A Mobilização Política Internacional Cigana

A Mobilização Política Internacional Cigana

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA MARCOS TOYANSK SILVA GUIMARAIS O ASSOCIATIVISMO TRANSNACIONAL CIGANO: IDENTIDADES, DIÁSPORAS E TERRITÓRIOS Versão corrigida São Paulo 2012 MARCOS TOYANSK SILVA GUIMARAIS O ASSOCIATIVISMO TRANSNACIONAL CIGANO: IDENTIDADES, DIÁSPORAS E TERRITÓRIOS Tese apresentada ao Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Geografia. Área de concentração: Geografia Humana Orientador: Prof. Dr. José William Vesentini Versão corrigida O exemplar original se encontra disponível no CAPH da FFLCH São Paulo 2012 1 Agradecimentos Em 2007, quando comecei a estruturar um projeto de pesquisa para doutorado, deparei-me com inúmeras referências à falta de clareza em como definir os ciganos e à ausência de território delimitado desses grupos dispersos. Aos poucos fui desvendando a extraordinária trajetória deste povo, que revela uma resistência a todo tipo de opressão, exclusão e assimilação. Há poucas pesquisas no mundo sobre o ativismo internacional cigano, ou “Movimento Romani”, como ficou conhecido na Europa. Assim, este trabalho se desenvolveu em grande medida a partir de uma coleta de informações. Gostaria de agradecer a todos cujas contribuições tornaram este trabalho possível: Gostaria de expressar minha gratidão ao meu orientador, Prof. Dr. José William Vesentini, pelo apoio, sugestões, disposição e abertura ao novo. Ao professor André Martin, pelas conversas durante a etapa de estágio em docência do PAE Programa de Aperfeiçoamento do Ensino e pelas pertinentes e importantes observações durante o exame de qualificação. Contei com a inestimável orientação e amizade dos professores Veselin Popov e Elena Marushiakova e das pesquisadoras do Instituto Etnográfico de Sofia – Magdalena Slavkova, Sofyia Zahova, Yelis Erolova – cujos conselhos e as longas e interessantes conversas foram fundamentais para a realização deste trabalho. Aos ativistas Ian Hancock e Jorge Bernal, pelas prontas e esclarecedoras respostas, cuja correspondência é anterior à elaboração desta tese. Ao professor Thomas Acton e à Ilona Klimová-Alexander, pelo envio de material e informações não documentadas. Aos grandes amigos Fábio Metzger da Universidade de São Paulo e Jonathan Preminger da Universidade Ben-Gurion, pelas conversas interessantes e enriquecedoras. 2 Agradeço a todos no Brasil e no exterior que se dispuseram a conversar comigo e compartilhar informações e ideias acerca das questões tratadas nesta tese. Entre eles: Jovan Damjanovic, Valerie Novoselsky, Manuela Cantón-Delgado, David Lagunas Arias, Ruy Llera Blanes, Rumyan Russinov, Ljatif Demir, Orhan Tahir, Eben Friedman, Nathaniel Broekman, Emil Cohen, Solomon Bali, Francisco Maya e equipe da Unión Romaní, Gerardo Tiradani do Secretariado Gitano, Gilad Margalit, Gabriel Sheffer, Yaron Matras, Padre Jorge “Rocha” Pierozan, Yáskara Guelpa, Mio Vacite, Haris Tahirovic, Lyliana Kovatcheva e Savelina Danova. À PRPG pelo auxílio financeiro concedido que tornou possível a minha viagem de pesquisa à Europa. Ao generoso apoio concedido pela Municipalidade de Beyoğlu, Istambul, para participação no encontro anual da Gypsy Lore Society e Conferência em Estudos Ciganos. Por fim, à minha querida Simone Malina pelo inestimável apoio durante este período. 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9 PARTE 1: CIGANO COMO O “OUTRO” – À MARGEM CAPÍTULO 1 – O percurso .............................................................................. 15 1.1 A saída da Índia ............................................................................................ 17 1.2 A escravidão ................................................................................................. 18 1.3 Península Ibérica e o mito da pureza de sangue .............................................. 22 1.4 Nazismo ....................................................................................................... 25 1.5 Pós-guerra .................................................................................................... 29 1.5.1 O período comunista ............................................................................. 31 1.5.2 A Europa Ocidental ............................................................................... 38 1.6 Fim da Guerra Fria: o despertar do ódio .......................................................... 44 CAPÍTULO 2 – A identidade cigana .................................................................. 51 2.1 Quem são os ciganos? .................................................................................... 52 2.1.1 Componentes da etnicidade cigana e as fronteiras étnicas ....................... 