CONGRESSO HISTÓRICO DE GUIMARÃES E SUA COLEGIADA 850.° ANIVERSÁRIO DA BATALHA DE S. MAMEDE (1128-1978) ACTAS VOLUME III COMUNICAÇÕES GUIMARÃES . 1981 0 ARCIPRESTADO DE GUIMARÃES NO INQUÉRITO DE 1845 por A. FRANQUELIM SAMPAIO NEIVA SOARES Na arquidiocese de Braga conhecem-se inquéritos paroquiais vários do século XIX, mas são especialmente importantes os dos finais de 1845 ou do ano seguinte quer pela relativa abundância quer pela diversidade das zonas inquiridas Mas interessam, sobretudo, pelos curiosos elementos que nos dão uma panorâmica geral das igrejas dos respectivos arciprestados: número de fogos e de habitantes das freguesias, rendimentos das igrejas, relação das capelas e oratórios e seu estado de conservação e canónico, clero existente (paroquial ou não) e pretendentes e ordinandos, com espe­ cial incidência nos estudos, aptidões e condutas religiosa, política e civil; nova delimitação paroquial e círculos de palestra existentes com indicação dos presidentes e substitutos. Na arquidiocese primaz tinham-se feito variados e repetidos inquéritos paroquiais desde a terceira década de Setecentos. Mas o que estamos a tratar tem uma novidade específica — é o primeiro que conheço feito segundo o actual sistema administrativo de arciprestados em contraste com os ante­ riores feitos quase sempre pelo velho sistema de visitas, caducado em 1831 ou pouco depois. Além do inquérito do arciprestado de Guimarães sobreviveram mais uns dez, todos existentes no Arquivo Distrital de Braga. Só há dois onde se não indicam os arciprestes e a data — os de Monção e de Guimarães. 1 Os referentes ao distrito de Braga estão descritos no meu estudo «A Sociedade do Antigo Regime nas Visitações e Inquéritos Paroquiais do Distrito de Braga» in Theo- logica, vol. XIII, 1978, pp. 456-484. 40 A. FRANQUELIM SAMPAIO NEIVA SOARES Deste através da análise intrínseca pode concluir-se que foi acabado não antes de 19 de Setembro (Salvador do Souto, fl. 27v.) nem depois de 28 de Outubro de 1847 (S. Lourenço de Sande, fl. 34), embora com dados recolhidos muito antes. O arcipreste pediu os elementos aos párocos por várias cir­ culares muito espaçadas, resultando daí ter muitos elementos ultrapassados ao tempo. É o caso, por exemplo, do pároco de Gondar, de cuja biografia se conclui ainda viver, embora fora da paróquia por ter breve de non resi- dendo, mas falecido já em 16 de Janeiro de 1847. O AUTOR DO INQUÉRITO Quem era o arcipreste — autor do inquérito? Constando o arciprestado ao tempo de noventa e seis freguesias, percorrendo-as todas em nenhuma delas se menciona nem há dados intrínsecos permitindo identificá-lo com segu­ rança absoluta. Escrevi em estudo recente2 que talvez fosse o pároco de S. Miguel das Caídas, porque é o único passado inteiramente em branco, embora depois apareça como presidente das palestras e informador e exami­ nador. A análise pormenorizada dos livros do registo paroquial rejeita esta hipótese. Sabe-se, por outro lado, que o primeiro ou um dos primeiros arciprestes da região foi D. Manuel da Mãe de Deus Rodrigues de Almeida Ferreira, egresso de Santa Cruz de Coimbra, de 66 anos ao tempo do inquérito, apto, de boa conduta e sempre com residência, encomendado em S. Miguel das Caídas quatro anos, até Junho de 1839, data em que foi colado em S. Martinho do Campo. Foi arcipreste cinco anos, até 1844 ou pouco antes3, pois neste ano e nos dois seguintes há vistos passados em Nespereira assinando o arcipreste Cardoso d’Assis 4. Mas examinando-se o inquérito desta freguesia nota-se a sua completa ausência, registando-se o pároco José Manuel Peixoto 2 Ibid., p. 484. 3 ADB., Arciprestado de Guimaraens, de 1845 (?), fl. 41; Arquivo Paroquial de Gondar, II Livro de Capítulos de Visita, fls. 4649, onde há circulares suas desde Março de 1838 a Agosto de 1839; AMG., Livro de Nascimentos de S. Miguel das Caídas, de 8 de Setembro de 1837 a 25 de Novembro de 1860, onde há um seu visto passado em 30 de Novembro de 1837. 4 AMG., Livro de Nascimentos de S. Miguel das Caídas, de 1837-60, onde há os vistos passados em Nespereira a 22.IX.1844, 13.X.1845 e 12.XII.1846 (fl. 97v). 0 ARCIPRESTADO DE GUIMARÃES NO INQUÉRITO DE 1845 41 que no mesmo dia em que tomou posse se ausentou para Braga deixando a regê-la o encomendado que já já estava Eduardo José Ferreira da Costa. Irmão deste arcipreste era José António Rodrigues Cardoso, um dos dois párocos colados e meios cónegos prebendados de Guimarães (Oliveira), de 48 anos ao tempo do inquérito e natural de Urgeses, e cuja conduta se negou a apontar em virtude de tornar-se suspeito pelos laços da fra­ ternidade. Por azar o livro dos Nascimentos do registo paroquial de Urge­ ses do período de 1797 a 1815 não existe ou não se sabe dele 5. Sabe, finalmente, pelos livros do Arquivo Paroquial de Mesão Frio6 que era Francisco Rodrigues Cardoso de Assis, residente na freguesia da