Sobre Ter E Não Faltar

Sobre Ter E Não Faltar

Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável Sobre Ter e Não Faltar Segurança Alimentar e Territorialidade Kalunga no Cerrado Cecilia Ricardo Fernandes Tese de Doutorado Brasília – DF, abril de 2019 Universidade de Brasília – UnB Centro de Desenvolvimento Sustentável - CDS UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Sobre Ter e Não Faltar Segurança Alimentar e Territorialidade Kalunga no Cerrado Cecilia Ricardo Fernandes Orientador: Ludivine Eloy Tese de Doutorado Brasília – DF, abril de 2019 Fernandes, Cecilia Ricardo Sobre Ter e Não Faltar: Segurança Alimentar e Territorialidade Kalunga no Cerrado. Cecilia Ricardo Fernandes. Brasília, 2019. 303 p.: il. Tese de Doutorado. Centro de Desenvolvimento Sustentável. Universidade de Brasília, Brasília. 1. Segurança Alimentar. 2. Agrobiodiversidade. 3. Quilombola. 4. Territorialidade.5.Cerrado. I. Universidade de Brasília. CDS. II. Título. É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação e emprestar ou vender tais cópias, somente para propósitos acadêmicos e científicos. A autora reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito da autora. ____________________________________ Assinatura 2 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Sobre Ter e Não Faltar Segurança Alimentar e Territorialidade Kalunga no Cerrado Cecilia Ricardo Fernandes Tese de doutorado submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Doutora em Desenvolvimento Sustentável. Aprovado por: ________________________________________ ________________________________________ Ludivine Eloy (CNRS - CDS/UnB) Mônica Celeida Rabelo, Doutora (FUP/UnB) (Orientador) (Examinador Externo) ________________________________________ ________________________________________ Stéphane Guéneau (CIRAD - CDS/UnB) Patrica Goulard Bustamante (EMBRAPA) (Examinador Interno) (Examinador Externo) Brasília-DF, 29 de Abril de 2019. 3 DEDICATORIA À comunidade Kalunga, que resiste através dos séculos. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos os Kalungas por terem aceitado e se interessado por essa pesquisa, em especial aquelas famílias que me acolheram durante os trabalhos de campo (muitas para serem citadas, mas muito especiais para serem esquecidas). Agradeço aos membros da Associação Quilombo Kalunga, que sempre estiveram abertos ao diálogo, dando direcionamentos e boas recomendações. Agradeço aos meus colegas de doutorado por partilharem conhecimentos, mas também por partilharem aflições e angustias. Agradeço à professora Ludivine Eloy que me orientou nessa jornada, sendo capaz de ver e organizar pensamentos que eu mesma ainda não conseguia. Agradeço às diversas professoras e pesquisadoras que cruzaram meus caminhos acadêmicos, servindo de inspiração e de trilheiro nesse universo tão masculino. Agradeço às amigas e amigos que não desistiram de mim e que sempre estiveram na torcida: Mariana, Thais, Renata, Gau, Mari, Helen, Ana, Rafael, Ceará e Makaeh. Agradeço à pesquisadora e amiga Ju Flor, pelos conselhos, acalantos e puxões de orelha. Agradeço à minha companheira Juliana, pela amorosidade e pela paciência de todos os dias. Mas acima de tudo, eu agradeço aos meus pais e aos meus avôs por entenderem a importância dos estudos, me apoiando sempre e permitindo que eu me sentisse livre para escolher meu próprio caminho. 5 O alimento – e o estudo cuidadoso de como é produzido, comercializado e consumido – é um elemento capaz de abrir nossos olhos para o que nos tornamos e para onde estamos indo. Carlo Petrini 6 RESUMO Este trabalho apresenta uma análise e reflexão das diferentes estratégias de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) desenvolvidas pelas famílias da comunidade quilombola Kalunga, divididas entre a região nordeste do estado de Goiás e o sul do Tocantins. Em um cenário de políticas agroambientais homogeneizadoras, os sistemas agrícolas tradicionais têm enfrentado o desafio de manterem suas práticas e sua agrobiodiversidade a partir de suas próprias dinâmicas espaço-temporais. Além disso, as escalas utilizadas para avaliação da segurança alimentar dessas comunidades costumam enfatizar aspectos aquisitivos em uma escala doméstica, desconsiderando a importância da produção para autoconsumo e das redes alimentares ao longo do território. Utilizando uma abordagem qualitativa e os procedimentos de observação participante, entrevista semiestruturada, mapeamento participativo em diferentes escalas de análise, buscou-se obter informações que permitissem uma compreensão das práticas produtivas e alimentares localmente desenvolvidas. Foram mapeadas 950 residências e 2.120 roças, distribuídas ao longo de 12 microrregiões. Das 128 famílias, 90 foram entrevistadas de forma semiestruturada, enquanto