
Universidade Estadual de Campinas Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Luiza de Paula Souza Serber REGIMES DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO IMAGÉTICA NO TERRITÓRIO INDÍGENA DO XINGU Campinas 2018 Luiza de Paula Souza Serber REGIMES DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO IMAGÉTICA NO TERRITÓRIO INDÍGENA DO XINGU Dissertação apresentada ao Instituto de Filososfia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Antropologia Social. Orientador: Prof. Dr. Antonio Roberto Guerreiro Júnior Este exemplar corresponde à versão final da dissertação defendida pela aluna Luiza de Paula Souza Serber, orientada pelo Prof. Dr. Antonio Roberto Guerreiro Júnior e aprovada no dia 18/06/2018. Campinas 2018 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Dissertação de Mestrado, em sessão pública realizada em 18 de junho de 2018, considerou a candidata LUIZA DE PAULA SOUZA SERBER aprovada. Prof. Dr. Antonio Roberto Guerreiro Júnior Profa. Dra. Joana Cabral de Oliveira Prof. Dr. André Guimarães Brazil A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmcia da aluna. RESUMO Nas últimas três décadas, temos testemunhado a apropriação de tecnologias audiovisuais por diversos povos indígenas ao redor do globo, que as têm mobilizado enquanto estratégia de resistência política e cultural. No Brasil, assistimos hoje a um pulsante processo de transformação na relação dos indígenas com a linguagem audiovisual que é, na presente pesquisa, observado entre diferentes povos do Território Indígena do Xingu (TIX). As reflexões aqui desenvolvidas ancoram-se na análise etnográfica de dois campos empíricos distintos que, a despeito de seus entrecruzamentos, parecem configurar diferentes regimes de produção e circulação imagética operantes nas aldeias da região. O primeiro deles é descrito a partir de uma oficina de formação audiovisual oferecida pela ONG Instituo Catitu, que se singulariza pelo seu foco na capacitação de mulheres indígenas (na oficina analisada, mulheres Ikpeng e Kawaiweté). O segundo, é descrito a partir da realização do Quarup, emblemático ritual funerário alto-xinguano. Por meio da observação destes cenários, sugere-se que hoje se desenha no TIX uma intrincada paisagem midiática que compõe-se tanto por formas mais “institucionalizadas” de produção audiovisual quanto por formas mais “difusas”. Em outras palavras, a produção audiovisual xinguana, antes dependente dos recursos e da atuação de organizações externas às comunidades, hoje “transborda”: vem encontrando seus próprios modos de capacitação e produção, assumindo sua própria linguagem e forma estética e, também, criando seus próprios meios de circulação e recepção. Palavras chave: Xingu; Mídia Indígena; Cinema Indígena; Práticas Midíaticas; Antropologia do Cinema. ABSTRACT Throughout the last three decades, we have witnessed the appropriation of audiovisual technologies by various indigenous peoples around the globe, who have employed them as a strategy of political and cultural resistance. Today in Brazil, we can see a lively transformation in the way indigenous people relate to audiovisual language which is, in this research, observed among different peoples of the Xinguano Indigenous Territory (TIX). The ideas developed here are anchored in the ethnographic analysis of two distinct empirical fields which, despite their intercross, seem to configure different regimes of imagery production and circulation that operate in the regions villages. The first one is based on the observation of an audiovisual training workshop offered by the NGO Instituto Catitu, notable for its focus on training indigenous women (in the workshop analyzed, Ikpeng and Kawaiweté women). The second is based on the examination of the Quarup, an emblematic Upper Xinguano funerary ritual. Through the observation of these settings, it is suggested that today we can perceive in the TIX an intricate media landscape that is composed both by "institutionalized" and "diffuse" forms of audiovisual production. In other words, Xinguano audiovisual production, previously dependent on the resources and the work of organizations external to the communities, now "overflows": it has been finding its own modes of training and production, assuming its own language and aesthetic form, and also creating its own means of circulation and reception. Keywords: Xingu; Indigenous Media; Indigenous Filmmaking; Media Practices; Anthropology of Cinema. AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Antonio Guerreiro, agradeço imensamente por me introduzir no universo de pesquisa em etnologia, pelos conhecimentos partilhados, pela parceria e atenção. Aos Kawaiweté, Ikpeng, Yawalapití, Kamayurá, Kalapalo, Kuikuro e Matipu – em especial, Kujãe, Fukuí, Natuyu, alunas