Dos mares do Japão às Terras Brasileiras: Algumas considerações sobre o Brasil, a imigração japonesa e sua influência na agricultura Gil Vicente Nagai Lourenção1 Resumo Este artigo trata da presença japonesa na agricultura brasileira vinculadose oferece uma do pontosíntese de da vista imigração brasileiro. japonesa Em segundo, e alguns apresenta números a respeito. Ele traz o contexto de inicio da imigração e interesses- ções sobre as colônias pioneiras relacionando os locais e princi- fatos notórios em relação a imigração. Em terceiro, traz informa resumopais produções das principais e, por fim, colaborações os projetos e conjuntosprojetos realizados desenvolvidos pelo no Brasil com apoio do Japão. Em suma, trata-se de um pequeno Palavras-chave: - Japão em território Brasileiro. Imigração Japonesa; Japão; Projetos; Agricul tura; Infraestrutura. 1 - vers Doutorando em Antropologia Social – Universidade Federal de São Carlos. Laboratório de Estudos Migratórios-UFSCar; Laboratório de Estudos da Japonesidade - TsukubaUni ity [email protected] TOMO. N. 26 JAN/JUN. | 2015 166 DOS MARES DO JAPÃO ÀS TERRAS BRASILEIRAS From the japanese seas to the brazilian lands: thoughts about brazil, the japanese immigration and their influence on agriculture. Abstract regarding.This paper Itdiscusses brings the the beginning Japanese ofimmigration immigration and and the concerned influence in agriculture and provides a overview of it and some numbers- rious facts regarding to immigration. Third, provides informa- tioninterests about of pioneeringthe Brazilian settlements point of view. and Second,main productions presents noto and, In short, this is a brief summary of the main collaboration and finally, joint projects developed in Brazil with Japanese support. Keywords: Infrastructure.projects undertaken by Japan in Brazil. Japanese Immigration; Japan; Projects; Agriculture; Introdução A história da imigração japonesa para o Brasil possui um longo- çõescomeço. e retomadas, Principiando-se e tendo através como demotor acordos original na últimaas relações década entre do século XIX, percorrendo grande parte do século XX com interrup - Brasil e Japão, cada qual com questões a resolver internamente e às voltas com a consolidação de processos de nação. A imigra ção japonesa transcorreu durante praticamente todo o século XX no Brasil, e deixou marcas profundas em diversas áreas, desde as humanidades, das biológicas às exatas, ao comércio, agricultura, a- ponto de chegarmos ao século XXI com a percepção de que se não fosse a coragem dos pioneiros migrantes – todos e das mais dife rentes culturas – e a continuidadeTOMO. N. 26 JAN/JUN. de suas | 2015 relações em termos de 167 Gil Vicente Nagai Lourenção - confronto e propagação cultural e de uma série de fatores de ordem política, social – em suma, fatores conjugados no termo amplo ‘cul- tura’ – não poderíamos falar de fato na existência de uma ‘cultura Nipo-Brasileira’, apontando para o horizonte das mútuas influên cias. Proponho neste texto falar apenas no que tange à condição- ponesado Brasil e, nesseno nível contexto, mais geral, mas umalembremo-nos conjuntura de de que fatores foi a interna relação- entre Brasil e Japão que tornou singular a questão da migração ja comocionais o quemaior possibilitaram receptor de imigrantes ao Japão a japoneses, tomada do como Brasil é como de conhe local- cimentode interesse comum. para Tambémum êxodo é importantepopulacional ressaltar que configurou a presença o último nipo- -brasileira no Japão atualmente, indicando que as relações entre os dois países são amplas, embora em contínua transformação. - - Este artigo é um comentário sobre o contexto de inicio da imi algumasgração japonesa, informações do ponto sobre de as vista colônias brasileiro, pioneiras apresentando relacionando al guns fatos notórios em relação a este início. Apresenta também- locais e principais produções e, por fim, alguns projetos conjun tos desenvolvidos no Brasil com apoio do Japão. Nota anterior à abolição do tráfico de escravos e fim do império - guesa e para os seus contínuos governantes uma das maiores A ocupação do território brasileiro foi para a metrópole portu- preocupações, desde que Portugal decidiu tomar posse do terri- tório, ainda no século XVI. Uma das estratégias de colonização foi- explorar e posteriormente garantir a fixação através da agricul- poletura. portuguesaSobre a fixação tudo no o queterritório, pudesse o Brasilser viável – que economicamente, tinha tratamen to de colônia de exploração, ou seja, era de interesse da metró- te, por meio do pacto colonial, que postulava que o comércio do teve o ciclo da cana de açúcar nos séculos XVI e XVII no Nordes TOMO. N. 26 JAN/JUN. | 2015 168 DOS MARES DO JAPÃO ÀS TERRAS BRASILEIRAS produto, ou seja, do açúcar, só poderia ser feito com