ANATOMIA DO LENHO DE PLINIA TRUNCIFLORA (O. BERG) KAUSEL (MYRTACEAE)L

ANATOMIA DO LENHO DE PLINIA TRUNCIFLORA (O. BERG) KAUSEL (MYRTACEAE)L

BALDUINIA. n.l9, p. 26-30, 15-XII-2009 ANATOMIA DO LENHO DE PLINIA TRUNCIFLORA (O. BERG) KAUSEL (MYRTACEAE)l JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORF SIDINEI RODRIGUES DOS SANTOS3 RESUMO É anatomicamente descrita a madeira de Plinia truncijlora (O. Berg) Kausel, com base em material proveni- ente do Rio Grande do Sul. Foram observados: porosidade difusa; poros muito numerosos e solitários; elementos vasculares de comprimento médio; placas de perfuração simples; pontoações intervasculares al- ternas e ornamentadas; parênquima apotraqueal difuso-em-agregados; raios heterogêneos, estreitos; fibras de comprimento médio, com pontoações areoladas; e ausência de espessamentos espiralados. Do ponto de vista taxonômico, salienta-se a presença de séries cristalíferas em células não distendidas do parênquima axial. Palavras-chave: Plinia truncijlora, jaboticabeira, anatomia da madeira, Myrtaceae. ABSTRACT [Wood anatomy of Plinia trunciflora (O. Berg) Kausel (Myrtaceae)]. The wood anatomy of Plinia truncijlora (O. Berg) Kausel is described, based on samples from Rio Grande do Sul state, Brazil. The following features were observed: diffuse porosity; solitary, very numerous and medium size vessel elements; simple perforation plates; alternate vestured pits; diffuse-in-aggregates apotracheal parenchyma; narrow and heterogeneous rays; medium size fibres, with bordered pits; and spiral thickenings, lacking. From the taxonomic point of view, must be emphasized the presence of crystalliferous strands in non-enlarged cells. Key words: Plinia truncijlora, wood anatomy, Myrtaceae. INTRODUÇÃO Plinia trunciflora é árvore de porte médio Frutífera bastante conhecida e largamente (até 15 metros), de casca lisa exfoliante e fo- cultivada em pomares domésticos, Plinia lhas simples, opostas, lanceoladas, providas de trunciflora (O. Berg) Kausel, a popular jabuti- pedolo e um par de nervuras marginais eviden- cabeira, é uma das Mirtáceas nativas mais valo- tes (Sobral, 2003). Além destes aspectos, são rizadas no sul do Brasil, notadamente pelos fru- especialmente notórias, na sua morfologia ex- tos, pequenas bagas de casca negra e polpa bran- terna, a caulifloria e a nodosidade do tronco ca aderida à semente, muito apreciadas in natura (Marchiori & Sobral, 1997). De ampla distri- ou para a fabricação de geléias, sucos e licores buição natural, a jaboticabeira é nativa na Ar- (Danner et al., 2006). gentina, Bolívia, Paraguai, Peru e Brasil, de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, integran- do, neste Estado, a Floresta EstacionaI do Alto 1 Recebido para publicação em 05/11/2009 e aceito para Uruguai e as matas com Araucária (Sobral, publicação em 13/01/2010. 2003). 2 Engenheiro Florestal, Dr.,bolsista de Produtividade em Pesquisa (CNPq - Brasil), Professor Titular do Depar- Ainda desconhecida, sob o ponto de vista tamento de Ciências Florestais, Universidade Federal anatômico, a jaboticabeira fornece madeira de Santa Maria. Santa Maria, RS, Brasil. balduinia@mai!.ufsm.br moderadamente pesada, compacta, dura e resis- 3 Biólogo, bolsista (CNPq - Brasil), doutorando do tente, indicada para tabuados, móveis e cons- Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, trução civil (Lorenzi, 1992). O presente estudo, Departamento de Ciências Florestais, Universidade ao descrever a anatomia de Plinia trunciflora, Federal de Santa Maria. CEP 97105-900. Santa Maria, RS, Brasil. [email protected] pretende contribuir ao conhecimento estrutural 26 das madeiras de Mirtáceas Mirtoídeas, nativas tra de madeira e respectivo material botânico, no Rio Grande do Sul. incorporados à Xiloteca e Herbário do Depar- tamento de Ciências Florestais (HDCF), da REVISÃO DE LITERATURA Universidade Federal de Santa Maria, sob o São escassas as informações anatômicas so- número 3141. bre as espécies nativas do gênero Plinia, inclu- Do material lenhoso, foram extraídos três sive em obras mais abrangentes, como as de corpos de prova (1x2x3 cm) da parte mais ex- Record & Hess (1949) e Metcalfe & Chalk terna do lenho, próxima ao câmbio, orientados (1972). para obtenção de cortes nos planos transversal, Em estudo de Plinia martinellii, Barros & longitudinal radial e longitudinal tangencial. Callado (1997) destacam, entre outros aspec- Outro bloquinho foi também retirado, com vis- tos: porosidade difusa; poros solitários e em tas à maceração. múltiplos radiais de 2-4; elementos vasculares Os corpos de prova foram amolecidos por de comprimento médio (755 11m); placas de fervura em água e seccionados em micrótomo perfuração simples; pontoações alternas e or- de deslizamento, regulado para a obtenção de namentadas; fibrotraqueídeos de comprimento cortes com espessura nominal de 20llm. Usou- médio (1170 11m); parênquima apotraqueal