Testemunhos da ocupa\ao romana no sitio Malhada dos Carvalhos 1 (Alfundao, Ferreira do Alentejo) Cesar Augusto Neves 1 Catarina Grilo 2 iris Otte 3 lntrodu�ao 0 sitio arqueol6gico Malhada dos Carvalhos 1 foi identificado durante a execu9ao do acompanhamento arqueol6gico realizado no ambito do projecto "Minimiza9ao de lmpactes sabre o Patrim6nio Cultural decorrentes da execu9ao do Bloco de Rega de Alfundao'; desenvolvido pela EDIA S.A. Aquando a abertura da vala da Rede de Rega/Adutor CP-B foram identificadas, centradas no eixo da futura conduta, um conjunto significativo de manchas de sedimento, em negative no substrata geol6gico. 1 Arque61ogo - Socio da Associai,iio dos Arque61ogos Portugueses- [email protected] 'Arque61oga - [email protected] > Antrop61oga responsavel pela analise dos restos osteol6gicos identificados na interveni,iio arqueol6gica. Testemunhos da ocupa9iio romana no sitio Malhada dos Carvalhos 1 (Alfundiio, Ferreira do Alentejol I 131 Fig. 1 Localizai;:aoda Malhada dos Car­ valhos 1 na Peninsula lberica e CMP 1 :25 000, n° 509. Servii;:os Cartografi­ cos do Exercito. Esta situar;:ao de contextos arqueol6gicos identi­ Trata-se de uma tipologia de vestigios para a ficados no decorrer do acompanhamento arqueol6- qual a equipa de acompanhamento arqueol6gico gico ja estava prevista no Relat6rio de Conformida­ de obra devera estar particularmente sensibilizada de Ambiental deste Projecto (RECAPE): e a observar;:ao das mobilizar;:6es de solos deve ser "Caso sejam identificados outros vestigios ar­ particularmente minuciosa:• (Matos, Fonseca & As­ queol6gicos na fase de acompanhamento da obra, sociados, 2008, p.29). na area a intervir, estes implicam a definir;:ao de Afim de se registar e caracterizar eventuais ni­ um piano de trabalhos complementares, corres­ veis arqueol6gicos conservados, o IGESPAR deter­ pondendo a medidas de sondagem, escavar;:ao e minou a realizar;:ao de quinze sondagens, cada uma registo, que deverao compreender um cronograma correspondente a uma possivel estrutura arqueol6- especifico, definido de forma a permitir o estudo e gica, num total de 39,25m2, localizadas ao longo de tratamento apropriado dos vestigios e, simultanea­ cerca de 140m lineares, centradas no eixo da con­ mente, minimizar custos e contratempos ao desen­ duta a implementar ou junto a um dos taludes. volvimento do Projecto" (Matos, Fonseca & Asso­ A execur;:ao destas medidas de minimizar;:ao fi­ ciados, 2008, p.29). cou a cargo da empresa CRIVARQUE, Lda., tendo De igual modo, os responsaveis pelo RECAPE, um dos signatarios, do presente texto (C.A.N.), sido conscientes que este tipo de realidade arqueol6gi­ o responsavel cientifico pela mesma. ca nao e, facilmente, detectavel a superficie, e que Os resultados obtidos na escavar;:ao permitiram tern vindo a ser, corn frequencia, identificadas em observar dois contextos ocupacionais distintos, espar;:os adjacentes, alertaram as futuras equipas quer a nivel funcional, quer a nivel cronol6gico. de arqueologia, que iriam fazer o acompanhamento A julgar pelo escasso esp6Iio arqueol6gico reco­ arqueol6gico, para este tipo de contextos: lhido, tera ocorrido um primeiro momenta ocupa­ "Salienta-se que o acompanhamento arqueol6- cional caracterizado por um conjunto de 14 estrutu­ gico de obra associado a outros projectos do EFMA, ras negativas escavadas no substrata geol6gico. As tern permitido identificar arqueossitios constituidos caracteristicas tipol6gicas destas realidades estru­ por estrutura negativas (realidades escavadas no turais, bem como os elementos artefactuais reco­ substrata rochoso), que nao sao reconheciveis atra­ lhidos no seu interior, aliados aos dados recolhidos ves de indicadores de superficie. Tai teve lugar no em contextos semelhantes em outros sitios inter­ iimbito da empreitada do Bloco de Rega do Pisao vencionados no distrito de Evora e Beja, parecem que se desenvolve a nascente dos Blocos de Rega enquadrar esta ocupar;:ao na ldade do Bronze. de Alfundao e respectiva Adur;:ao. Num espar;:o a Noroeste, a cerca de 70m de dis- 132 I Arqueolog,a & H1storia tancia do nucleo de fossas, surgiu uma outra reali­ dade estrutural (Sondagem 1 ), caracterizada como uma sepultura,que nao apresenta qualquer relar;ao crono-cultural corn a referida ocupar;ao proto-his­ t6rica. Sera, exclusivamente, sobre a Sondagem 1 e respectiva estrutura arqueol6gica (Sepultura) que incidira a analise que aqui se apresenta. A escavar;ao arqueol6gica da Sondagem 1 reali­ zou-se em Novembro de 2009. Enquadramento Localiza�ao Administrativa e Geografica 0 sitio arqueol6gico Malhada dos Carvalhos localiza-se, administrativamente, em Portugal, na freguesia de Alfundao, concelho de Ferreira do Alentejo e distrito de Beja. A area intervencionada localiza-se na Carta Militar de Portugal,na folha n° 509 a escala de 1 :25000 (Fig.1 ). As coordenadas correspondentes,no Datum Lis- boa,sao: M = 208 854,915 Fig. 2 Sondagem 1. Limpeza da area de escava<,ao. Area a intervencionar enquadrada corn a vala do futuro sistema P = 126 787,646 de rega. A= 134,71m Basico de Odivelas. 