Flora Arbórea Da Bacia Do Rio Tibagi (Paraná, Brasil): Celastrales Sensu Cronquist

Flora Arbórea Da Bacia Do Rio Tibagi (Paraná, Brasil): Celastrales Sensu Cronquist

Acta bot. bras. 21(2): 457-472. 2007 Flora arbórea da bacia do rio Tibagi (Paraná, Brasil): Celastrales sensu Cronquist Ricardo Augusto Gorne Viani1,3 e Ana Odete Santos Vieira2 Recebido em 3/01/2006. Aceito em 10/11/2006 RESUMO – (Flora arbórea da bacia do rio Tibagi (Paraná, Brasil): ordem Celastrales sensu Cronquist). Este trabalho estudou, por meio de coleções de herbários, os representantes arbóreos da ordem Celastrales sensu Cronquist, encontrados na bacia do rio Tibagi, estado do Paraná, Brasil. Esta bacia hidrográfica, subdividida em três zonas de norte para sul, baixo Tibagi (BT), médio Tibagi (MT) e alto Tibagi (AT), apresenta diferentes condições ambientais e tipos de vegetação ao longo de sua extensão. A ordem Celastrales está representada na bacia estudada por 15 espécies arbóreas, pertencentes às famílias Aquifoliaceae, Celastraceae e Icacinaceae. Icacinaceae conta com apenas duas espécies, Citronella gongonha e C. paniculata, sendo a primeira distinta pelo ovário glabro e folhas geralmente com espinhos. Aquifoliaceae contém seis espécies: Ilex brasiliensis, I. brevicuspis, I. chamaedryfolia, I. dumosa, I. paraguariensis e I. theezans, que ocorrem preferencialmente no AT e MT e se distinguem pela dimensão, revestimento, ápice e margem da folha e pela morfologia das sépalas. Celastraceae está representada por sete espécies pertencentes a dois gêneros, Plenckia populnea, espécie de cerrado, encontrada apenas no MT e seis espécies de Maytenus (M. aquifolia, M. dasyclada, M. evonymoides, M. ilicifolia, M. robusta e M. salicifolia), com distinção baseada principalmente no tipo de margem e dimensão das folhas, forma do ramo e número de flores por inflorescência. Palavras-chave: flora, Aquifoliaceae, Icacinaceae, Celastraceae, bacia do rio Tibagi ABSTRACT – (Tree flora of the Tibagi river basin (Paraná, Brazil): Celastrales sensu Cronquist). A study of the tree species of the order Celastrales sensu Cronquist from the Tibagi river basin, Paraná state, Brazil, is presented, based on herbarium material. This basin is subdivided into three zones, from north to south: lower Tibagi (BT), mid Tibagi (MT) and upper Tibagi (AT), each with different environmental conditions and vegetation types. The order Celastrales is represented in the basin by 15 tree species belonging to three families: Aquifoliaceae, Celastraceae and Icacinaceae. Icacinaceae has only two species, Citronella gongonha and C. paniculata. The former is distinguished by a glabrous ovary and leaves that usually bear thorns. Aquifoliaceae has six species: Ilex brasiliensis, I. brevicuspis, I. chamaedryfolia, I. dumosa, I. paraguariensis and I. theezans. These species are found mainly in AT and MT and are distinguished by leaf size, indument, apices and margins, and by sepal features. Celastrales is represented by seven species and two genera; Plenckia populnea, a Brazilian savannah species found only in MT, and six species of Maytenus (M. evonymoides, M. robusta, M. dasyclada, M. salicifolia, M. ilicifolia and M. aquifolia) distinguished by leaf size and margins, branch shape and number of flowers per inflorescence. Key words: flora, Aquifoliaceae, Icacinaceae, Celastraceae, Tibagi river basin Introdução freqüentemente negligenciados e por isso, também severamente afetados pelas atividades antrópicas. O Estado do Paraná, na Região Sul do Brasil, Além da eminente necessidade de recuperação contava em 2000 com uma cobertura florestal nativa da paisagem, destaca-se que até 1990 as florestas da correspondente a apenas 19,63% de sua área total bacia do rio Tibagi, uma das mais importantes da região, (Fundação SOS Mata Atlântica & INPE 2002), eram pouco conhecidas floristicamente, com poucos composta principalmente por fragmentos florestais registros de coleta para a região (Dias et al. 2002). isolados e degradados. A mesma situação ocorre por Diante disto, surgiu em 1989, o projeto “Aspecto da toda bacia hidrográfica do rio Tibagi, onde a cobertura fauna e flora da bacia do rio Tibagi”. Um de seus florestal nativa foi reduzida em aproximadamente 96%, subprojetos, “Flora arbórea do rio Tibagi”, do qual faz restando poucos remanescentes preservados (Medri parte este trabalho, tem por objetivo levantar e estudar et al. 2002), sem contar a degradação de ecossistemas a composição florística da bacia, fornecendo não florestais, como cerrados e campos naturais, importantes subsídios para a conservação dos recursos 1 Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia, Departamento de Botânica, Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal, C. Postal 6109, 13083-970 Campinas, SP, Brasil 2 Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Biologia Animal e Vegetal, C. Postal 6001, 86051-990 