Amblyomma Dissimile (Acari: Ixodidae) Em Hydrodynastes Gigas (Squamata: Colubridae) No Estado Mato Grosso Do Sul, Brasil – Nota Prévia

Amblyomma Dissimile (Acari: Ixodidae) Em Hydrodynastes Gigas (Squamata: Colubridae) No Estado Mato Grosso Do Sul, Brasil – Nota Prévia

400 Amblyomma dissimile (Acari: Ixodidae) em Hydrodynastes gigas (Squamata: Colubridae) no estado Mato Grosso do Sul, Brasil – Nota Prévia Cristine Dossin Bastos 1 – Curso de Medicina Veterinária da Universidade Luterana do Brasil, FISCHER1 Canoas-RS Vanessa Daniele MOTTIN1 2 – Curso de Biologia da Universidade Federal da Bahia, Salvador-BA Márcia HEERDT1 2 Thiago FILADELFO Resumo Palavras-chave: Victor Hermes CERESÉR1 Serpente. Maria Teresa QUEIROLO1 Hydrodynastes gigas. Mariangela Costa A Hydrodynastes giga, (Duméril, Bibron & Duméril, 1854) vulgarmente Surucucu-do-pantanal. ALLGAYER1 conhecida como surucucu-do-pantanal, é uma serpente de grande Carrapato. porte, que ocorre no norte, centro-oeste, sudeste e sul do Brasil e que Amblyomma dissimile. pode ser parasitada por ectoparasitos como os carrapatos do gênero Correspondência para: Cristine Dossin Bastos Fischer, Hospital Amblyomma. Em dezembro de 2007 foram coletados manualmente Veterinário da ULBRA, Av. Farroupilha, três carrapatos de uma serpente H. gigas no pantanal de Miranda, MS, 8001, prédio 25, sala 204, Canoas-RS, Brasil (19º51’-19º58’S; 56º17’-56º24’W). Os carrapatos foram 92425-900, (51) 3477-9214 Ramal 2662 Fax: (51) 3477-9284, armazenados e enviados para o Laboratório de Parasitologia do e-mail: [email protected] Hospital Veterinário da ULBRA, Canoas, RS, onde foi realizada a identificação de três machos da espécie Amblyomma dissimile. A presente Recebido para publicação: 01/10/2008 nota faz o primeiro relato de A. dissimile parasitando serpentes da Aprovado para publicação: 24/09/2009 espécie H. gigas no pantanal de Miranda, MS, Brasil. A Hydrodynastes giga (Duméril, Bibron podem localizar-se entre as escamas das & Duméril, 1854) é uma serpente de grande serpentes, especialmente por baixo da porte, que pode atingir 250 cm de cabeça, na cavidade ocular, região periocular, comprimento total. É também denominada regiões lateral e dorsal do corpo, sendo mais surucucu-do-pantanal ou em tupi-guarani numerosos no terço anterior da serpente; boipevaçu (boipeva = cobra chata; raramente estes parasitos são encontrados açu = grande). A H. gigas é descrita no Peru, entre escamas ventrais.2 Paraguai, nordeste da Argentina e norte, O gênero Amblyomma pertence à centro-oeste, sudeste e sul do Brasil, família Ixodidae, grupo Metastriata, cujos principalmente na região do pantanal sul- membros são denominados carrapatos mato-grossense. Devido à baixa densidade duros, por causa da presença de um rígido populacional essa espécie é considerada escudo quitinoso que cobre sua superfície. vulnerável; sendo abatida com frequência São carrapatos grandes, geralmente pelo homem quando encontrada no campo.1 ornamentados, cujas patas têm faixas Os carrapatos podem parasitar coloridas; há olhos e festões. Os palpos e o diversos animais, entre eles os répteis, que hipostômio são longos e não há placas incluem os ofídeos como as serpentes. Estes ventrais nos machos. O último artículo do ectoparasitos utilizam seu aparelho bucal palpo (artículo IV) é de posição ventral, para fixar-se em seus hospedeiros; alguns situado em uma cavidade na extremidade injetam toxinas com a saliva que afetam o distal do artículo III. Apresentam ainda a base metabolismo do hospedeiro, ocasionando dorsal do capítulo quadrangular a hexagonal debilidade, decréscimo do hematócrito, (em algumas espécies pode ser subtriangular) paralisia e até a morte.2 Outros podem e a placa espiracular geralmente em forma transmitir protozoários intraeritrocitários de vírgula, que está estão situada como o Hepatozoon sp. que também podem posteriormente ao quarto par de pernas. São causar a morte dos animais.3 Os carrapatos carrapatos de três hospedeiros. A presença Braz. J. vet. Res. anim. Sci., São Paulo, v. 46, n. 5, p. 400-403, 2009 401 e a forma do sulco marginal nos machos é A. dissimile parasitando uma serpente (H. importante para o diagnóstico específico no gigas), colaborando com o enriquecimento gênero Amblyomma.4 de estudos na área de parasitologia O gênero Amblyomma está distribuído veterinária, no pantanal de Miranda - MS. em grande extensão geográfica, abrangendo Em dezembro de 2007 foram todos os continentes, com exceção da coletados manualmente três carrapatos da Antártida. Cerca de 110 espécies já foram serpente H. gigas (Figura 1) de vida livre descritas para este gênero em todo o mundo, encontrada no pantanal de Miranda - MS, sendo que metade dessas espécies se encontra Brasil (19º51’-19º58’S; 56º17’-56º24’W). Os nas Américas, poucas na Austrália, apenas carrapatos estavam localizados entre as uma na Europa e o restante entre a Ásia e a escamas na região dorsal do corpo no terço África.5 Segundo