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A HISTÓRIA ORAL DE UMA FAMÍLIA ITALIANA NO RIO GRANDE DO SUL Flavia de Brito Panazzolo1 Este trabalho buscou na história oral, no estudo e representação do passado a reconstrução de memórias de uma família italiana, imigrante, que buscou em terras brasileiras uma nova vida. A história oral já possuiu várias expressões e já foi classificada como método, técnica e teoria. Mas no meio acadêmico, a mesma foi classificada como metodologia de pesquisa. Conforme Alberti (2005): a História Oral é uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes para o estudo da história contemporânea surgida em meados do século XX, após a invenção do gravador à fita. Ela consiste na realização de entrevistas gravadas com indivíduos que participaram de, ou testemunharam acontecimentos e conjunturas do passado e do presente. (ALBERTI, 2005, p. 155). Para a realização deste trabalho, a utilização da história oral levou a interpretar a narrativa e analisar a história contada como uma fonte, além de serem utilizados outros recursos como pesquisas em museus, fotografias, documentos, jornais e livros. As péssimas condições de vida que eram oferecidas na Europa por volta de 1800- 1850, e a necessidade de uma renovação social no Brasil, possibilitou que muitos agricultores, pequenos comerciantes e alguns aventureiros migrassem para um novo mundo, onde havia a promessa de riqueza e prosperidade. “A imigração teve sérios fatores como o empobrecimento e endividamento dos camponeses; guerras; mudanças valorativas e nas relações de produção em um capitalismo que se expandia na Itália.” (FRANZINA, 2006, p.64). A América então viu chegar muitos homens jovens e produtivos, grande parte acompanhada por suas famílias, procedentes da península itálica, mais provavelmente das regiões ao norte como Vêneto, Lombardia, Friuli Venezia, Piemonte entre outras. Pode-se dizer que os primeiros imigrantes foram necessários para satisfazer a carência de mão de obra local (ou para substituir os afro-brasileiros, em processo de extinção), e num segundo momento, vieram comerciantes, artesões, pequenos industriais e empreendedores de todas as espécies. (FRANZIA, 2014, p15) Estas famílias que vieram para o sul do país foram alocadas na serra gaúcha, mais precisamente na região de Caxias do Sul. Foram divididas em colônias, e estas colônias foram 1 Mestra em Ciências Sociais pela PUCRS, Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais PUCRS, Bacharel em Turismo, PUCRS. E-mail: [email protected] - http://lattes.cnpq.br/8819645761578946 divididas em léguas, linhas ou travessões, que se dividiam em lotes. Estas famílias que ali se fixavam, construíam casas, organizavam a plantação de alimentos necessários para a sobrevivência e ainda se preocupavam em construir um ambiente social (igrejas, escolas, mercados...). Os primeiros imigrantes chegaram à região por volta de 1875, e receberam uma gleba de terra que equivalia a 160.000 m2. Muitas destas famílias vindas da região de Vêneto se estabeleceram no Travessão Santa Tereza, 5º Légua, hoje atual bairro Panazzolo. As primeiras famílias a ocuparem estas terras eram: Pezzi, Panazzolo, Longhi, Dal Fovo, D´Ambros, Fachin, Boni, Dalbrochio, Rizzon, Maschio, Casali, Travi, Tessari e Bianchi. Era uma região de selva espessa, e conforme relatos históricos as terras eram ocupadas por nômades selvagens. Uma área de floresta fechada, onde havia somente o cantar dos pássaros e alguns animais selvagens. A vida e história dos imigrantes nos são contadas pela beleza da vida, do árduo trabalho, da solidariedade, da vida em comunidade, mas da fé e religiosidade representada nas construções de suas capelas e igrejas, festas e celebrações. Em uma terra distante muitas vezes sem suas famílias, sem condições de uma vida confortável, estes imigrantes muitas vezes tiveram a vontade de voltar para sua terra natal, mas não desanimaram, tinham fé, coragem e muito trabalho pela frente. Estabelecidos no seu novo mundo, os imigrantes começaram a construir suas casas/ choupanas para a proteção contra o tempo e os animais selvagens. Eram choupanas simples, em madeira ou em pedra. No porão ficavam os animais, na parte superior a cozinha e os quartos, e ainda possuíam um sótão, onde armazenavam os cereais e alimentos produzidos por eles. Os primeiros anos foram de construções, tanto de estradas, moradias e também de uma igreja. Como o bairro Panazzolo era maior que o centro no ano de 1877, era necessário que a comunidade se preocupasse com a organização social: - construíram uma Igreja, um cemitério e uma escola. A primeira igreja no bairro foi a São Romédio em 1876 com a intenção de confraternização da comunidade relacionada com o calendário católico. A primeira capelinha foi construída com bambu. A segunda, já em 1877, foi erguida em madeira, e a última, em alvenaria foi construída em 1931. (GUIA DE CAXIAS DO SUL, 2018). Ao lado da Igreja, foi construído um cemitério, uma escola e a primeira casa de comércio/ armazém do bairro, do Sr Antônio