS Catalogação na fonte: Bibliotecária Kalina Ligia França da Silva, CRB4-1408 D658 2016 [recurso eletrônico] : o ano que não acabou / organizadoras : Fatima M. Leite Cruz, Liana Lewis. – Recife : Ed. UFPE, 2020. Vários autores. Inclui referências. ISBN 978-65-86732-23-8 (online) 1. Democracia – Brasil – Séc. XXI. 2. Movimentos sociais – Brasil – Séc. XXI. 3. Movimentos antifascistas – Brasil – Séc. XXI. 4. Brasil – Política e governo – Séc. XXI. 5. Brasil – História – Golpes de Estado, 2016. I. Cruz, Fátima Maria Leite (Org.). II. Lewis, Liana (Org.). 320.981 CDD (23.ed.) UFPE (BC2020-049) Agradecimentos Ao Magnífico Reitor da UFPE, Prof. Alfredo Gomes, nossos sin- ceros agradecimentos por viabilizar a edição deste ebook; Agradecemos, com carinho e admiração, a todos e todas com- panheiros do Comitê contra o fascismo e pela democracia na UFPE por todo apoio, companheirismo e dedicação que expres- saram em todas as aulas no desenvolvimento do curso “O Golpe de 2016 e o Futuro da Democracia no Brasil”. Sem vocês, não conseguiríamos a realização desta atividade; Ao Prof. Luís Felipe Miguel, nossa gratidão por nos ter inspira- do, com a idealização do primeiro curso, para a realização da versão que oferecemos à comunidade pernambucana; A todos os colegas professores da UFPE que aceitaram o convite para ministrar as temáticas do curso agradecemos, profunda- mente, pela coragem em construir conosco o curso e, principal- mente, pela qualidade da contribuição que deram à formação cidadã da comunidade externa à UFPE. Em particular, à Profa. Silke Weber, nosso respeito e agradecimento por ter proferido a palestra de abertura do curso; Agradecimentos especiais à companheira Cida Guilherme, por sua presteza e disponibilidade na inserção do curso no sistema de cursos de extensão da UFPE – SIGPROG; ao companheiro Ricardo Oliveira por toda a organização das inscrições e acom- panhamento das frequências para certificação; e ao companhei- ro André Graciano por seu empenho na resolução da infraestru- tura indispensável ao trabalho realizado; Ao colega da UFPB, Prof. Thiago Panica Pontes nosso melhor obrigado pela grande colaboração com a cuidadosa revisão tex- tual; À Direção do CCSA da UFPE que gentilmente nos seu cedeu o espaço de seu auditório para as aulas; a ADUFEPE pela cessão dos equipamentos; e a Segurança institucional da UFPE, nosso melhor obrigado; À Rafael Ricardo e à ADUFEPE, nosso muito obrigada pela dia- gramação e criação da capa do ebook; Aos participantes do curso, comunidade externa à UFPE, nosso melhor obrigado, por terem buscado conhecimento, pelas trocas valiosas durante as aulas, e pelo profundo respeito à democracia que desejam construir para o país. Prefácio Em meados de 2017 foi criado na UFPE o Comitê contra o Fascismo, por Democracia e Liberdade cujo Mani- festo, então publicado em uma rede social de amplo alcance, já destacava a articulação entre setores do mundo jurídico e da mídia para disseminar a ideia da existência de “um ‘inimigo interno’ responsável por todos os problemas do país” que deveria, portanto, “ser combatido, derrotado e excluído da vida social e política nacional”. Tal articulação, afirmava ainda o documento, configurava-se em um movimento que, a pretexto de combater a corrupção, visava a demonizar as lideranças e os partidos de esquerda – especialmente o PT – em uma espiral de ódio em que se iam aceleradamente corroendo as garantias constitucionais, as liberdades individuais e se caminhava abertamente para a implantação de um estado de exceção. Sucediam-se os abusos de poder e ataques dirigidos à universidade, como o absurdo ultraje a que a Polícia Federal submeteu o Reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier, em operação liderada pela delegada federal Érika Marena, com mandado judicial expedido pela juíza federal Janaina Cassol, levando-o à morte em outubro de 2017. O ambiente de linchamento midiático de então era propício à acolhida cínica e enviesada que o Manifesto do Comitê re- cebeu por parte de certos setores “bem-pensantes” da sociedade, para quem a imparcialidade e a lisura das instituições do estado responsáveis pela suposta apuração de atos de corrupção seriam absolutamente insuspeitas, a exemplo do artigo “Fascista, eu?” do pernambucano Aécio Gomes de Matos. Nesse clima artificial e propositadamente criado, a menção à palavra “fascismo” causava incômodo mesmo em plateias universitárias, como vimos acontecer por ocasião de uma das primeiras atividades organizadas pelo Comitê, uma palestra ministrada em novembro de 2017 pelo Prof. Sérgio Ramos no colóquio do departamento de Química Fundamental da UFPE, com o título “Fascismo e cenário brasileiro”. Como denunciar a ameaça fascista em um ambiente a tal ponto intoxicado pela mídia corporativa? Um ano depois, pareceu