INFÂNCIA E CULTURA VISUAL: OS REFERENTES CULTURAIS DA REVISTA BILLIKEN 1 2 3 4 Gustavo Saucedo , Solange Coutinho , Virginia Cavalcanti , Virginia Kummer Universidade Federal de Pernambuco | Centro de Artes e Comunicação Programa de Pós-Graduação em Design RESUMO: A produção de artefatos da cultura, e da cultura impressa em particular, ao logo da história proporcionou e ainda proporciona às crianças uma serie de referentes que conformam a cultura visual das mesmas. Partindo da pesquisa bibliográfica, este artigo pretende mapear e relacionar conceitos do campo da cultura (Gomes de Carvalho, Santaella), do design (Cardoso) e das ciências sociais (Carli, Fallabella) que podem auxiliar o estudo de artefatos impressos. Posteriormente, por meio da observação pretendeu-se identificar e descrever os distintos referentes culturais contidos nas capas da revista infantil argentina Billiken. Analisaram-se dez capas da revista entendo-a como artefato cultural que veicula informações sobre o contexto de produção (Argentina, décadas dos anos de 1970 e 2000), circulação e consumo (casa e escola) e o público alvo (crianças escolarizadas). A partir desse estudo, constatou-se que os referentes culturais criados desde as mídias, a escola ou o mercado conformam o conjunto de símbolos da cultura visual infantil de cada época; e que Billiken, além de ter propósitos educativos, publicitários ou ideológicos, se ocupou da construção da identidade do leitor e a cultura visual dele. PALAVRAS-CHAVE: Cultura; Design; Revista Infantil; Cultura Visual, Billiken ABSTRACT: The production of cultural artifacts, especially printed culture, has over the years continued to provide children with a series of cultural references, which have established children's visual culture. Beginning from a bibliographic research, this article has attempted to map and to establish links amongst concepts from the fields of culture (Gomes de Carvalho, Santaella), design (Cardoso) and social sciences (Carli, Fallabella), in order to assist in the study of printed artifacts. Subsequently, it is our intention to identify and describe different cultural references through an analysis of the Argentinean children´s magazine called Billiken. Ten covers of the Billiken magazines were analyzed as cultural artifacts, and which carry information regarding the contexts of production (Argentina, the 1970s and 2000s), consumption (home and school) and the target audience (schoolchildren). As a result, it was confirmed that cultural references created from mass media, school and the market have constructed a set of visual culture symbols which characterizes each era. Moreover, it has been discovered that as well as demonstrating educational, advertising and ideological purposes, Billiken has also cooperated with the construction of the identity of readers and their visual culture. 1 Mestrando em Design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE-Brasil), [email protected] 2 Professora Doutora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE-Brasil), [email protected] 3 Professora Doutora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE-Brasil), [email protected] 4 Professora Doutora da Universidad Nacional de Entre Ríos (UNER-Argentina), [email protected] KEYWORDS: Culture; Design; Children's Magazine; Visual Culture, Billiken INTRODUÇÃO Este artigo aborda a cultura visual, aqui compreendida como o conjunto de artefatos considerados representações visuais que atuam como mediadores de significados, dedicada à infância argentina presente nas capas da revista Billiken, nas décadas dos anos de 1970 e 2000. Como produção acadêmica, visou em primeiro lugar, mapear e relacionar conceitos do campo da cultura, do design e das ciências sociais que podem auxiliar o estudo de artefatos impressos. Ao mesmo tempo, através de uma observação descritivo-analítica pretendeu-se identificar e descrever os distintos referentes culturais contidos nas capas da revista Billiken da Argentina nas décadas de 1970 e 2000. Organizamos o presente estudo sob três grandes tópicos que nortearam a sequência lógica de observação das revistas, dois deles de caráter teórico e o outro prático. Assim, no primeiro tópico (1) CULTURA E DESIGN apresenta-se as noções relacionadas ao conceito de cultura e de design atrelados à categoria de cultura impressa. Já no segundo tópico (2) A REVISTA COMO ARTEFATO CULTURAL, explora-se a revista e sua função, apresentando o estudo de caso