Primo Panazzolo. As mercadorias eram trazidas de Porto Alegre e São Sebastião do Caí pelos carreteiros (carroças). O bairro era uma passagem entre o centro de Caxias do Sul para as outras regiões, e tornou pouso destes carreteiros que traziam mantimentos para a região e levavam madeira para outras localidades. Conforme lembra Luis Pezzi Filho: “é que antigamente subiam todas as carretas, paravam aqui de manhã, saia um monte de porcchi. Davam água, alfafa e milho para os animais e havia um mato em forma de meia lua, onde os carreteiros descansavam – o chamado Hotel Della Luna. Depois foi ordenado pela prefeitura”. (JORNAL O PIONEIRO, 1984, p.3). Em 1882, o bairro já possuía uma fábrica de cadeiras, uma de brocas, dois moinhos, duas serrarias, uma fábrica de móveis e um alambique para fazer graspa ou álcool, junto com a fabricação do vinho. “O bairro não tinha correio, somente no centro da cidade. Os jornais que eram produzidos na época:“stafeta” e “la sagra”. Os primeiros telefones no bairro foram de José Abramo Panazzolo e Antônio Primo Panazzolo, em 1960” . (LAZZAROTTO, 1986, p.48) Ao pesquisar o passado, foram descobertas histórias interessantes e que foram fundamentais para a construção do bairro Panazzolo em Caxias do sul. Em cada fotografia, livro, pesquisa na internet e em entrevistas, as descobertas foram de grande importância para o desenvolvimento desta pesquisa. Antônio Panazzolo, seu filho Antônio Primo Panazzolo (que tinha doze anos aproximadamente) e seu irmão Ângelo Panazzolo saíram da Itália e foram primeiramente para Buenos Aires, onde se estabeleceram por dois anos. Antônio Panazzolo gostou da nova terra e resolveu buscar sua família na Itália, deixando na Argentina seu filho e seu irmão. Ângelo Panazzolo junto com seu sobrinho decidiram sair da Argentina e vieram em busca de seus parentes no Brasil, região de Caxias do Sul. Com a vinda para o Brasil, perderam o contato com o Antônio Panazzolo que estava na Itália. Conseguiram contato somente após o ano de 1950. Ao chegarem, foram alocados na região de Nova Roma, situada 60 km de Caxias do Sul. Nesta localidade, compraram um lote onde puderam sobreviver produzindo seu sustento. Alimentavam-se de animais existentes na região, de pinhão e da pesca. (PANAZZOLO, 2007, p.19). Ainda em Nova Roma, como comenta a Senhora Ilha Mantesso: “o tio Ferrucio, ele trabalhava de Nova Roma pra Caxias do Sul de a cavalo, ele vendia ovos, galinha, vendia produtos coloniais, salame, e ele dormia na casa do primo quando vinha pra cá, então ele aproveitava e vinha dormir ali.” (MANTESSO, 2018) 2 2 Entrevista realizada com a Sra. Ilha Facchim Mantesso em Agosto de 2018 na cidade de Caxias do Sul. Jovem e ainda morando em Nova Roma, Antônio Primo Panazzolo, tornou-se o primeiro caminhoneiro da região e mais tarde casou-se com Maria Magnaguagno com quem teve três filhos. Sua esposa faleceu ao dar à luz ao seu terceiro filho. Para sobreviver, viajava de Nova Roma até Caxias do Sul levando salame, ovos, torresmo e outros alimentos para serem vendidos. Através de seu primo veio a conhecer sua segunda esposa, Antônia Casali. Logo após se casarem, vieram morar em Caxias do Sul, mais precisamente na casa de seu sogro. Além de seus três filhos, logo tiveram mais cinco. Estabelecidos na região do bairro Panazzolo, Antônio Primo Panazzolo abriu a primeira casa de comércio ao lado da Igreja São Romédio, onde vendia carne, porco, torresmo, além de construir casas em madeira para os imigrantes que estavam chegando à vila. Nas suas terras, ou melhor, nas terras de seus sogros, também tinha espaço para a plantação de uvas, como de outras mercadorias (pinhão, batatas, laranjas, abacates). Ferrucio era o apelido de Antônio Primo Panazzolo, era um homem com grandes amizades, teve grande envolvimento com a urbanização do bairro. Como era comerciante, tinha contato com o prefeito e demais pessoas importantes da época, conseguindo assim melhorias e investimentos para o bairro. Com o passar do tempo, conseguiu comprar um caminhão maior, o que facilitou suas viagens para lugares mais distantes, como Porto Alegre, de onde buscavam e levavam mercadorias. Na casa de comércio e mercado, nos finais de semana, realizavam-se encontros de jovens com bailes e festas, além de casamentos e aniversários. Um lugar frequentado por todos da região, que aos poucos foi sendo batizado como sendo bairro Panazzolo. Como diziam “lá no Panazzolo”. (PANAZZOLO, 2007, p.16). Em meados de 1938, alguns proprietários de caminhões da região de Caxias do Sul, cansados com os problemas existentes – falta de mercadorias e dificuldades de sobrevivência – criaram uma cooperativa. Esta cooperativa contava com 13 proprietários, que adquiriram um depósito em Porto Alegre e outro em Caxias do Sul para manterem uma oficina com peças de caminhões e também uma grande quantidade de gasolina, obtendo assim um custo baixo para poder competir com o mercado. Firmaram contrato e começaram a se chamar Expresso Caxiense de Transportes Ltda.

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