Revista de Agricultura v.88, n.1, p. 70 – 75, 2013 COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA Carmenta foraseminis (LEPIDOPTERA: SESIIDAE), NOVA BROCA DE FRUTOS DE CACAU NO BRASIL Vera Lúcia Rodrigues Machado Benassi1, Carlos Alberto Spaggiari Souza2, Fabrício Iglesias Valente3, Jéssica Cristina Lenzi4 1Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, Rod. BR 101, Km 151, Caixa Postal 62, 29915-140, Linhares, ES, [email protected] 2Estação Experimental Filogônio Peixoto - CEPLAC, Linhares, ES 3Pós-graduando - FCAV/UNESP Jaboticabal, SP 4Bolsista de Iniciação Científica- CNPq - Faculdade Pitágoras de Linhares-ES RESUMO Uma nova praga atacando frutos de cacau (Theobroma cacao) no município de Linhares- ES é relatada e ilustrada. Os exemplares foram obtidos a partir de frutos broqueados colhidos em cacaueiros da Estação Experimental Filogônio Peixoto da CEPLAC, durante o período de novembro/2011 a Fevereiro/2012. O inseto foi identificado como Carmenta foraseminis, uma mariposa pertencente à família Sesiidae. Este é o primeiro registro desta espécie ocorrendo em frutos de cacau no Brasil. Palavras-chave: levantamento, praga, sementes, broca do fruto, cacau Carmenta foraseminis (LEPIDOPTERA: SESIIDAE), NEW BORER OF COCOA FRUITS IN BRASIL ABSTRACT A new pest attacking fruits of cocoa (Theobroma cacao) in the municipality of Linhares – ES, Brazil is related and illustrated. The specimens were obtained from bored fruits collected at the Estação Experimental Filogônio Peixoto- CEPLAC during the period of November/2011 to February/2012. The insect was identified as Carmenta foraseminis, a moth belonging to the Sesiidae family. This is the first record of this species occurring in cocoa fruits in Brazil. Key words: survey, pest, seeds, fruit borer, cocoa O cacaueiro (Theobroma cacao L.) é Dias, 2001). Os maiores Estados produtores uma espécie perene de sub-bosque, arbórea, são Bahia, Pará, Espírito Santo e Rondônia pertencente à família Malvaceae, originária (IBGE, 2012). da América Tropical, embora seja A importância econômica do encontrada na forma nativa, tanto nas terras cacaueiro é traduzida pelo consumo de baixas, dentro de bosques escuros e úmidos chocolate e confeitos sob as mais variadas sob a proteção de grandes árvores, como em formas e também pela utilização da florestas menos exuberantes e relativamente manteiga de cacau nas indústrias menos úmidas, em altitudes variáveis da farmacêuticas e de cosméticos. Possui polpa Bacia do Alto e Baixo Amazonas (Souza & muito apreciada, que vem conquistando 70 Carmenta foraseminis (Lepidoptera: Sesiidae), nova broca de frutos de cacau no Brasil mercados, inclusive internacionais. O mel do frutos da cultura, com destaque para os cacau, extraído da polpa de suas sementes, lepidópteros Anadasmus porinodes pode ser utilizado na fabricação de vinho, pertencente à família Oecophoridae, vinagre, licores e geléias de boa qualidade Ecdytolopha aurantiana (Tortricidae), (Menezes & Carmo Neto, 1993). Além do Stenoma sp., Synanthedon sp., Carmenta Brasil ser o sexto maior produtor de cacau theobromae e C. foraseminis (Sesiidae) do mundo, sua importância para a economia, (Puchi, 2005). não se restringe somente à produção, uma Muitas espécies da família Sesiidae vez que, o país é o quarto maior parque de são pragas de diversas culturas de indústrias de chocolate do mundo, o que importância econômica, uma vez que suas torna a sua cadeia produtiva geradora de larvas são broqueadoras de troncos, galhos e renda e emprego para milhares de pessoas. raízes de árvores, arbustos, trepadeiras e No Espírito Santo, aproximadamente plantas herbáceas causando danos 23.000 hectares de cacaueiro são cultivados vegetativos ao diminuírem o vigor (Scoble, em 19 municípios, sendo que, o município 1992). Entretanto, segundo Harms & Aiello de Linhares representa aproximadamente (1995) C. foraseminis apresenta hábito 90% da área cultivada no estado. A aberrante em relação às outras espécies da produção de cacau no Espírito Santo gera em família, pois se alimentam de sementes. média, 40 milhões de reais ao ano para a Ao gênero Carmenta pertencem mais economia do Estado. Além da sua de 200 espécies neotropicais, sendo que, C. importância econômica, a cultura tem função foraseminis compõe, junto com C. primordial na preservação ambiental, pois guyanensis, C. surinamensis e C. pode ser cultivada sob os resquícios de Mata theobromae, um complexo de espécies, as Atlântica, em matas ciliares e em áreas quais se encontram distribuídas desde a inundáveis próximas a rios e represas, onde América Central, Panamá e Costa Rica até o poucas culturas se desenvolvem Peru (Eichlin & Passoa, 1983; Eichlin, adequadamente (PEDEAG, 2008). 