
1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Wanderley Moreira dos Santos Break-ar a vida: o processo de subjetivação de jovens negros por meio da dança na cidade de São Paulo MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA São Paulo 2009 2 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Wanderley Moreira dos Santos Break-ar a vida: o processo de subjetivação de jovens negros por meio da dança na cidade de São Paulo Dissertação apresentada a Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade de São Paulo, sob orientação da Profa. Doutora Suely Belinha Rolnik. São Paulo 2009 3 Banca Examinadora __________________________________________ Profa. Dra. Suely Belinha Rolnik (PUC-SP) Orientadora _______________________________________ Prof. Dr. Mauro José Sá Rego Costa (UERJ) _______________________________________ Prof. Dr. Peter Pál Pelbart (PUC-SP) 4 Aos que não se resignam a ocupar o que já está dado: pela criação de territórios. 5 Agradecimentos A profa. Suely Rolnik pela confiança na efetuação do pensar como ato de criação, pela sua competência e generosidade na (des) orientação clínica desse trabalho. Ao prof. Mauro Costa pela leitura desse trabalho, as orientações que potencializaram a escrita e, sobretudo a ‘dança’ necessária para levarmos a frente a defesa dessa dissertação. Ao prof. Peter Pál Pelbart pela disponibilidade de compor essa banca e as negociações das datas para a defesa, com marcações moventes em sua agenda. Aos companheiros do Núcleo de Subjetividade, agenciamento onde tudo ou nada pode acontecer em especial à Lucimar, Betth, Paula, Ana Paula, Adriana, Edson, Thais e Andrea pelas contribuições na formação de um território de múltiplos afetos que se inscreveram nessa dissertação. A todas as pessoas envolvidas no território dançante do breaking, em especial a Fabiana, Lucas, Dunda, Alequinho, King Nino Brown, e Crew “Crew X” pela alteridade, por terem aberto seus mundos, na formação dessa cartografia. Ao Bruno Beltrão pela conversa-acontecimento no Armazém 6 do Cais de Porto/Rio de Janeiro que teve como testemunha a Baia de Guanabara. A minha família pelo apoio, por suportar a distância e principalmente pelos encontros felizes que aconteceram nesses anos. Ao Rubens, quem ajudou a construir os primeiros passos da escrita acadêmica e por sua amizade. A Dri e a Gló pela amizade, as conversas e os chás. Ao Luis que além de amigo fez uma revisão intensiva e cuidadosa e por suportar, muitas vezes, duendes e gnomos presentes no texto. Obrigado por sua alteridade. Ao Mauricio, pela colaboração nas traduções. 6 Ao Alair pela revisão de escritor. A Rozangela pela companhia mineira, por nossas conversas, as boas rizadas necessárias para ‘desopilar o fígado’ em busca de saúde e por nossas ‘horas do divã’. Ao Dominique por nossa ‘terrível’ amizade e cumplicidade. A Cidinha pela intensa amizade e leitura criteriosa de parte desse trabalho. A Simone, Elcimar e Viviane pela amizade e a abertura de mundos. Ao Programa Internacional de Bolsas de Pós Graduação da Fundação Ford (programa de ação afirmativa) sem o qual essa dissertação poderia não acontecer, pela concessão da bolsa e pelo cuidadoso acompanhamento da equipe do Programa nessa trajetória. A tantos/as outros/as e outras que fazem parte desse trabalho que não são mais identificáveis, já estão na veia. A vida é feita realmente de encontros, já disse o velho poeta. Privilegio esses que foram aqui potencializadores, pois como receita o Prof. Orlandi, dediquemos aos encontros que nos compõe, pois a vida já se encarrega dos encontros que nos descompõem... A todos e todas a minha imensurável gratidão. 7 a possibilidade de sobrevivermos entre a dor da solidão e a solidão da dor passa por linhas de fuga propiciadas pela arte, mas a própria arte, como a ressonância segredada pela concha do mar, aparece como possibilidade cósmica que a vida precisa agenciar sem prévia garantia, levada pela complexidade dos seus labirintos. Luiz B.L. Orlandi 8 Resumo Nessa dissertação o breaking foi o dispositivo para produzir uma desestrutura das relações raciais, especialmente no corpo negro, marcado por uma memória traumática, nele inscrita pela experiência de séculos de opressão. O que justifica a proposta de promover um abalo nessa construção, por menor que seja, é o desejo de desobrigar tal corpo de ser uma caricatura do branco, evitando, ao mesmo tempo, o seu avesso, a fixação numa suposta identidade negra. A dança breaking foi cartografada a partir do que designaremos aqui como “Amplificação da Militância”. A origem da mesma se deu no spiritual, considerado o primeiro estilo musical da perspectiva do movimento protest song que foi criado pelos escravos das lavouras de algodão no sul dos Estados Unidos, no século XVI. O contorno dessa cartografia foi composto também pela black music – em