Londrina, PR, Brasil 3 Autor para correspondência: [email protected] T_19_ACTA_21(2).pmd 457 27/06/2007, 17:18 458 Viani & Vieira: Flora arbórea da bacia do rio Tibagi (Paraná, Brasil): ordem Celastrales sensu Cronquist naturais e recomposição de áreas com vegetação nativa Florestas da EMBRAPA, Colombo-PR (HFC). (Medri et al. 2002). Até o momento, foram listadas O trabalho constou de fichamento dos materiais 547 espécies arbóreas para a Bacia do rio Tibagi, distri- examinados, identificação e descrição das famílias, buídas em 239 gêneros e 80 famílias (Dias et al. 2002). gêneros e espécies, bem como confecção de chaves A ordem Celastrales, sensu Cronquist (1988), é analíticas de identificação de gêneros e espécies. Dados constituída por dez famílias, com espécies como altura dos indivíduos, fenologia (data de floração predominantemente lenhosas de regiões tropicais e e frutificação), coloração de flores e frutos e subtropicais (Barroso et al. 1991). As primeiras obras particularidades de cada espécie foram obtidos por importantes, com relatos e descrições sobre espécies meio das fichas de coleta. brasileiras pertencentes a esta ordem foram feitas por Os termos morfológicos utilizados para as Reissek (1861), Loesener (1942a; 1942b) e Sleumer descrições das espécies seguiram os incluídos nos (1942). Para o Brasil, segundo a classificação proposta tratamentos recentes para as famílias no Brasil, por Cronquist (1988), a ordem Celastrales contém cinco Aquifoliaceae (Groppo & Pirani 2002), Celastraceae famílias, sendo que três destas, Aquifoliaceae, (Carvalho-Okano 2005) e Icacinaceae (Mazine et al. Celastraceae e Icacinaceae, contam com represen- 2005). As medições dos caracteres vegetativos e dos tantes arbóreos na bacia do rio Tibagi. Aquifoliaceae é frutos foram efetuadas no material seco e das flores reconhecida pelas flores díclinas e Icacinaceae pelas em material reidratado. Para a citação dos materiais flores monóclinas, ambas sem disco nectarífero, já examinados foi selecionada uma exsicata representativa Celastraceae apresenta flores monóclinas com disco da espécie, em cada município de ocorrência. Uma nectarífero bem desenvolvido. listagem completa dos materiais examinados de cada Ressalta-se que os últimos sistemas de espécie encontra-se disponível com os autores. Foram classificação propostos para as angiospermas, baseados utilizadas as seguintes abreviações: b. (material com principalmente em técnicas de biologia molecular, têm botões florais), fl. (material com flores), fr. (material indicado novas posições filogenéticas para as famílias com frutos), veg. (material em estado vegetativo) e citadas acima. De acordo com o sistema de s.n. (sem número de coletor). Como materiais adicionais classificação APG II (APG 2003), Celastraceae (com foram citadas as exsicatas utilizadas para a confecção incorporação de Hippocrateaceae) pertence à ordem das ilustrações, quando estas não estavam no material Celastrales (Eurosids I), Aquifoliaceae à ordem selecionado da espécie e também materiais de Aquifoliales (Euasterids II) e Icacinaceae pertence à municípios localizados fora da bacia do rio Tibagi. Euasterids I, com posição ainda incerta quanto à ordem. Porém ressalta-se que, com exceção das Devido a estas incertezas quanto às posições Ilex chamaedryfolia filogenéticas dos sistemas moleculares e por ser o características do fruto em sistema de Cronquist ainda conhecido, adotou-se este (espécie sem material examinado em frutificação para último nesse trabalho. os municípios da área de estudo), as demais observações Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi realizadas em exsicatas de municípios localizados fora descrever morfologicamente e elaborar chaves de iden- da bacia do rio Tibagi não foram utilizadas para a tificação das espécies arbóreas da ordem Celastrales descrição morfológica das espécies. sensu Cronquist, encontradas na bacia do rio Tibagi, Área de estudo – A bacia do rio Tibagi (22º30’-26ºS e Paraná, contribuindo para o melhor conhecimento deste 49º30’-52ºW), localizada no estado do Paraná, conta grupo de plantas e da flora regional como um todo. com 54 municípios e cobre cerca de 25.000 km2 (Fig.1). É a terceira maior bacia hidrográfica do estado, Material e métodos ocupando 13% de sua área total. O rio Tibagi nasce em Palmeira, no segundo planalto e corre em direção Para o presente estudo foram consultadas ao terceiro planalto, desembocando no rio Parana- exsicatas depositadas no herbário FUEL, provenientes panema, no município de Primeiro de Maio. Sua bacia de coletas sistemáticas realizadas na região da bacia hidrográfica é subdividida em três zonas de norte para do rio Tibagi, a partir de 1985, acrescido de materiais o sul, o baixo Tibagi (BT), o médio Tibagi (MT) e o oriundos dos herbários ESA, HUEM, HUPG, MBM, alto Tibagi (AT), com altitudes entre 350-1.150 m

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