Copa para quem e para quê? Um olhar sobre os legados dos mundiais no Brasil, África do Sul e Alemanha Marilene de Paula e Dawid Danilo Bartelt (Organização) Christian Russau Glaucia Marinho Laura Burocco Mario Campagnani Renato Cosentino 2ª edição Copa para quem e para quê? Um olhar sobre os legados dos mundiais no Brasil, África do Sul e Alemanha Copa para quem e para quê? Um olhar sobre os legados dos mundiais no Brasil, África do Sul e Alemanha Marilene de Paula e Dawid Danilo Bartelt (Orgs.) Christian Russau Glaucia Marinho Laura Burocco Mario Campagnani Renato Cosentino 2ª edição Tradução Copyleft. É permitida a reprodução total Fal Vitiello de Azevedo (capítulo África do Sul) ou parcial dos textos aqui reunidos, desde que Kristina Michahelles (capítulo Alemanha) seja citado(a) o(a) autor(a) e que se inclua a referência ao artigo original. Copa para quem e para quê? Revisão de conteúdo Um olhar sobre os legados dos mundiais no Marilene de Paula, Dawid Danilo Bartelt, Algumas das fotos utilizadas nesta publicação Brasil, África do Sul e Alemanha Manoela Vianna estão sob licença Creative Commons <http:// creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0>, Capa, Projeto Gráfico e diagramação sinalizadas como CC com seus respectivos Fundação Heinrich Böll Flávia Mattos autores. Rua da Glória, 190/701 - Glória CEP 20.241-180 - Rio de Janeiro/RJ - Brasil Impressão Gráfica Minister Tel. 55 21 3221 9900 Fax 55 21 3221 9922 Tiragem [email protected] 1.000 exemplares www.br.boell.org ISBN 978-85-62669-11-8 Organizadores Marilene de Paula e Dawid Bartelt P324 Artigos Glaucia Marinho, Mario Campagnani, Renato Paula, Marilene de. Cosentino, Laura Burocco, Christian Russau Copa para quem e para quê? Um olhar sobre os legados dos mundiais de futebol no Coordenação Editorial Brasil, África do Sul e Alemanha. Marilene de Paula, Dawid Danilo Bartelt (organizadores). Marilene de Paula – Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll, 2014. Assistente de edição 168 p.; 24cm x 17cm Manoela Vianna ISBN 978-85-62669-11-8 Revisão Ana Redig 1. Direitos Humanos. 2. Megaeventos. I. Paula, Marilene de. II. Bartelt, Dawid. III. Título. Sumário Introdução 7 Dawid Danilo Bartelt Brasil 12 Glaucia Marinho Mario Campagnani Renato Cosentino África do Sul 60 Laura Burocco Alemanha 106 Christian Russau Conclusão 149 Marilene de Paula 6 Introdução Dawid Danilo Bartelt Um olhar sobre os legados dos mundiais no Brasil, África do Sul e Alemanha Tais prognósticos, vestidos de linguagem e orçamentos na área social, de saúde e educação Introdução formatos econômicos, são essencialmente po- (para alguns uma simples questão de lógica), é líticos. Tratam-se de suposições equivocadas e inegável que há custos sociais enormes. representativas para os discursos legitimadores É nesta perspectiva que esta publicação lan- com os quais a Federação Internacional de Fu- ça um olhar comparativo entre os preparativos Em 2010, a consultoria Ernst & Young, em tebol (Fifa) e os respectivos governos se dirigem da Copa do Mundo no Brasil e os resultados das parceria com a Fundação Getúlio Vargas, pu- às populações dos países-sede dos mundiais so- duas Copas anteriores, na África do Sul (2010) blicou um estudo intitulado “Brasil sustentável: bre os legados da Copa. e na Alemanha (2006). Perguntamos aqui o que impactos socioeconômicos da Copa do Mun- Para discutir legados socioeconômicos, há os megaeventos trazem para as populações dos do 2014”. Nele, as duas renomadas instituições uma série de problemas metodológicos. Por países-sedes, especialmente para as parcelas mais afirmam que a Copa injetaria R$ 142 bilhões exemplo, as obras de infraestrutura viária são desfavorecidas pelas políticas públicas, aquelas na economia brasileira e geraria 3.63 milhões obras específicas para a Copa ou teriam sido que ocupam a base da pirâmide social. Ela ques- de empregos por ano entre 2010 e 2014, além realizadas de qualquer forma? Os gastos eleva- tiona, também, em que medida as transforma- de R$ 63 bilhões de renda para a população. dos comprometem outros itens dos orçamentos ções causadas pelos megaeventos ou introdu- As estimativas baseiam-se em “experiências municipais, estaduais ou federal ou são com- zidas em nome deles respeitam ou restringem, comparáveis” e no “planejamento financeiro pensados, por exemplo, através de investimentos e até violam, direitos garantidos pela legislação dos órgãos públicos”, além de “critérios espe- privados? Como computar formas indiretas de nacional e internacional. Os três artigos trazem 9 cíficos” como a diferença entre os dispêndios financiamento, como isenções fiscais (das quais um balanço dos custos financeiros e sociais, efetuados em cenários com e sem a Copa. Os a Fifa goza quase que plenamente) ou subsídios? analisando os regimes jurídico-financeiros de custos foram avaliados como estáveis, não sendo Dispêndios públicos no contexto de um mega- exceção, as mudanças na legislação, as interven- consideradas eventuais “oscilações” no