UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA PÓS-GRADUAÇÃO EM MEMÓRIA SOCIAL – DOUTORADO IRACEMA, HORIZONTE DE MEMÓRIAS DO MITO INCESSANTE TIAGO COUTINHO PARENTE RIO DE JANEIRO 2019 TIAGO COUTINHO PARENTE IRACEMA, HORIZONTE DE MEMÓRIAS DO MITO INCESSANTE Tese de doutorado para obtenção do grau de Doutor em Memória Social pelo Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Estudos Interdisciplinares em Memória Social. Linha de pesquisa: Memória e Linguagem. Orientador: Prof. Dr. Manoel Ricardo de Lima RIO DE JANEIRO 2019 Catalogação informatizada pelo(a) autor(a) Parente, Tiago Coutinho P228 IRACEMA, HORIZONTE DE MEMÓRIAS DO MITO INCESSANTE / Tiago Coutinho Parente. -- Rio de Janeiro, 2019. 231 Orientador: Manoel Ricardo de Lima Neto. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em , 2019. 1. Iracema. 2. José de Alencar. 3. Moacir. 4. Memória. 5. Esquecimento. I. Neto, Manoel Ricardo de Lima, orient. II. Título. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA PÓS-GRADUAÇÃO EM MEMÓRIA SOCIAL – DOUTORADO Banca examinadora _________________________________________________ Prof. Dr. Manoel Ricardo de Lima (orientador) _________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Almeida Barbalho (UECE) _________________________________________________ Profa. Dra. Rosana Kohl Bines (PUC-RIO) _________________________________________________ Prof. Dr. Amir Geiger (UNIRIO) _________________________________________________ Profa. Dra Lucia Ricotta Vilela Pinto (UNIRIO) _________________________________________________ Profa. Dra. Julia Vasconcelos Studart (UNIRIO – Suplente) _________________________________________________ Prof. Dr. Davi Pessoa Carneiro (UERJ – Suplente) RIO DE JANEIRO 2019 ADVERTÊNCIA I Esta tese contou com o financiamento da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico Tecnológico, que, desde o final de 2016, concedeu uma bolsa a partir do edital 07/2015 “doutorado fora do Estado”. ADVERTÊNCIA II Esta tese sofreu alteração em seu formato para caber em “apenas um arquivo pdf”. O texto contém exageradas doses de linguagem coloquial, não possui sumário, muito menos o tópico considerações finais. Todas as aspas são de citações. Quando não houver referência logo após a citação, significa que é a mesma referência da citação seguinte. Não há a informação se o destaque na citação é grifo meu ou do autor. Toda vez que aparecer sublinhado significa grifo meu. Nos demais casos de interferência, como itálico ou negrito, são interferências originais da citação. Há apenas um caso em que coincidem as palavras sublinhadas na versão do autor. Neste caso, o parêntese foi inevitável. A palavra Iracema aparece em itálico quando se refere ao romance e sem itálico quando se refere à personagem. DEDICATÓRIA àzamigas, sempre elas AGRADECIMENTOS Margarita Pisano, na bela dedicatória de seu leu livro O triunfo da masculinidade, fala que algumas de suas reflexões naquela publicação provinham de diferentes espaços e pessoas, algumas citáveis, porém outras, tão importantes ou mais, não se encontram nas bibliotecas. Parafraseando Pisano, eu diria que essa tese é resultado da colaboração de, sem exageros, centenas de pessoas das mais diferentes. Talvez só Funes fosse capaz de lembrar todas elas. Uma referência bibliográfica aqui, uma foto ou um meme pelo WhatsApp, uma noite virada com cerveja, inúmeras conversas e escutas me ajudaram a dar forma a um trajeto de quatro anos. A lista é imensa, de verdade. Tenho a sensação de que a tese resulta de um trabalho coletivo, no qual participo como mediador e disparador de algumas questões. Não queria esquecer ninguém, portanto, agradeço a todas que, de alguma forma, colaboraram com esta pesquisa. Obrigada mesmo! Real, oficial. :) RESUMO Iracema, romance do cearense José de Alencar, foi publicado em agosto de 1865. O livro conta a história do encontro doloroso e cheio de sangue entre a índia Iracema e o colonizador português Martim Soares Moreno. O encontro resultou na morte de Iracema. Ela faleceu logo após parir Moacir, também filho do colonizador. Desde quando foi publicado, o livro, suas personagens e o escritor são frequentemente lembrados e comemorados por artistas, intelectuais e ações do Estado. Esta tese constrói uma narrativa a partir das memórias e lembranças estabelecidas em torno do romance ao longo de mais de 150 anos. De enredo de escola de samba a nome de institutos culturais, passando por diversas linguagens artísticas, Iracema é lembrada em situações políticas mais diversas. Quais as leituras políticas dessas lembranças? Num exercício dialético, busca-se também compreender os silêncios e esquecimentos dessas lembranças. O que se esquece ao se lembrar de Iracema? Palavras-chave: Iracema, José de Alencar, Moacir, Memória, Esquecimento ABSTRACT Iracema is a José de Alencar's novel, an author from Ceará, Brazil. It was published in August 