Passiflora Incarnata

Passiflora Incarnata

E o vento entoava a música do tempo Sem presa, surpresa ou rima repetida. Porque muito tranqüila, a mãe natureza Criava passo a passo o milagre da vida. E o Brasil que outrora era Pindorama, O torrão sagrado dos Tupiniquins, É o berço desta flor que frutifica, enrama, E hoje é encontrada em todos seus confins. O maracujá e suas propriedades medicinais - estado da arte Ana Maria Costa Daiva Domenech Tupinambá Introdução a América tropical, originou a maioria das espécies de maracujá que compõem a família Passifloraceae (Souza & NMeletti, 1997), Ordem Violares, Classe Magnoliopsida e Filo Magnoliophyta. Estima-se que somente o gênero Passiflora possua em torno de 500 espécies, muitas cultivadas pelas propriedades medicinais, sendo que no Brasil existem cerca de 120 espécies nativas. Apesar do nome popular aplicado a todas as espécies, apenas duas são cultivadas comercialmente para a produção dos frutos: Passiflora alata (maracujá-doce) e Passiflora edulis (maracujá-azedo). Embora todas as espécies produzam frutos, nem todos podem ser consumidos, havendo até alguns que são tóxicos. Pelo desenho de seus componentes florais, principalmente dos órgãos masculinos (estames) e femininos (carpelos) em forma de cruz, são também denominados de “flor-da-paixão”. A beleza de suas flores não está somente na forma de seus componentes florais, mas, principalmente, na variedade de cores (virtualmente todas). A utilização do maracujá como planta medicinal faz parte da cultura de povos americanos, europeus e asiáticos. Espécies comerciais e silvestres integram o repertório etnofarmacológico que recomenda folhas, flores, raízes e frutos para combater as mais diferentes enfermidades, do controle de verminoses ao tratamento de tumores gástricos. Contudo, a fama do maracujá vem da ação benéfica sobre o sistema nervoso, sendo indicado, 475 O maracujá e suas propriedades medicinais ... principalmente, no combate à ansiedade, à depressão e à insônia (Matos, 2002, Dhawan et al., 2004). Apesar de as propriedades medicinais do maracujá serem conhecidas mundialmente, ainda é pequena a informação científica sobre o assunto. Pouco se sabe, ainda, a respeito da composição bioquímica, princípios ativos e efeitos sobre a saúde humana da maioria das espécies usadas como medicinais. Os estudos se concentram basicamente nas espécies comerciais: Passiflora edulis, Passiflora caerulea e Passiflora incarnata. Em termos nutricionais, os maracujás comerciais apresentam excelentes qualidades nutritivas, são ricos em minerais e vitaminas, principalmente A e C, alcalóides, flavonóides e carotenóides, substâncias que, em geral, atuam na prevenção de doenças. (Suntornsuk et al., 2002, Casimir et al., 1981). Dhawan et al., (2004) organizaram grande parte das informações apresentadas neste capítulo. Etnofarmacologia A medicina popular atribui ao maracujá várias propriedades benéficas à saúde que variam de acordo com a espécie e cultura local. O Brasil agrega porção significativa da diversidade genética de maracujás com uso medicinal. Espalhados por grande parte do território, diferentes espécies são utilizadas como sedativas, diuréticas, analgésicas, no controle da ansiedade, combate à insônia, erisipela e doenças inflamatórias da pele, entre outras aplicações (Oga et al., 1984, Matos, 2002, Dhawan et al., 2004). Dentre as nativas mais populares estão a Passiflora caerulea, Passiflora edulis, Passiflora foetida. Passiflora incarnata. No século XVII, a espécie brasileira Passiflora caerulea foi introduzida na Inglaterra para ser usada como sedativo e no controle da ansiedade. Hoje é um dos maracujás medicinais mais difundidos na Europa e Ásia juntamente com o espécime peruano de Passiflora incarnata. Em geral, o efeito medicinal 476 O maracujá e suas propriedades medicinais ... calmante é obtido da infusão de folhas e flores e da polpa dos frutos. As raízes da P. caerulea também são usadas nos Países Baixos, Índia, América do Sul e México como vermífugo. Na Itália, utiliza-se a planta como também como antiespasmódico. Nas Ilhas Maurício, recomendam-se tinturas e extratos desse maracujá para controle da insônia e vários distúrbios do sistema nervoso, enquanto as raízes são empregadas como diurético. Na Argentina, a medicina popular recomenda as partes aéreas de P. caerulea como antimicrobiano no tratamento da pneumonia e tosse com catarro (Anesini & Perez, 1993). Menos difundidas, mas também presentes na cultura de vários povos está a Passiflora edulis. Nas Américas, a planta é utilizada como sedativo, calmante, diurético, anti-helmíntico, antidiarréico, tônico e no tratamento da hipertensão, sintomas da menopausa, cólicas infantis e insônia, (Matos, 2002, Dhawan et al., 2004). O fruto na Ilha da Madeira é considerado estimulante gástrico e é usado como auxiliar no tratamento