Caminhos De Peregrinação E Romaria Na Antiga Província Da Beira Baixa

Caminhos De Peregrinação E Romaria Na Antiga Província Da Beira Baixa

CAMINHOS DE PEREGRINAÇÃO E ROMARIA NA ANTIGA PROVÍNCIA DA BEIRA BAIXA Pilgrimage ways in the former Beira Baixa Province Joaquim Candeias da Silva , doutor em Letras (História), Academia Portuguesa da História Palavras-chave Itinerários, peregrinação, romaria, Beira Baixa Keywords Itineraries, pilgrimage, Beira Baixa Vila Velha de Ródão, 2020 Caminhos de peregrinação e romaria na antiga província da Beira Baixa Joaquim Candeias da Silva sumária do mesmo. Assim, tomando por base geográfica este território baixo-beirão 1 Resumo e por enfoque cronológico os séculos XVI a XVIII, começaremos por uma síntese das mais antigas notícias que possam ser tomadas como manifestações de Num quadro territorial como este da antiga Beira Baixa, localizado no “Coração de peregrinação, bem como dos seus prováveis roteiros, prosseguindo com uma Portugal”, entre a mais alta serra de Portugal Continental e dois dos seus maiores análise, mais demorada mas sempre sumária, daquelas que serão, historicamente, rios (Tejo e Zêzere), nunca será demais realçar a importância dos sistemas viais as principais peregrinações e romarias da região. em todas as suas dimensões, pois eles são, indiscutivelmente, marcas fundamentais das mobilidades passadas e presentes. Ora, partindo deste princípio elementar, fica bem e é sempre desejável, num Colóquio como este, procurarmos saber sempre mais: como foi que no decurso do tempo longo, individualmente ou Abstract em grupos, por aqui transitaram pessoas, fossem elas simples caminheiros, mercadores e almocreves, militares e invasores, turistas, transumantes ou In a territorial framework like this, the old Beira Baixa, located in the “Heart of contrabandistas. E, naturalmente, também peregrinos e romeiros. Portugal”, between the highest mountain range in mainland Portugal and two of its largest rivers (Tejo and Zêzere), it will never be too much to emphasize the Caminhos de peregrinação e romaria. Acerca desta temática que me coube, pode importance of routes in all their dimensions, as they are undoubtedly fundamental dizer-se de antemão que é muito pertinente, que é vasta e que, de certo modo, até marks of past and present mobilities. Starting from this elementary principle, it looks está “na moda” – passe o plebeísmo. Recordo, por exemplo, um seminário que teve good and it is always desirable, in a Colloquium like this, to always try to know lugar na Sociedade de Geografia de Lisboa, a 6-7.6.2019, em que o assunto foi more: in a long period of time, individually or in groups, how people crossed this abordado com uma comunicação intitulada “ Peregrinação: diversidade e territory, being just hikers, merchants and miscreants, military and invaders, tourists, contemporaneidade de uma forma de mobilidade antiga e singular” . Pleno acordo transhumants or smugglers. And, of course, pilgrims too. com o que ali foi explanado: o peregrinar é um «fenómeno histórico verdadeiramente complexo» e, como tal, urge estudá-lo «de forma transdisciplinar e Pilgrimage paths. About this theme, it can be said beforehand that it is very com o recurso a categorias que permitam perceber quer a sua longa diacronia quer pertinent, that it is vast and that, in a way, it is even “in fashion” – if the plebeanism as suas metamorfoses contemporâneas». may be used. I recall, for example, a seminar that took place at the Sociedade de Geografia de Lisboa, june 6-7, 2019, in which the subject was addressed with a Seria, na verdade, muito aliciante estudar o tema de forma aprofundada, isto communication entitled “Pilgrimage: diversity and contemporaneity of an ancient porque, de certo modo, os portugueses sempre fomos um povo e uma sociedade and singular form of mobility”. Full agreement with what was explained there: em peregrinação. Todavia, perante a verdadeira complexidade do fenómeno e o pilgrimage is a "truly complex historical phenomenon" and, as such, it is urgent to tempo disponível, teremos de ser breves e limitarmo-nos a uma abordagem study it "in a transdisciplinary way and with the use of categories that make it possible to understand both its contemporary long diachrony and metamorphoses”. 1 Este texto corresponde à comunicação apresentada em 28 de Setembro de 2019 no Colóquio Vias da Beira Baixa: abordagem histórica e geográfica à mobilidade. AÇAFA On Line, nº 13 (2019-2020) Associação de Estudos do Alto Tejo www.altotejo.org 1 Caminhos de peregrinação e romaria na antiga província da Beira Baixa Joaquim Candeias da Silva In fact, it would be very appealing to study this subject in depth, because, in a way, indiscutivelmente, marcas fundamentais das mobilidades passadas e presentes. Tal the Portuguese have always been a people and a society on constant pilgrimage. como um “coração” ou um sistema circulatório, para funcionarem, têm However, in view of the true complexity of the phenomenon and the time available, forçosamente de ter artérias e veias para que o sangue chegue a todas as partes we will have to be brief and limit ourselves to a summary approach to