Amphibia, Anura) Em Um Riacho Na Floresta Da Tijuca, Rio De Janeiro, Brasil

Amphibia, Anura) Em Um Riacho Na Floresta Da Tijuca, Rio De Janeiro, Brasil

S O G I T R A INFLUÊNCIA DE FATORES AMBIENTAIS E SOCIAIS SOBRE A ATIVIDADE DE VOCALIZAÇÃO DE HYLODES NASUS LICHTENSTEIN (1823) (AMPHIBIA, ANURA) EM UM RIACHO NA FLORESTA DA TIJUCA, RIO DE JANEIRO, BRASIL. VINICIUS CARVALHO DA SILVA E SOUZA Prefeitura Municipal de Duque de Caxias, Secretaria de Meio Ambiente, Alameda James Franco, 02, Jardim Primavera, 25213­005, Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Brasil, vc­ [email protected]. HENRIQUE WOGEL Centro Universitário de Volta Redonda, Avenida Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325, 27240­560, Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brasil. PATRÍCIA ALVES ABRUNHOSA Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Animal, 23890­000 Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil. Resumo: A atividade de vocalização dos anfíbios anuros é influenciada por fatores ambientais (e.g. temperatura, pluviosidade, umidade e fotoperíodo) e sociais (e.g. vocalização com outros indivíduos). Neste trabalho foi estudada a influência das variáveis abióticas (temperatura do ar, da umidade, da 9 pluviosidade e da velocidade da correnteza) sobre a abundância de indivíduos acusticamente ativos e o número de cantos por minuto (atividade de vocalização) de Hylodes nasus, bem como a influência destas variáveis bióticas entre si em uma área de Floresta Atlântica. Foram realizadas observações diretas, com duas expedições mensais, de março de 2007 a fevereiro de 2008, no intervalo de 7 h às 17 h. A atividade de vocalização esteve positivamente associada à temperatura do ar e à pluviosidade mensal, negativamente à umidade e velocidade da correnteza, e sem influência da pluviosidade acumulada (24 h). A abundância de indivíduos vocalizando esteve positivamente associada ao número de cantos por minuto. Os resultados encontrados podem contribuir para aprimoramento da compreensão a respeito das variáveis que influenciam a estrutura populacional dos anuros com hábito reofílico e do papel de cada variável analisada. Palavras­chave: Comportamento social, estrutura populacional, hábito reofílico. ENVIRONMENTAL AND SOCIAL FACTORS AFFECTING CALLING BEHAVIOR OF HYLODES NASUS LICHTENSTEIN (1823)(AMPHIBIA, ANURA) AT A STREAM IN TIJUCA FOREST, RIO DE JANEIRO, BRAZIL. Abstract: The calling activity of anurans is influenced by local environmental (e.g. temperature, rainfall, humidity and photoperiod) and social factors (calling activity). This study investigated the influence of air temperature, humidity, rainfall and speed water flow on acoustically active individuals’ abundance and frequency of notes per minute of Hylodes nasus, as well as these biotic variables influence each other in Atlantic Rain Forest. Direct observations were carried out with two monthly expeditions from March 2007 to February 2008, in the interval from 7:00 to 17:00. Calling activity was positively associated with air temperature and monthly rainfall, negatively associated with humidity and speed water flow, and without influence with accumulated rainfall (24 hrs). The acoustically active individuals’ abundance was positively influenced with frequency of notes per minute. The results may contribute to improve understanding of variables that influence anuran population structure with rheophilic habit and the role of each analyzed variable. Keywords: Social behavior, population structure, rheophilic habit. Rev. Biol. Neotrop. / J. Neotrop. Biol., Goiânia, v. 16, n. 1, p. 09­18, jan.­jun. 2019 INTRODUÇÃO para aprimorar o conhecimento sobre esse aspec­ to, sendo capaz de contribuir com ações de pre­ Em anfíbios anuros, a atividade de servação mais eficazes. vocalização constitui a principal forma de co­ Considerando o ambiente social, machos municação destes animais (Duellman & Trueb, cantores co­ e/ou heteroespecíficos podem atuar 1994). A vocalização pode contribuir para o de maneiras variadas. A atividade de vocalização sucesso reprodutivo dos machos, sendo utili­ de um macho pode: (1) estimular a atividade de zada na atração de fêmeas, na defesa de vocalização em outros machos, formando agrega­ territórios e na manutenção de um espaça­ ções reprodutivas (Hauselberger & Alford, 2005); mento entre os sítios de vocalização de ma­ (2) incitar variações nos parâmetros acústicos de chos co­ e heteroespecíficos (Abrunhosa et al., outros machos com o objetivo de tornarem­se 2014; Wogel et al., 2004a; Gerhardt, 1994). mais conspícuos para as fêmeas (Wells, 1988); Muitas espécies possuem um repertório (3) inibir a atividade reprodutiva de machos hete­ vocal complexo, evidenciando diferentes tipos roespecíficos (Wells & Schwartz, 2006); (4) pro­ de cantos específicos usados em contextos so­ mover a ocorrência de comportamentos agonís­ ciais diferenciados (Wells & Schwartz, 2006). ticos e disputas por território (Wells & Schwartz, Tais espécies estão geralmente associadas a 2006); ou ainda (5) estimular mudança na estra­ um padrão temporal de reprodução do tipo tégia reprodutiva de outros machos, como por prolongado, cuja a maior disponibilidade de exemplo, a exibição de comportamento satélite tempo para reprodução possibilita a oportuni­ (Lucas et al., 1996). dade do uso de tais sinais (Wogel et al., Em algumas espécies e contextos sociais, a 2004b). vocalização pode ser acompanhada de sinais vi­ Em geral, espécies de reprodução suais (Wogel et al., 2004a; Haddad & Giaretta, prolongada tendem a restringir a atividade de 1999; Pombal­Jr. et al., 1994), como por exem­ vocalização a um determinado período, de plo, movimentação dos membros ou artelhos e modo a evitar gastos energéticos desnecessá­ mudanças de postura (ver Hödl & Amézquita, rios e reduzir sua vulnerabilidade à predação. 2001). Estes comportamentos, que estão comu­ Tal comportamento é de extrema relevância, mente associados com a exibição de partes do uma vez que a atividade de vocalização por si corpo coloridas ou brilhantes (Bradbury & Veh­ só exige um elevado gasto energético e pode rencamp, 1998), apresentam uma função com­ atrair predadores acusticamente orientados plementar à vocalização durante as interações de 10 (Duellman & Trueb, 1994). curta distância (Amézquita & Hödl, 2004). Uma maneira de avaliar o uso do tempo Hylodes nasus Lichtenstein (1823) é co­ em uma escala diária e sazonal seria através nhecida apenas da Floresta da Tijuca, Rio de Ja­ da análise dos parâmetros ambientais ou neiro, RJ (Canedo, 2008), onde os machos são sociais que influenciem ou que estejam corre­ frequentemente encontrados em atividade de vo­ lacionados com o período de vocalização dos calização durante o dia, sobre pedras localizadas indivíduos. Dentre os fatores ambientais que em pequenos riachos e exibindo sinais visuais em influenciam a atividade de vocalização dos in­ contextos diferenciados, como por exemplo, defe­ divíduos, podemos citar: a temperatura do ar sa de território e comportamento reprodutivo (Milne et al., 2013; Almeida­Gomes et al., (Wogel et al., 2004a). 2007), temperatura da água (Milne et al., O objetivo deste estudo foi analisar a ativi­ 2013; Steelman & Dorcas, 2010), a umidade dade de vocalização de H. nasus na Floresta da relativa do ar (Almeida­Gomes et al., 2007; Tijuca e a influência de fatores ambientais e soci­ Cree, 1989), a pluviosidade (Hauselberger & Alford, 2005; Duellman, 1995), as fases da lua ais sobre a sua vocalização. (Grant et al., 2012), a luminosidade (Boquim­ pani­Freitas et al., 2002) e o fotoperíodo (Ha­ MATERIAL E MÉTODOS tano et al., 2002). ÁREA DE ESTUDO Segundo Ritke et al. (1992), a influência O estudo foi conduzido em um trecho de de fatores ambientais sobre a atividade de 100 metros do Rio das Almas (coordenada UTM = vocalização ou, mais especificamente, sobre 23 K 676048 7461086 e altitude = 522 m), locali­ os parâmetros acústicos do canto, pode atuar zado na Floresta da Tijuca, Rio de Janeiro, Brasil. de duas maneiras: diretamente, afetando pro­ O Maciço da Tijuca é uma formação geoló­ cessos fisiológicos nos indivíduos, ou indireta­ gica constituída por serras e montanhas com mente, atuando como um parâmetro temporal cristas rochosas alinhadas em uma direção pre­ desencadeador da atividade reprodutiva. No dominante NE­SE. Esta formação configura um entanto, a importância relativa desses fatores anteparo natural aos ventos úmidos do litoral, sobre a atividade de vocalização pode variar ocasionando índices pluviométricos que chegam a entre as espécies (Brooke et al., 2000). Sendo ultrapassar 2.000 mm anuais. As características assim, é importante o desenvolvimento de es­ climáticas associadas a características edáficas, tudos que busquem compreender essa relação fisiogeográficas e geomorfológicas proporcionam Rev. Biol. Neotrop. / J. Neotrop. Biol., Goiânia, v. 16, n. 1, p. 09­18, jan.­jun. 2019 condições favoráveis ao estabelecimento de uma tais (temperatura do ar, umidade, velocidade formação florestal exuberante (Coimbra­Filho et da correnteza e pluviosidade) e sociais (nú­ al., 1973). Esta região florestal é considerada mero de indivíduos coespecíficos em atividade uma das maiores florestas urbanas do mundo, de vocalização e número de cantos emitidos com aproximadamente 3.953 hectares (Fig. 1) por minuto), a cada intervalo de hora de (ICMBio, 2008). amostragem. PROCEDIMENTOS GERAIS No início de cada hora, registrou­se a Foram realizadas, de março de 2007 até fe­ temperatura do ar, a umidade relativa e a ve­ vereiro de 2008, duas visitas mensais à área de locidade da correnteza. A temperatura do ar e estudo com intervalos regulares de 15 dias, tota­ a umidade relativa foram registradas com o lizando 24 dias de amostragem. A cada

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