FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. COIMBRA, Arthur Antunes. Arthur Antunes Coimbra (depoimento, 2012). Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, 2013. 37p. ARTHUR ANTUNES COIMBRA (depoimento, 2012) Rio de Janeiro 2013 Transcrição Nome do Entrevistado: Arthur Antunes Coimbra Local da entrevista: Centro de Futebol Zico Sociedade Esportiva - Rio de Janeiro - RJ Data da entrevista: 21 de novembro 2012 Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral. Entrevistadores: Adelina Alves Novaes e Cruz (CPDOC/FGV) e Regina da Luz Moreira (CPDOC/FGV) Câmera: Bernardo Bortolotti e Ítalo Rocha Transcrição: Letícia Cristina Fonseca Destro Data da transcrição: 30 de novembro de 2012 Conferência de Fidelidade: Heitor Gomes ** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por Arthur Antunes Coimbra em 21/11/2012. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC. Adelina Novaes – Então, Zico, essa nossa entrevista vai ser um pouquinho da sua história de vida. Eu sei que você já deu milhões de entrevista, deve estar cansado de repetir, mas é um projeto voltado para a preservação da sua imagem, da sua voz no Museu do Futebol. Eu mais ou menos pensei: um pouco da sua vida privada, de infância; depois o Flamengo, a sua trajetória no Flamengo; depois a seleção – porque o objeto em específico é trabalhar com jogadores de seleção, que participaram das seleções brasileiras, das Copas do Mundo. Então, para começar eu queria que você nos dissesse, nós não sabemos de nada, onde você nasceu, quando, falar um pouco do seu Antunes, dos seus pais, dos irmãos e, em algum momento ali, eu li que você tinha um avô português rubro negro, se puder falar dele um pouquinho nesse comecinho. Arthur Coimbra – Bom, eu me chamo Arthur Antunes Coimbra e na época, quando eu era criança, me chamavam de Arthurzinho, Arthuzico ou Thuzico e eu tive 2 Transcrição uma prima chamada Ermelinda que pediu ao meu pai porque não deixar só Zico e foi praticamente ela que deu o nome de Zico. Então o meu nome Zico foi graças a isto. No Brasil a gente sabe que tem muitos diminutivos e seria até normal Arthurzinho, mas eu já tinha um irmão que era Tonico, aí ficavam me chamando de Arthuzico e ficou Zico mesmo. Foi até melhor, porque com os acontecimentos da minha vida, para dar autógrafos foi bem mais fácil. Em nasci em três de março de 1953, nasci no Rio de Janeiro, em Quintino, Bocaiúva, é um bairro do subúrbio do Rio. Fiquei morando lá até me casar com 22 anos de idade. O meu pai é um português lá de Tondela, o velho Antunes, e quando ele chegou ao Brasil ele foi ver uma partida de futebol entre Flamengo e América, o Flamengo perdeu de quatro a um, e ele ficou encantado com as cores da camisa do Flamengo, e passou a ser Flamengo. Coincidência que depois os filhos dele foram jogar justamente no Flamengo e no América. [riso] O meu pai era um alfaiate, teve a chance de jogar futebol, era um goleiro. Existia na época, final dos anos 1930 e início dos anos 1940, duas categorias, a amadora e a profissional, e o meu pai foi tricampeão pelo municipal como goleiro e foi convidado para jogar no Flamengo, para fazer um treino no Flamengo. Ele foi campeão em 1939, 1940 e 1941. E aí, como ele trabalhava em uma padaria, o dono da padaria era vascaíno e não permitiu que ele fosse treinar no Flamengo, e disse que se ele fosse para o Flamengo ele perderia o emprego. Naquela época o importante era o emprego. A partir daí o meu pai passou a ter ódio do Vasco por causa disso. E ele acabou indicando o que era reserva dele para o Flamengo, que era o Jurandir. E esse Jurandir acabou sendo titular do tricampeonato de 1942, 1943 e 1944, um dos goleiros. Quer dizer, era para ele ter sido goleiro do Flamengo nesse primeiro tricampeonato. Então, o meu pai, com isso, teve uma frustração grande, não seguiu o futebol. Casou com a minha mãe, dona Matilde, do Rio de Janeiro, teve seis filhos: a Maria José, que a gente chama de Zezé, o Antunes, que nós chamamos de Zeca, o Fernando, Nando, o Eduardo, Edu, e o Tonico e eu. Então a casa é só de rubro- negros. O meu pai, por ser flamenguista, quando nascia um filho ele dava o uniforme completo do Flamengo – meia, calção e camisa – e da seleção brasileira. O Edu, o Antunes e o Nando foram jogadores de futebol. O Antunes começou no Fluminense, ele que abriu as portas para a gente praticamente, o