razoável a uma juíza eleitoral do Rio de Janeiro mandar retirar uma faixa com os dizeres “UFF antifascista” da fachada do prédio do curso de Direito daquela universidade, por constituir inaceitável “propaganda negativa contra Jair Bolsonaro”. Antes disso, em fevereiro de 2018, a notícia de que o Prof. Luis Felipe Miguel, da UNB, decidira ofe- recer uma disciplina de graduação intitulada “O golpe de 2016 e o futuro da democracia do Brasil” fez o Ministério da Educação anunciar que iria acionar, contra a disciplina, a Advocacia-Geral da União, o Tribunal de Contas da União, a Controladoria-Geral da União e o Ministério Público Federal. Só faltou ao MEC ameaçar recorrer ao Exército, e mesmo isso não causaria estranheza se até contra o Supremo Tribunal Federal essa força armada se dispôs a investir em abril de 2018 para garantir, como foi conseguido, a aberração jurídica que buscavam os perpetradores do Golpe: a interdição do principal candidato às eleições daquele ano. Calar a universidade pela intimidação era um complemento natural e necessário da empreitada fascista. Na UFPE, pareceu-nos, portanto, que era preciso reagir. Hoje, entretanto, não é mais difícil dizer, e se faz cada vez mais claro e factualmente comprovado por diversos canais noticiosos, que a trajetória que se inicia com as famigeradas Jornadas de Junho de 2013 e culmina na eleição de Jair Bolsonaro em 2018 foi um longo e processual golpe de estado e implantação de um estado semipolicial no Brasil. A der- rubada do governo da Presidenta Dilma Rousseff em 2016, a perseguição judicial farsesca contra o ex-Presidente Lula e outras lideranças petistas, a privatização do Pré-sal e destruição da engenharia nacional pela Operação Lava Jato, a par- ticipação ilegal de agentes estadunidenses na persecução penal de brasileiros no Brasil e a participação de procuradores brasileiros na condenação de empresas brasileiras nos EUA, a cassação da candidatura Lula em 2018 e a tutela militar que se impôs sobre o Supremo Tribunal Federal são aspectos de um só e mesmo processo de golpe, criminalização dos principais líderes populares, realocação geopolítica e recolonização brutal do Brasil na ordem da economia política mun- dial. Nenhum desses eventos pode ser analisado isoladamente, pois todos eles se entrelaçam de modo interdependente. As provas factuais de todo esse processo de lawfare, embora decorridos poucos anos, já são abundantes, de sorte que somente a má fé e o puro cinismo podem ainda tentar alegar conformidade legal em relação a tudo aqui mencionado. Os textos deste livro vieram a lume a partir das aulas ministradas por seus autores no curso de extensão “O Golpe de 2016 e o Futuro do Brasil” organizado pelas professoras Fátima Cruz e Liana Lewis e realizado por iniciativa do Comitê e do Departamento de Sociologia da UFPE no ano de 2018. Na ocasião ainda não havia sido publicada a série de reportagens intitulada #Vazajato pelo portal The Intercept, nem viera a público a comprovação do envolvimento ilegal de autoridades judiciais e policiais estadunidenses no âmago da Operação Lava Jato, embora os indícios desses aspectos já fossem abundantes. Desse modo, o mérito das organizadoras e dos autores dos capítulos deste livro é sig- nificativo, pois conseguiram identificar, analisar e articular as diversas facetas e indícios da trajetória golpista-fascista antes de sua comprovação factual. Esta realização também torna evidente a importância da autonomia universitária e científica, na medida em que somente a liberdade de investigar, refletir e de ensinar pode garantir que produções fundamentais e fundamentadas como esta possam continuar a ser oferecidas à sociedade. A despeito do inegável mérito desta produção e de outras que foram publicadas por diversos autores ao longo dos últi- mos anos em relação aos fenômenos aqui analisados, é evidente que elas não têm a capacidade de modificar a opinião anônima industrialmente padronizada e disseminada ao longo da última década pelas principais agências de poder midiático no Brasil e reproduzida pelos sujeitos particulares mais propensos a identificarem-se com a enunciação de discursos de ódio contra tudo que difere do que é convencionalmente sancionado pela tradição violenta, patriarcal e escravista da sociedade brasileira. O esclarecimento humanista raramente dispõe do poder necessário para suplantar a ignorância e barbárie histórica e socialmente dominantes, mas ao menos é dotado da capacidade de abalar as tenta- tivas de legitimação intelectual da violência imemorial que se volta sempre contra os agentes e instâncias que ousam questioná-la ou deixar de reproduzi-la. Desse modo, os que se comportaram de forma hipócrita, cínica ou simplesmente cruel ao longo dos acontecimentos
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