MEMÓRIA DE MONTANHA EM AREIA DE PRAIA Subjetivação E Interstícios Em Otto Lara Resende

MEMÓRIA DE MONTANHA EM AREIA DE PRAIA Subjetivação E Interstícios Em Otto Lara Resende

DOUGLAS CAPUTO DE CASTRO MEMÓRIA DE MONTANHA EM AREIA DE PRAIA Subjetivação e Interstícios em Otto Lara Resende PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS: TEORIA LITERÁRIA E CRÍTICA DA CULTURA Junho de 2013 DOUGLAS CAPUTO DE CASTRO MEMÓRIA DE MONTANHA EM AREIA DE PRAIA Subjetivação e Interstícios em Otto Lara Resende Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Letras da Universidade Federal de São João del-Rei, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Letras. Área de Concentração: Teoria Literária e Crítica da Cultura Linha de Pesquisa: Discurso e Representação Social Orientador: Prof. Dr. Guilherme Jorge de Rezende PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS: TEORIA LITERÁRIA E CRÍTICA DA CULTURA Junho de 2013 MEMÓRIA DE MONTANHA EM AREIA DE PRAIA: SUBJETIVAÇÃO E INTERSTÍCIOS EM OTTO LARA RESENDE Banca Examinadora Guilherme Jorge de Rezende – UFSJ (Orientador) Tatiana Maria Longo dos Santos e Nogueira Figueiredo – USP (Titular) Antônio Luiz Assunção – UFSJ (Titular) Luiz Ademir de Oliveira – UFSJ (Suplente) Prof. Dr. Cláudio Márcio do Carmo Coordenador do Programa de Pós-Graduação: Mestrado em Letras 28 de junho de 2013 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao fomento recebido pelo UFSJ, sem o qual seria muito difícil realizar o Mestrado. Em segundo, gostaria de agradecer ao meu orientador, professor Guilherme, pela paciência e dedicação ao longo de dez anos de contato que extrapolou a academia. Ao amigo, meus sinceros agradecimentos por tudo que fez por mim. Agradeço ainda aos professores do curso de Letras e de Jornalismo, os quais contribuíram sobremaneira para minha formação profissional e pessoal. À minha família, agradeço também pela paciência com meu estresse durante a realização do mestrado. Aos amigos, todos eles, agradeço pelo entendimento da ausência necessária durante o percurso desse projeto. Por fim, agradeço a todas as vozes que perpassam a minha quando da escritura desse trabalho RESUMO Este trabalho tem como objetivo analisar a diluição das identidades de Otto Lara Resende em fronteiras porosas. A incorporação da cultura do outro gera lugares de fala que o autor imprime em seu discurso, o que pode legitimar o poder de nomear ou qualificar determinados recortes sociais a partir do que diz sobre e para eles. Por isso, afirmo que Otto aglutinou em seu artefato textual um discurso de interseção: o sotaque regional conviveu harmoniosamente com a pronúncia cosmopolita. Mas ao analisar como isso se dá, vejo que ocorrem alguns processos de construção da realidade. Primeiro, a mise-en-scène discursiva do autor produz uma realidade de fato representada, ou seja, o mundo fenomenológico é apropriado e ressignificado pelo imaginário de Otto. Segundo, quando aciona esse mecanismo de apropriação e ressignificação, o cronista o faz em um lugar institucionalizado, isto é, dentro dos normativos editoriais do jornal Folha de São Paulo. E terceiro, as identidades construídas por Otto relatam um mundo representado através do deslocamento entre espaços e tempos distintos. A memória é chamada a cumprir a missão de desconstruir o passado para reconstruir o presente através do discurso. Esse fato não é gratuito, pois desconstruir significa uma eterna travessia entre um lugar e outro e a reconstrução incessante de imagens ofuscadas pelo labirinto da mente. Com isso, o que é dito sobre o passado não é o passado, mas sua reconstrução por um agente discursivo. Isso pode gerar um lugar de poder, pois ao usar o campo simbólico como meio de transmissão dessa realidade de fato representada, Otto não escapa da atribuição de nomes e adjetivos daquilo que experienciou ao longo da vida. Dessa forma, esta dissertação observa como o sujeito encontra-se num eterno devir que recupera do passado as bases para o entendimento e construção da realidade. Palavras-chave: campo, desconstrução, discurso, poder, simbólico, Otto ABSTRACT This paper aims to analyze Otto Lara Resende’s identities dilution in porous borders. The incorporation of other cultures generates speech places that the author prints in his speech, which can legitimate places of power to appoint or declare certain clippings social from what you say about and for them. Therefore, I say that Otto coalesced in his artifact textual intersection speech: the regional accent coexisted harmoniously with cosmopolitan pronunciation. But analyzing how this happens, I see occurring some processes of construction of reality. First, author’s mise-en-scène discursive produces a reality in fact represented, in other words, the phenomenological world is appropriated and reinterpreted by Otto’s imaginary. Second, when triggers this mechanism of appropriation and reinterpretation, the chronicler does it institutionalized place, that is, within the Folha de São Paulo newspaper normative editorial. And third, the identities constructed by Otto reported a world represented by moving between different spaces and times. Memory is called to fulfill the mission of deconstruct the past to rebuild the present through of discourse. This fact is not free, because deconstructing means an eternal