Edu jogou muito tempo no América, depois teve outros times, o Nando também - Madureira, foi a Portugal - e eu e o Tonico 3 Transcrição fomos treinar no Flamengo juntos, mas o Tonico acabou não ficando e eu fiquei. A minha irmã acabou sendo a madrinha, a mais velha, primeira de todas. Ela depois se formou professora, psicóloga. E o grande orgulho do meu pai é esse, não é que ele teve filhos jogadores de futebol famosos, mas sim porque todos os filhos são formados, economistas, Administração de empresa, Educação Física, Psicologia, enfim. Quando Deus chamou, ele foi feliz porque formou todos os filhos, já tinha 85 anos de idade. Então foi um grande aprendizado, o meu pai foi um grande alfaiate e me ajudou muito no futebol porque eu saía da escola, ia lá para a alfaiataria e via como ele era detalhista em relação aos cortes, ao fazer os ternos dos clientes e no futebol é preciso ser assim também. Morador de Quintino, jogando na rua minhas peladas. Desde os sete anos eu jogava pelada lá em Quintino e por ter qualidades todo mundo me chamava para jogar nos times dos bairros de lá, ali perto. Todo final de semana eu jogava em todo que é lugar até que eu fui chamado para jogar. Nós tínhamos um time de futebol de salão, que hoje se chama futsal, era o Juventude de Quintino, e eu fui chamado para jogar no torneio interno, no River. Tinha um clube que... O River disputava esse campeonato do Rio de Janeiro de futsal, mas esse campeonato era interno. Tinha um senhor, o senhor Joaquim que organizava todos os domingos pela manhã, eram dez times se não me engano, e eu fui jogar no Santos. Fomos tricampeões, eu fui artilheiro em todos os três anos e um desses jogos, eu fiz nove gols, o Celso Garcia foi me ver jogar e ficou apaixonado, ficou encantado e foi pedir ao meu pai se podia me levar para o Flamengo. Aí eu já estava com tudo encaminhado para ir para o América, mas o coração de torcedor falou mais alto e eu falei com o meu irmão Edu: “Eu prefiro tentar no Flamengo”. Ele falou: “Ah, não tem problema nenhum”. E fui para o Flamengo. Assim, aos 13 anos de idade começou a minha história dentro do Flamengo, na Gávea, quando eu fui fazer o meu primeiro treino em 1967. A.N. – Então, antes da gente entrar no Flamengo. Não sei se a Regina tem, eu tenho só duas dúvidas: uma, quando vocês nasciam, os filhos homens, o pai dava o uniforme completo da seleção e do Flamengo, a irmã ganhou? [riso] Porque o meu avô, quando nascia os filhos ele distribuía brindes, quando nascia as filhas ele... [riso] Tem que perguntar para a Zezé. 4 Transcrição A.C. – Tem que perguntar para a Zezé porque nunca foi falado nada a respeito disso. [riso] Nunca ninguém tocou nesse assunto e a Zezé também nunca reclamou de ter ganho... A.N. – Ela era bebê... A.C. – Ela podia reclamar mais velha, mas ela nunca reclamou e nunca comentou nada. A.N. – E nunca cobrou do pai? [riso] A.C. – Nunca cobrou do pai sobre ela nunca ter ganhado um uniforme do Flamengo. A.N. – Quando eu li eu falei: “Eu tenho que perguntar”. E outra na sua infância é que você quase foi pianista e você gostava? Quem lhe ensinou? A.C. – É verdade. Eu adoro piano, eu adoro música e o que aconteceu? A minha mãe tocava piano e, lógico, nasceu a primeira filha, era tudo o que ela queria para ser pianista. Mas não aconteceu. Depois de todos os irmãos não aconteceu nada, ninguém queria saber. Quando eu devia ter não sei se oito ou nove anos, ela comprou um piano e de vez em quando ela tocava. Aí fomos crescendo. Quando eu estava lá pelos 12 ou 11 anos, por aí, foi quando ela insistiu para que eu começasse a estudar piano e eu fui estudar. Eu toquei durante um ano, estudei e tudo por música mesmo. Se não me engano era duas vezes por semana que eu tinha aula com a professora e fazia em casa e tal. Agora, o que me desestimulou? O que me desestimulou foram as músicas da época que eu não conhecia. Por tocar... Por música era aquela sinfonia de não sei o que lá, e eu não sabia o que eu estava tocando, eu não conhecia nada, tanto é que eu toquei uma vez na televisão. Na TV Globo tinha um programa da Célia Biar e Ted Boy Marino se não me engano era “Oh! Que delícia de show” o nome do programa e tinha um quadro que ia uma pessoa famosa fazer uma apresentação e um dos caras que selecionava isso era o preparador físico do América dos meus irmãos.
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