O Seixal E a República: Texto De Apoio

O Seixal E a República: Texto De Apoio

Texto de Apoio Outubro 2010 FICHA TÉCNICA Título: O Seixal e a República: texto de apoio Coordenação: Jorge Raposo Investigação e Texto: Fátima Afonso Tratamento gráfico: Ecomuseu Municipal do Seixal Créditos fotográficos: indicados junto às imagens utilizadas Ilustração da capa: Luís Duarte de Barros Edição: Câmara Municipal do Seixal / Ecomuseu Municipal do Seixal Data: Outubro de 2010 (*) O presente texto visa fornecer elementos complementares de exposição com o mesmo título, de modo a facilitar a sua exploração pedagógica pelos professores de diferentes graus de ensino. 2 O Seixal e a República: texto de apoio ÍNDICE 1. Introdução 2. Mandou-me procurar? – Passe cidadão 3. O Concelho do Seixal na Transição dos séculos 3.1. O Concelho e as freguesias 3.2. Os transportes e as comunicações 3.3. As condições de habitação, a higiene e a salubridade 4. A população no Concelho do Seixal em 1911 5. As actividades económicas no Concelho do Seixal 5.1. A agricultura 5.2. A pesca 5.3. A indústria 6. As condições de trabalho 6.1. Avaliação do trabalho de empreitada na indústria corticeira da margem Sul, em 1909 6.2. Custo dos principais géneros alimentícios praticados na margem Sul, em 1909 7. A difusão do republicanismo no Concelho do Seixal 7.1. A popularização dos princípios republicanos 8. Da instrução ao exercício da cidadania 9. As greves operárias e o movimento associativo em vésperas da revolução 10. As lutas eleitorias: a esperança da renovação política pelo voto 11. A revolução republicana na margem Sul 12. Bibliografia de referência da exposição O Seixal e a República Texto de Apoio 3 EXPOSIÇÃO “O SEIXAL E A REPÚBLICA” Projecto de Itinerância | 2010­2011 1. Introdução Conhecer os momentos mais significativos da implan­ adoptadas um pouco por todo o país (a utilização de tação da República no Seixal, bem como os modos de uma estratégia de difusão de ideias com uma actuação vida da comunidade local e as condições de trabalho no mais próxima dos interesses das po pulações, com gran ­ concelho do Seixal que, na transição dos séculos XIX­XX des preocupações ao nível da ins trução e da educação – à semelhança do que sucedeu em outras povoações da dos princípios cívicos, tendo como objectivo a prepa­ Margem Sul do Estuário do Tejo –, concorreram para a ração de um número cada vez maior de cidadãos para adesão local ao republicanismo e às novas instituições, as lutas eleitorais, e o aproveitamento da insatisfação e foram os principais propósitos da exposição itinerante da agitação social que se vivia para incitar ao repúdio do O Seixal e a República. regime monárquico), permitem­nos uma melhor com­ preensão da adesão de uma certa elite cultural local e de Apesar da pesquisa privilegiar sobretudo acontecimen­ estratos mais humildes da população do Município aos tos ocorridos na antiga vila do Seixal, dado que enquanto princípios republicanos e ao apoio da re volução de 5 de sede do Município é particularmente referenciada nas Outubro de 1910. várias fontes consultadas, procurámos integrar aspectos de contextualização que caracterizassem o Concelho e A preparação científica da exposição O Seixal e a Repú - também pequenos apontamentos que fizessem referên­ blica teve como ponto de partida o projecto de investi­ cia às várias freguesias que o constituem, de modo a que gação sobre o tema que aprofundámos ao longo de 2009, os públicos que visitem a exposição – residentes em bem como os resultados de pesquisas bibliográficas e de qualquer das freguesias – experimentem um sentimento arquivo sobre história local (desenvolvidas anterior­ de inclusão e de identificação com a mensagem que esta mente no Arquivo Histórico da Câmara Municipal do iniciativa pretende transmitir. Assim, numa primeira in­ Seixal), cuja integração neste projecto expositivo nos trodução ao tema, apresentamos artigos do correspon­ pareceu pertinente e enriquecedora a nível da contex ­ dente local do jornal lisboeta O Século, onde é descrita a tualização histórica da vida do Concelho. reacção dos populares nas freguesias de Seixal, de Amora e de Aldeia de Paio Pires (e indirectamente de Ar­ Dada a quase inexistência de periódicos locais para este rentela), face à mudança de regime político realizada nos período – apenas o Sul do Tejo (1901­1902), o Seixalense dias 4 e 5 de Outubro de 1910. Este ambiente de festivi­ (1902) e o Correio do Seixal (1913), de efémera existên­ dade popular de rua apresenta­se sob a égide da senha cia –, recorreremos à consulta de vários jornais da capi ­ utilizada pelos republicanos nas ruas de Lisboa durante tal: O Século, o Diário de Notícias, A Vanguarda, O Mundo, a revolução, com a qual identificavam os seus correli­ entre outros, dando especial atenção àqueles que sabe­ gionários: “Mandou-me procurar? – Passe cidadão”. mos terem tido a colaboração regular de correspondente local. Pontualmente, para