1865. The book tells the story of the painful and bloody encounter between the native Iracema and the Portuguese colonizer Martim Soares Moreno. This encounter resulted on Iracema's death. She died right after giving birth to Moacir, son of the colonizer. Since its publication, the book, its characters and the writer are frequently reminded and celebrated by artists, scholars and by State's initiative. This tesis builds a narrative based on memories and remembrances established around the novel during it's more than 150 years. From being plot of songs of samba-schools, to being name of Cultural Institutes and being represented in the arts. Which are the political interpretations of these remembrances? In a dialectic exercise, we also search to comprehend the silences and the forgetfulness of those remembrances. What is forgotten by remembering Iracema? Keywords: Iracema, José de Alencar, Moacir, Memory, Forgetfulness. CADERNO DE PROTOCOLOS 6 Carta da 1ª versão (do envio ao orientador) Fortaleza, 22 de janeiro de 2019. Miga, nem te conto... sábado passado fui ao show da Duda Beat na Praia dos Crush. E fiquei viajando Manguebeat, Duda Beat, Iracem Bode Beat. Será que isso tem a ver com a tese? Alguém depois me falou um pouco da biografia dela. Pernambucana, radicada no Rio e que, no nome, reivindica as origens e tal. Aí, eu achei que era bom parar, que eu tô ficando é doido e que se eu continuar escavando, a tese nunca terá fim. Outro dia, uma amiga me mandou esse print da foto de perfil de uma página no Facebook. E eu fiquei pensando que a tese tem tudo a ver com essa imagem. A União da Ilha, escola de samba lá do Rio, este ano também homenageia o José de Alencar e a Rachel de Queiroz. Tanta coisa vai ficar de fora... Tem horas que as coisas precisam acabar. E faltando menos de uma semana para entregar a primeira versão do texto para o meu orientador, eu, naquele show, miga, querendo desopilar um pouco, via Iracema em todos os espaços. Mas não é porque eu tô ficando loko nem exagerando, não. Isso eu aprendi com a Fernanda. “A gente não tá ficando doido”. Ela tá sim em todo canto. No palco, havia, pelo menos, três referências a ela. Fora que o nome da programação era Férias na PI. PI é abreviação de Praia de Iracema, né? Daí, no palco tinha uma placa com o nome Praia de Iracema, e outra com o do Instituto Iracema, que é uma Organização Social, não sei direito como funciona, mas é uma parada aí de gestão cultural da Prefeitura. Sei apenas que as OS são empresas privadas que podem gerir recursos públicos. No Brasil, elas começaram pela saúde. São muitos questionamentos políticos sobre esse modelo de gestão, mas sei muito pouco. No campo da cultura, até onde eu sei, parece que o Ceará é um dos pioneiros nas OS. Enfim, quem sabe num pós-doutorado, né? E, acima de todas essas referências, lá em cima do palco, estava ela. A própria. Iracema, toda iluminada. Um verdadeiro totem. No desenho, ela segura um arpão que numa das pontas se transforma em lua e, na outra, mata uns peixes. Talvez, a gente nem perceba 7 tanto, mas uma vez que você começa a seguir os passos dela, fica uma parada assim meio viciante. Sinistro. Mas, enfim, o fato é que eu acho que terminei a primeira versão da tese. Estou mandando para o orientador mais tarde. Vou ficar agora naquela expectativa. Como a galera vai ler? Isso parece tão doentio. A gente fica na expectativa do julgamento alheio. O dia da defesa e tal… tô tentando não cair nessa. Confesso que até gostei do resultado final. De certa forma, me agradou. Eu fico pensando: foram quatro anos, né? Tanta coisa mudou no país, na tese, na minha vida. Sinto, de certa forma, que a tese apresenta, mais do que qualquer outra coisa, meu trajeto intelectual desse tempo todo. Começo pela Europa e, aos poucos, ainda muito timidamente, vou me espalhando pela América Latina e África. Está tudo aí. Já me disseram que agora que a parada vai começar de verdade. Porque o caminho do trabalho é mais ou menos assim: vai agora pro orientador, depois pra banca e, só depois, quem sabe, pro mundo. Num sei se dou conta. Ando bem esgotado, meio de saco cheio da academia também, mas bora lá. Então é melhor não criar ansiedade, dá rugas. Miga, deixa eu te explicar. Esta carta integra o que chamo de Caderno de Protocolos, uma tentativa de explicar como a tese foi pensada e montada. Por mim, nada disso existiria. Entregaria apenas os quatro cadernos escritos e pronto. Mentira, no fundo, acho que sou é muito bem-comportada. Gosto mesmo dos protocolos. Então, nada mais clichê do que iniciar a tese com uma carta. Uma cópia escancarada de como Alencar começa o Iracema. Aliás, como você vai ver, clichê é algo que não falta por aqui. Creio que todos os trabalhos acadêmicos são recheados deles, diria até que são inevitáveis ou necessários. No meu caso, em particular, dei uma caprichada.
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