Nespereira. Procurei afanosamente durante vários dias o processo da sua inquirição de genere no Arquivo Distrital de Braga percorrendo todos os maços de 1790 a 1846 sem nada conseguir. Tentei-o então para o irmão desde 1816 a 1846, obtendo o mesmo resultado. Enquanto se não concluir a catalogação deste fundo, pesquisas deste género em tais condições equi­ valem praticamente a procurar agulha em palheiro. Em Outubro de 1855 era cónego da insigne e real colegiada de Guimarães. Fez testamento cerrado em Guimarães em 24 de Abril de 1871, aprovado quatro dias depois, morando ao tempo na Rua dos Fornos com duas criadas que o tratavam com todo o desvelo. Faleceu em 6 de Agosto de 1878. Instituiu por seu universal herdeiro o cónego seu irmão e, não sendo este vivo, uma sobrinha. Dispôs que assis­ tissem a todas as cerimónias do enterro, ao pé do seu corpo, doze pobres dos mais necessitados da cidade, com tochas na mão, recebendo cada um de esmola 500 réis; que se celebrassem, dentro de seis meses, quinhentas missas por várias intenções; que no dia do seu falecimento o herdeiro distribuísse pelos pobres mais necessitados da freguesia, incluindo os presos da cadeia, 25$000 réis; deixou a uma sua irmã viúva, se viva ao tempo, 90$000 réis e às duas criadas que tão bem o trataram o terço de todos os seus móveis, do dinheiro (se o houver) e das dívidas dos foros por receber, e, além disso, uma cama aparelhada a cada uma e o usufruto da casa em que vivia por tempo de um ano para neste período poderem procurar seus arranjos, com a obrigação de lhe mandarem celebrar um terno de missas pelo Natal7. 5 Não existe no AMG., nem existia já no ADB. antes da transferência dos livros daqui para ali. e Arquivo Paroquial de Mesão Frio, Apontamentos Vários, fls. 14v.-15v., onde há uma sua circular de 16 de Fevereiro de 1844. 7 AMG., Testamentos, vol. 67, fls. 52-54v. 42 A. FRANQUELIM SAMPAIO NEIVA SOARES Ao contrário dos restantes arciprestes que não tiveram escrúpulos em descrever as suas habilitações, licenças, funções que desempenharam, graus académicos, etc., o de Guimarães (e também o de Monção) quis silenciar completamente a sua pessoa, talvez por ser bem conhecida dos superiores ou, mais provavelmente, por humildade. O que todos em uníssono fizeram no respeitante ao juízo acerca das suas condutas e aptidões, estenderam-no estes dois a toda a sua pessoa. Freguesias do Arciprestado Como disse já, constava de nada menos que de noventa e seis fregue­ sias, todas do seu concelho e arciprestado de então, excepto as sete seguintes que pertenciam ao então concelho de Negrelos (S. Tomé) e hoje de Santo Tirso: Burgães, Campo (S. Martinho), Campo (Salvador), Negrelos (S. Ma- mede), Negrelos (S. Tomé), Rebordões e Roriz. Hoje pertencem à diocese do Porto. Nele incluíam-se treze freguesias que hoje não fazem parte nem do concelho nem do arciprestado de Guimarães, a saber: — dez pertencentes hoje a Fafe: Agrela, Arões (Santa Cristina), Arões (S. Romão), Fareja, Freitas, Golães, Passos, Serafão, Travassos e Vila Cova, todas passadas para Fafe talvez em 31 de Dezembro de 18538; — duas pertencentes actualmente a Póvoa de Lanhoso: Garfe e Souto de Sobradelo, presentemente chamada Sobradelo da Goma; — uma pertencente neste momento a Felgueiras: Pombeiro, hoje Pombeiro de Riba Vizela e da diocese do Porto. Por outro lado, faltam quatro freguesias actuais, três do concelho de então mas não do arciprestado de Guimarães, a saber: Rendufe (S. Romão): pertencente ao arciprestado de Fafe; Vizela (S. Faustino): pertencente ao arciprestado de Barrosas; Vizela (S. Paio): pertencente ao mesmo arciprestado, 8 A data para a maioria delas consta dos artigos respectivos da Grande Enciclo­ pédia Portuguesa e Brasileira. 0 ARCIPRESTADO DE GUIMARÃES NO INQUÉRITO DE 1845 43 e uma do então concelho e arciprestado de Vila Nova de Famalicão: Serze- delo. Neste presente estudo consideram-se estas cem freguesias, as noventa e seis do arciprestado de 1845 e mais as quatro supramencionadas repar­ tidas pelos arciprestados de Barrosas, Fafe e Vila Nova de Famalicão9. POPULAÇÃO E FOGOS DAS FREGUESIAS Os primeiros elementos do inquérito referem-se precisamente ao número de fogos e de habitantes das paróquias. A coisa que mais impressiona à primeira vista é a pequenez de onze freguesias, apenas com cinquenta fogos ou menos. Ei-las: AS FREGUESIAS MAIS PEQUENAS Freguesias Número de fogos N.° de habitantes Hab. por fogo P en tieiros.......................................... 32 135 4,2 Guimarães (Castelo)....................... 32 145 4.5 Campo (Salvador)............................ 38 139 3,6 Abação (S. Tomé)............................ 38 170 4.4 M ascotelos.......................................... 38 197 5,0 P a r a ís o .............................................. 38 230 6,0 Sande (Vila N o v a ) ......................
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