ambien- evento são investimentos ou custos? As respos- ções nas economias nacionais e locais nos países te macroeconômico. tas a estas perguntas de natureza metodológica das Copas. Evidenciam-se mudanças em dife- Em março de 2014, perguntei a um repre- dependem muito dos interesses e das priorida- rentes níveis: na legislação sobre segurança, nas sentante da Ernst & Young se ele manteria este des políticas. Ou seja, em nome de quais grupos regras básicas da política social; nos regimes de prognóstico. A resposta foi evasiva - as condi- econômicos e sociais essas perguntas são feitas? licitação e contratação; nas leis orçamentárias, ções econômicas teriam mudado. Mas mesmo No entanto, no meio deste debate há como que são estruturantes da instalação de um me- com as ressalvas metodológicas, e considerando fazer constatações bem claras. Primeira: as Co- gaevento num país. Há que se considerar que que o crescimento do Produto Interno Bru- pas custam caro aos cofres públicos e, por con- os verdadeiros custos de um megaevento são to despencou de 7,5% em 2010 para 0,9% em sequinte, aos contribuintes do país-sede. Con- difíceis de avaliar. Há diversas formas de custos 2012, as estimativas parecem absurdas. Em re- trário ao que o presidente Lula anunciara ainda escondidos ou indiretos: isenções ou subsídios lação aos empregos, por exemplo, o número em 2007, a Copa no Brasil não será “a Copa fiscais para a Fifa e empresas, editais e proces- concreto divulgado pelo governo é de 24.500 da iniciativa privada”. Apenas 20% dos custos sos de contratação manipulados, créditos a juros operários empregados nas obras dos estádios. estão sendo bancados por empresas privadas. baixos, endividamento de municípios pela con- Evidentemente, estes postos de trabalho são Segunda: independentemente da questão polê- tração de empréstimos a juros do mercado. Isto efêmeros e não estruturais. mica sobre se os altos gastos comprometem os sem falar da corrupção. Copa para quem e para quê? Para realizar este estudo comparativo, con- minalização dos protestos, com medo que estes vidamos autores que trabalham há muito tempo possam atrapalhar a festa. Afinal, são os ganhos junto aos movimentos sociais nos países sobre em imagem, e não os efeitos econômicos, que os quais escrevem. Christian Russau, jornalista mais podem ser capitalizados no médio prazo. e ativista alemão de Berlim, e a italiana Laura Na Alemanha, o “verão de conto de fadas” Burocco, especialista em Política Internacional apresentou ao mundo um povo alemão surpre- e Desenvolvimento, radicada entre 2011 e 2014 endentemente festivo, solto e tolerante. Tam- em Johannesburgo onde trabalhava pelo South bém a África do Sul de certa maneira conseguiu African Cities Network, já viveram e trabalha- apresentar-se como “nação arco-íris” moderna ram no Brasil. Já os autores do capítulo sobre e tolerante no ano de 2010. Ora, o brasileiro Brasil, Glaucia Marinho, Mario Campagnani e não precisa provar ao mundo que gosta de festa Renato Cosentino, integram a equipe de co- e dança e que é um povo hospitaleiro. Mas os municação da organização de Direitos Huma- protestos contra os megagastos e a miséria con- nos Justiça Global e estão envolvidos nas ativi- tinuam nas principais áreas da política social, dades do Comitê Popular da Copa no Rio e da ameaçando produzir imagens contraprodutivas Articulação Nacional dos Comitês Populares da às estratégias de marketing político. 10 Copa (Ancop). Se olharmos para a Fifa, o legado da Copa Não poucas vezes – e isto foi o caso da Ale- sem dúvida será positivo. Não deixa de ser im- manha, e tudo indica que será também o do pressionante como esta entidade privada sem Brasil – uma Copa serve para instalar novos, fins lucrativos consegue impor seus interesses mais repressivos regimes de segurança. A Copa e suas regras a Estados soberanos. Mas deve-se de 2006 levou à maior operação de segurança dizer que as restrições à soberania, no final das do período pós-guerra na Alemanha, envolven- contas, só são possíveis porque representantes do 250 mil policiais, militares, aviões-caça da do soberano (o povo) as permitem, porque cor- Otan, segurança privada etc. Segundo represen- respondem aos seus interesses. Cabe analisar se tantes das torcidas organizadas na Alemanha, a estes são os interesses da população. repressão contra os torcedores aumentou subs- Segundo dados oficiais da própria organiza- tancialmente pouco antes da Copa em 2006. ção, a renda da Fifa com a realização das Copas O comportamento repressivo da polícia pare- do Mundo tem aumentado constantemente: foi ce ser um dos fatores estruturantes e mereceu de US$ 3,9 bilhões na Copa na Alemanha no destaque também nos outros dois artigos. No período de 2003 a 2006, de US$ 4,2 bilhões na Brasil, durante os protestos de junho de 2013, da África do Sul de 2007 a 2010 e está estima- vimos uma polícia despreparada, que age com da em US$ 5,4 bilhões para a Copa do Brasil.
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