63 2.1.2 Ciganos indesejáveis: a persistência de um estigma ................................. 67 2.1.3 Ciganos como músicos .......................................................................... 71 2.1.4 Os grupos ciganos ................................................................................. 76 2.2 O impacto geopolítico na formação identitária dos ciganos ............................... 80 2.3 A territorialidade pluriescalar das diásporas ...................................................... 84 PARTE 2: CIGANOS COMO UMA COMUNIDADE TRANSNACIONAL CAPÍTULO 3 – Ativismo político: estratégias para alterar o status quo............... 88 3.1 Integração: movimentos de direitos civis e antidiscriminatórios ....................... 91 3.1.1 O uso da lei para proteção dos ciganos .................................................... 94 3.1.2 O boom das ONGs ................................................................................. 100 3.2 Autonomia e autodeterminação ...................................................................... 104 3.2.1 Um Estado cigano? A ideia do Romanistão ............................................ 107 3.2.1.1 A etnopolítica na Macedônia e os ciganos ................................... 110 3.2.1.2 Estado territorial: refúgio ilusório? ............................................. 122 3.2.2 A transnacionalização do ativismo romani e o projeto de nação não-territorial.. 125 4 3.2.2.1 Aliados do ativismo romani ....................................................... 138 3.3 Conceitos orientadores e dilemas .................................................................... 145 3.3.1 minoria nacional e/ou transnacional? ...................................................... 145 3.3.2 não-territorial: mudança tática, povo avant-garde e incompatibilidade histórico-cultural ................................................................................................... 148 3.4 Outras vozes.................................................................................................... 160 CAPÍTULO 4 – O movimento associativo cigano confessional: uma comunidade transnacional? ..................................................................................................... 166 4.1 Impactos na identidade ................................................................................... 171 4.2 Estratégia geográfica e construção política das organizações evangélicas ciganas... 174 Considerações finais: diáspora, movimentos transnacionais e geopolítica cigana.... 185 Fontes e Bibliografia............................................................................................. 199 Anexos.................................................................................................................. 221 5 TERMINOLOGIA1 Nomenclaturas utilizadas internamente O termo Rom se refere a um membro do grupo (pessoa de origem Romani), enquanto Roma é sua forma plural. Utilizam-se também as seguintes variantes: Rrom e Rroma. Apesar de ser considerado o termo politicamente correto, nem todos os ciganos conhecem ou se consideram roma. Romani é usado como adjetivo (às vezes grafado com “r” duplicado, Rromani, ou com “y” Romany); e é o termo utilizado para a língua dos Roma, incluindo subgrupos (também se usam as formas Romanês e Romanó). Sinti, Calon, Caló, Calé, Romanichel, Romanichal, Kaale, Manush, Manouche são alguns termos utilizados para comunidades ligadas a uma região específica – Sinti da Europa Central, Manush da França, Caló da Espanha, etc. Alguns possuem significado em romani (ou idioma similar), como Caló (preto) e Manush (ser humano), enquanto outros são mais recentes e de origem desconhecida (Sinti, por exemplo). São considerados subgrupos Roma, embora alguns prefiram manter uma identidade separada (Sinti, por exemplo) Kalderash, Lovari, Ursari, Rudari, Aurari, Matchuaia, Xoraxané, entre outros, são nomes de grupos ciganos que provêm da Europa Oriental. São nomes formados a partir de substantivos ou adjetivos que designam principalmente ocupações profissionais ou pontos geográficos. As denominações relacionadas a ocupações originam das atividades desempenhadas pelos ciganos na época da escravidão no território da atual Romênia. Gadjo, Gadje, Gadjé, Gajão, Payo, Paio são os principais termos usados pelos ciganos quando se referem a um não-cigano. 1 Fontes: Hancock (2001 e 2002), Kenrick (2004), Margalit e Matras (2007), Matras (1999), Fundación Secretariado Gitano (2008). 6 Rótulos criados externamente As palavras Cigano, Cygani, Cikan, Tsigan, Zigeuner, etc são usadas para denotar os indivíduos de origem romani e outros viajantes. São palavras derivadas do grego Atsingani (não toque, intocáveis),

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