journey from one place to another and incessant reconstruction of overshadowed images by the labyrinth of the mind. Thus, what is said about the past is not the past, but its reconstruction by a discursive agent. This can lead to a place of power, because when using the symbolic field as a means of transmission of this factual reality represented, Otto does not escape from the naming and adjectives assignment which he experienced throughout life. Thus, this dissertation observes how the subject is an eternal becoming who recovers from the past the foundation for the understanding and construction of reality. Keywords: field, deconstruction, discourse, power, symbolic, Otto SUMÁRIO INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------- 09 Capítulo I OTTO: “IMÓVEL E SEMOVENTE” 1.1 Infância medieval ------------------------------------------------------- 15 1.2 “Juventude tem cura, basta esperar” ---------------------------------- 30 1.3 Um flâneur com sotaque minero --------------------------------------- 43 Capítulo II PLEASE? UMA CACHAÇA, UM CHOPE E UM SCOTT, UAI! 2.1 Reflexões preambulares ---------------------------------------- 58 2.2 “Minas está onde sempre esteve” ---------------------------- 59 2.3 “O mais carioca de todos os mineiros” ---------------------- 78 2.4 Ideologia e poder simbólico no lugar de fala de Otto ----- 101 Capítulo III IDENTIDADES INTERSTICIAIS: LIMINARIDADE, ENTRE-LUGAR E DESCONSTRUÇÃO EM OTTO 3.1 Cartografias porosas e espaços desterritorializados no discurso de Otto--- 112 3.2 O “Eu” entre vários lugares e vários tempos: um híbrido errante -------- 128 3.3 Desconstruir para reconstruir: différance e suplemento em Otto -------- 139 CONSIDERAÇÕES FINAIS ----------------------------------------------------- 159 REFERÊNCIAS --------------------------------------------------------------------- 162 ANEXOS ------------------------------------------------------------------------------ 166 “Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. (ROSA, João Guimarães Grande Sertão: Veredas) INTRODUÇÃO “Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta1”. O verso de Mário de Andrade canta a clivagem que o sujeito da década de 1920 já passava consigo mesmo. Não por acaso a Semana de Arte Moderna de 1922 selou a desconstrução de paradigmas e ‘antropofagicamente’ devorou iguais e estranhos. Imediatamente à digestão, o movimento modernista ressignificou o espaço da cultura em ambientações múltiplas, polifônicas. O processo mimético atravessava o indivíduo e a catarse era obtida com a produção de peças inesperadas, as quais traziam os vestígios dos artefatos passados. Com isso, o homem assumia uma posição de ser atravessado por diferentes vozes que se construíam no “através”, na dimensão do “entre”. Dimensão que marca o paradoxo da ausência/ presença. Presente em um determinado ponto cartografado, o sujeito pode deslocar-se e efetivar sua presença em outros espaços e tempos. Ao ensejar tais deslocamentos, o ser flui com facilidade pelas membranas de fronteiras porosas, as quais já foram rigidamente demarcadas e cimentadas para dizer não a quem quisesse romper sua liminaridade. No entanto, a barreira não resistiu muito. Foi uma questão de tempo para que os sujeitos forçassem a porta e atravessassem livremente os interstícios que os enclausuravam em identidades fixas no tempo. Com a possibilidade de trânsito, o ser virou uma figura multifocal. Sua imagem foi construída como no caleidoscópio. A evidência das rupturas é uma das marcas do cosmopolita, aquele que abre mão de um lugar fixo para ser um nômade moderno a circular e absorver os traços de diversas culturas. Também é o caráter do ser exilado. Ao gastar boa parte do seu tempo com as memórias da terra natal, circula por fluxos de imagens e tempos que são construídos pela memória, pela representação de sua origem. Não é difícil de perceber que nesse jogo de “travessia” incessante, o ser divida-se em vários pedaços para se reconstruir de maneira multifocal. Aos seus olhos de vespa, várias imagens se juntam para edificar um novo mundo rompido em milhares de pedaços. Um desses seres desconstruídos é Otto de Oliveira Lara Resende (doravante Otto). Nascido dia 1º de maio de 1922 em São João del-Rei, aos 17 anos já era jornalista da tradicional imprensa mineira. Sua vocação para as letras fez-se desde cedo, quando ainda frequentava a escola primária 1 Disponível em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mario-de-andrade/eu-sou-trezentos.php

View Full Text

Details

  • File Type
    pdf
  • Upload Time
    -
  • Content Languages
    English
  • Upload User
    Anonymous/Not logged-in
  • File Pages
    179 Page
  • File Size
    -

Download

Channel Download Status
Express Download Enable

Copyright

We respect the copyrights and intellectual property rights of all users. All uploaded documents are either original works of the uploader or authorized works of the rightful owners.

  • Not to be reproduced or distributed without explicit permission.
  • Not used for commercial purposes outside of approved use cases.
  • Not used to infringe on the rights of the original creators.
  • If you believe any content infringes your copyright, please contact us immediately.

Support

For help with questions, suggestions, or problems, please contact us