1995). Destas, as únicas espécies A única parte que tem valor relacionadas até o momento para o cacau são econômico no cacaueiro é o fruto, portanto, C. foraseminis e C. theobromae. qualquer ataque de pragas nessa estrutura C. foraseminis foi descrita como poderá causar danos diretos na produção. No espécie nova por Eichlin, no ano de 1995, a Brasil são escassas as informações sobre os partir de exemplares criados em sementes de insetos broqueadores dos frutos. Somente o Gustavia superba no Panamá. Como outras besouro Conotrachelus humeropictus plantas hospedeiras o autor relacionou as (Coleoptera: Curculionidae) tem sido espécies G. angustifolia Benth. e relatado causando prejuízos aos frutos dos Eschweilera sp. (Lecythidaceae) e cacaueiros na Amazônia Brasileira (Mendes Theobroma cacao L., estando presente no et al., 1997). Em algumas regiões do Estado Panamá, Colômbia, Venezuela e do Espírito Santo, o lepidóptero Stenoma provavelmente Brasil. Ainda, segundo ele, a decora (Oecophoridae) tem sido encontrado espécie C. guyanensis encontrada na Bahia atacando frutos e galhos de cacaueiro, em 1931, atacando sementes de G. augusta inclusive na própria Estação Experimental pode ser C. foraseminis, entretanto, como a da CEPLAC, no município de Linhares, descrição daquela espécie havia sido feita a entretanto em índices muito baixos, bem partir de fêmeas, haveria a necessidade do aquém do nível de dano econômico. exame de machos para a confirmação. Por outro lado, para a Venezuela são citadas várias espécies broqueadoras dos 71 Revista de Agricultura v.88, n.1, p. 41 – 43, 2013 O presente estudo objetivou Durante o levantamento não foi determinar a espécie de Lepidoptera que foi possível observar posturas do inseto, constatada atacando os frutos de cacaueiro entretanto, segundo descrições de Jiménez & no município de Linhares, Estado do Cabaña (2006), os ovos são ovais e medem Espírito Santo, cuja presença foi observada aproximadamente 0,6 por 0,3 mm, sendo após abertura de frutos para retirada das que, de acordo com esses autores, tanto o sementes. local exato da oviposição quanto a posterior Durante os meses de novembro/2011 entrada da larva no fruto ainda não foram a fevereiro/2012 foram coletados frutos determinados. maduros de cacau da variedade CCN-51 de As larvas de C. foraseminis uma área experimental localizada na Estação apresentam coloração esbranquiçada, cabeça Experimental Filogônio Peixoto (ESFIP), marrom e cinco pares de falsas pernas pertencente à Ceplac, em Linhares, ES (19º (Figura 1a). Depois da eclosão, penetram na 43’ Se 40º 03’ W, altitude média de 28 base do pedúnculo dos frutos de cacau metros). seguindo a cibirra ou placenta (Figura 1b) e No Laboratório de Controle posteriormente alimentam-se das sementes Biológico do Instituto Capixaba de Pesquisa, (Figura 1c). O ataque do inseto propicia o Assistência Técnica e Extensão Rural aparecimento de fungos que altera a (Incaper), os frutos foram mantidos em qualidade do produto. gaiolas teladas para a obtenção dos adultos, A presença do inseto no interior dos sendo que, alguns deles foram abertos para frutos somente pode ser percebida após o retirada das larvas e observações sobre o completo desenvolvimento da larva, pois, comportamento da praga no interior dos antes de pupar ela raspa internamente a mesmos. casca ou o exocarpo, deixando uma fina Após a emergência, alguns película, a qual, externamente, apresenta-se exemplares fêmeas e machos foram enviados como uma mancha e internamente como um ao especialista na família Sesiidae, Dr. orifício (Figura 2 a e b). Thomas Eichlin (California Department of Nos frutos observados, essas marcas Food and Agriculture – Entomology Plant foram constatadas nos sulcos, provavelmente Pest Diagnostic Center, California USA), o por apresentarem tegumento mais delgado. qual identificou o inseto como sendo C. foraseminis. a b c Figura 1. Larva de C. foraseminis (a) e danos causados ao fruto do cacaueiro (b; c). 72 Carmenta foraseminis (Lepidoptera: Sesiidae), nova broca de frutos de cacau no Brasil O ataque da outra espécie C. livra-se da exúvia pupal que fica aderida ao theobromae que também ocorre no orifício de saída (Figura 3b). cacaueiro, diferencia-se de C. foraseminis Os adultos apresentam o corpo de cor porque as larvas perfuram os frutos, castanho escura, com asas quase entretanto permanecem na região do transparentes por possuírem somente as epicarpo e raras vezes transpassam o bordas e as nervuras cobertas com escamas mesocarpo para se alimentar das sementes. escuras, marrom a pretas. Em vista dorsal, A presença do inseto pode ser detectada apresentam faixas amarelas estreitas, pelos excrementos escuros das larvas no delimitando os segmentos abdominais 2, 4 e orifício de entrada (Puchi 2005). 6 das fêmeas (Figura 4a) e 2, 4, 6 e 7 dos As pupas de C. foraseminis são machos (Figura 5a); sendo que, marrons, ficam envoltas por excrementos e ventralmente, nas fêmeas, essas faixas são restos de alimentação (Figura 3a) e mais largas, de coloração amarelo palha a permanecem próximo à camada do fruto branca (Figura 4b). “raspada” pela larva (Figura 3b). Para a emergência, o adulto rompe a película e a b Figura 2. a) Mancha no lado externo do fruto de cacau resultante do ataque de C. foraseminis. b) Orifício do lado interno do fruto feito pela larva. a b c Figura 3. a) pupa de C. foraseminis envolta com excrementos e mucilagem. b) local do fruto onde permanece a pupa do inseto. c) exúvia da pupa no fruto de cacau. 73 Revista de Agricultura v.88, n.1, p. 41 – 43, 2013 a b Figura 4.
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