UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL Raul Milliet Filho Cenários e Personagens de uma Arte Popular: futebol brasileiro, hegemonia, narradores e sociedade civil SÃO PAULO 2009 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL Raul Milliet Filho Cenários e Personagens de uma Arte Popular: futebol brasileiro, hegemonia, narradores e sociedade civil Tese de Doutorado em História Social, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos Silva SÃO PAULO 2009 Ficha catalográfica Milliet Filho, Raul, 1952. Cenários e Personagens de uma Arte Popular: futebol brasileiro, hegemonia, narradores e sociedade civil. São Paulo, 2009. Futebol. Futebol brasileiro. Cenários. Personagens. Hegemonia. Esta tese foi um beijo roubado do destino. De tudo que foi possível, estão presentes Joana, Vicente, Olívia, Anna Maria e Elza. Aprendi muito. Raul AGRADECIMENTOS Aos meus colegas, companheiros e peladeiros, por tudo... Aos enfermeiros e todo o corpo médico do Pró-Cardiaco, em especial ao Dr. José Galvão Alves. A Marcos Silva, pela amizade e compreensão. Por ter me apontado os caminhos de uma cultura popular que eu desconhecia. A Ricardo Oliveira, Carlos Didier, Ricardo Salles, Marcelo Proni, Antonio Edmilson Martins Rodrigues, Adriano Bidão, Flavio Carneiro e Sergio Vieira. Vocês sabem por quê. A José Paulo Pessoa, Juca Pessoa, Antonio Brocchi e Roseana Mendes Marques. Não esquecerei nossas conversas naqueles seis meses. A Carlos de Barros Lisboa, pelo amor a Joana, Vicente e Olivia. Relembrando para sempre meu pai Raul Milliet e meus tios Gabriel, João, Lena e Maria Júlia. GOL ANULADO João Bosco/Aldir Blanc Quando você gritou mengo no segundo gol do Zico tirei sem pensar o cinto e bati até cansar três anos vivendo juntos e eu sempre disse contente minha preta é uma rainha porque não teme o batente, se garante na cozinha e ainda é Vasco doente. daquele gol até hoje o meu rádio está desligado como se irradiasse o silêncio do amor terminado eu aprendi que a alegria de quem está apaixonado é como a falsa euforia de um gol anulado. Quanto a nós, privilegiamos dois outros grandes bateleiros: Walter Benjamin e Antônio Gramsci. Seus destinos trágicos de outsiders permitiram-lhes ouvir o que permanecia inaudível... ... contra o culto sonolento do progresso e suas promessas quase sempre ilusórias, ambos vão ao encontro de Marx por caminhos notavelmente convergentes, árduos e pouco frequentados. Do Diário de Moscou (1927) às teses sobre o conceito de história (1939), Benjamin soube aprofundar a crítica messiânica da abstração temporal. No mesmo momento, na experiência da derrota Gramsci soube, em seus Cadernos do cárcere, tirar as consequências da decisão intrínseca do conflito: ‘Só se pode prever a luta’. Daí resulta uma noção da política como estratégia e uma noção do erro como risco inelutável da ‘decisão’ Daniel Bensaid RESUMO No decorrer de vários anos de leituras e intervenções práticas, foram recolhidos ideias e eixos temáticos, alinhavados e sistematizados na troca de passes entre a arte do futebol brasileiro e seus principais narradores, a partir dos conceitos de hegemonia, sociedade civil e intelectual orgânico em Gramsci. Paralelamente, captou-se o narrador em Walter Benjamin e a sua visão sobre a modernidade. A tese abordará basicamente esses pontos. Tudo em Cenários e Personagens de décadas distintas, em espaços geográficos não necessariamente iguais ou limítrofes, mas capazes de dialogar através dos temas escolhidos. Cenários e personagens que percorrem uma trajetória iniciada na Inglaterra na segunda metade do século XIX, até sua consolidação no Brasil na década de 1960. Dos personagens, percorremos as trilhas de Gentil Cardoso, Dori Kürschner, Neném Prancha, Nelson Rodrigues e João Saldanha, tendo como inspiração os seus grandes solistas: de Marcos Carneiro de Mendonça a Gerson, passando por Friedenreich, Fausto, Leônidas, Didi, Garrincha e Pelé. Palavras – Chave Futebol brasileiro; Cenários e Personagens; Narradores; Hegemonia e Sociedade Civil. ABSTRACT During several years of readings and practical interventions, ideas and axial themes were collected, sketched, and systematized in the exchange of passes between the art of Brazilian soccer and major narrators, from Gramsci’s concepts of hegemony, civil society, and organic intellectuals. Similarly, the narrator is captured in Walter Benjamin and his vision of modernity. The thesis will mainly deal with these points. The content addresses Characters and Settings of distinctive decades, and geographic spaces not necessarily equal or bordering, but able to dialogue through the chosen themes. Characters and settings that cover a trajectory started in England in the second half of the nineteenth century until its consolidation in Brazil in the 1960s. Among the historical personalities, we followed the paths of Gentil Cardoso, Dori Kürschner, Neném Prancha, Nelson Rodrigues and João Saldanha; taking as inspiration the great soloists: from Marcos Carneiro de Mendonça to Gerson, in addition to Friedenreich, Fausto, Leônidas, Didi, Garrincha and Pelé. Keywords: Brazilian Soccer; Settings; Characters; Narrators; Hegemony, and Civil Society. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT LINHA DE PASSE – AQUECIMENTO..............................................................................12 APRESENTAÇÃO........................................................................................................20 INTRODUÇÃO............................................................................................................33 CAPÍTULO I PRIMEIRO CENÁRIO: O NASCIMENTO DOS ESPORTES MODERNOS................................57 1.1.ESPORTES E ESPAÇO URBANO.............................................................................61 1.2.A ESCOLA NA MODERNIDADE................................................................................63 1.3.TEMPO E TRABALHO............................................................................................67 1.4.SOCIEDADE CIVIL EM GRAMSCI E FOUCAULT.........................................................73 1.5.TEMPO NATURAL E TEMPO FABRIL: DOS JOGOS AOS ESPORTES..............................74 1.6.A FORÇA DO MITO...............................................................................................77 1.7.JOGOS E BRINCADEIRAS: OS ESPORTES MODERNOS EM PRELÚDIO.........................81 1.8.ORIGENS DO FUTEBOL: DAS PELADAS A CAMBRIDGE.............................................95 1.9.NÃO FORAM SÓ OS ESPORTES............................................................................98 1.10.ESTADO-NAÇÃO, FUTEBOL E TRADIÇÃO............................................................101 1.11.CIRCULARIDADE CULTURAL NAS ORIGENS DO FUTEBOL.....................................110 1.12. O NACIONAL-POPULAR E OS INTELECTUAIS EM GRAMSCI................................112 1.13. O SEGREDO DA SIMPLICIDADE: UMA CRONOLOGIA DAS LEIS DO FUTEBOL ATÉ 1937...........................................................................................116 CAPÍTULO II SEGUNDO CENÁRIO: O DESEMBARQUE DO FUTEBOL NO RIO DE JANEIRO..................135 2.1.A ÉPOCA DE CHARLES MILLER E OSCAR COX....................................................135 2.2.O REMO E O MAR...........................................................................................143 2.3.A CENA CARIOCA E O FUTEBOL.......................................................................152 2.4.TRABALHO, TEMPO E ESPORTE: A CIDADE REDESENHADA.................................157 2.5. O FUTEBOL NA VISÃO DE MARCOS CARNEIRO DE MENDONÇA: ENTRE O DÂNDI E O SPORTMAN............................................................................162 CAPÍTULO III TERCEIRO CENÁRIO: CLUBES E CAMPOS DE PELADA: FUTEBOL BRASILEIRO E SOCIEDADE CIVIL ...........................................................184 3.1.CLUBES E CAMPOS DE PELADA......................................................................184 3.2.“ORIENTE” E “OCIDENTE” – GUERRA DE MOVIMENTO, GUERRA DE POSIÇÃO: CULTURA POPULAR NA PRIMEIRA REPÚBLICA.......................................................196 3.3.OS JOGADORES: DÂNDI/SPORTMAN...............................................................212 3.4.A SÍNCOPA E A CINTURA ..............................................................................225 3.5. A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922, A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA E O FUTEBOL...................................................................................230 CAPÍTULO IV QUARTO CENÁRIO:O APOLÍNEO DORI KÜRSCHNER E O JOGADOR BRASILEIRO......239 4.1.A TERCEIRA SEMANA DE ARTE MODERNA.....................................................239 4.2.1925: O WM E O PROFISSIONALISMO.............................................................245 4.3.O PROFISSIONALISMO E O PAPEL DE MARIO FILHO.........................................258 4.4. O FUTEBOL E SEUS DEMIURGOS...............................................................266 4.5. ....DORI KÜRSCHNER FAZENDO HISTÓRIA: A INCORPORAÇÃO DO WM .............273 ANEXOS DO CAPÍTULO IV...................................................................................296 CAPÍTULO V QUINTO CENÁRIO OU QUEM NÃO FAZ, LEVA. AS MÁXIMAS E EXPRESSÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO..................................................................................303 5.1.ATACAR POR PRAZER, DEFENDER POR OBRIGAÇÃO (DIDI)..............................303 5.2.
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