as outras 38 famílias foram entrevistadas a partir da metodologia aberta. Observou-se que a comunidade estrutura sua segurança alimentar a partir de estratégias pluriativas em uma ocupação multilocal do território, onde a diversidade agrícola, as redes de troca de sementes e o fluxo de alimentos têm fundamental importância. Encontramos que as roças resguardam 19% da agrobiodiversidade total identificada (85 espécies), enquanto que os quintais correspondem a 53% e os sertões a 20% dela. Contudo, apesar dos quintais apresentarem uma diversidade específica maior, foi nas roças que encontramos a maior diversidade intraespecífica onde, das 221 variedades identificadas, 18 eram de mandioca, 16 de arroz, 8 de milho, 17 de feijão, 7 de aboboras e 17 de bananas. Também observamos que o programa Bolsa Família auxilia o trabalhador rural a continuar suas atividades voltadas para o autoconsumo sem comprometer a segurança alimentar da sua família, a partir do aumento do poder de escolha das mesmas sobre os seus produtos agroextrativistas. Assim, podemos dizer que, mesmo frente a diversos fatores de influência (des)estruturadores, a comunidade tem ressignificado suas dinâmicas, em uma estratégia que combina inovações sociotécnicas, renovação das dinâmicas de mobilidade e a luta constante da população em prol das suas tradições e relações territoriais. Palavras-chave: Segurança alimentar. Agrobiodiversidade. Quilombolas. Territorialidade. Cerrado. 7 ABSTRACT This thesis presents an analysis and reflection on the different strategies of Food and Nutrition Security developed by the families of the quilombola community Kalunga, divided between the northeast region of the state of Goiás and the south of Tocantins. In a scenario of homogenizing agri-environmental policies, traditional farming systems have faced the challenge of maintaining their practices and agrobiodiversity from their own spatiotemporal dynamics. In addition, the scales used to evaluate food security in these communities usually emphasize purchasing aspects on a domestic scale, disregarding the importance of production for self-consumption and food networks throughout the territory. Using a qualitative approach and participant observation procedures, semi-structured interview, participatory mapping at different scales of analysis, we sought to obtain information that would allow an understanding of locally developed production and food practices. 950 residences and 2,120 farms were mapped out over 12 microregions. Of the 128 families, 90 were semi-structured interviewed, while the other 38 families were interviewed using the open methodology. It was observed that the community structures its food security based on pluriactive strategies in a multilocal occupation of the territory, where agricultural diversity, seed exchange networks and food flow are of fundamental importance. We found that the farms account for 19% of the total agrobiodiversity identified (85 species), while the backyards correspond to 53% and the backlands to 20% of it. However, although the backyards present a greater specific diversification, it was in the farms that we found the greatest intraspecific diversity where, of the 221 varieties identified, 18 were of cassava, 16 of rice, 8 of corn, 17 of beans, 7 of pumpkins and 17 of bananas. We also noted that the Bolsa Família program helps the rural worker to continue his activities aimed at self- consumption without compromising the family's food security, by increasing their power to choose their agro-extractive products. Thus, we can say that, even in the face of various factors of (de)structuring, the community has reassigned its dynamics, in a strategy that combines sociotechnical innovations, renewal of mobility dynamics and the constant struggle of the population for their traditions and territorial relations. Keywords: Food safety. Agrobiodiversity. Quilombolas. Territoriality. Cerrado 8 9 LISTAS DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – MODELO CONCEITUAL DOS NÍVEIS DE DETERMINANTES ASSOCIADOS À SEGURANÇA ALIMENTAR ........................................................45 FIGURA 2 – MAPA MENTAL DA LIGAÇÃO MAIS COMUM ENCONTRADA ENTRE ESSES CONCEITOS CHAVES DENTRO DA LITERATURA. .............................50 FIGURA 3 – MAPA MENTAL DA LIGAÇÃO PROPOSTA ENTRE OS CONCEITOS CHAVES. ........................................................................................51 FIGURA 4 – MAPA MENTAL ACRESCIDO DAS RELAÇÕES ENTRE POLITICAS/PROGRAMAS, SATS E A SAN DA COMUNIDADE. ......................................51 FIGURA 5 – MAPA DO TERRITÓRIO KALUNGA (GOIÁS E TOCANTINS) E SEUS RESPECTIVOS MUNICÍPIOS. ..............................................................56

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