Ikpeng, Kamatxi, Karané, Kumaré, Takan, Anna Terra, Iamony, Ianukula, Kaiulu, Takumã, Edu, Maú, Viola, Kany, Cacique Matipu e sua família –, amigos e colaboradores desta pesquisa, que me acolheram e me permitiram ver, ouvir e sentir o seu mundo. A Mari Corrêa, por reunir mulheres tão talentosas e determinadas, por oferecer a elas novas possibilidades de criação e expressão, e por me permitir acompanhar estes momentos especiais de aprendizagem. A Juliana Vasconcellos, por ser minha mana em nossa primeira viagem ao Xingu e por me ceder lindas fotografias. A Fernanda Sindlinger, por colaborar com as minhas primeiras aproximações ao Instituto Catitu. Aos colegas e amigos do CPEI e SIRAT– Gabi, Fernanda, Diogo, Verônica, Ian, May, Betânia, Igor, Paulo Victor, Daniel, Aline – pelas trocas e parcerias, pela partilha de alegrias e aflições. Aos professores da minha banca de qualificação e defesa, Joana Cabral e André Brasil, pela leitura atenta e observações generosas. Às amigas e companheiras do Encontro de Mulheres – Renata e Genni (da ASCURI), Maíra e Indiana (da CTL Funai de Nova Xavantina) – pela companhia e por me mostrar um pouco de outros mundos indígenas. A André Lopes, Pedro Portella e Ana Estrela por partilharem comigo ideias, interesses e espaços de diálogo. A Juan F. Salazar, pelas grandes contribuições para a pesquisa, pelas conversas em spanglish, e por me oferecer um conforto latino do outro lado do mundo. Ao professor Brandão e a toda comunidade da Rosa dos Ventos pelo acolhimento tão generoso e por me permitirem desfrutar, em tempos árduos de escrita, os muitos encantos do Vale da Pedra Branca. Ao Mestre Roxinho, Mestre Plínio e Professor Ewerton por me lembrarem sempre do que realmente importa e da mandinga necessária para seguir em frente. Ao Vinícius, pelo apoio, cuidado e compreensão, sem os quais eu não teria nem começado esta empreitada. Aos amigos queridos, novos e antigos – Adriano, Lis, Bruna, Celeste, Jana, Lubes, Sara, Hellen, Zé – por serem sempre parceiros, dentro e fora das bibliotecas, e por tantas coisas mais. Ao Carlos, pelo acolhimento, paciência e generosidade. A minha mãe, Helena, meu pai, Eduardo, avós, Genny, Mila e Joe, e madrinha, Bia, pelo apoio e amor incondicional. Ao André, pelo carinho, companheirismo e pelo desejo de trilhar comigo novos caminhos. À FAPESP e à CAPES, pelo apoio financeiro e institucional por meio de uma bolsa de mestrado no país (Processo FAPESP 2015/21031-7) e uma bolsa de estágio de pesquisa no exterior (Processo FAPESP 2016/20999-0), ambas vinculadas ao Projeto Jovem Pesquisador “Sistemas regionais ameríndios em transformação: o caso do Alto Xingu” (Processo FAPESP 2013/26676-0) Tribo kozák hetá xetá kozák tela de índigos índios hetá xetá kozák memo de indigno cinema hetá xetá kozák mote-fátuo perpétuo hetá xetá kozák a morte é esteta hetá xetá kozák o filme – profeta (Sylvio Back) * Poema extraído do documentáro Yndio do Brasil (1995). * O cineasta e antropólogo Vladimir Kozák (1898- 1979) foi o único a filmar, em 1956, os quase extintos índios Xetás (ou Hetás) do norte do Paraná. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figuras: Figura Introdução – Indígena alto-xinguano filmando o Quarup com o uso de dois smartphones Fonte: Luiza Serber Figura 1 – Mapa do Território Indígena do Xingu Fonte: Site do ISA <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Xingu>. Acesso em: 26/05/2018 Figuras 2, 3 e 4 – Fotomontagens produzidas pelos Yolngu em smartphones Fonte: Projeto “Gapuwiyak Calling” <http://gapuwiyakcalling.tumblr.com/>. Acesso em: 27/05/2018 Figura 5 – Cacique Totopiá (Ikpeng) Fonte: Pablo Saboredo Figura 6 – Cacique Totopiá nos mostrando seu antigo álbum de fotografias com imagens da época do “primeiro contato” Fonte: Pablo Saboredo Figuras 7 e 8 – Jovens mulheres Ikpeng, alunas da oficina de formação audiovisual Fonte: Página do Facebook de uma das alunas da oficina Figura 9 – Indígena Mebenegokrê com câmera filmadora Fonte: Site da Revista National Geographic <https://video.nationalgeographic.com/video/news/151204- amazon-kayapo-video-warriors-vin>. Acesso em 27/05/2018 Figura 10 – Cena do filme Martírio (2016) Fonte: Jornal Nexo <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/04/18/A-plataforma-de-streaming- com-filmes-feitos-por-ou-sobre-ind%C3%ADgenas>. Acesso em: 27/05/2018 Figura 11 – Mulheres participantes de oficina de audiovisual do Instituto Catitu Fonte: Site do Instituto Catitu <http://institutocatitu.org.br/projetos/mulheres-indigenas/>. Acesso em: 27/05/2018 Figura 12 – Reunião das participantes da oficina na casa do ISA Fonte: Luiza Serber Figura 13 – Vista de satélite do Polo Pavuru e das aldeias Ikpeng circundantes (Moygu e Arayó) Fonte: Google Maps, localização
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