UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA A VOZ QUE CANTA NA VOZ QUE FALA: POÉTICA E POLÍTICA NA TRAJETÓRIA DE GILBERTO GIL Pedro Henrique Varoni de Carvalho São Carlos 2013 A VOZ QUE CANTA NA VOZ QUE FALA: POÉTICA E POLÍTICA NA TRAJETÓRIA DE GILBERTO GIL Pedro Henrique Varoni de Carvalho Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos para obtenção do Título de Doutor em Linguística. Orientadora: Profa. Dra. Vanice Sargentini. São Carlos 2013 Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária/UFSCar Carvalho, Pedro Henrique Varoni de. C331vc A voz que canta na voz que fala : poética e política na trajetória de Gilberto Gil / Pedro Henrique Varoni de Carvalho. -- São Carlos : UFSCar, 2013. 294 f. Tese (Doutorado) -- Universidade Federal de São Carlos, 2013. 1. Análise do discurso. 2. Arquivos de brasilidade. 3. Tropicalismo. 4. Gil, Gilberto, 1942-. 5. Produção de subjetividade. I. Título. CDD: 401.41 (20a) Dedicado a Gilberto Gil, por ensinar que a agulha do real pode ser conduzida pelas mãos da fantasia. Aquele Abraço. AGRADECIMENTOS À Vanice Maria Oliveira Sargentini, que fez valer todas as dimensões da orientação desde o Mestrado. Paciência, sabedoria e conhecimento compartilhados e multiplicados na vivência acadêmica que adensam a amizade na vida pessoal. Aos Professores Carlos Piovezani e Maria do Rosário Gregolin, em cujas aulas foram gestadas muitas das reflexões deste trabalho e por apontarem, com generosidade, os caminhos no processo da qualificação à defesa. À Amanda Braga, um porto seguro na revisão e leitura crítica. Aos demais colegas do Labor, Laboratório de Estudos do Discurso da UFSCar – Israel Sá, Jocenilson Ribeiro, Lívia Pires, Luciana Carmona – pelos diálogos que constituem a base deste trabalho. À Renata Isidoro, pelas aulas de Francês. Aos funcionários da Secretaria do PPGL-UFSCar. Ao amigo e Professor João Massarolo, presença que desloca as certezas e revela nova cartografia. Ao Hermano Vianna, pela disponibilidade para o diálogo em alguns momentos da tese. Ao Professor, artista e amigo Ivan Vilela, por fazer movimentar, nas cordas da viola, o arquivo de brasilidade da poética sul-mineira – onde Tião Carreiro e Beatles se encontram – e por ter aceito o convite para participar da banca de defesa. Ao Professor Antônio Fernandez Junior por ter aceito o convite em participar da banca de defesa Aos Professores Oswaldo Truzzi e Paula Melani Rocha Aos colegas da EPTV de São Carlos, em especial Maria Aparecida, Eugênio Martin, Gustavo Rizzo, Douglas Arcanjo, Hebe Rios, Paulo Brasileiro e Duílio Fabri Júnior, por ajudarem a atravessar fronteiras. Aos familiares. Os meus irmãos. Lelo, pela possibilidade de comunicar afetos e descobertas na língua da canção. Fabiana, fortaleza e abrigo. Jô, pelo aprendizado de que a beleza é uma das matrizes da poesia. Aos meus pais: Pedro Ferreira de Carvalho, de cujas narrativas brotam rios de um Brasil profundo, envoltos em amor, o sentimento mais revolucionário que existe; Regina Aída Varoni de Carvalho, que com a coleção de Monteiro Lobato inaugurou meu amor pelos livros e pela vida. Aos sobrinhos: Felipe, Isadora, Carolina e Zeca. Aos Tios Zé Varoni , Paschoal e Rosa , donos das discotecas que me revelaram o tropicalismo na infância mineira. Aos meus filhos: Gabriel Massa Varoni de Carvalho, o mineiro-paulista que faz do afeto a sua bússola; Luísa Massa de Carvalho, com quem escrevo junto todos os sentidos. A minha companheira nessa travessia na alegria e tristeza, Adriana Massa de Carvalho, dona dos saberes e sabores da casa e ainda parceira nas canções. Aos amigos Dawson Izola e Laura Izola, César Sargentini, Ulysses Fernandes e Ligia Fernandez, Marina Herrero, Rodrigo Teixeira, Rodolfo Magalhães, Maira Gregolin, Luzmara Ferreira, Luciano Elsinor Lopes, Marcelo Bortolotti, Ivo Dall Ácqua Junior, Silvia, Luciana Leuzzi, Marco Antônio Rodrigues, Daelcio Freitas e Olga Curado, todos com quem descubro os caminhos do coração a cada nova manhã. A força do mistério que sopra outros ares, nos tornando capazes de reinventar a vida. Gratidão. RESUMO Esta tese analisa a cartografia de um sujeito do discurso, Gilberto Gil. Desde sua inscrição num acontecimento discursivo, o tropicalismo, no final dos anos 1960, até o inicio de sua gestão como Ministro da Cultura do Governo Lula entre os anos 2003 e 2008. Interessa-nos perceber o trânsito entre dois lugares enunciativos – ocupados pelo compositor popular e pelo Ministro. Nesse trajeto, buscamos refletir sobre o funcionamento do arquivo de brasilidade, a partir das relações entre arte e política desde o contexto de implantação da ditadura militar até a chegada ao poder do ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Nosso referencial teórico é a