Uma análise da construção do papel social da mulher representada na mídia pela saga Shrek Manuela Pekelman Venturini 22 Universidade do Vale do Rio dos Sinos Resumo: Este trabalho relaciona a construção da personagem Fiona, da saga Shrek, com o livro O Segundo sexo a fim de entender o papel da mulher na sociedade e como ele é representado na mídia pela saga. Os filmes serão analisados de forma conjunta visando compreender a relação do desenvolvimento da princesa com a evolução da história da mulher, com a conquista de espaços em função das lutas feministas. Palavras-chaves: Gênero; mulher; cinema de animação. Resumo expandido Os filmes da saga Shrek quebram conceitos pré-existentes e definidos de vários elementos sociais, inclusive o conceito de mulher. Para tal, a obra expõe os papéis de forma exagerada e frustra a expectativa da audiência ao apresentar esses elementos sob outra perspectiva. Tendo como ponto de partida essa construção, buscamos refletir sobre a intersecção de ideias expressas no livro O segundo sexo (1949), de Simone de Beauvoir e na personagem Fiona nos filmes da série Shrek (2001 a 2010), a fim de compreender a construção conceitual do gênero feminino. Beauvoir considera o panorama histórico da mulher para refletir acerca de como se construiu o seu papel social. Para contextualizar suas reflexões, Beauvoir faz algumas comparações com outros coletivos. Para realizar a análise dos filmes, será utilizado como referência metodológica Denzin (2004a apud FLICK, 2009), cuja técnica consiste em quatro etapas: assistir e sentir o filme, para que, a partir dele como um todo, possa-se apontar as impressões, as questões e os padrões de significado visíveis; anotar as cenas-chave para formular perguntas que devem ser buscadas na obra; produzir “microanálises estruturadas” das cenas e sequências individuais que sirvam para explicar padrões inseridos na trama; identificar tais padrões ao longo do filme a fim de responder às questões de pesquisa e gerar a interpretação final, considerando leituras realistas e subversivas realizadas ao longo do processo. 22 Tecnóloga em Produção Audiovisual (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande de Sul) e Especialista em Televisão e Convergência Digital (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), e-mail: [email protected]. 25 A análise de caráter descritivo-analítico deste trabalho é importante para uma reflexão sobre o papel social da mulher enquanto ser na condição de Outro (Beauvoir,1949; pág. 18), como nomeia Beauvoir ao se referir à submissão aceita pela mulher perante à imposição masculina. É possível verificar um desenvolvimento da personagem em cada filme: no primeiro, toda sua identificação e realização se dá a partir do homem, ela precisa dele para se aceitar e da permissão dele para se assumir – assim como as mulheres, segundo Beauvoir, que vivem para o amor e se veem no homem; no segundo, Fiona assume que fez mudanças por ele e há a tentativa de quebrar o estereótipo das imagens de homem e mulher quando Shrek toma a poção – consequentemente, propondo uma renúncia de seu universo em prol do universo dela –, mas falha quando Fiona impede que ele se sacrifique por ela – Beauvoir apresenta um panorama no qual o homem não precisa se sacrificar por ela, ela é quem deve agradá-lo; o terceiro filme começa a se afastar gradualmente da realidade que Beauvoir conheceu porque sugere uma inserção inicial no modelo tradicional, quando Shrek não quer considerar a possibilidade de ter filhos com Fiona e entra em negação com a notícia de que ela está grávida, mas Fiona assume o papel de salvadora das princesas e do próprio marido, ou seja, se apresenta cada vez mais independente e, mesmo quando encarna o papel de mãe, não o faz sozinha; o padrão compreendido na saga é quebrado no quarto filme, que representa uma etapa histórica que Beauvoir não viveu, uma realidade em que a mulher é autossuficiente e sai daquele papel passivo para liderar uma revolução, no final do filme, a tentativa de inversão dos papéis de homem e mulher finalmente se conclui. Podemos compreender, então, que o papel do gênero feminino é representado na saga Shrek considerando o panorama histórico da mulher, construído com base em elementos que contribuíram para a formação da cultura ocidental. Apesar deste enraizamento, a saga considera a luta dos movimentos feministas ao propor constantes inversões de papéis em relação às funções de gênero. Além de avaliar a história das mulheres, a saga sugere uma conquista da luta feminista, ao configurar Fiona como independente, autossuficiente e retratar sua igualdade ao gênero masculino, quando ela assume a autoridade na revolução. Referências bibliográficas BEAUVOIR, S. O segundo sexo . Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 2009. FLICK, U. Dados visuais: fotografia, filme e vídeo. In: Introdução à pesquisa qualitativa . Artmed: Porto Alegre, 2009 Referências online Simone de Beauvoir . Disponível em: <https://avecbeauvoir.wordpress.com/simone-de- beauvoir/> Acesso: 17 de Setembro de 2016 26 Sociologia Online. Simone de Beauvoir Entrevista Completa . 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xL4DG-5o5Uk> Acesso: 17 de Setembro de 2016 Referências Fílmicas SHREK. Direção: Andrew Adamson, Vicky Jenson. EUA: DreamWorks Animation, 2001 [produção], 1 filme (90min), animação, cor (technicolor). SHREK 2. Direção: Andrew Adamson, Kelly Asbury, Conrad Vernon. EUA: DreamWorks SKG, DreamWorks Animation, Pacific Data Images (PDI), 2004 [produção], 1 filme (93min), animação, cor (technicolor). SHREK the third. Direção: Chris Miller, Raman Hui. EUA: DreamWorks Animation, Pacific Data Images (PDI), 2007 [produção], 1 filme (93min), animação, cor. SHREK forever after. Direção: Chris Miller, Raman Hui. EUA: DreamWorks Animation, Pacific Data Images (PDI), 2010 [produção], 1 filme (93min), animação, cor. 27 .
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