a metrópole - nhor de engenho e o escravo2. A cana-de-açúcar, com o uso da e sem concorrência. Nesse modo de produção se destacam o se- mão de obra escrava, ocupou o litoral úmido do nordeste e algu- camentemas regiões pelo do ciclo sudeste, do ouro, deixando que compreendeu extensas áreas a retirada inexploradas deste metalem direção dos atuais ao Oeste Estados brasileiro. de Minas O século Gerais, XVIII Mato foi Grosso marcado e Goiás basi e tornandoenvio à metrópole. importante Posteriormente, do ponto de vista no século econômico, XIX até fornecendo a primeira metade do século XX, a cultura do café foi progressivamente se- a linha mestra da pauta de exportação do Brasil. As grandes fa zendas de café se expandiram pelo Vale do Paraíba, na província- do Rio de Janeiro, penetrando em seguida no sudeste de Minas Gerais e norte de São Paulo. O avanço do café coincidiu com a de acadência ser progressivamente das lavouras tradicionais substituídas de em algodão importância e açúcar, pelo que café. foram A lavouraimportantes cafeeira produtos proporcionou de exportação aos grandes para o Brasil proprietários e que passaram rurais sua supremacia política perante as demais províncias do país. do Sudeste o suporte econômico necessário para consolidarem Por volta de 1875, começou a delinear-se uma nítida separação, no Sudeste, entre duas zonas cafeeiras distintas. De um lado,- sávelo Vale pelo do Paraíba esgotamento e adjacências, dos solos, onde a queda dominavam da produtividade as relações ede a decadênciatrabalho escravistas dos cafezais e um após sistema algumas de exploração décadas de que prosperidade. foi respon - Do outro lado, o chamado Oeste Paulista, a área de terra roxa em torno de Campinas e Ribeirão Preto, cujos fazendeiros, que in quetroduziram se tornava melhorias escassa no e consequentemente processo de cultivo cara, e beneficiamento pelo trabalho do café, foram os primeiros a substituir a mão de obra escrava, 2 Que era traficado nas costas africanas pelos Portugueses e vendido em mercados nas regiões costeiras do Brasil, principalmenteTOMO. N. 26 JAN/JUN. no nordeste. | 2015 169 Gil Vicente Nagai Lourenção assalariado livre, quer de brasileiros, quer de imigrantes. Indica- tivo dessa passagem do Rio de Janeiro a São Paulo são os dados:- em 1860, 80% da produção cafeeira provinha ainda da província- do Rio de Janeiro. Por volta de 1885, a produção paulista ultra passou a fluminense e, nos últimos anos do séc. XIX, correspon deu a quase metade da produção global do país. - principiadaA mudança pelada mão Europa de obra e pela escrava Inglaterra. para Aa últimalivre não teve foi relevân pacífi- ca no Brasil, e teve influência de uma conjuntura internacional cia na extinção do tráfico e comércio de escravos e, a partir de- 1807, passou a mover intensa campanha internacional contra o tráfico negreiro. Nas negociações do reconhecimento da inde pendência do Brasil, por exemplo, a Inglaterra condicionara o seu apoio à extinção do tráfico e forçara Dom Pedro I a assinar, em 1826, um convênio no qual se comprometia a extingui-lo em ruraistrês anos. impediu Cinco que anos isso depois, se consolidasse. a regência Estimuladoproibiu a importação pela cres- de escravos (1831), mas a oposição dos grandes proprietários - cente procura de mão de obra para a lavoura cafeeira, o tráfico de escravos aumentou: desembarcaram no Brasil 19.453 escra vos em 1845, 60 mil em3 1848 e 54 mil em 1849. - Em setembro de 1850 , foi promulgada a Lei da Extinção do Tráfi co Negreiro, mais conhecida como Lei Eusébio de Queirós. O fim da dosimportação decadentes de escravos engenhos estimulou de açúcar o dotráfico Nordeste interprovincial: e do Recôncavo para saldar suas dívidas com especuladores e traficantes, os senhores ForçadosBaiano passaram pela escassez a vender, e encarecimento a preços elevados, do trabalhador seus escravos escravo, para váriosas prósperas cafeicultores lavouras paulistas do vale docomeçaram Paraíba e aoutras trazer zonas colonos cafeeiras. euro- peus para suas fazendas. A mão de obra assalariada, porém, só se3 Em tornaria 1851, ainda importanteentraram 3.827 escravosna economia no Brasil, e brasileiraapenas 700 no depoisano seguinte. de 1870, TOMO. N. 26 JAN/JUN. | 2015 170 DOS MARES DO JAPÃO ÀS TERRAS BRASILEIRAS quando o governo imperial passou a subvencionar e a regularizar a imigração, e os proprietários rurais se adaptaram ao sistema de contrato de colonos livres. Mais de um milhão de europeus (dos quais cerca de 690 mil italianos) imigraram para o Brasil em fins passagemdo século XIX.do Império O importante a República, a ser notadopassagem na essasegunda que foimetade possível do Século XIX no Brasil são as transformações que originaram da - borapor uma estas ‘revolução duas
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