especial o funk, o soul e o movimento hip-hop –, no qual a dança se integrou como um dos seus elementos e espalhou-se pelo mundo. No Brasil, o breaking aportou no início da década de 80. Em São Paulo passou a ser uma possibilidade de produzir arte com o corpo e de ocupar os espaços públicos. Na época, a Estação São Bento foi o ícone de tal ocupação. Hoje, essa dança se encontra disseminada em todo o estado e há uma diluição das categorias de raça e de classe. Porém, na categoria de gênero se evidencia uma concepção de mulher marcada, não por uma diferenciação, mas por desigualdade. As chamadas b.girls não são percebidas pela potência de criação posta em sua dança, e sim por seus contornos femininos. No entanto, outras linhas de fuga e novas representações, por meio da constituição de territórios dançantes, estão surgindo para potencializar a presença das mulheres. Por fim, o breaking foi introduzido nas relações raciais como forma de ativar a potência de criação minada por opressão do corpo do negro, para a manutenção da multiplicidade, da universal variação. Palavras chaves: dança breaking; jovens; corpo negro e subjetividade. 9 Abstract In this abstract breaking dancing was the reason responsible for producing an imbalance within racial relationships, particularly in the black body, because a traumatic memory of the body has placed itself by means of oppression. Shocking such status is to disoblige this body out of being a caricature of the white man, and not to get attached to a black identity. Breaking dancing was mapped by a thin line over what was defined here as Amplification of Militancy, which had its origins in the spiritual, considered the first musical style within the perspective of the protest song movement, created by the slaves in cotton fields in the South of the United States in the sixteenth century. The outline of this mapping was also composed by the black music, especially the funk, the soul and the hip-hop movement, in which the dance integrated itself as one of its elements, spreading itself throughout the world. In Brazil, breaking dancing got its start in the early 80´s. In São Paulo, it became a possibility for producing art with the body and occupying public spaces, where at that time, the São Bento subway station turned into the icon for such movement. Today, this dance is disseminated throughout the whole state and within itself there is a dissolution of categories among races and classes. However, in the gender category there is evidence of a concept of a marked woman, not by a differentiation, but by inequality. The so-called b.girls are not noticed by the power of creation put into their dance, but by their feminine contours. Nonetheless, other routes of escape and new representation by the establishment of dancing territories are emerging in order to potentialize the presence of women. At last, the breaking dancing was introduced into racial relations as a way to enhance the power of creation from the black body undermined by oppression, by means of multiplicity, the universal variation. Keywords: breaking dancing, youth, black body, subjectivity 10 SUMÁRIO Introdução: ................................................................................. 12 CAPÍTULO I Croquis urbanos: ........................................................................ 17 Linhas traçadas pelo breaking: ..................................................... 37 Devir b.girl: .................................................................................. 50 CAPÍTULO II Corpografia: ................................................................................ 56 CAPÍTULO III Macro e micropolítica nas relações raciais: .............................. 78 Macropolítica: .............................................................................. 82 Micropolítica: ............................................................................... 85 Relações raciais e suas políticas: .................................................. 88 Em busca do ideal branco: ........................................................... 96 Identidade afro-centrada:............................................................ 100 Ação micro: ................................................................................ 103 CAPÍTULO IV Metodologia do como: .............................................................. 106 Genealogia da questão da negritude na existência do cartógraf.... 107 a) Abertura da negritude no corpo do cartógrafo ..................... 107 b) O cartógrafo negro na universidade: .................................... 110 11 O breaking no corpo do cartógrafo: ............................................. 117 Orkut
Details
-
File Typepdf
-
Upload Time-
-
Content LanguagesEnglish
-
Upload UserAnonymous/Not logged-in
-
File Pages180 Page
-
File Size-