Aragão e Fonseca6, no anterior da serpente (Figura 2). A serpente Brasil ocorrem 33 espécies deste gênero. media 150 cm de comprimento, A espécie Amblyomma rotundatum é apresentava-se clinicamente saudável e logo comum no Brasil parasitando vertebrados foi liberada para seu habitat natural. Os de sangue frio2, assim como a espécie carrapatos foram armazenados em frascos Amblyomma dissimili, carrapato de iguanas e identificados, contendo álcool 70%, e que ocorre também nos Estados Unidos enviados para o Laboratório de Parasitologia (Flórida), México, Antilhas, Colômbia, do Hospital Veterinário da ULBRA, Venezuela e Argentina. No Brasil é citada Canoas, RS. no PA, MT, MS, AC, SP.7 O A. dissimile é uma Por meio de identificação ao espécie comum em répteis, parasitando mais estereomicroscópio foi possível identificá- de 60% dos ofídios, 72% dos sapos e 84% los como três carrapatos duros, com escudo dos lagartos e iguanas do Panamá.8 Brum e quitinoso ornamentado que cobria toda a Rickes9 encontraram A. dissimile em serpente superfície dorsal, com os palpos e o sucuri no parque zoológico do Rio Grande hipostômio longos e sem a presença de do Sul e o Amblyomma fuscum foi relatado placas ventrais, características compatíveis por Martins et al.10, parasitando um lagarto. com machos do gênero Amblyomma.12 Cançado11 identificou A. dissimile em jabutis Segundo Barbosa et al.2, este gênero é (Geochelonia carbonaria) e jararacas (Bothrops comumente encontrado parasitando répteis matogrossense) na região do pantanal sul. e, Aragão13 relata que este carrapato já foi O objetivo desta nota foi levar à citado para os estados do Pará, Pernambuco comunidade científica o conhecimento de e Mato Grosso, parasitando jibóia e iguana. Figura 1 - Hydrodynastes gigas, vulgarmente Figura 2 - Carrapatos da espécie Amblyomma denominada surucucu-do-pantanal, dissimile localizados em serpente Pantanal de Miranda - MS, Brasil (20/12/ Hydrodynastes gigas entre as escamas na 2007) região dorsal do corpo no terço anterior, pantanal de Miranda - MS, Brasil (20/12/ 2007) Braz. J. vet. Res. anim. Sci., São Paulo, v. 46, n. 5, p. 400-403, 2009 402 Cançado11 relata esta parasitose em jabutis e podendo causar dermatite vesicular ou jararacas também no pantanal, MS. No Rio necrozante nos animais, além de anemia. Grande do Sul, parasitando animais de A localização dos carrapatos entre as sangue frio, foram citados Amblyomma fuscum, escamas na região dorsal do corpo no terço Amblyomma sculatum e Amblyomma sp. anterior da serpente concordam com a similarmente à Amblyomma goeldii em lagarto citação de Barbosa et al.2 e Cançado11, que e A. rotundatum em jibóia.14 afirmam que os parasitos geralmente estão Posteriormente, realizou-se a entre as escamas das serpentes, na região identificação da espécie, o escudo dorsal do corpo, sendo mais numerosos no apresentava coloração acobreada, revelando terço anterior sendo raramente encontrados um pseudo-escudo na porção anterior e entre escamas ventrais. foram verificadas algumas pontuações Os carrapatos foram removidos maiores e menores de coloração mais claras manualmente, concordando com Lane e em todo o escudo. Nos machos analisados Mader17, que sugerem a retirada manual de havia ausência de sulco marginal; na coxa I carrapatos quando estes estiverem em com dois espinhos, curtos; coxas II e III com número limitado. Deve-se ter cuidado nesta dois espinhos pequenos, o interno menor; remoção, já que se as peças bucais ficarem as coxas IV, apresentavam dois espinhos, um no hospedeiro, poderão favorecer uma interno curto e o espinho externo mais longo infecção bacteriana secundária. e com o ápice afilado. Estas características Cançado11 afirma que a ixodofauna são descritas por Onofrio15 para a espécie do pantanal ainda carece de estudos A. dissimile, confirmando-se, portanto, se relacionando a biologia dos hospedeiros e tratar de três machos da espécie A. dissimile. de seus parasitas e fornece uma lista atual Os exemplares de carrapatos foram das principais espécies de carrapatos encontrados parasitando uma serpente da encontradas na região do pantanal sul do espécie H. gigas, no estado do Mato Grosso MS, incluindo o A. dissimile parasitando do Sul, Brasil, estando de acordo com a área jararacas e jabutis. Contribuindo para de distribuição geográfica descrita para esta ixodofauna do pantanal e do Brasil, a serpente.¹ A serpente encontrava-se em presente nota faz o primeiro relato de A. estado de higidez, mas Murray16 afirma que dissimile parasitando serpentes da espécie H. o A. dissimile pode transmitir nematódeos gigas neste Estado. A gama de ectoparasitas filarídeos dos gêneros Oswaldofilaria, Foleyella em animais silvestres é ampla e permite que e Macdonaldius que quando adultos se novas espécies sejam incluídas como localizam no sistema vascular dos répteis, hospedeiros definitivos. Amblyomma dissimile (Acari: Ixodidae)

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