Ebenaceae Vent. do Estado do Rio de Janeiro* Rosana Conrado Lopes1 RESUMO O presente trabalho trata do estudo taxonômico das espécies de Diospyros Dalech. ex L., pertencente a família Ebenaceae, ocorrentes no Estado do Rio de Janeiro. Estas espécies são aqui redescritas, ilustradas e ordenadas em chave analítica que facilita sua identificação. É feito um estudo comparativo dos padrões de nervação das folhas, dos tipos de inflorescências e da morfologia dos frutos. É apresentada uma tabela de épocas de floração e frutificação, além de informações referentes ao habitat, nome vulgar e utilidade de cada espécie, bem como uma lista dos nomes dos coletores e mapas de distribuição geográfica. Palavras-chave: Ebenaceae, Diospyros, Rio de Janeiro. ABSTRACT The present work consist of a taxonomic study of species of Diospyros Dalech. ex L. belong of the Ebenaceae family that occur in the state of Rio de Janeiro. These species are here redescribed and illustrated, and ordered in an analytic key, making their identification easier. A comparative study of leaves veineing patterns, kinds of inflorescence and fruit morphology was made. The work include a table of floration and frutification time, besides information concerning their habitat, common name, utility, collector’s names and geographical distribution maps. Keywords: Ebenaceae, Diospyros, Rio de Janeiro. INTRODUÇÃO 1978) compreendidas em 6 seções: Danzleria, A ordem Ebenales consta de cinco Paralia, Ermellinus, Rospidios, Cavanillea e famílias: Ebenaceae, Sapotaceae, Styracaceae, Patonia. Symplocaceae e Lissocarpaceae, distribuídas No estado do Rio de Janeiro o gênero principalmente, nos trópicos, e todas com Diospyros é o único representante da família. representantes na flora do Brasil (Cronquist Possui 3 espécies: D. ebenaster Retz., D. 1981). inconstans Jacq. e D. janeirensis Sandwith. A família Ebenaceae Vent. possui cerca A pesquisa reuniu informações que de 450 espécies subordinadas a 5 gêneros. possibilitaram descrições completas dos táxons Diospyros tem ampla distribuição nas regiões tratados. Os autores (Linnaeus 1754, Jacquin tropicais e subtropicais, enquanto Euclea, 1753, Aublet 1775, Gaertner 1788, Rafinesque Rhaphidanthe e Royena, são provenientes da 1838, A. De Candolle 1844, Miquel 1856, África e Tetraclis endêmica de Madagascar Bentham & Hooker 1873, Gürke 1891, (Cronquist 1981). Cavalcante 1963) que anteriormente O gênero numericamente mais pesquisaram o gênero, fizeram descrições significativo da família é Diospyros que incompletas das espécies. apresenta cerca de 400 espécies, distribuídas Neste trabalho, procurou-se aprofundar em 15 seções. Está representado no Brasil os conhecimentos das características de por aproximadamente 35 espécies (Barroso nervação das folhas, dos tipos de *Dissertação de mestrado apresentada ao curso de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Botânica) da Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Museu Nacional no ano de 1996, orientada pela Dra. Graziela Maciel Barroso, sob o título Diospyros Dalech. ex L. (Ebenaceae) do estado do Rio de Janeiro. 1Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de ensino superior - CAPES 86 Lopes, R. C. inflorescências e da morfologia das flores e Diospyros, e o colocou na secção dos frutos, visando facilitar o reconhecimento EuDiospyros, visto que sua morfologia se de espécimes em estado vegetativo e assemelhava à dessas espécies. Considerou reprodutivo. também como pertencente ao gênero As espécies ocorrem na Floresta Diospyros a espécie Embryopteris peregrina, Atlântica e Restinga, tendo sido observadas criada por Gaertner (1788). Manteve o gênero tanto em formações primárias como em Cargillia, criado por Robert Browm em 1810 degradadas. (apud De Candolle 1844). Não considerou as modificações feitas por Rafinesque (1838). HISTÓRICO Manteve o gênero Maba Fort. Criou os Linnaeus (1754), em sua obra Genera gêneros Gunisanthus e Rospidios, utilizando Plantarum, apresentou o gênero Diospyros que como basiônimo Diospyros pilosula e Diospyros já havia sido descrito por Dalechamp em 1587 vaccinoides, respectivamente, tendo como (apud Linnaeus, 1754). Este gênero foi criado novas combinações Gunisanthus pilosulus e a partir da espécie Diospyros lotus L. O nome Rospidios vaccinoides. Descreveu Diospyros significa “fruto dos deuses”. Macreightia nessa ocasião, composto por 7 Jacquin (1763) descreveu e ilustrou a novas espécies. Dividiu o gênero Diospyros espécie Diospyros inconstans. em 4 seções: TetraDiospyros, Otogyne, Aublet (1775) classificou o gênero EuDiospyros e Amuxis. Esse trabalho constou Paralea baseado na flor masculina de Paralea somente de descrições, não contendo guianensis, que foi descrita e ilustrada em sua ilustrações das espécies. obra Plantas da Guiana Francesa. Miquel (1856), na Flora Brasiliensis de Gaertner (1788) fez a classificação do Martius, incluiu em Diospyros os gêneros gênero Embryopteris onde descreveu e Guajacana , Hebenaster , Paralea, ilustrou o fruto, a semente e o embrião da Cavanillea e Embryopteris. Adotou espécie Embryopteris peregrina. Dalechamp como autor de Diospyros e do Rafinesque (1838), ao estudar as árvores gênero Macreightia de De Candolle. Fez a e arbustos da América do Norte, classificou 2 apresentação de mais 3 gêneros: gêneros: Mabola e Persimon. Fez as novas Diclidanthera, Moutabea e Hornschuchia. combinações Mabola edulis e Persimon Elaborou pela primeira vez uma chave analítica virginiana, baseadas em Diospyros Mabola para os gêneros austro-americanos da família e Diospyros virginiana, respectivamente. Ebenaceae, baseado somente no número de Justificou a criação dos gêneros devido ao verticilos protetores. “extraordinário número e diferente posição das Bentham & Hooker (1873) consideraram anteras” de Diospyros Mabola à Diospyros 6 gêneros: Royena , Euclea , Maba, virginiana que apresentava 16 estames em 2 Diospyros , Tetraclis e Brachynema. séries, o que as diferenciava de Diospyros Excluíram Moutabea e Hornschuchia que lotus que possuía 8 estames em 1 série. pertenciam às famílias Polygalaceae e A. De Candolle (1844) apresentou um Annonaceae, respectivamente. Incluíram trabalho detalhado em Prodromus onde tratou Macreightia em Maba. Apresentaram a família Ebenaceae com 8 gêneros: Royena, Diospyros com 15 seções: Melonia, Ebenus, Euclea , Gunisanthus , Rospidios, Noltia, Gunisanthus, Guaiacana, Cunalonea, Macreightia, Diospyros, Maba e Cargillia. Ermellinus, Patonia, Leucoxylum, Danzleria, Manteve os gêneros Royena e Euclea, criados Paralea, Cargillia, Rospidios, Cavanillea, por Linnaeus (1754). Considerou Dalechamp Amuxis, anteriormente tratados como gêneros. autor do gênero Diospyros. Sinonimizou o Gürke (1891) tratou a família Ebenaceae gênero Paralea criado por Aublet (1775) com com 5 gêneros Royena, Euclea, Maba, Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999 EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro 87 Diospyros e Tetraclis. Considerou Cavalcante 1962) e Sandwith (1949). Elaborou Dalechamp autor de Diospyros. Sinonimizou uma chave analítica para as seções do gênero os gêneros Cargillia, Leucoxylum, Noltia, Diospyros baseada na forma e número de Gunisanthus e Rospidios com Diospyros. lobos da corola; pilosidade e número de lóculos Manteve as 15 seções de Bentham & Hooker do ovário; pilosidade e número de estames e (1873). Apresentou 2 gêneros duvidosos para nas nervuras laterais; além de apresentar uma Ebenaceae: Brachynema e Raphidanthe. chave analítica para as espécies ocorrentes na Elaborou uma chave analítica de gênero, Amazônia. baseada em vários caracteres. Pela primeira Engler (1964) considerou 4 gêneros: vez, foi feita uma chave analítica das seções Royena, Euclea, Diospyros, Tetraclis. Incluiu do gênero Diospyros. Maba em Diospyros. Elaborou chave Angely (1917), na flora do estado de São analítica para as famílias da ordem Ebenales. Paulo, tratou o gênero Diospyros como de Harley & Mayo (1980) fizeram uma autoria de Linnaeus, e considerou Maba um listagem das espécies ocorrentes na Bahia e gênero distinto. consideraram Linnaeus como o criador do Irmão Augusto (1946), ao fazer a flora gênero. do Rio Grande do Sul, elaborou uma chave de Cronquist (1981) apresentou a família gênero baseada no número de verticilos Ebenaceae com 5 gêneros: Diospyros, Euclea, protetores e de lóculos do ovário. Rhaphidanthe, Royena e Tetraclis. Elaborou Sandwith (1949), ao estudar a coleção de chave analítica para as famílias da ordem Ducke de Diospyros da Amazônia, não Ebenales. reconheceu Maba como um gênero distinto, Reitz (1988), ao tratar da família considerando-o sinônimo de Diospyros. Ebenaceae na Flora de Santa Catarina, Descreveu a espécie Diospyros janeirensis, considerou Linnaeus autor do gênero baseado na coleta de J. G. Kuhlmann nº 507, Diospyros, manteve o gênero Maba como do Morro Mundo Novo, cujos exemplares tipo sinônimo de Diospyros, apresentou descrição encontram-se depositados nos herbários de e ilustrações detalhadas de Diospyros Kew e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. inconstans. Tratou também da espécie Neste trabalho não fez ilustrações, nem chave cultivada Diospyros kaki que foi descrita e analítica. ilustrada com pouco detalhamento. Howard (1961) e Howard & Norlindh No decorrer deste trabalho foi possível (1962) resolveram problemas nomenclaturais perceber que alguns pesquisadores que envolviam a espécie Diospyros ebenaster. consideraram Dalechamp autor do gênero No primeiro trabalho fez uma revisão das Diospyros (De Candolle 1844, Gürke 1891, publicações para esta espécie, citou as espécies Irmão Augusto 1946, Cavalcante 1962) e outros próximas
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