Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de História Programa de Pós-graduação em História Social Migrantes cearenses no Pará: faces da sobrevivência (1889-1916) Franciane Gama Lacerda Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em Ciências. Orientador: Prof. Dr. Marcos Antônio da Silva São Paulo 2006 Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de História Programa de Pós-graduação em História Social Migrantes cearenses no Pará: faces da sobrevivência (1889-1916) Franciane Gama Lacerda São Paulo 2006 Para Conceição e Francisco Hebe e Ivan Ester e Rafael Agradecimentos Este trabalho foi possível graças ao apoio da Universidade Federal do Pará e do programa PICDT/CAPES. Essa tese é também fruto do carinho, da atenção, da bondade e do amor de algumas pessoas que ao longo desses quatro anos, conviveram comigo, dando-me o incentivo e o apoio necessário para o término do trabalho. Nesta página, fico vendo a própria tese se delineando, na medida em que junto com a sua escrita, muitas histórias foram acontecendo. Começo agradecendo ao meu orientador professor Marcos Antonio da Silva, hábil leitor que, com sua extrema sensibilidade, soube orientar-me e indicar-me os melhores caminhos para tese. Agradeço igualmente às professoras Yara Khoury, e Eni de Mesquita Samara, pelas contribuições dadas no exame de qualificação; sem dúvida, muito das discussões incorporadas na tese foi fruto desse momento e dos cursos que tive com essas professoras, em momentos diversos. Nesse contexto, minha orientadora de mestrado, professora Déa Ribeiro Fenelon, foi pessoa muito importante, sua amizade e inspiração acadêmica se refletem no trabalho que faço hoje. Na trilha dos orientadores, meu muito obrigada a Maria de Nazaré Sarges, a Naná, uma amiga sempre presente, sempre se alegrando. Em momentos e lugares diversos, pude contar com a ajuda e apoio de várias pessoas. Agradeço aos colegas e amigos do Departamento de História da UFPA, em especial a Aldrin Moura de Figueiredo. Agradeço também a Pere Petit, Claudia Fuller, Alírio Cardozo e Sara Alonso. A Keila Aguiar e Raimundo Corpes. Aos meus compadres e amigos Antonio Otaviano Vieira Júnior, o Zorro, e Cristina Cancela. E à família do Zorro, Rita, Clérides e David, e também a Mardônio Guedes. Ao longo desses quatro anos, tive dois portos seguros, a família de Castanhal e a de Campinas. Merece especial agradecimento, nesse sentido, minha irmã Maria Vitória, para mim, a sempre “maninha”, para a Ester, a “Tetéia”, que, acompanhada dos “pré-selvagens”, esteve sempre pronta para me ajudar. O mesmo posso dizer ao Matias e à Ingrid que, junto com o Tiago, estiveram sempre muito presentes. Por fim, agradeço a Francisco e Conceição, meus pais, Hebe e Ivan, os pais do Rafael, que sofreram e se alegraram comigo ao longo da feitura desse trabalho, dando-me o incentivo e o amor necessário para que tudo corresse sempre bem. O mesmo vale também para meus dois amores, Rafael e Ester, que foram as pessoas fundamentais para que este trabalho ficasse concluído. Sem eles, a pesquisa e a escrita da tese não teriam tido a mesma graça e nem tão pouco a mesma importância. Ester, desde que nasceu em 2000, se viu envolvida com essa história de tese, primeiro a do pai, depois teve que esperar mais um ano pela tese da mãe. Com ela, aprendi que um trabalho acadêmico é feito com livros, fontes de arquivos, mas também com brincadeiras, trocas de fraldas, bonecas, a exemplo de Bibi e Lilica, bicicletas, pirulitos, “praias” com o Heitor, e todas as coisas que uma criança sempre pode trazer. Ao longo desse período, Rafael esteve sempre muito presente, sendo meu grande incentivador; não tenho dúvida de que sua paciência, sua tranqüilidade, sua alegria e, sobretudo, seu amor foram fundamentais. Resumo Entre 1889 e 1916, sob a influência da economia da borracha e do interesse pelo desenvolvimento da agricultura, o Pará experimenta a chegada de grande número de migrantes cearenses que, movidos pelos problemas da seca, ou atraídos pelas alternativas de trabalho que essa região oferecia, para lá se deslocavam, vivenciando variadas experiências sociais. Esta tese discute essa experiência, examinando os muitos significados atribuídos a ela pelos migrantes, desde sua saída do Ceará até sua instalação no Pará nos núcleos coloniais, na capital paraense e nos seringais. Igualmente, trata-se de perceber os sentidos que os poderes públicos do Ceará e do Pará deram a esse processo migratório. Parte da historiografia que se debruçou sobre o tema solidificou a imagem dos migrantes cearenses como pobres flagelados pela seca ou como semi-escravos nos seringais, presos aos revezes da natureza ou à exploração de um patrão. Entretanto, a