Le Clézio E a Aventura Do Narrar: Um Estudo De La Quarantaine

Le Clézio E a Aventura Do Narrar: Um Estudo De La Quarantaine

UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara – SP GIOVANNI FERREIRA PITILLO LE CLÉZIO E A AVENTURA DO NARRAR: UM ESTUDO DE LA QUARANTAINE ARARAQUARA – SP 2009 GIOVANNI FERREIRA PITTILLO LE CLÉZIO E A AVENTURA DO NARRAR: UM ESTUDO DE LA QUARANTAINE Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp/Araraquara, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Letras – Estudos Literários. Linha de pesquisa: Teorias e Crítica da Narrativa Orientadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes ARARAQUARA – SP 2009 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE ARARAQUARA - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: Pitillo, Giovanni Ferreira Le Clézio e a aventura do narrar: um estudo de La quarantaine / Giovanni Ferreira Pitillo – 2009 198 f. ; 30 cm Tese (Doutorado em Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara Orientador: Maria Lúcia Outeiro Fernandes l. Le Clezio, J.-M. G. (Jean-Marie Gustave), 1940- 2. Literatura francesa. 3. Literatura moderna -- Sec. XX. 4. Espaço e tempo na literatura. 5. Identidade. I. Título. GIOVANNI FERREIRA PITILLO LE CLÉZIO E A AVENTURA DO NARRAR: UM ESTUDO DE LA QUARANTAINE Tese de Doutorado, apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Doutor em Letras – Estudos Literários. Linha de pesquisa: Teorias e Crítica da Narrativa Orientador: Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes Bolsa: Capes Data de aprovação: MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: ____________________________________________________________________ Presidente e orientadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes Unesp/Araraquara ____________________________________________________________________ Membro titular: Profa. Dra. Ana Luiza Silva Camarani Unesp/Araraquara ____________________________________________________________________ Membro titular: Profa. Dra. Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha Ufu/Uberlândia ____________________________________________________________________ Membro titular: Profa. Dra. Maria Ivonete Santos Silva Ufu/Uberlândia _____________________________________________________________________ Membro titular: Prof. Dr. Sidney Barbosa Unesp/Araraquara Local: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências e Letras UNESP – Campus de Araraquara À memória de meu pai, O imigrante europeu que singrou os mares em busca de um mundo novo. O outro Giovanni, para quem esse sonho teria a justa grandeza. A ele os títulos. A ele os méritos. Agradecimentos À Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes pela orientação e carinho. Aos professores amigos, Ana Luíza Silva Camarani, Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha, Maria Ivonete Santos Silva e Sidney Barbosa, pelas frutíferas interlocuções. Às professoras de Língua Francesa da Universidade Federal de Uberlândia, amigas incondicionais. A secretária Maria Clara Bombarda de Brito, pelo pronto atendimento. À Capes pelo apoio financeiro. À minha esposa e ao meu filho, que muito tiveram que perder, para que eu pudesse ganhar. RESUMO Na contemporaneidade, o gênero romance se constitui em uma das formas narrativas que melhor se presta à representação do mundo. A sociedade moderna tem nessa forma literária sua expressão maior. Em sua natureza vê-se a crise do homem que por ser essencialmente ambígüo, por errar entre a razão e a sensação, se permite, então, conceber, sem estranhamento, a linguagem poética do romance contemporâneo. Nesse sentido, o romance moderno apresenta-se mais receptivo para acolher as inquietudes do sujeito da modernidade. Por meio de uma narrativa fragmentada, na maioria das vezes, esse novo romance põe em cena um narrador-autor expondo vivências individuais, que incitam o leitor moderno a buscar a experiência do conhecimento de si mesmo, enquanto indivíduo, em um primeiro momento. Posteriormente, leva esse mesmo leitor a estabelecer com o mundo objetivo, nas suas relações com o outro, reflexões sobre a sua condição humana por vezes absurda e insensata. Essa é a condição do romance La quarantaine, de Le Clézio. Esse escritor francês materializa, em sua extensa obra, o desejo do homem moderno de continuar a ser indefinidamente. Nessa narrativa poética, percebe-se, por meio da observação dos comportamentos existenciais de seu sujeito, a estreita relação com o tempo e o espaço sacralizáveis, promotores de uma estabilidade em meio a um mundo fragmentado e controverso. Palavras-chave: Le Clézio; literatura contemporânea; literatura francesa; romance contemporâneo; categorias