Belmiro Braga, Em Razão Do Que a Seguir Passa a Expor

Belmiro Braga, Em Razão Do Que a Seguir Passa a Expor

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, no uso de suas atribuições constitucionais, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no art. 118, inciso III, da Constituição do Estado de Minas Gerais, no art. 29, inciso I, da Lei n.º 8.625/93 e no art. 69, inciso II, da Lei Complementar n.º 34/94, propor AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE em face das Leis n. os 308/2006 e 369/2010 , ambas do Município de Belmiro Braga, em razão do que a seguir passa a expor. Procuradoria-Geral de Justiça Coordenadoria de Controle da Constitucionalidade Rua Dias Adorno, n.º 367 – 9º andar Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG PA-0024.12.005202-3 Página 1 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA 1 Das fundamentações jurídicas 1.1 Dos textos legais hostilizados Eis o teor dos dispositivos legais eivados de inconstitucionalidade: LEI N.º 308/2006 de 26 de janeiro de 2006. [...] Art. 1º - Para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, a Administração Pública Direta Municipal poderá efetuar contratações temporárias de pessoal para realizar atividades técnicas especializadas, no âmbito de projetos de cooperação com o Governo Federal, especialmente para garantir a realização dos fins buscados pelos programas federais de Saúde da Família, de Agente Comunitário de Saúde e de Desenvolvimento da Vigilância Epidemiológica, nas condições e prazos previstos nesta lei, e observados os valores remuneratórios respectivos: (Redação dada pela Lei n.º 369/2010) I – Médico, com remuneração de R$ 4.617,42 (Quatro Mil, Seiscentos e Dezessete Reais e Quarenta e Dois Centavos); II – Agentes Comunitários de Saúde, com remuneração, cada um, de R$ 300,00 (Trezentos Reais); III – Enfermeiro, com remuneração de R$ 2.242,75 (Dois Mil Duzentos e Quarenta e Dois reais e setenta e cinco centavos); IV – Técnico em Enfermagem, com remuneração de R$ 507,99 (Quinhentos e Sete Reais e Noventa e Nove Centavos). V – Agentes Epidemiológicos, com remuneração de R$ 300,00 (Trezentos Reais); [...] Art. 2º - As contratações de que trata esta Lei serão feitas por tempo determinado, com prazo máximo de 12 (doze) meses, prorrogável por períodos iguais, sucessivos, enquanto durar a transferências (sic) de recursos federais necessários aos pagamentos dos profissionais que exerçam as funções de que trata esta Lei, limitadas, em qualquer caso, ao prazo do mandato eletivo da autoridade administrativa municipal que as tenha firmado. (Redação dada pela Lei n.º 369/2010) [...] Procuradoria-Geral de Justiça Coordenadoria de Controle da Constitucionalidade Rua Dias Adorno, n.º 367 – 9º andar Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG PA-0024.12.005202-3 Página 2 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA Divisa-se, no particular, que os dispositivos legais em causa padecem do vício da inconstitucionalidade material, como demonstraremos na sequência. 1.2 Considerações iniciais sobre a regra do concurso público para admissão de servidores e sobre as exceções admitidas O artigo 37 da Constituição da República prevê, no seu inciso II, a regra geral para acesso ao serviço público, ou seja, a necessidade de concurso público, e, em seu inciso IX, traz a exceção a tal exigência – quando se tratar de contratação por tempo determinado, e em caráter de excepcionalidade e urgência. Senão, vejamos: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; [...] IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público; Procuradoria-Geral de Justiça Coordenadoria de Controle da Constitucionalidade Rua Dias Adorno, n.º 367 – 9º andar Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG PA-0024.12.005202-3 Página 3 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA A Constituição do Estado, nos artigos 21, § 1º, e 22, caput, consigna a mesma regra e exceção contidas na Constituição da República: Art. 21 – Os cargos, funções e empregos públicos são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei. § 1º- A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. Art. 22 A lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado, para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público. É necessário acentuar que tais comandos constitucionais não conferem ao legislador ordinário ampla liberdade para incluir em lei os casos que entende suscetíveis de contratação temporária. Eis a oportuna observação de Hely Lopes Meirelles, verbis: Obviamente, essas leis deverão atender aos princípios da razoabilidade e da moralidade. Dessa forma, só podem prever casos que efetivamente justifiquem a contratação. Esta, à evidência, somente poderá ser feita sem processo seletivo quando o interesse público assim permitir.1 Outros não são os ensinamentos de Celso Antônio Bandeira de Melo: A Constituição prevê que a lei (entende-se: federal, estadual, distrital ou municipal, conforme o caso) estabelecerá os casos de contratação 1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1998. p. 364/365. Procuradoria-Geral de Justiça Coordenadoria de Controle da Constitucionalidade Rua Dias Adorno, n.º 367 – 9º andar Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG PA-0024.12.005202-3 Página 4 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA para o atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público (art. 37, IX). Trata-se, aí, de ensejar suprimento de pessoal perante contingências que desgarrem da normalidade das situações e presumam admissões apenas provisórias, demandadas em circunstâncias incomuns, cujo atendimento reclama satisfação imediata e temporária (incompatível, portanto, com o regime normal de concursos). A razão do dispositivo constitucional em apreço, obviamente, é contemplar situações nas quais ou a própria atividade a ser desempenhada, requerida por razões muitíssimo importantes, é temporária, eventual (não se justificando a criação de cargo ou emprego, pelo que não haveria cogitar do concurso público), ou a atividade não é temporária, mas o excepcional interesse público demanda que se faça imediato suprimento temporário de uma necessidade (neste sentido, “necessidade temporária”), por não haver tempo hábil para realizar concurso, sem que suas delongas deixem insuprido o interesse comum que se tem de acobertar.2 Quanto à obrigatoriedade do concurso público, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula n.º 685, do seguinte teor: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.3 Ademais, nossa Suprema Corte já manifestou o seguinte entendimento: O provimento de cargos públicos tem sua disciplina traçada, com vigor vinculante, pelo constituinte originário, não havendo que se 2 MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. 3 Apud BARROSO, Luís Roberto. Constituição da república federativa do brasil anotada. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 1401p. p.388. Procuradoria-Geral de Justiça Coordenadoria de Controle da Constitucionalidade Rua Dias Adorno, n.º 367 – 9º andar Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG PA-0024.12.005202-3 Página 5 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA falar, nesse âmbito, em autonomia organizacional dos entes federados.4 1.3 Leis Municipais que regulam hipóteses de contratação por tempo determinado por excepcional interesse público para atender programas de saúde. Inconstitucionalidade. Como é possível inferir da leitura dos incisos I, II, III, IV e V do art. 1º da Lei n.º 308/2006, com as alterações promovidas pela Lei n.º 369/2010 , ambas do Município de Belmiro Braga, há situações ali previstas que não se inserem, às escâncaras, na hipótese de excepcionalidade, que diz respeito à ocorrência de fato inesperado ou imprevisto relativo ao interesse público, i. e., o interesse social ou o da Administração Pública, considerada como tal. Diógenes Gasparini, ao discorrer sobre os requisitos a serem observados para a contratação temporária, destaca: Por necessidade temporária entende-se a qualificada por sua transitoriedade; a que não é permanente; aquela que se sabe ter um fim próximo. Em suma, a que é passageira. [...] Basta a transitoriedade da situação e o excepcional interesse público. Mas, ainda, não é tudo. Tem-se de demonstrar a impossibilidade do atendimento com os recursos humanos de que dispõe a Administração Pública ou, conforme ensina Celso

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