experiência migratória tem outras dimensões. Nela estão também presentes a luta pela sobrevivência, pelo trabalho e pela posse da terra, revelando conflitos, laços de afetividade com a família, com a terra natal dos migrantes, redes de solidariedade e uma estreita relação entre a floresta e a cidade. Abstract Between 1889 and 1916, numerous people left the state of Ceará (Brazil) and migrated to the state of Pará, influenced by the rubber boom and by an agricultural policy. These people were compelled to migrate owing to the serious droughts which afflicted their native land, and also seduced by the many labour offers in Pará, where they endured a variety of social experiences. This dissertation discusses these experiences, focusing on the meaning given by the migrants themselves to the process of migration, from the departure from Ceará until their settlement in Pará (whether in the colonies, in the capital or in the rubber fields). It also analyses the meaning given to migration by the government. Part of the historiography which has addressed these issues stresses the image of a poor and defenceless migrant, a victim of the droughts or chained to an unpredictable nature or to a ruthless employer. However, migration has many other senses. In this process, migrants also fought for their life, their labour and their land, unveiling conflicts, affective tights with their family and their native country, solidarity, and a close relation between the forest and the city. Palavras-Chave Migração; Amazônia; Cearenses; Séculos XIX-XX; História Social Key-words Migration; Amazonia; Cearenses; Nineteenth and Twentieth Centuries; Social History Índice Introdução .........................................................................................1 I. Migração nordestina ao Pará, historiografia e algumas propostas de trabalho ..............................14 II. Natureza cearense e natureza amazônica........................................66 1. A seca ........................................................................................................... 69 2. A chuva ........................................................................................................ 85 3. O sertão ........................................................................................................ 92 4. A floresta.................................................................................................... 100 III. A saída do Ceará e a chegada ao Pará...........................................127 1. Poder público e migração........................................................................... 131 2. A viagem .................................................................................................... 159 3. A caridade .................................................................................................. 179 IV. Migrantes cearenses na cidade de Belém .....................................197 1. Águas, noites .............................................................................................. 204 2. Seringueiros................................................................................................ 225 3. Cenas da vida cearense na capital do Pará ................................................. 245 V. Migrantes cearenses e colonização ...............................................259 1. Núcleos coloniais ....................................................................................... 275 2. Produção..................................................................................................... 288 3. Conflitos e Festas ....................................................................................... 302 Conclusão......................................................................................319 Fontes ............................................................................................321 Bibliografia ...................................................................................329 1 Introdução José Luiz, Mariano José de Souza, Maria Isabel do Espírito Santo, Maria Xavier, Manuel Pereira de Melo, Juvínia Mendes da Costa, Lúcio Francisco da Frota, Manuel Caetano, João Antonio Fernandes, Francisco de Souza, Luiz Pereira de Araujo, Miguel Alves Maia, Luiza, Francisca do Espírito Santo, Maria Thereza de Jesus, Maria de Hollanda, Thereza Maria de Jesus, Francisco Pinto de Mesquita Magalhães, José Raymundo Machado Freire, Luis Leitão, Maria Ribeiro da Silva, Maria Joaquina, Antonio Ricardo, Luiz Martiniano Barbaosa, Antonio Soares de Souza, Edviges Maria de Jesus, Manoel Dantas, Firmino Ferreira de Matos, Alberto de
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