Análise do Discurso de vertente Francesa que fornece os principais conceitos utilizados na análise tais como enunciado, formação discursiva, arquivo, interdiscurso e intradiscurso. São instrumentos que permitem perceber as relações de saber-poder envolvidas na atividade da canção popular e como elas contribuem para a produção de subjetividades na sociedade brasileira. Nosso corpus de análise são as canções e pronunciamentos do Ministro, pensados como manifestações sincréticas, verbais e não verbais. Propomos, ainda, uma aproximação com a obra de pesquisadores que trabalham, numa abordagem histórica, a canção brasileira, tais como Luis Tatit e José Miguel Wisnik. A partir do entendimento do fenômeno da canção popular como uma “rede de recados” buscamos pensar, de um ponto de vista discursivo , a relação entre a voz que fala e a voz que canta , procurando problematizar o caminho do artista em direção ao Ministério como processo inverso. A voz que canta conduz a voz que fala na política, fornecendo, inclusive, um lastro tropicalista-antropofágico ao Governo Lula, sobretudo no que se refere à busca de um novo lugar institucional do Brasil na sociedade globalizada. A trajetória de Gilberto Gil exemplifica, assim, a forma como a canção popular se tornou um das mais potentes produções discursivas no interior do arquivo da brasilidade. Palavras-chave: arquivo de brasilidade; tropicalismo; Gilberto Gil; Análise do Discurso; produções de subjetividade. RESUMÉ Dans ce travail de thèse on analyse la cartographie d'un sujet du discours, il est Gilberto Gil. Cette analyse prend dès leur inscription dans un événement discursif, le tropicalisme, dans la fin des années 1960, jusqu'au début de leur gestion comme Ministre de la Culture pendant le gouvernement du président Lula, entre les années 2003 et 2008. Il nous est donc intéressant de vérifier le mouvement entre deux lieux énonciatifs, qui sont occupés par le compositeur populaire et par le Ministre. Dans ce trajet, on veut réfléchir sur le fonctionnement d'archive de « brésilité » à partir des relations entre l'art et la politique dès le contexte d'émergence de la dictature militaire en 1964 jusqu'à l'arrivée de l'ex-métallurgique Luiz Inácio Lula da Silva au pouvoir. Notre travail est basé surtout sur l'Analyse du Discours française qui nous donne les concepts les plus importants pour notre analyse : énoncé, formation discursive, archive, interdiscours et intradiscours. Ce sont des outils qui nous permettent de vérifier les relations savoir-pouvoir dans l'activité de la chanson populaire bien que de vérifier comment ces relations-là contribuent pour la production de subjectivités dans la société brésilienne. Le corpus de notre recherche est composé par des chansons et des prononcés du Ministre, les deux vus comme des manifestations syncrétiques. On propose, encore, la proximité des œuvres de chercheurs qui font leurs recherches dans une perspective historique de la chanson brésilienne, par exemple Luis Tatit et José Miguel Wisnik. À partir de la compréhension du phénomène de la chanson populaire comme un « réseau de messages », on veut penser, d'un point de vue discursif, la relation entre la 'voix qui parle' et la 'voix qui chante'. Ainsi, on cherche de rendre problématique le chemin qui conduit l'artiste vers le Ministère comme un procès inverse. La 'voix qui chante' conduit à la 'voix qui parle' dans la politique et fournit, encore, un ballaste tropicaliste-anthropophagique au gouvernement Lula, surtout à ce qui se réfère à la recherche d'un nouveau lieu institutionnel du Brésil dans une société globalisé. La trajectoire de Gilberto Gil exemplifie, donc, la façon comme la chanson populaire est devenu une des plus grandes productions discursives dans l'antérieur de l'archive de « brésilité ». Mots-clés: archive des représentations du Brésil; tropicalisme; Gilberto Gil; Analyse du Discours; productions de subjectivité. SUMÁRIO INTRODUÇÃO O POÉTICO, O POLÍTICO E O MIDIÁTICO: 9 OS NÓS NA REDE DE GILBERTO GIL CAPÍTULO I DO DOMINGO DO PENSAMENTO AO CORPO MIDIÁTICO 29 1.1 AD e Tropicalismo 29 1.2 A metáfora no canto e o lugar do poético na AD 58 1.3 Tropicalismo e arquivo de brasilidade 75 1.4 Formação/circulação/recepção discursiva: ler, ver, ouvir o arquivo hoje 84 1.5 Identidade tropicalista-antropofágica: uma concepção contemporânea 89 CAPÍTULO II ARQUIVO TROPICALISTA: 98 ENTRE A POESIA, A POLÍTICA E A CIRCULAÇÃO MIDIÁTICA 2.1 Da guerrilha cultural nos canais do sistema ao Ministro Hacker 99 2.2 Entre a luta armada e o desbunde: o tropicalismo e a política 119 2.3 O poeta contemporâneo: a reinvenção da baianidade 143 2.4 Banda larga cordel: a síntese do político, do poético e do midiático
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