documentar ou es clarecer Numa época particularmente agitada da vida política, questões muito específicas, recorremos à pesquisa de económica e social do país, a caracterização económica outros periódicos – Boletim do Trabalho Industrial, Actas e social do Concelho permite­nos identificar e compre en­ e Diário da Câmara dos Pares do Reino, Actas e Diário da der os principais problemas enfrentados pela população Câmara dos Deputados. do concelho do Seixal na transição dos séculos XIX­XX. Por outro lado, a implantação do Partido Republicano De modo a facilitar a leitura e a interpretação dos pe­ Português no território concelhio e as di nâ micas utili za ­ quenos extractos de artigos e textos citados na expo ­ das na difusão dos princípios repu bli canos no concelho sição, optámos por proceder à actualização da sua do Seixal, à semelhança do que foram, aliás, práticas or tografia. 4 Texto de Apoio 2. Mandou-me procurar? Passe cidadão Após os primeiros disparos dos navios de guerra ancorados no rio Tejo, começou a correr pela antiga vila do Seixal a notícia de ter rebentado uma revolução em Lisboa. À primeira hora da madrugada de terça­feira, dia 4 de Outubro, populares da vila armados dirigiram­se ao edifício da Câmara Munici­ pal do Seixal, içaram a bandeira e proclama­ ram a República. Ao longo do dia 4, devido à falta de notícias O Largo da Igreja, no Seixal, em 1910, num período em que o de Lisboa por não terem vindo dali jornais contexto social e político levou a que a sua designação fosse tem­ nem passageiros, nem ter havido comuni­ porariamente alterada para Praça da República. À esquerda da cações telegráficas, as pessoas estavam an­ imagem o edifício da Câmara Municipal, onde se hasteou sim­ siosas por saber o que se estava a passar na bolicamente a bandeira republicana, às primeiras horas do dia cidade. 4 de Outubro de 1910. A confirmação de que a República tinha tri­ Reprodução de postal ilustrado. unfado chegou apenas no dia seguinte, 5 de © EMS/CDI ­ Pb006386. Outubro de 1910. No Seixal… No Seixal, logo que se tomou conhe - Em seguida, dirigiram-se ao encontro mente içada a bandeira, o que real- cimento que a revolução rebentara de grupos de populares que vinham mente tinha sucedido. em Lisboa, saíram numerosos popu- de Arrentela e de Amora, armados, Na tarde de terça-feira os populares lares armados para a rua, erguendo trocando-se, nessa ocasião, vibrantes estiveram na administração e recebe - vivas à República. Os manifestantes, saudações entre os manifestantes. doria, trazendo para a rua todos os depois de saberem que a Guarda Fis- Ao chegarem aos Paços do Concelho, documentos e livros que encontra - cal havia aderido ao movimento, en- certificaram-se de que a bandeira re- ram, deitando-lhes fogo. caminharam-se para o edifício da publicana fora tirada dali, vindo a As manifestações de regozijo têm Câmara Municipal onde içaram a saber-se que tinha sido tirada pelo continuado, no meio do maior frene - bandeira encarnada e verde, procla- Dr. Bernardino [Leite de Almeida] ou sim, tendo desaparecido as autori- mando a República no meio de uma por qualquer seu emissário. dades. delirante manifestação de entusias - Os manifestantes seguiram imediata- Foi nomeada uma Junta Revolucio - mo, ao mesmo tempo que se ouvia a mente para casa do Dr. Bernardino, nária. Marselhesa. que lhes afirmou encontrar-se nova- O Século. Lisboa: [s.n.], 7­10­1910, p. 5. Texto de Apoio 5 EXPOSIÇÃO “O SEIXAL E A REPÚBLICA” Projecto de Itinerância | 2010­2011 Em Amora… O povo, o herói de sempre, acolheu ção, o Sr. Victorino Machado, dos À passagem da música e do povo, com entusiasmo o advento da Repú - eléctricos! A fábrica de garrafas reco- muitas pessoas se descobriram sau- blica. Na Câmara Municipal acha-se meça hoje [dia 6 de Outubro] a dando a bandeira. hasteada a bandeira republicana. la bo ra ção, o que é motivo para rego - Projecta-se fazer uma manifestação Nas fábricas, no dia do início do movi- zijo. ao 1º cabo condutor n.º 31 da 1ª ba- mento [4 de Outubro], os operários Ontem à noite, à luz de archotes, a Fi- teria do heróico regimento de Arti - que estavam trabalhando foram con- larmónica Operária Amorense per- lharia 1, Clemente Juncal, daqui. vidados a aderir a um grande número correu a localidade, acompanhada de A manifestação decorreu com toda a de manifestantes que percorreu o numerosos populares, soltando en- ordem, não se tendo ouvido qualquer Concelho com a bandeira republicana tusiásticos vivas à pátria, República referência aos vencidos, pois se tinha à frente. Os operários saíram com en- Portuguesa, regimento de Artilharia feito expressa recomendação nesse tusiasmo, paralisando os trabalhos 1, Infantaria 16, marinha e exército, sentido antes da saída. No cortejo in- nessa ocasião. Aguardam ansiosa- ao povo, etc. À frente da filarmónica corporaram-se muitas mulheres, que mente resoluções do governo.

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