escolhido: a revista infantil Billiken. No último tópico intitulado (3) INFÂNCIA E CULTURA VISUAL NA ARGENTINA, expõem-se as ideias de infância advindas das ciências sociais, identificando referências que constroem a cultura visual de cada época. Para dar conta dessas referências se utilizou como procedimento metodológico a observação descritivo-analítica em dez capas da revista Billiken. Através de uma amostragem não probabilística, tivemos a possibilidade de escolher aquelas capas que são mais acessíveis e representativas para a população. Considerando as características particulares do objeto em estudo e utilizando o nosso julgamento, foram selecionadas as capas visando dar conta da diversidade de referentes culturais. Em segundo lugar, se equiparou o número de publicações por década, resultando nas edições 2626, 2628, 2630, 2703 e 2930 dos anos setenta; e as 4206, 4488, 4407, 4441 e 4500 dos anos dois mil. Para concluir, são expostos nas considerações finais, os objetivos em diálogo com a observação conduzida refletindo sobre o papel dos artefatos impressos em particular, e dos produtos audiovisuais em geral, na constituição da cultura visual infantil. Destacando a importância de um estudo mais aprofundado sobre os signos que o design constrói e vivencia, por meio de cada um dos artefatos culturais que coloca na vida cotidiana das pessoas. 1. CULTURA E DESIGN Ao dar início a um estudo multidisciplinar – cultura, design, ciências sociais – no campo da cultura considera-se necessário focar no objeto de estudo específico de pesquisa: as revistas infantis. Para isso, buscamos uma definição que dê conta da complexidade do assunto, por meio de um olhar que permeie o design e os artefatos que ele produz para a sociedade. Das diferentes formas de definir a cultura, concordamos com Gomes de Carvalho (2006) ao entendê-la como “um conjunto de símbolos significantes, um código, um mapa mental ou uma linguagem que fornece a orientação e as referências necessárias para que as pessoas possam viver em grupo” (GOMES DE CARVALHO apud ONO, 2006: p21). Nesse sentido, podemos relacionar esse conceito com as práticas do design como produtor de artefatos imersos nos grupos sociais. Reportamo-nos a Cardoso (2007) para entendermos que “design refere-se à concepção e à elaboração de projetos, tanto para a fabricação de artefatos industriais quanto para a configuração de sistemas de interação entre usuários e objetos” (CARDOSO, 2007: p1). Dessa segunda definição podemos entender que todos os artefatos produzidos pelo design estão carregados de significados, mediados por linguagens visuais e que se inserem na sociedade como artefatos do cotidiano, pelo qual também podemos considerar artefatos culturais. A pesquisadora Gomes de Carvalho acrescenta que “a concepção, produção e uso de objetos também possuem suas referências que compõem a cultura de cada grupo. Eles estão, portanto, impregnados de cultura" (GOMES DE CARVALHO apud ONO, 2006: p21), e nesse ponto se centra o presente trabalho: reconhecer as referências culturais que estão impregnadas num artefato especifico – a revista Billiken, para um público específico – o infantil, produzido pelo design em dois contextos temporais diferentes – décadas de 1970 e 2000, mas num mesmo espaço de produção e circulação: a República Argentina. Outra definição que consideramos importante ao pensar a revista no campo da cultura é a de cultura impressa apresentada por Santaella (2010) no estudo das formações culturais. A autora define a cultura como um processo, e o divide em seis eras culturais ou formações culturais – oral, escrita, impressa, de massas, das mídias e digital – que “estão pautadas na convicção de que os meios de comunicação (...) são capazes não só de moldar o pensamento e a sensibilidade dos seres humanos, mas também de produzir o surgimento de novos ambientes socioculturais” (SANTAELLA, 2010: p13). Além disso, essa divisão não marca períodos culturais lineares mas sempre que há um processo acumulativo de complexificação: uma nova formação comunicativa e cultural vai se integrando à anterior, provocando-lhe reajustes e novas funções. Tal como Santaella afirma, a cultura impressa evoluiu acompanhando a sociedade e se tornando mais complexa mediante processos acumulativos de avanços tecnológicos, estéticos e sociais, que deram origem a uma ampla gama de artefatos: livros, jornais, cartazes, revistas, embalagens,
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