de carcinomas gástricos (Watt & Breyer-Brandwijk, 1962 revisto em Dhawan et al., 2004). Em Nagalan (Índia) folhas frescas de P. edulis são fervidas em um litro de água e o estrato bebido para o tratamento da diarréia e hipertensão (Jamir et al., 1999). Os frutos são ingeridos frescos para constipação. Infusão de folhas de Passiflora foetida controla a histeria e insônia segundo a tradição nigeriana (Nwosu, 1999). Essa planta é muito cultivada na Índia. As folhas são utilizadas para dores de cabeça, distúrbios biliares e asma. Os frutos são utilizados para prevenir vômitos. No Brasil, pomadas e loções contendo extratos da folha são recomendados para erisipela e inflamações (Dhawan et al., 2004). Um trabalho publicado em latim, no ano de 1787, na “Matéria Médica Americana”, na Alemanha menciona o uso de Passiflora incarnata também para tratamento da erisipela da idade (Dhawan et al., 2004). Trabalhos antigos descrevem o uso dessa espécie no tratamento de espasmos e insônia de crianças e idosos (Bratram, 1995 e CSIR 1965a, b, revisto por Dhawan et al., 2004). Trata-se de uma planta tradicionalmente usada na Europa (Handler, 1962 revisto por Dhawan et al., 2004) e na homeopatia (Rawat, 1987 revisto por Dhawan et al., 2004 ). Na América do Norte, é recomendada para insônia, 477 O maracujá e suas propriedades medicinais ... ansiedade e como sedativo (Bergner, 1995 revisto por Dhawan et al., 2004). No Brasil, essa espécie é usada como analgésico, antiespasmódico, no controle da asma, como vermicida e sedativo. No Iraque, como sedativo e narcótico. Na Turquia, no tratamento da dismenorréia, epilepsia, insônia, neuroses e neuralgia. Na Polônia, na cura da histeria e neurastenia. Na América, no tratamento da diarréia, dismenorréia, neuralgia, queimaduras, hemorróidas e insônia (Taylor, 1996 revisto por Dhawan et al., 2004). A espécie também é empregada na Índia sendo usada no tratamento de dependentes de morfina pela medicina tradicional daquele país (Lad 2000 e Vasudev, 1955 revisto em Dhawan et al., 2004). Passiflora laurifólia Linn. é usada em Trinidad para tratamento das palpitações cardíacas, distúrbios nervosos (Rainntree Nutrition, 1999 revisto em Dhawan et al., 2004). Suco do maracujá Passiflora maliforms Linn é usado para controlar febre no Brasil (Dhawan et al., 2004). Passiflora quadrangularis Linn (maracujá- gigante) é usado por todo o Caribe como sedativo para dores de cabeça. Chá das folhas é bebido para controle da pressão arterial e diabetes (Seaforth et al., 1983 revisto em Dhawan et al., 2004). Nas Ilhas Maurício e Rodrigues, banhos com folhas cozidas de Passiflora suberosa são usados o tratamento de doenças de pele. Raízes cozidas são usadas para induzir a menstruação e controlar histeria (Fakim et al., 1993). Na América Central, brotos de Passiflora pedunculata Mast., partes aéreas de Passiflora sexflora Juss e Passiflora vitifolia HBK vêm sendo usadas contra picadas de cobra (Morton, 1981 revisto em Dhawan et al., 2004). O uso popular difundido e suas várias aplicações sugerem o potencial desse gênero para a pesquisa de princípios medicamentosos interessantes. Fitoconstituintes A maior parte das informações sobre a constituição bioquímica do gênero Passiflora provém das espécies Passiflora incarnata e Passiflora edulis seguido da Passiflora alata. Ainda é pequeno o conhecimento para as demais 478 O maracujá e suas propriedades medicinais ... espécies (Pereira et al., 2000, Dhawan et al., 2004). Em geral, as espécies estudadas são ricas em alcalóides indólicos (passiflorina, harmina, harmanol, harmalina), flavonóides (vitexina, isovitexina, neohesperidina, saponarina, crisina, BZF), esteróis (estigmasterol, sitosterol), lignanos (ácido caféico e ferrúlico), cianoglicosídeos, entre outros, havendo diferenças quantitativas de espécie para espécie. Em termos de função, atribui-se principalmente aos flavonóides crisina e BZF o efeito contra ansiedade da Passiflora e os cianoglicosídeos o efeito hipotensor por vasodilatação periférica. Segue-se o resumo destas informações para as três espécies mais conhecidas e demais espécies. Fitoconstituintes de Passiflora incarnata Flavanóides Os flavanóides compõem a principal categoria presente na espécie Passiflora incarnata. Segundo levantamento realizado por Dhawan et al., 2004, estão presentes na planta: apigenina (1), luteolina (2), quercetina (3), caempferol (4) (Gavasheli et al., 1974a), 6-β-d-alopiranosil-8-β-xilopiranosil- apigenina (Grandolini et al., 1997); Flavonóides C-glicosil vitexina (5) isovitexina (6) (Lutomski et al., 1981), orientina (7), isoorientina (8), escaftosídeo (9), isoscaftosídeo, isovitexina-2´´-O-glucopiranosídeo, isoorientina-2´´-O-gluco-piranosídeo, 2-glucosilapigenina, isoscoparina-2´´- O-glucoside, 2´´-O-glucosil- 6-C-glucosilapigenina,

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