0 Complexo Basico de Odivelas Geologia e Geomorfologia e constituido, nesta zona, por basaltos e diabases, A area estudada,localizada na bacia hidrografica estando a sua distribuir;aoe localizar;aocorrecta um do Rio Sado, fica situada no sul de Portugal conti­ pouco indefinida. Na realidade, para esta zona do nental, na regiao do Baixo Alentejo. 0 relevo tern macir;o de Beja apenas as grandes unidades estao as caracteristicas gerais da peneplanicie alentejana, estabelecidas,sendo os seus Ii mites no terreno va­ aplanadas ou ligeiramente ondulado, esporadica­ riaveis e a caracterizar;ao especifica dificil de reali­ mente interrompido por zonas um pouco mais aci­ zar,isto devido a ausencia de cartografia detalhada dentadas constituindo relevos de dureza residuais (disponivel,apenas, a escala 1: 200 000). (Feio,1951 ). A Malhada dos Carvalhos 1 localiza-se numa vas­ Geomorfologicamente, o sitio Malhada dos Car­ ta area plana,sem acidentes geograficos de grande valhos 1 implanta-se em plena peneplanicie alen­ expressao, nem condicionantes visuais. Ligeira­ tejana,unidade fundamental do relevo, encontran­ mente a Norte,localiza-se a linha de agua relevante do-se, nesta zona, levemente dissecada pela rede mais pr6xima,ou seja,a Ribeira do Alfundao. Alem hidrografica. desta linha de agua, existem outras de caracter Do ponto de vista geol6gico enquadramo-lo no sazonal que se encontram nas imediar;6es,quer a denominado Macir;o de Beja, na unidade do Com­ Norte quer a Sul. plexo Plutono -Vulcanico de Odivelas, que e cons­ tituida pelo Complexo Basico de Odivelas e dos pe­ Condi�oes do sitio antes do inicio dos trabalhos los Gabros de Beja. 0 sitio em estudo encontra-se No inicio dos trabalhos encontrava-se, somente, numa zona de contacto entre estas duas unidades, a vala aberta, sem a definitiva tubagem colocada desenvolvendo-se mais intensamente no Complexo no interior. Desta forma, em virtude dos trabalhos Testemunhos da ocupai;ao romana no sitio Malhada dos Carvalhos 1 (Alfundao, Ferreira do Alentejo) ) 133 arqueol6gicos aqui descritos, os trabalhos de obra ao seu processo de formac;:iio, ou seja, a ultima ca­ ficaram, nesta zona, suspensos. mada arqueol6gica a formar-se foi a primeira a ser A area a intervencionar estava devidamente si­ decapada) (Harris, 1991; Harris, et al., 1993). nalizada e balizada, niio permitindo acc;:6es destru­ A atribuic;:iio de U.Es foi desenvolvida por ordem tivas (Fig.2). Era visivel o grau de destruic;:iio de al­ sequencial crescente, nunca se repetindo um nu­ gumas estruturas arqueol6gicas, ocorrido durante mero e segue preferencialmente a ordem da esca­ a aberturada vala. Esta leitura decorre da existencia vac;:iio. de algumas estruturas no carte da vala, o que levou 0 numeral que denomina cada U.E. corresponde a sua intervenc;:iio, para alem dos limites da afecta­ ao seguinte c6digo: c;:iio. • Centenas - numero de sondagem; Relativamente ao espac;:o onde foi identificada a • Dezenas e unidade - numero atribuido a reali­ sepultura, eram visiveis fragmentos de tegulae que dade arqueol6gica identificada no interior da tinham sido removidos pela maquina aquando a sondagem. identificac;:iio da estrutura arqueol6gica pela equipa Estas unidades estratigraficas podem adquirir a do Acompanhamento Arqueol6gico. forma de dep6sito, interface ou estrutura arqueo- Na area envolvente observam-se terrenos in­ 16gica. Todas as unidades estratigraficas foram re­ tensamente cultivados, corn recurso a adubos qui­ gistadas atraves do preenchimento de uma ficha micos provocando uma grande alterac;:iio do solo. adequada ao metodo proposto e fotografadas em Assim, apesar de niio existiram construc;:6es antr6- formato digital. picas directamente sobre o sitio, este encontrava-se As unidades estratigraficas foram igualmente re­ afectado por actividade agricola. gistadas graficamente, realizando-se os desenhos de todos os pianos de dep6sitos, estruturas, alc;:a­ Descri1rao dos trabalhos: metodologia e caracte­ dos e perfis estratigraficos, a escala 1 :20, sempre riza1rao estratigrafica corn a indicac;:iio das cotas altimetricas. A implanta­ Os principais objectives da intervern;:iio foram os c;:iio das areas de escavac;:iio, assim coma todos os seguintes: pontos altimetricos e registos topograficos efectua­ • Escavac;:iio manual e integral das estruturas ne­ dos, foram realizados corn o apoio de uma equipa gativas; de topografia. • Determinar a existencia e grau de conserva­ A escavac;:iio arqueol6gica foi
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