se coloração com acridina-vermelha, crisoidina difuso-em-agregados, com tendência a formar e azul-de-astra (Dujardin, 1964), desidratação faixas irregulares, em séries de 4-14 células; em série alcoólica-ascendente (30%, 50%, 70%, raios heterogêneos (1-3 células de largura); e 95% e duas vezes em álcool absoluto), séries cristalíferas presentes no parênquima diafanização em xilol e montagem de lâminas axial e nos raios. permanentes, com Entellan. Para Plinia rivularis, Denardi et alo (2005) Para as lâminas de macerado, seguiu-se o relacionaram os seguintes aspectos anatômicos: método de Jeffrey (Burger & Richter, 1991); na porosidade difusa; poros solitários e em múlti- coloração, usou-se safranina 1% e, na monta- plos radiais; elementos vasculares de compri- gem de lâminas, a mesma resina anteriormente mento médio (545 11m); placas de perfuração referida. simples; pontoações alternas; ausência de A descrição microscópica da madeira ba- espessamentos espiralados; fibras de compri- seou-se nas recomendações do IAWA mento médio (1170 11m), com pontoações Committee (1989). No caso da percentagem dos areoladas; parênquima axial apotraqueal difuso- tecidos, foram realizadas 600 determinações ao em-agregados; raios heterogêneos; presença de acaso, com auxílio de contador de laboratório, séries cristalíferas no parênquima axial; e au- conforme proposto por Marchiori (1980). A fre- sência de traqueídeos. Não constam referências qüência de poros foi obtida de forma indireta, a sobre ornamentações no pontoado intervascular. partir de um quadrado de área conhecida Para o conjunto das Mirtoídeas sul-rio- superposto a fotomicrografias de seções trans- grandenses, destacam-se as contribuições de: versais da madeira. As medições foram realiza- Marchiori (1984a,b,c; 1987; 1988; 1998), das em microscópio Carl Zeiss, com ocular de Marchiori & Muniz (1987), Marchiori & Brum escala graduada, no Laboratório de Anatomia (1997), Marchiori et alo (2008) e Denardi & da Madeira da Universidade Federal de Santa Marchiori (2005). Maria. Nas características quantitativas, os nú- meros entre parênteses equivalem aos valores MATERIAL E MÉTODOS mínimos e máximos observados; o valor que O material em estudo, coletado no municí- acompanha a média é o desvio padrão. As pio de Jaguari (RS), corresponde a uma amos- fotomicrografias foram tomadas em microscó- 27 pio Olympus cx40, equipado com câmera digi- eretas e, por vezes, procumbentes mais altas do tal Olympus Camedia c3000. que as do corpo central (Figura 1e). A parte multisseriada, é geralmente mais longa do que DESCRIÇÃO ANATÔMICA as margens unisseriadas (Figura 1E,F). Os Anéis de crescimento: distintos, delimitados unisseriados, com 83,2 ± 32,7 (40 - 150) 11me por fina camada de fibras radialmente estreitas 1 - 3 (4) células de altura. Raios axialmente (Figura IA). fusionados, frequentes. Células radiais de pare- Vasos: muito numerosos a extremamente des disjuntas, presentes. Inclusões minerais, numerosos (140 ± 31,4 (94 - 162) poros/mm2), células envolventes e células perfuradas, ausen- ocupando 15,3 ± 3,8 % do volume da madeira. tes. Conteúdo de cor escura, pouco abundante. Porosidade difusa. Poros exclusivamente soli- Fibras: com pontoações areoladas e abertu- tários, ligeiramente poligonais, muito pequenos ras cruzadas, presentes nas faces radiais e (25,4 ± 5,9 (17,5 - 38,7) 11m), de paredes finas tangenciais da parede, representando 46,3 ± 6,3 (2,5 ± 0,44 (1,8 - 3,7) 11m) e sem padrão defini- % do volume da madeira. Fibras de comprimen- do de organização (Figura 1A,B). Elementos to médio (968,8 ± 110,2 (800 - 1190) 11m), com vasculares de comprimento médio (476 ± 101,1 17,6 ± 1,8 (15 - 21,2) 11mde largura e paredes (290 - 710 11m), com placas de perfuração sim- finas a espessas (5,8 ± 0,89 (3,7 - 7,5) 11m) (Fi- ples, geralmente oblíquas, e apêndices geral- gura 1B). Fibras septadas, fibras gelatinosas e mente em ambas as extremidades. Pontoações espessamentos espiralados, ausentes. intervasculares alternas, circulares (4,1 ± 0,64 Traqueídeos vasicêntricos, presentes. (3,0- 5,1) 11m), com abertura em fenda inclusa, Outros caracteres: variantes cambiais, tubos ornamentada, pelo menos em parte dos vasos. laticíferos e taniníferos, canais intercelulares, Pontoações raio-vasculares com aréolas distin- máculas, células oleíferas, células mucilaginosas tas, semelhantes às intervasculares, embora e estratificação, ausentes. menores (3,0 ± 0,32 (2,5 - 3,0) 11m) e restritas às margens de raios. Espessamentos espiralados ANÁLISE DA ESTRUTURA ANATÔMICA e conteúdos, ausentes. As características anatômicas descritas para Parênquima axial: muito distinto das a madeira de Plinia trunciflora estão de acordo fibras em corte transversal, representando 21,2 com o referido na literatura para as Mirtáceas, ± 3,5 % do volume da madeira; em arranjos por Record & Hess (1949)

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