12083460 capa A Soffredini.indd 1 13/1/2011 20:51:23 Carlos Alberto Soffredini Serragem nas Veias 12083460 miolo A Soffredini.indd 1 13/1/2011 20:57:02 12083460 miolo A Soffredini.indd 2 13/1/2011 20:57:02 Carlos Alberto Soffredini Serragem nas Veias Renata Soffredini Colaboração: Eliana Pace São Paulo, 2010 12083460 miolo A Soffredini.indd 3 13/1/2011 20:57:02 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Governador Alberto Goldman Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho 12083460 miolo A Soffredini.indd 4 13/1/2011 20:57:02 No Passado Está a História do Futuro A Imprensa Oficial muito tem contribuído com a sociedade no papel que lhe cabe: a democra- tização de conhecimento por meio da leitura. A Coleção Aplauso, lançada em 2004, é um exemplo bem-sucedido desse intento. Os temas nela abordados, como biografias de atores, di- retores e dramaturgos, são garantia de que um fragmento da memória cultural do país será pre- servado. Por meio de conversas informais com jornalistas, a história dos artistas é transcrita em primeira pessoa, o que confere grande fluidez ao texto, conquistando mais e mais leitores. Assim, muitas dessas figuras que tiveram impor- tância fundamental para as artes cênicas brasilei- ras têm sido resgatadas do esquecimento. Mesmo o nome daqueles que já partiram são frequente- mente evocados pela voz de seus companheiros de palco ou de seus biógrafos. Ou seja, nessas histórias que se cruzam, verdadeiros mitos são redescobertos e imortalizados. E não só o público tem reconhecido a impor- tância e a qualidade da Aplauso. Em 2008, a Coleção foi laureada com o mais importante prêmio da área editorial do Brasil: o Jabuti. Concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a edição especial sobre Raul Cortez ganhou na categoria biografia. 12083460 miolo A Soffredini.indd 5 13/1/2011 20:57:02 Mas o que começou modestamente tomou vulto e novos temas passaram a integrar a Coleção ao longo desses anos. Hoje, a Aplauso inclui inúmeros outros temas correlatos como a his- tória das pioneiras TVs brasileiras, companhias de dança, roteiros de filmes, peças de teatro e uma parte dedicada à música, com biografias de compositores, cantores, maestros, etc. Para o final deste ano de 2010, está previsto o lançamento de 80 títulos, que se juntarão aos 220 já lançados até aqui. Destes, a maioria foi disponibilizada em acervo digital que pode ser acessado pela internet gratuitamente. Sem dúvida, essa ação constitui grande passo para difusão da nossa cultura entre estudantes, pes- quisadores e leitores simplesmente interessados nas histórias. Com tudo isso, a Coleção Aplauso passa a fazer parte ela própria de uma história na qual perso- nagens ficcionais se misturam à daqueles que os criaram, e que por sua vez compõe algumas pá- ginas de outra muito maior: a história do Brasil. Boa leitura. Alberto Goldman Governador do Estado de São Paulo 12083460 miolo A Soffredini.indd 6 13/1/2011 20:57:02 Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Ofi cial, visa resgatar a memória da cultura nacio nal, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cine ma, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de ma nei ra singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato en tre biógrafos e bio gra fados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se recons- titui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na pri- meira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor . Um aspecto importante da Coleção é que os resul - ta dos obtidos ultrapassam simples registros bio- gráficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Bió grafo e bio- gra fado se colocaram em reflexões que se esten- de ram sobre a formação intelectual e ideo ló gica do artista, contex tua li zada na história brasileira. 12083460 miolo A Soffredini.indd 7 13/1/2011 20:57:02 São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pen- samento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atua do tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos exploram o universo íntimo e psicológico do artista, revelando as circunstâncias que o conduziram à arte, como se abrigasse em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens. São livros que, além de atrair o grande público, inte ressarão igualmente aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns deles. Também foram exami nados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, 12083460 miolo A Soffredini.indd 8 13/1/2011 20:57:02 é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identida- de consolidada, constatamos que os sorti légios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filma- gem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que neste universo transi tam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de to do o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente Imprensa Oficial do Estado de São Paulo 12083460 miolo A Soffredini.indd 9 13/1/2011 20:57:02 Soffredini e a filha Renata no jardim da praia em Santos 12083460 miolo A Soffredini.indd 10 13/1/2011 20:57:02 Introdução Quando dizemos que um artista tem serragem nas veias, isso significa que ele nasceu artista, nasceu talhado para essa função. Essa expressão, é claro, tem origem no circo. Para esses artistas que têm os avós, os pais, os irmãos, os tios, todos nascidos no circo, ter serragem nas veias é mais do que uma expressão. É ter no seu ofício quase uma sina, é não ter sangue e sim, tradição. Embora meu pai não tenha nascido no circo, colocou o artista ambulante e sua arte popular no lugar que lhes era devido, um lugar de honra no centro da tradição do teatro brasileiro. Na 11 dramaturgia, eternizou o circo-teatro na peça Vem Buscar-me que Ainda Sou Teu. E também na direção de cada ator que, com ele, teve o privilégio de aprender a arte de interpretar se- gundo o que ele chamava de a nossa linguagem, que é uma estética colhida desse tipo de teatro, o circo-teatro ou teatro ambulante. Meu pai não acreditava em talento. Acreditava em vocação. Achava que se alguém quisesse tra- balhar na área, o que importava era a sua capa- cidade de suportar os reveses da profissão, de superar limites e saber que o artista nunca está pronto – se ele achar que não precisa aprender mais nada, está morto. 12083460 miolo A Soffredini.indd 11 13/1/2011 20:57:02 Toda esta humildade, para ele, tinha limite, principalmente quando o pano subia e as luzes acendiam-se. Ele dizia: sofreu tanto pra chegar até aqui, agora sobe lá e brilha! O ator para ele é a figura principal do teatro. Tudo o que vem antes é preparação para o mo- mento mágico, quando o ator, diante da sua plateia, pode comunicar, através do seu persona- gem, ideias, emoção, prazer. Para tanto, o ator tem que estar com os seus instrumentos afina- dos: seu corpo, sua voz, seu intelecto, sua alma. Soffredini se considerava um bom autor na medi- da em que fazia uma boa partitura para o ator. 12 Estas partituras, as obras dramatúrgicas, ficarão para sempre no repertório brasileiro, quando impressas em uma edição ou remontadas. A representação, a função, o espetáculo, o que acontece, enfim, no palco... aquele momento único é efêmero. Qualquer tentativa de regis- tro não tem a mesma qualidade da que fica nas impressões gravadas na memória de quem viu e de quem atuou. É por essa razão que, ao ser convidada por Rubens Ewald Filho para escrever um livro sobre o meu pai para a Imprensa Oficial do Estado, resolvi dar voz à memória de alguns artistas que participaram dos diversos grupos liderados por ele. Foram quarenta entrevistas, algumas escritas e mais de cinquenta horas de 12083460 miolo A Soffredini.indd 12 13/1/2011 20:57:02 gravação, realizadas, na maioria das vezes, na casa do entrevistado, onde fui recebida com mui- to carinho. Agradeço a todos pela inestimável contribuição que deram a este livro. Fui integrante do Núcleo Estep e, nessa época, me esforçava muito para chamar meu pai de Sof- fredini ou Soffra.
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