it. So, taking do corpo, também num território assim será: sem v[e] ias , a vida seria impossível. this “b aixo-beirão” territory as a geographical base and chronologically focusing the 16th to 18th centuries, we will start with a synthesis of the oldest news that can be Tais princípios elementares não podiam deixar de ser trazidos à colação neste taken as manifestations of pilgrimage, as well as of its probable itineraries, oportuno Colóquio e, por isso mesmo, houve a preocupação, por parte dos seus continuing with an analysis, more time consuming but always summary, of those organizadores, de começar exactamente por aí, por uma antropologia da that will be, historically, the main pilgrimages of the region. mobilidade , pelos “caminhos naturais” e “rede viária”, desta parte das Beiras, e desde a Pré-história. Já se sabia bastante; mas, com as novas aportações, decerto que ficaremos a saber melhor como foi que no decurso do tempo longo, individualmente ou em grupos, por aqui transitaram pessoas, fossem elas 2 Abrindo e justificando caminheiros, mercadores e almocreves, militares e invasores, turistas, transumantes ou contrabandistas. E, naturalmente, também peregrinos e romeiros Num quadro territorial como este da antiga Beira Baixa, localizado no “Coração de [etimologicamente os que iam ou vinham de Roma – onde todos os caminhas iam Portugal”, entre a mais alta montanha de Portugal Continental e dois dos seus dar…]. maiores rios (Tejo e Zêzere), nunca será demais realçar a importância dos sistemas viais de todos os tempos e em todas as suas dimensões, pois eles são, 2 Joaquim Candeias da Silva é Mestre em História Moderna e Doutor em Letras (História) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi professor nos ensinos Secundário e Superior, Caminhos de peregrinação e romaria orientador pedagógico e formador de professores, presentemente aposentado. No tocante ao Ensino Superior, a actividade docente repartiu-se por três instituições: primeiro, na ESE de Acerca desta temática que me coube, pode dizer-se de antemão que é também Santarém, onde leccionou Didáctica da História e Ciências Sociais; depois na Universidade antiga, que é vasta e que, de certo modo, até está “na moda”. Deixando de lado, as Internacional (polo de Abrantes), onde na qualidade de Professor Associado regeu a cadeira de História Económica e Social e desempenhou o cargo de Adjunto do Pró-Reitor; e finalmente no notícias que quase diariamente nos invadem sobre a frequência e importância das ISMAG / Universidade Lusófona (polo Fundão), onde como Professor Coordenador regeu a cadeira romarias ou do turismo religioso, recordo, por exemplo, um seminário que de Introdução às Ciências Sociais e ao Pensamento Contemporâneo. Enquanto investigador e historiador, tem-se dedicado particularmente ao estudo da História Moderna portuguesa e das Áreas recentemente teve lugar na Sociedade de Geografia de Lisboa (a 6-7 do passado Regionais, com especial enfoque no distrito de Castelo Branco e antiga província da Beira Baixa, mês de Junho 2019), em que o assunto foi abordado com uma comunicação tendo produzido até hoje uma vintena de livros autónomos e mais de três centenas de estudos e intitulada Peregrinação: diversidade e contemporaneidade de uma forma de artigos, estes dispersos por jornais e revistas, assim como em livros de Actas e Memórias dos colóquios, jornadas, congressos e outros eventos em que foi participando. Pelo trabalho mobilidade antiga e singular” . Ali foi dito que que o peregrinar é um «fenómeno desenvolvido, foi já agraciado com diversas distinções honoríficas, tendo alguns dos seus livros sido histórico verdadeiramente complexo» e, como tal, urge estudá-lo «de forma premiados (dois deles pela Academia Portuguesa da História). De entre as diversas agremiações científicas de que é membro, vem dedicando especial atenção à referida Academia Portuguesa da transdisciplinar e com recurso a categorias que permitam perceber quer a sua História. longa diacronia quer as suas metamorfoses contemporâneas». AÇAFA On Line, nº 13 (2019-2020) Associação de Estudos do Alto Tejo www.altotejo.org 2 Caminhos de peregrinação e romaria na antiga província da Beira Baixa Joaquim Candeias da Silva Há milhares de anos que se fazem peregrinações no mundo inteiro (cf., p.ex.º, de M. Dietz, Travel, wandering and pilgrimage in the late antiquity and the early middle ages , UMI, 1997; de Jean Chelini e Henry Branthomme, Les chemins de Dieu. Histoire des pélerinages chrétiens, des origines à nos jours , Hachette, 1982; ou, de R. Oursel, Pélerins du Moyen Âge: les hommes, les chemins, les sanctuaires , Fayard, 1978 ). Também na Península Ibérica (veja-se, p.ex.º, o estudo que acaba de ser editado pela Universidad Complutense de Madrid, Santuarios oraculares, ritos y prácticas adivinatorias en la Hispania Antigua (2019). E também em Portugal: entre muitos outros estudos, «Peregrinações portuguesas a santuários espanhóis no século XVI», Itinerarium (1997, n.º 158, pp. 337-359), de Isabel R.M. Drumond Braga); ou Peregrinações e livros de milagres na nossa Idade Média , de Mário Martins (1951).

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