espaço-temporais; identidade; sujeito moderno. RÉSUMÉ De notre temps, le genre roman se constitue dans l’une des formes de récit qui mieux se prêtent à représenter le monde. La société moderne trouve dans cette forme littéraire son expression majeure. Dans sa nature, on y voit la crise de l’homme qui pour être essentiellement ambigu, pour errer entre la raison et la sensation, se permet donc de concevoir, sans étrangeté, le langage poétique du roman contemporain. Dans ce sens, le roman moderne se présente plus réceptif à acueillir les inquiétudes du sujet de la modernité. À travers une narrative fragmentée, dans la plupart des fois, ce nouveau roman met en scène un narrateur-auteur qui expose des expériences individuelles, qui incitent, d’abord, le lecteur à aller chercher l’expérience de connaissance de soi, en tant qu’individu et, plus tard, à établir avec ce monde objectif, dans ses rapports avec autrui, des réflexions sur sa condition humaine, parfois absurde et insensée. C’est la condition du roman La quarantaine, de Le Clézio. Cet écrivain français matérialise, dans sa vaste oeuvre, le désir de l’homme moderne de continuer à être indéfiniment. Dans ce récit poétique, on se rend compte, à travers l’observation des comportements existentiels de ce sujet, de l’étroite relation avec le temps et l’espace sacralisés, promoteurs d’une stabilité dans un monde fragmenté et controversé. Mots-clés: Le Clézio; littérature contemporaine; littérature francaise; roman contemporain; catégories espacio-temporelles; identité; sujet moderne. SUMÁRIO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................................... 11 2 A MODERNIDADE E LA QUARANTAINE ................................................................. 30 3 A COMPOSIÇÃO DO ROMANCE ............................................................................... 60 4 A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO ....................................................... 108 4.1 O tempo e o espaço da modernidade ...................................................................... 108 4.2 O Tempo e o Espaço em La quarantaine ............................................................... 116 4.2.1 Os espaços físico e simbólico ................................................................................. 116 4.2.2 O tempo e o espaço vividos e a instância narrativa ................................................ 129 4.2.3 O tempo e o espaço sacralizados – La Yamuna e La quarantaine ......................... 141 5 CONSDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 169 6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 180 7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................... 186 8 ANEXOS ......................................................................................................................... 192 ANEXO A – A biografia de Jean-Marie Gustave Le Clézio ............................................. 193 ANEXO B – A árvore genealógica da família Archambau ............................................... 194 ANEXO C – A carta de Rimbaud à Paul Demeny – Lettre du voyant ............................... 195 ANEXO D – A composição estrutural da narrativa de La quarantaine ............................. 196 ANEXO E – O mapa das Ilhas Maurício ........................................................................... 197 10 11 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Jean-Marie Gustave le Clézio, o marinheiro tuaregue: outros olhares Jean-Marie, Alexis, Lalla, Léon, Ananta, Ananda Devi. Muitas são as formas de identificação desse sujeito eurasiano, que por ser mútliplo e caleidoscópico, transmuta-se em tantos outros, como em um processo simbiótico em que uma explosão de sentimentos ambígüos e até contraditórios reclama a realização de um desejo maior e premente: o desejo de se conhecer e de (re)conhecer-se em si mesmo e no outro. Dessa forma, compreender Le Clézio, significa, necessariamente, admitir a alteridade, ser receptivo à inserção do outro, enfim, assumir a outridade, como proposto por Octávio Paz em O arco e a lira (1982). Pierre Lhoste apresenta Le Clézio obcecado por reconhecer-se-a si mesmo: “Eu sou um obcecado pelo redobrar-se em si mesmo.”1 (LHOSTE, 1971, p.21, tradução nossa). Para ele a literatura representa o caminho pelo qual se pode materializar esse processo de (re)conhecimento do sujeito moderno – “Pode se escrever para procurar se conhecer.” (LHOSTE, 1971, p.48, tradução nossa)2. De fato, é o que se observa nas suas reflexões a respeito da literatura: “Tento conceber a literatura como uma multidão na qual perambulo.”

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